Saint Seiya - Star Army escrita por Greed the Ambitious


Capítulo 2
Os punhos da rivalidade – Estrelas vs. Gelo


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo serve pra aprofundar um pouco mais os personagens Simas e Bayard. Um pouco mais o primeiro, já que é o protagonista maior da história. Mas não se preocupem, todos os personagens principais terão seu lugar ao sol.



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Oito da manhã. O sol já nascera há algumas horas, e, no entanto, ainda havia um Santo dormindo no Santuário, exausto, em cima de sua mesa de trabalho. Um garoto muviano de cabelos brancos roncava alto, a cabeça por cima do braço direito, que ainda tinha na mão o malho de reparador, enquanto o braço esquerdo se encontrava pendurado, com o cinzel que outrora segurava jazendo ao chão.

O jovem Santo havia passado a noite reparando as Vestimentas de seus companheiros da Armada Estelar, e dormira no meio do trabalho de consertar a de Bayard, logo após terminar as outras quatro, deixando ainda a do rival e a sua por fazer. Além do Objeto da Vestimenta do Centauro e algumas ferramentas de reparação, um grande pote de pó-de-estrelas estava sobre a mesa, quase vazio, se considerarmos a quantidade que tinha quando o trabalho foi iniciado.

—Mestre Simas. Mestre Simas, está na hora de acordar. Já são oito horas da manhã. Mestre Simas, acorde!

Simas despertou assustado ao sentir as gélidas mãos metálicas tocarem-lhe os ombros nus (gostava de ficar sem camisa dentro de casa, e o calor dos últimos tempos favorecia ainda mais a prática), e teria ficado irritado, não fosse o fato de ter expressamente pedido para que fosse acordado naquele horário.

...

Na verdade, isso não o impediu de ficar irritado.

—Hamal! Eu já disse pra não encostar em mim, eu sinto arrepios! Procure outro jeito de me acordar!

—Entendido, mestre Simas – responde o robô doméstico.

A divisão de tecnologia do Santuário, que opera em vários locais do mundo sob a fachada da Fundação Graad desde o governo da Atena anterior, Saori Kido, havia desenvolvido androides para auxiliar a vida doméstica dos Santos, já que estes não tinham muito tempo livre para cuidar de suas casas, e mão de obra humana era mais desejável nas linhas de batalha do que atuando como serviçais. No entanto, uma vez que Atena não gostava do uso de armas, robôs de combate nunca foram desenvolvidos. O máximo que a Fundação fez em termos de material bélico foi criar armaduras artificiais, as Vestimentas de Aço, para que os guerreiros que não conseguiam conquistar uma Vestimenta oficial do Santuário ainda pudessem lutar em nome de Atena.

Nem todos os Santos possuíam uma unidade doméstica pessoal, e o número era ainda menor entre os Santos de Bronze. Simas era um desses poucos, e havia batizado seu modelo de “Hamal”, o nome da estrela alfa da primeira constelação zodiacal, Áries. Ele também o programou para chama-lo de “mestre Simas”, numa atitude digna da fama de prepotente que o Santo de Cinzel tinha pelo Santuário.

—Apareceu alguém enquanto eu dormia, Hamal? – perguntou Simas ao robô, enquanto tomava o café da manhã preparado por este.

—Sim, mestre Simas. As senhoritas Agatha, Acácia e Serena apareceram aqui por volta das seis da manhã requisitando as suas Vestimentas. Como o senhor não queria ser acordado, eu lhes entreguei suas Clothstones.

—Ok... Bayard e Raphael não apareceram?

—Não, mestre. Mas o mestre Benjamin e o senhor Petros passaram por aqui.

—O tio Benjamin? – perguntou Simas, surpreso. — O que ele queria?

Deve ser notado que Hamal não fora programado para chamar Benjamin de “mestre”. O robô aprendeu a fazer aquilo por conta própria.

—Ele disse que queria apenas ver como o sobrinho estava passando. E mandou que eu avisasse ao mestre Simas que o senhor “ainda não aprendeu a dosar o pó-de-estrelas, e está gastando mais do que o necessário”.

—Oras... A culpa é dele por não ter me ensinado as técnicas de reparação direito. Tudo que ele faz é reclamar das coisas que eu faço de errado. Dizer o modo correto, que é bom, nada.

Simas continuou resmungando um pouco enquanto comia, e assim que terminou sua refeição, voltou para a mesa de trabalho para terminar de reparar as Vestimentas de Centauro e Cinzel. Ele finalmente havia terminado de consertar a Vestimenta do rival e estava realizando os toques finais na sua, quando os rostos familiares de um jovem de pele morena e longas madeixas loiras e um rapaz com uma franja pintada de vermelho apareceram pela janela de sua casa.

—Ainda trabalhando, Cinzel?

—Bem que dizem que o trabalho de um Reparador nunca acaba.

—Oh, Raphael e Bayard! Vamos, podem entrar. Hamal, vá abrir a porta.

—Sim, mestre Simas – o robô destrancou a porta da residência, permitindo a entrada dos dois Santos. — Bem vindos, senhor Bayard e senhor Raphael. Sintam-se em casa.

—Obrigado, Hamal – respondeu Raphael, educadamente, mesmo falando com um robô. Não era comum tratá-los como gente, e o próprio Simas não dava muita importância a isso. — Onde estão nossas Vestimentas, Simas? Se tá consertando a sua, imagino que já tenha terminado todas as outras.

—Sim, estão aqui – Simas estendeu o braço para pegar a pulseira de Bayard e o anel de Raphael, e os atirou na direção dos dois jovens, que agarraram suas joias no ar. — Novas em folha.

—Dá pra sentir só de olhar a Clothstone. Até mesmo a minha, que normalmente não tem brilho, está cintilando – constatou Raphael, colocando o anel no dedo.

—Ei Cinzel, já soube da novidade? – perguntou Bayard. — Agatha e Acácia saíram numa missão com o Santo de Cisne. Os três estão indo investigar um caso em Asgard.

—Asgard? – perguntou o garoto. — Mas o que diabos está acontecendo em Asgard que eles tiveram que levar dois Santos da Guarda do Patriarca e ainda o Kyo de Cisne pra lá?

—Não sabemos... A informação é confidencial – respondeu Raphael. — Nós três e Serena não recebemos nenhuma missão por hoje, então temos o dia de folga. Infelizmente a Serena não pôde vir pra cá. Sabe como é, ela é uma Sacerdotisa, então precisa ficar lá, junto com Atena...

—Infelizmente, sei bem como é... Bom, quando as duas voltarem de Asgard, nós perguntamos o que aconteceu – disse Simas, dando uma martelada final em sua Vestimenta depois de passar mais um pouco de pó-de-estrelas. — Pronto, terminada.

—Apesar do trabalho todo que você tem, você realmente gosta de reparar Vestimentas, não é, Simas?

—Claramente, Raphael – respondeu o muviano, retornando o Objeto da Vestimenta para a forma de um anel e colocando-o no dedo. — Eu não aguento ficar ocioso. Se eu não estiver fazendo alguma coisa, me sinto desconfortável.

—Nesse caso, o que vai fazer agora?

—Mestre, eu gostaria de lembrá-lo de que a sua comida está acabando – disse Hamal, do outro cômodo.

—Hum... É, acho que vou ter que ir até Rodorio fazer umas compras... Depois eu vou procurar o que fazer. Parece que hoje é dia de treinamento do Petros, então eu provavelmente vou procurá-lo pra dar uma olhada – Simas deixou a sala, entrando em um dos cômodos da casa. Pelo que sabiam Raphael e Bayard, que ainda estavam sentados num sofá na sala, aquele era seu quarto.

—Então, o Ministro do Santuário vai estar lá na área de treinamento? – perguntou Raphael.

—Parece que sim. Ele veio até aqui quando eu tava dormindo – respondeu Simas, falando de seu quarto. — Falando alguma coisa sobre o meu uso do pó-de-estrelas. Como se ele tivesse alguma moral pra falar sobre isso... Já faz um bom tempo desde a última vez em que ele atuou como Reparador. Eu tenho sido o único ativo no Santuário há um bom tempo. Além de mim, só meus pais em Jamir.

—Releve, Cinzel... Seu tio é o Ministro, o auxiliar direto do Patriarca. Não é como se ele tivesse tempo pra ficar reparando Vestimentas. Além disso... Olhar o treinamento do seu primo é tudo o que você tem pra fazer hoje?

—Tá sugerindo alguma coisa, Bayard? – perguntou Simas, voltando à sala, vestido com uma camiseta. Conhecia muito bem o rival, e podia imaginar o que ele estava pensando. E a mesma ideia passeava por sua mente no momento.

—Quando foi a última vez que nós nos enfrentamos? – indagou o Santo de Prata. Bingo.

—Acho que... Duas semanas atrás? Quanto tá o nosso placar? – respondeu Simas, já com um sorriso de excitação no rosto.

—12 x 11 pra mim – disse Bayard, após pensar um pouco.

—Hã? Tem alguma coisa de errado aí. E aquelas duas lutas em março que eu venci?

—Você sabe muito bem que aquelas lá não contam, Cinzel.

—Ah claro, porque é muito conveniente pra você...

—Er... Vocês vão se enfrentar? – perguntou Raphael. Conhecia muito bem a rivalidade dos dois, mas nunca os tinha visto em lados opostos numa arena.

—Não sei... Vamos, Bayard? Já que parece que eu tô perdendo, eu gostaria de pelo menos empatar o placar.

—Pode esquecer, Cinzel... Eu vou é aumentar ainda mais a diferença.

“Na verdade, se vencesse, você iria é empatar... Tá 13 x 12 pra mim. Não vou desconsiderar aquelas duas vitórias nem a pau.”

—Mestre Simas, a comida... – lembrou Hamal, aparecendo rapidamente da cozinha.

—Ora, fique quieto! Eu já disse que vou a Rodorio hoje, então eu vou! Só apareceu algo mais urgente no momento!

—Entendido, mestre... – o robô se retirou. Não tinha ficado ofendido com a atitude rude do Santo de Bronze. Não era capaz disso, de qualquer modo.

—Na arena de sempre, Cinzel?

—Claro, por que não?

Os três Santos deixaram a casa de Simas empolgados. Dois deles, porque iriam se enfrentar novamente depois de algum tempo. O terceiro, porque estaria vendo um espetáculo inédito para ele.

A casa de Simas ficava nos limites da zona residencial do Santuário, não muito longe da área de treinamentos. Não precisaram caminhar muito até encontrarem o velho coliseu em que costumavam treinar desde que eram aspirantes, o mesmo coliseu em que a batalha do dia anterior, interrompida por Ganimedes de Aquário, tinha acontecido.

Raphael procurou lugar na arquibancada para assistir ao duelo, enquanto Simas e Bayard se posicionaram em lados opostos na arena. Cada um deles levantou um dos braços, onde ficavam suas joias. Essas joias, chamadas de Clothstones, a forma compacta das Vestimentas, brilharam, revelando as estatuetas que representavam as constelações dos Santos: o busto de um homem segurando ferramentas para Simas e um ser metade homem, metade cavalo para Bayard. Esses Objetos se desfizeram em várias partes, que voaram e cobriram os corpos dos dois Santos, assumindo a forma de uma Armadura.

Simas era protegido por uma Armadura branca com detalhes em azul. Tinha uma peça grande no peito, com proteções semelhantes a arcos encurvados sobre os ombros. Também tinha botas de cano alto e luvas protegendo os membros. No cinturão, algumas ferramentas de escultor estavam penduradas. Uma tiara completava o Traje, com uma proteção alta na testa.

A Vestimenta de Bayard era cinzenta. Tinha um peitoral com espinhos nas ombreiras, luvas, botas que iam até os joelhos e um saiote protegendo a cintura. Um elmo com hastes que se estendiam para os lados completava a Armadura.

—Santo de Bronze, Simas de Cinzel, da constelação das Ferramentas, pronto para o duelo!

—Santo de Prata, Bayard de Centauro, da constelação do Homem-Cavalo, pronto para o duelo!

—Isso vai ser interessante... – comentou Raphael, da arquibancada. Ele já esteve em missão com os Santos na arena, individualmente e em conjunto, e conhecia suas habilidades. Agora seria a oportunidade de ver uma demonstração de poder e rivalidade entre os dois companheiros.

—Comecemos, Bayard.

—Quando quiser, Cinzel.

Os dois Santos se puseram em posição de batalha, mas durante alguns segundos, nenhum sem moveu, cada um apenas estudando o já tão conhecido adversário de longa data. Finalmente, Simas resolveu avançar, correndo na direção de Bayard.

—Continua o imprudente de sempre, Cinzel! – os punhos do Centauro brilharam com uma luz branca como a neve, e ele socou o ar na direção de Simas várias vezes, lançando projéteis de energia congelante. Cinzel, no entanto, consegue, desviar de todos eles, dando passadas para a direita e a esquerda quando um golpe vinha em sua direção, e continuando a se aproximar de Bayard.

—Não me subestime! Acha mesmo que isso poderia me deter? – respondeu o muviano, já estando perto o suficiente do Santo de Prata. Suas mãos e pernas foram envolvidas num brilho dourado, e ele tentou golpear Bayard com seus punhos. O Centauro revidou, tentando usar suas mãos ainda carregadas com seu Cosmo, para acertar Simas. Os dois passam a trocar socos e chutes, defendendo e esquivando habilmente de cada investida de seu oponente enquanto tentavam encaixar seus próprios ataques.

—Parece que sua velocidade anda boa como sempre – elogiou Simas em meio à troca de golpes.

—E a sua força não diminuiu nem um pouco – respondeu Bayard, bloqueando um chute do Santo de Bronze.

—Mas no final das contas...

—... força e velocidade não são o mais importante.

—O que decide uma luta entre Santos...

—... é quem queimar mais o Cosmo!

Os dois cessam a luta física e saltam para trás, abrindo uma certa distância entre si. Então, ambos elevam seu poder, e disparam uma emanação cósmica contra o outro. Os golpes se chocam no centro, e se equilibram perfeitamente no ar. Os Santos se esforçavam para empurrar aquela energia na direção de seu oponente, sem sucesso de nenhum dos lados, sob o olhar admirado de Raphael.

“Incrível... Os poderes de gelo de Bayard, e os poderes psíquicos de Simas... Mesmo sendo tão diferentes, conseguem se equilibrar perfeitamente. Dizem que quando os Santos de Ouro, que possuem poderes praticamente idênticos, se enfrentam, eles entram numa batalha sem fim, com seus poderes perfeitamente equilibrados... É como se eu estivesse testemunhando um evento como esse na minha frente.... A lendária Guerra dos Mil Dias.”

Os dois continuam tentando empurrar seus poderes, mas notam que aquilo era inútil. A disputa não seria decidida só com emanações cósmicas.

—Nada mal, Cinzel... Mas o aquecimento acaba aqui.

—Oras, eu nem comecei a suar, Bayard...

—E não deveria. Você vai é tremer de frio, o frio das tempestades de neve da Sibéria!

—É você quem vai cair, diante do brilho do pó-de-estrelas que nasce do meu Cosmo!

Os dois continuam a batalha cósmica, mas suas energias aumentavam mais e mais em poder, enquanto se preparavam para decidir aquilo com suas técnicas secretas.

Sopro da Nevasca!

Centelhas da Poeira Estelar!

As técnicas se chocam, gerando um desequilíbrio na disputa cósmica. O acúmulo de energia explodiu, lançando os dois combatentes para lados opostos na arena. Os dois logo se levantaram, no entanto.

—Nada mal... Nada mal mesmo!

—Vamos lá, Cinzel!

Dessa vez, Bayard tomou a iniciativa de diminuir a distância entre eles, avançando velozmente contra Simas. O garoto não esboçou nenhuma reação além de assumir postura de batalha, com um sorriso no rosto. Centauro chegou perto o suficiente, mas o Santo de Bronze simplesmente desapareceu no ar antes de ser atingido pelo soco do atacante.

“Teletransporte?!”

Simas reapareceu rapidamente atrás de Bayard, com o mesmo sorriso que tinha antes de sumir, e com as mãos energizadas com seu Cosmo.

—Quem é o imprudente agora?! – provocou Simas, e Bayard tentou se virar para atingi-lo. Mas não conseguia se mover. Estava paralisado por telecinese. — Primeiro acerto pra mim, Bayard! – Simas socou Bayard com força no rosto, mandando o rival paralisado voando até as arquibancadas, parando próximo do local onde Raphael estava sentado. O Santo de Lince cobriu os olhos para se proteger da poeira. — Ainda não acabei! – exclamou o jovem, e ele ia saltar até a arquibancada para continuar sua investida, mas percebeu que não podia. Suas pernas estavam presas ao chão, congeladas.

“Quando ele fez isso? Usou seu Cosmo congelante antes de levar meu soco?”

—E eu tô só começando, Simas... – disse Bayard, saltando de dentro da nuvem de poeira que levantou ao se chocar contra a arquibancada na direção do rival. — Agora está preso! Pó de Diamante! – o Santo de Prata socou o ar, e diversos cristais de gelo foram lançados contra Simas numa ventania.

—Tsc... Muralha de Cristal! – Simas abriu uma palma à frente do corpo, e uma parede invisível surgiu à sua frente, bloqueando a técnica de Bayard. O ar frio disparado por ele aderiu à proteção, congelando-a e destruindo-a.

“Droga... Minha Muralha de Cristal é fraca demais e não consegue refletir ataques... Ela é inútil contra as técnicas de gelo de Bayard... Pelo menos eu pude me defender desse.”

—Não pense que vai ser tão fácil defender o próximo ataque! – Bayard elevou seu Cosmo. Simas se preparou para enfrentá-lo, mas então, os dois sentiram uma enorme pressão sobre seus corpos, que os impedia de se mexer.

Telecinese. E aquele Cosmo não era pertencente a nenhum dos três Santos da Armada Estelar.

—Já chega, vocês dois – disse uma nova voz, pertencente a um homem que entrava no coliseu. — Simas, você por acaso gosta tanto assim de danificar Vestimentas sem motivo? Você mal terminou de reparar essas Armaduras, e já está lutando com poderes de tão alto nível. Assim não há pó-de-estrelas no mundo que baste.

—Você... tio Benjamin! – reconheceu Simas, conseguindo virar o rosto na direção do homem. A pressão telecinética foi então retirada do corpo dos Santos.

—B-Benjamim?! S-senhor Ministro, Benjamin de Altar! – disseram Bayard e Raphael, ao mesmo tempo, fazendo uma reverência, ao reconhecerem o recém-chegado.

Entrando na arena, estava um homem no alto de seus 35 anos, pele clara e cabelos pretos. A ausência de sobrancelhas e os sinais na testa, possuídos por Simas, também estavam em sua fisionomia. Decorando-a também estava um par de óculos à frente de seus olhos castanho-claros, cujas armações continham uma joia prateada incrustada, em formato esférico. Carregava um sorriso no rosto, mostrando que o tom de repreensão de sua frase anterior não era autêntico. Ao seu lado caminhava um garoto, uma criança de no máximo 14 anos. Tinha cabelos castanhos relativamente curtos, apesar de espetados, e possuía uma bandana preta na testa, que quase tapava os sinais muvianos. Os olhos eram de um azul bastante claro, e carregava um largo sorriso traquina no rosto.

—Não precisam desse formalismo excessivo, garotos. – disse o Ministro – Hoje eu sou apenas mais um Santo de Prata. Não estou aqui no papel de Ministro, mas de mestre do meu filho Petros. E também não gosto de ser chamado de “Benjamin de Altar”...

—Hoje é o dia do papai me treinar – completou a criança que acompanhava Benjamin. — Foi quando a gente sentiu o Cosmo do Simas lutando, e viemos pra cá verificar. É lógico que ele tá enfrentando o Bayard...

—Por que tá interrompendo minha luta, tio Benjamin? – perguntou Simas, sem um fio de educação na voz. O garoto tinha respeito pelas pessoas poderosas (não necessariamente mais poderosas do que ele, mas poderosas no geral), mas com Benjamin era diferente. Simas era bem mais íntimo do tio e mestre, e não o tratava diferente de como tratava seus companheiros da Armada Estelar ou seu primo, que agora se sentava na arquibancada. Sabia que não ia treinar no momento. Ficaria esperando pelo pai.

—Porque ela não tem propósito algum. Ou tem? Por que vocês lutam?

—Ora, mas isso é lógico, Sr. Benjamin! – respondeu Bayard. — Eu preciso vencer o Simas! Meu orgulho como Santo de Prata não me permite estar abaixo dele, por isso preciso estar sempre o enfrentando!

—He... Eu pessoalmente não tenho nada com o Bayard... – disse Simas, coçando o nariz e sorrindo zombeteiramente.

—Como é?! – Bayard encarou o rival com uma expressão raivosa.

—Que surpresa toda é essa? – disse Simas. — Você não é tão especial assim. Eu só luto com você tantas vezes porque você sempre quis me enfrentar. Virou um hábito pra mim.

—Ora seu...

—Mas numa coisa o Bayard tem razão – continuou Simas, dessa vez falando com Benjamin. — A gente tá lutando simplesmente porque não podemos nos dar ao luxo de perder. Precisamos estar sempre mais fortes e nos superando. É pra isso que servem estas lutas. Se não ficarmos fortes o suficiente aqui, poderemos ser derrotados lá fora.

—Força? É isso que você acha ser importante? – questionou o Ministro do Santuário.

—Ora, mas isso não é lógico? A força é a qualidade principal que um Santo deve ter. Precisamos ser fortes, porque só um guerreiro forte pode proteger Atena e a paz na Terra.

—É como o Cinzel disse. Um Cosmo forte, que nunca perca pra ninguém! É isso que faz um Cavaleiro do Zodíaco!

—Ho... Então vocês acham que a força é o principal que um Santo deve ter...

—Que surpresa toda é essa? Não é óbvio que é a força?

—Não, Simas, não é óbvio. A ideologia de vocês não é compartilhada por tantos como pensam. Basta perguntar ao seu amigo, logo ali – Benjamin apontou para Raphael, e Cinzel e Centauro voltaram seus olhares para ele. — Jovem Santo de Lince! Para você, qual é a qualidade primordial de um Santo?

—Er... – o garoto coçou a cabeça e pensou por um momento antes de responder. — Eu diria que é a lealdade a Atena, Sr. Ministro.

Benjamin olhou de volta para Simas e Bayard, com uma expressão que dizia “estão vendo só?”, e os dois simplesmente desviaram o olhar emburrados.

—É só outro ponto de vista. Não quer dizer nada – afirmou Bayard.

—Exatamente. Não estamos errados – completou Simas.

Benjamin sorriu ao ver aquela cena. Aquilo lhe trazia memórias do passado. Memórias de seu irmão. O pai de Simas.

“Como você e seu filho podem ser tão diferentes, e ainda assim, tão parecidos, Thiago?”

—Muito bem. Se vocês continuam achando que a força é a qualidade primordial de um Santo, permitam-me colocar essa força à prova.

—Huh? – perguntaram os dois, em uníssono, como se não tivessem entendido. Benjamin fez questão de ser claro dessa vez.

—Lutem comigo. Os dois.

Benjamin tocou seus óculos, fazendo a Clothstone incrustada na armação brilhar. Os óculos desapareceram junto com a joia, e no ar, o Objeto de sua Vestimenta de Prata, semelhante a um balcão cerimonial estilizado, surgiu. As peças se separaram, e a Armadura cobriu o corpo do Ministro.

A Vestimenta tinha a cor roxa. Protegia o peitoral de Benjamin e parte do abdome, e tinha também largas ombreiras duplas. Os punhos eram protegidos por luvas, e as pernas, por botas de cano alto. Também tinha um cinturão, e um elmo que cobria seu rosto, como uma máscara, do nariz para cima, deixando visível apenas a sua boca e seu queixo.

—Santo de Prata, Benjamin, trajando a Vestimenta de Altar, da constelação do Púlpito, pronto para a batalha – anunciou Benjamin, assumindo postura de batalha. Os dois desafiados continuavam parados olhando o Ministro com cara de bobos. — E então, o que estão esperando?

—Ele tá mesmo animado, o papai... – comentou Petros, sentado ao lado de Raphael.

—Enfrentar o Ministro do Santuário... – constatou Raphael, com um rosto preocupado. — Por mais que esses dois sejam malucos por batalhas, acho que nem mesmo eles aceitariam um desafio como es...

—Muito bem, tio! Não pense que o meu poder é o mesmo de quando você me treinava! Eu com certeza vou derrubar você! – disse Simas, assumindo postura de batalha com um sorriso de empolgação.

—Não vou pegar leve só porque o senhor é uma autoridade, Sr. Ministro... Prepare-se! – completou Bayard, fazendo o mesmo.

—... Eu me pergunto por que eu ainda cheguei a duvidar que o resultado fosse ser esse... – comentou Raphael, suspirando. — Bem, isso com certeza vai ser interessante. Eu sempre preferi ver Simas e Bayard lutando juntos ao invés de um contra o outro mesmo...

—Hehe... Será que o primo Simas e o Bayard vão conseguir fazer frente ao papai? – perguntou Petros, pondo os cotovelos nas coxas e apoiando o rosto nas mãos. Também parecia empolgado. Raphael percebeu que o garoto também gostava de batalhas. Era como se estivesse vendo um mini Simas sentado ao seu lado. O Santo Especial sorriu ao constatar isso, e também fixou o olhar nos três homens na arena.

—Muito bem... Quando estiverem prontos, podem vir!

Simas e Bayard não deram aviso. Ambos avançaram no mesmo instante contra Benjamin, tentando atingi-lo com uma sucessão de socos e chutes. O Ministro apenas começou a saltar para trás e em círculos, percorrendo a arena de costas enquanto desviava de cada ataque desferido contra ele.

“Como esperado do tio Benjamin... Que velocidade...”

“Ele é rápido o suficiente pra desviar de nós dois ao mesmo tempo...”

—Isso é tudo? Pra quem acha que o poder é o mais importante para um Santo, vocês não são muito impressionantes! – após mais uma vez se distanciar de seus oponentes, Benjamin ficou parado num ponto, numa postura relaxada.

“Ele baixou a guarda!”

“Você é nosso!”

Simas e Bayard saltaram e elevaram seus Cosmos, concentrando-os em seus punhos, e tentaram socar o Ministro no peito ao mesmo tempo. Benjamin, no entanto, simplesmente apontou a palma aberta para frente, e os jovens pararam em pleno ar, flutuando a centímetros do moreno.

“Telecinese...”

“Quanto poder!”

—É pouco... É muito pouco! – Benjamin repeliu os dois Santos com sua telecinese, mas estes não se deram por vencidos, caindo de pé e novamente avançando contra o Ministro.

—Já chega de brincadeiras! Vamos, Bayard!

—Certo!

Simas elevou seu Cosmo e o concentrou no punho direito. Algumas esferas brilhantes, semelhantes a estrelas, surgiram em volta de seu punho, e ele as disparou contra o tio enquanto avançava.

Centelhas da Poeira Estelar! – Benjamin simplesmente sorriu e rebateu cada uma daquelas esferas de energia com as mãos. Nenhuma delas o atingiu.

—Que simplista... Essa é a sua técnica?

—Devia prestar mais atenção, tio Benjamin... – provocou Simas.

—Como? – foi então que Benjamin percebeu: enquanto estava concentrado em defender a técnica de Simas, não percebeu que Bayard havia desaparecido.

—Aqui estou! – exclamou o Santo de Centauro, pelas costas do Ministro, agarrando suas pernas.

“Atrás de mim? Simas o teletransportou?”

O Cosmo congelante de Bayard agiu instantaneamente. As pernas de Benjamin foram completamente congeladas. Aquele nível de gelo não era o suficiente para prender o Ministro permanentemente, mas ele não tinha tempo de se soltar enfrentando dois Santos ao mesmo tempo.

—Olhe pra frente, Ministro do Santuário! – advertiu Simas, e um distraído Benjamin apenas teve tempo de olhar para frente no exato momento em que o punho de Simas o alcançou. O Santo de Prata foi socado no rosto com força. Simas então se teletransportou, atingindo o tio com uma joelhada nas costas. O garoto sumiu novamente, aparecendo à frente do tio para atingi-lo com um chute no lado direito da cabeça. Desapareceu novamente, atingindo o oponente com um chute no outro lado do rosto. Por fim, o sobrinho apareceu na frente do tio, porém virado de costas para ele. Então, mesmo sem ver o oponente, o albino deu um gancho que acertou o queixo do moreno, que foi atirado alto no ar, liberto do gelo, enquanto Cinzel gritava: — Alvoroço da Poeira Estelar!

—Minha vez! – exclamou Bayard, elevando seu Cosmo e materializando um arco de gelo em suas mãos. Então, puxando o ar, o Santo de Centauro criou uma flecha de energia congelante, e disparou contra o Ministro ainda no ar. — Disparo da Flecha Glacial!

O projétil atingiu em cheio o peito de Benjamin, congelando o peitoral da Vestimenta de Altar e todo o tronco do Ministro, que mesmo golpeado, conseguiu cair de pé, longe de seus agressores.

—Papai! – exclamou Petros, ao ver o pai ser atingido.

—Eles conseguiram acertar o Ministro... É o poder do trabalho em equipe? – perguntou-se Raphael.

“Esses dois... Seus Cosmos são impressionantes para um Santo de Bronze e um de Prata... E quando lutam juntos, podem utilizar suas habilidades em conjunto para se tornarem uma ameaça a se temer... Parece que os últimos meses foram realmente produtivos para você, não é, Simas?”

Benjamin tentou sorrir e falar, mas uma dor terrível no queixo o fez desistir e manter uma expressão séria no rosto.

—O que achou dessa, Sr. Ministro? – perguntou Bayard. O arco que tinha usado já havia desaparecido.

Muito bom, vocês dois. Eu não estava esperando por isso – respondeu Benjamin, telepaticamente. — Acho que o golpe do Simas quebrou meu queixo... Não vou conseguir falar.

—Opa, desculpe... Mas bem, foi você quem disse que queria testar nossos poderes.

Sim, é verdade. E agora, eu vou realmente começar a fazer isso. Preparem-se – Benjamin desapareceu no ar, surpreendendo os dois jovens.

“Isso é... teletransporte?”

“Não... Ele está se movendo em alta velocidade!”

Benjamin apareceu novamente ao lado de Simas e Bayard, de modo que estavam todos alinhados, e o Ministro poderia atingir os dois com uma única técnica. Então, elevando seu Cosmo, o moreno socou o ar na direção dos jovens, envolvendo-os numa poderosa rajada de vento a altas temperaturas.

Sopro Solar!— os dois Santos foram arrastados pela massa de ar quente por vários metros, até chocarem com as arquibancadas. Raphael parecia preocupado, mas sabia que Benjamin não lutaria para ferir os dois gravemente, então não se manifestou. Mas não pode deixar de soltar um suspiro aliviado quando viu os dois se levantando da nuvem de poeira e voltando à arena.

—Maldição... – praguejou Bayard. — Isso foi um golpe à velocidade da luz?

—Meu tio tem a mesma força de um Santo de Ouro – disse Simas, respondendo indiretamente a pergunta do rival. O loiro ficou calado por alguns segundos, como se digerisse a informação.

—É, dava pra deduzir isso... Afinal, ele é o terceiro em comando no Santuário, abaixo apenas de Atena e do Patriarca... Mas que droga, enfrentar alguém do mesmo calibre do mestre Ganimedes...

—Se arrepende de ter pego essa briga, Bayard? Pode ir descansar nas arquibancadas se quiser, eu assumo essa luta sozinho.

—Tá de brincadeira com a minha cara, Cinzel? É lógico que não vou pular fora. Isso seria o mesmo que admitir derrota.

—E você não admite derrotas, não é? Como aquelas em março, por exemplo.

—Eu já falei que aquelas lutas não cont... – a conversa dos dois foi interrompida quando perceberam onde estavam. Embora não pudessem ver, podiam sentir o Cosmo de Benjamin os envolvendo. Os dois estavam trancados dentro de seis Muralhas de Cristal que os enclausuravam.

Cubo de Cristal. Desculpem por agir dessa forma, mas no campo de batalha, vocês não podem esperar que o inimigo vá ficar só olhando vocês terminarem suas conversas.

—Tsh! E daí? É só derrubar essas paredes! Já derrotei as do Cinzel várias vezes! – disse Bayard, elevando seu Cosmo.

—Espera, Bayard!

Pó de Diamante! – o garoto socou o ar, tentando congelar o Cubo de Cristal por dentro. Para sua infelicidade, a técnica foi refletida, ricocheteando várias vezes dentro do cubo e atingindo repetidamente ambos Simas e Bayard antes de se desfazer. — Mas... Mas que porcaria é essa?

—A Muralha de Cristal tem uma propriedade refletiva, seu jumento! Tudo que você joga contra ela volta contra você! A minha Muralha de Cristal é mais fraca, por isso eu não consigo reproduzir todos os efeitos!

—Ora, seu boçal, e você só me conta isso agora? Como diabos eu ia saber que esse negócio reflete ataques, se eu só conhecia a sua versão de meia tigela? – Raphael, Petros e mesmo Benjamin apenas observavam aquela discussão com estranheza, mas também se divertindo um pouco.

—Não importa mais! O que importa é nós sairmos daqui!

—E como vamos fazer isso, se todo ataque se volta contra nós?!

—Eu posso não conseguir reproduzir fielmente a Muralha de Cristal, mas eu sou usuário da técnica e conheço seu ponto fraco – Simas pegou duas ferramentas de seu cinturão, um malho e um cinzel, e os posicionou contra um ponto da Muralha à sua frente. — E o ponto quebradiço é bem aqui! – o Santo de Bronze martelou aquele local, e no mesmo instante, a técnica de cristal cedeu, e os dois jovens estavam livres.

Ora, ora... Parece que você evoluiu mais do que eu esperava desde que se tornou um Santo, Simas.

—Eu posso não ter as mesmas habilidades que você, mas tenho meus próprios truques... Como esse, por exemplo! – Simas abriu os braços, fazendo surgir um pó brilhante do fino ar. Pó de cristal. Essas partículas reluzentes começaram a se unir e solidificar, formando estacas pontiagudas, que o albino disparou contra o tio com telecinese. — Lança de Cristal!

Bom trabalho adaptando as técnicas dos Santos Estelares ao seu próprio estilo... Mas é preciso mais do que truques pra vencer oponentes como eu – Benjamin novamente estendeu a palma da mão para frente, na direção das estacas que vinham em sua direção. Então, ele fechou a mão com força, exercendo uma pressão telecinética contra as Lanças de Cristal, que foram pulverizadas completamente.

—Não pode ser... – lamentou Simas, ao ver sua técnica completamente dominada.

Vocês lutam bem. Posso ver que o caminho de vocês é justo. Vocês irão crescer ainda mais, e utilizarão esse poder em nome de Atena e da justiça. Como recompensa, permitam que eu lhes mostre o maior dom dos Santos Estelares!— Benjamin abriu os braços. Seu Cosmo se elevava de tal maneira que era possível enxergar atrás dele um conjunto de oito estrelas, que formavam o desenho de uma constelação: Crater.

“Aquela é...”

“A constelação da Taça?”

Recebam isso! Revolução da Poeira Estelar!— com o poder de seu Cosmo, o Ministro criou uma pequena galáxia. Dessa galáxia, milhares de flechas estelares, semelhantes às Centelhas que Simas disparara anteriormente, saíram voando na direção dos dois Santos da Armada Estelar.

—Tsh! Muralha de Cristal!

Escudo de Gelo!

Simas e Bayard combinaram suas técnicas defensivas para se protegerem da técnica de Benjamin. Mas a Muralha de Cristal imperfeita de Simas e o frio de Bayard ainda muito mais fraco que o de Ganimedes não foram o suficiente para defender a violenta chuva de estrelas à velocidade da luz. As centelhas luminosas atravessaram a defesa dos Santos, atingindo-os com força e jogando-os ao chão, derrotados.

Duelo finalizado – anunciou Benjamin. Uma luz envolveu seu corpo, e a Vestimenta de Altar deixou seu corpo, retornando ao formato esférico de sua Clothstone, voltando aos óculos do Ministro, que reapareceram.

—Ainda não... Ainda podemos lutar! – disse Bayard, se levantando.

—Isso mesmo! Não nos subestime, tio Benjamin!

Fora de questão. Eu não estou tentando matar vocês, o que vai acabar acontecendo se continuarmos. Na verdade, eu teria destruído suas Vestimentas completamente com esse último ataque se não tivesse me segurado. E aí você precisaria de muito mais do que pó-de-estrelas pra restaurá-las.

“Então, aquele golpe que varou nossa defesa combinada sequer foi disparado a sério...”

“Digno do Ministro do Santuário... Ainda não podemos nos comparar a ele...”

Simas e Bayard também removeram suas Vestimentas, transformando-as em Clothstones. “Talvez eu precise dar uns retoques nelas depois dessa luta”, pensou Simas, enquanto se deixava cair de costas no chão, com um largo sorriso no rosto.

—Tá rindo do que, Cinzel? A gente levou uma surra aqui.

—Hehe... Deve ser porque eu nunca vi o tio Benjamin lutar tão a sério antes. Até quando me treinava, ele sempre esteve segurando seu poder. Mesmo que não tenha usado toda a sua força, saber que conseguimos deixar ele sério depois de termos acertado nossos golpes já me deixa satisfeito por enquanto.

Bayard concordou internamente com aquilo, mas não disse nada. Raphael e Petros já desciam da arquibancada e se dirigiam até os dois derrotados. Benjamin também se aproximava. Ele tentou sorrir ao ouvir o discurso de Simas, mas a dor no queixo o impediu novamente.

Vocês ainda tem um longo caminho a percorrer — “disse” Benjamin. — Mas o que já percorreram não é algo a se ignorar. Sigam sua filosofia, Simas de Cinzel e Bayard de Centauro. Vocês certamente estão destinados a grandes feitos.

—Hehe... Valeu, tio Benjamin – agradeceu Simas, agora sentado no chão.

—Obrigado, Sr. Ministro. Estou honrado com suas palavras.

—Ei papai, e o meu treinamento? – perguntou Petros. Ver aquela luta o tinha deixado realmente empolgado. O garoto sonhava em um dia poder se tornar um Santo como o pai e o primo, e treinava arduamente para aquilo mesmo que não tivesse sempre a tutela do ocupado pai.

Sim, Petros. Vamos começar o seu treinamento – respondeu o Ministro, afagando a cabeça do filho. — Até nosso próximo encontro, Santos da Armada Estelar.

—Tchau, pessoal! – despediu-se Petros.

Bayard e Raphael fizeram uma reverência a Benjamin, enquanto Simas simplesmente acenou. O Ministro deixou o coliseu acompanhado do filho, dirigindo-se a outra arena para treinarem.

—Bom, eu acho que isso é o bastante por hoje, não? – disse Simas, levantando-se e também deixando o coliseu. — Não pensei que essa luta fosse me deixar tão cansado... E ainda tenho que ir até Rodorio...

—Ei, Cinzel – chamou Bayard, ignorando o que o rival dizia. — Enquanto enfrentávamos o Ministro, eu pude ver a constelação da Taça quando ele nos atacou, mesmo que ele estivesse usando a Vestimenta de Altar. O que foi aquilo?

—Também notei isso – confirmou Raphael. — Tem algo a ver com o fato de ele não gostar de ser chamado de “Benjamin de Altar”? Mesmo quando se apresentou, ele apenas anunciou estar trajando a Vestimenta de Altar, mas não disse ser o Santo dessa constelação...

—É, vocês estão certos – respondeu Simas. — O tio Benjamin na verdade é o Santo de Taça. A Vestimenta de Altar pertence ao meu pai.

—Seu pai? Thiago, de Jamir? Eu pensei que ele fosse um Santo retirado. Como pode ser o dono da Vestimenta de Altar?

—Bom, é uma longa história... Vocês devem saber que meus pais deixaram a Ordem dos Cavaleiros do Zodíaco antes de eu nascer, não é? Minha mãe, Raquel de Áries, e meu pai, o antigo Ministro, Thiago de Altar, assumiram um relacionamento. E vocês também já sabem, o Santuário não tolera o relacionamento entre Santos.

—Eu só não sabia que seu pai era o Ministro... Mas sim, já conheço essa história.

—Pois bem. Tecnicamente, só um deles precisaria deixar a Ordem, já que o Santuário não condena o relacionamento de um Santo com alguém de fora. Mas meus pais não conseguiam chegar a um acordo. Quem deveria sair? Um dos Santos de Ouro, deixando uma das Doze Casas do Zodíaco vazias? Ou o Ministro do Santuário, deixando o Patriarca sem seu braço direito?

—Realmente, é uma escolha difícil...

—No final das contas, como não conseguiam se decidir, resolveram sair os dois, e eles foram viver em Jamir, servindo o Santuário como Reparadores. Mas com isso, o rombo que ficou no Santuário foi duas vezes maior... A Casa de Áries ficou vaga e continua assim até hoje, porque o Patriarca permitiu que minha mãe guardasse a Vestimenta de Áries até que um novo Santo digno dela surgisse, o que não aconteceu ainda... E então, meu tio, Benjamin de Taça, entregou sua Vestimenta ao meu pai, e assumiu seu lugar como Santo de Altar e Ministro do Santuário.

—Então, seu pai e seu tio trocaram de Vestimenta?

—Já que os dois, apesar de não serem idênticos, são gêmeos, resolveram fazer isso para que o lugar de Ministro não ficasse vago. Na teoria, meu pai não pode ser considerado o Santo de Taça, já que ele tá retirado da Ordem... Mas ele guarda a Vestimenta com ele, e inclusive a vestiu algumas vezes para me treinar em Jamir, antes de eu vir para o Santuário completar meu treinamento com o tio Benjamin. Os dois não gostam de serem chamados de “Thiago de Taça” e “Benjamin de Altar”, porque cada um ainda considera o outro como o verdadeiro dono da Vestimenta que traja. Eles ainda acham que vão poder retornar tudo ao normal um dia...

Simas se cala, e os outros dois resolvem não se meter mais nas questões familiares do companheiro. Sabiam que Simas se sentia desconfortável com o fato de não ter os pais ao lado dele, lutando por Atena como Santos, por causa de uma lei do Santuário.

Raphael e Bayard acompanharam o amigo de volta à sua casa. Pegaria o dinheiro pra fazer as compras na cidade vizinha ao Santuário.

—Mas vocês dois são realmente incríveis – comentou Raphael. — Lutarem daquela maneira com o Ministro do Santuário foi realmente impressionante.

—Ora, vamos, Raphael – respondeu Simas, como se repreendesse o amigo. — Antes de se unir à Armada Estelar, você e a Serena enfrentaram inimigos de um calibre bem mais alto. E ainda saíram ganhando.

—Mas elas só tinham pose... Não tinham esse poder todo. E nós não vencemos por nós mesmos, tivemos ajuda...

—Você é quem sabe...

Simas e Bayard andaram à frente. Raphael diminuiu o passo, perdido entre as lembranças do evento mencionado por Simas.

“Já fazem oito meses, não é...”


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Notas finais do capítulo

Oito meses antes da luta de Simas e Bayard contra Benjamin. Estranhos casos de assassinatos em série em Pernambuco, no Brasil, são deixados sem solução. A única maneira de resolvê-los é com a ajuda do Santuário de Atena, que envia dois de seus agentes, Lynx e Eridanus, para cuidar do caso. Mas quando os responsáveis pelos assassinatos são seres superiores aos humanos, o que realmente pode ser feito?

Próximo capítulo de Saint Seiya - Star Army:

O primeiro “encontro” – Batalha contra as Deusas Veneradas!

Você, já sentiu o Cosmo?



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