The Last Taste - Season 1 escrita por Henry Petrov


Capítulo 5
The Wings


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo de TLT. Espero que gostem. Boa Leitura (:



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Olhei para o padre, perplexo. Desde quando, uma igreja católica, uma das maiores de uma cidade, abriga uma seita satânica logo atrás do altar de Jesus Cristo, separados só por uma parede? Isso me deixou sem palavras.

–Satã?

Ele não quis olhar no meu rosto, vergonha, claro. Eu deveria saber. Um padre tão jovem com certeza se entregaria as provações de Deus. Nossa, falei igual a ele.

–Depois que o prefeito disse que sua cidade estava aberta para todas as raças, cores, orientações sexuais e... Religiões, o que eu iria fazer? Barrar um grupo de gente que acreditava em uma coisa, que já se considera religião, o que foi exatamente o que o prefeito disse que não toleraria? – ele falou, consideravelmente baixo.

–Então é pra isso que minha mãe reza. – falei, com desdenho. – Pro diabo.

Jarleth ergueu as sobrancelhas como se dissesse “Vivendo e aprendendo.”. Decidido, voltei para casa.

Enfurecido, estacionei o carro na frente da mansão e entrei na sala de estar com muita raiva. “Nossa, tudo isso por que descobriu que sua mãe é do satã?”. Não, eu estava com raiva pelo simples fato de eu descobrir isso sozinho, dela sempre esconder de mim. Também porque eu estava muito feliz com a escola me pedindo pra adorar Jesus, não ia suportar o fato de que minha mãe podia muito bem estar me induzindo a adorar o diabo. Eu acreditava que nenhum dos dois existiam, mas eu preferia ficar do lado dos... Mocinhos, vamos dizer. “Nossa, mas você não era o cara errado e punk?” Errado e punk. Não filho do satã.

Mamãe estava sentada na poltrona, olhando para a lareira, tomando um chá fedorento, com cheiro de lixo.

–O que a senhora tem na mente? Trocou o juízo por co... – ela me interrompeu

–Não ouse falar assim comigo.

Ela se levantou, espantada.

–Lucífer, sério mãe?

–Você não entende.

–Explique, me ilumine por favor! – falei, abrindo os braços e me aproximando do pequeno espaço entre os sofás. – Conte para mim como que uma mulher que tem tudo na vida simplesmente adora o diabo! Mães normais se ajoelham e agradecem a Deus, a minha se ajoelha ao satã! Como a senhora quer que eu me sinta bem com isso? Não critico sua escolha religiosa, só acho uma falta de respeito comigo e com a imagem que eu tenho a zelar! O que você acha que as pessoas iriam falar da nossa família se descobrissem? Hã? Hã? Elas iriam colocar nos jornais e em pouco tempo eu seria morto a facadas e jogado na fogueira por ser chamado de bruxo, porque a mente das pessoas vão longe assim esses dias...

–CALA A BOCA!

Sua boca tremia. Seus olhos estavam marejados.

–COMO VOCÊ ACHA QUE SEU PAI CHEGOU ONDE ELE ESTÁ? EU PEDI A DEUS COM TODAS AS MINHAS FORÇAS! VOCÊ ACHA QUE ELE ME DEU? NÃO! ELE NÃO ME DEU! EU FUI DEVOTA A ELE POR DÉCADAS E ELE NÃO TEVE UM MÍNIMO DE CONSIDERAÇÃO POR MIM!

Ela vociferou e eu posso jurar que o chão tremeu.

–Então eu procurei por Lucífer. – ela continuou, mas calma. – Ele me deu o que pedi. Em poucas semanas, o que Deus nunca fez. Ele sim me deu alguma coisa. Eu me sinto no dever de mostrar a ele meu agradecimento. Minha adoração.

Naquele momento, eu senti nojo da minha mãe. Não sei como explicar. Eu nunca fora devoto de Deus, mas senti como se aquilo fosse uma traição, uma apunhalada nas minhas costas.

–Você tem que entender. – ela falou, com força em sua voz.

–Como que você quer que eu entenda? – perguntei. – Não, não responde. Eu só preciso saber de uma coisa: O que você acredita, exatamente?

Ela respirou fundo e pude ver a raiva se esconder por trás de seu rosto confiante.

–Eu acredito que os seguidores de Lucífer ainda andam por aí, perdidos. – ela respondeu. – Alguns sem nem saber quem são. Só esperamos o momento, o dia chegar e... Ele estará de volta e nos levará ao topo dos céus, onde Deus sempre nos prometeu levar, mas nunca o fez.

Eu não fazia ideia de como eu ia conseguir as respostas que queria, tampouco me contentaria com a resposta que minha mãe me dera, que eu era um seguidor de Lucífer, desacordado ou coisa do tipo. Então, algo me tirou dos pensamentos.

Eu passara a semana toda ouvindo aquilo, quase toda noite a mesma coisa, o mesmo grito. Meu pai dizia que era o homem da casa da frente que, quando chegava bêbado em casa, batia em ambas mulher e filha. Dessa vez, eu conhecia aquele grito.

Corri escada abaixo, quase tendo um troço por não acreditar no que eu escutava. Saí da mansão e corri o máximo que pude pela calçada, tentando chegar na casa o mais rápido possível. Arrombei a porta com um chute e entrei na casinha modesta. Os gritos pararam, mas uma voz rude se manifestou, vinda do andar de cima

–Quem está aí?

Eu sabia que era o homem. Forte ou fraco, gordo ou magro, eu o enfrentaria. Não o deixaria machuca-la.

Corri escada acima. Eu não conhecia a casa, mas segui o meu instinto e consegui entrar numa sala onde haviam estantes repletas de livros e uma poltrona ao lado de uma lareira. Uma biblioteca. Seria harmoniosa, bonita, se Hanna não estivesse no chão, chorando baixinho e se seu pai não estivesse segurando um cinto com o couro arrebentado. Na poltrona, Sra. Whitlight estava contorcida. Seus lábios comprimidos, seus olhos quase fechados, como se quisesse não pensar no que acontecia.

–E você é?

Ele me olhou, com raiva, tentando tapar minha visão de Hanna. Sra. Whitlight me olhou, esperançosa.

–Hanna!

Corri até ela. Ela chorava muito. Abracei-a e o homem me empurrou.

–Vá embora! – ele gritou, tomando o telefone da mesinha de centro. – Antes que eu ligue para a polícia e te denuncie por invasão de propriedade!

–Ligue! – concordei. – Ligue e terei todo o prazer de contar para eles que o senhor bate na própria filha e eles vão te indiciar por violência doméstica! Além disso, posso alegar que arrombei sua porta por legítima defesa!

–É mesmo? – ele perguntou – Você teria coragem de colocar na cadeia o pai da sua... Amiga?

–Teria sim!

–Ah é?

Então, parti pra briga. Dei um soco de esquerda nele e ele saiu bolando pelo chão da sala. Ele pulou para cima de mim e me derrubou no chão. Ele me deu um soco no estomago e senti o ar se esvair, como se meu pulmão não fosse grande o bastante para tomar a quantidade de ar que eu precisava. Tentei respirar ainda mais. Chutei-o na canela, mas ele não se importou. Ele me pegou pelo braço e me puxou até um lado da sala. Quando dei por mim mesmo, estava a poucos centímetros do fogo da lareira.

–Não! – gritei

–Para todos os efeitos... – ele ofegava – Você se jogou em cima de Hanna, mas acabou caindo na lareira. Morra, Peter Roman!

–NÃO!

Um grito fino ecoou no lugar. As luzes piscaram e papocaram, soltando faíscas. Protegi os olhos, o Sr. Whitlight observou, sem mexer um músculo. Foi bem barulhento. Pude sentir algumas faíscas me tocarem por cima do casaco. A mãe de Hanna assistia tudo, sorrindo. Ela parecia achar aquilo... Bonito.

De pé, com a roupa toda chamuscada, estava uma Hanna diferente. Suas sobrancelhas se contorciam em raiva e seus olhos... Seus olhos estavam completamente brancos, duas bolas de ping-pong... Brancas. Completamente brancas. Ela tinha os punhos fechados e atrás dela, em suas costas, - meu deus - atrás dela... Haviam asas. Como linhas prateadas, pequenos fiapos de relâmpagos formavam um esqueleto de uma asa, iam até o teto e de lá desciam para as paredes, como se o lugar fosse pequeno demais para abriga-las. Pude sentir algo revolver dentro de mim, cada músculo do meu corpo queria que eu a parasse, que eu corresse e a fizesse parar. Que eu a impedisse. Eu cedi e corri até ela, ainda protegendo os olhos das lâmpadas que não paravam de papocar.

–Está tudo bem, Hanna, está tudo bem... – segurei seus braços e falei

Ela ofegou e piscou. Quando suas pálpebras revelaram seus olhos, estava tudo bem. Seus olhos castanhos voltaram. Sua raiva se tornou tristeza, as asas se esvaíram e tombou em meu ombro e chorou. Por cima de seu ombro, pude ver as chicotadas vermelhas em suas costas. Então, ela desmaiou. Tentei acordá-la e ela abriu um pouco os olhos, cansada. Então, só ficou choramingando.

Certo de que ele não me contestaria, peguei Hanna pelo braço e a tirei da sala. Ela chorava muito, seus olhos estavam vermelhos e seu corpo estava cheio de hematomas. Se eu fosse médico, diria que ela estava em tempo de morrer. O Sr. e a Sra. Whitlight me observaram tirar a menina dali. A mulher estava extremamente feliz e havia um brilho em seus olhos. Mais uma vez, nem me pergunte como uma mulher fica feliz com a dor da filha. Loucos de pedra aqueles ali. Pelo menos, eu pensava assim.

Levei-a para casa, onde pedi para ela deitar no sofá e peguei algumas bolsas de gelo na geladeira, para tentar amenizar a dor. Ela se contorcia a cada toque da bolsa de gelo, também pudera. Eu nunca tinha levado esse tipo de castigo, mas eu tinha toda a certeza do mundo que doía pra caramba. No mínimo, ela deveria ter perdido uma costela naquela brincadeira. Ela nunca voltaria para casa. Eu não ia deixar.

–O que é isso?

A voz de minha mãe me tirou dos meus pensamentos. Ela me olhou, como se eu estivesse maluco. Não entendi porque, eu só levei uma menina estraçalhada pra casa. O que há de errado nisso? Além de tudo, havia um pouco de sangue no carpete. Só percebi quando ela arregalou os olhos para o tapete.

–Ops. – falei, dando um sorriso rapidamente. – Eu vou limpar, juro.

–Quem é essa... – ela começou, levando a mão a boca ao ver os hematomas

–Mãe, essa é a Hanna, lembra? – falei, colocando a bolsa de gelo na mesinha de centro. – Sequestro... Igreja...

–Ah. – ela falou, mas estava na cara que ela ainda estava perplexa. – E o que... Aconteceu?

–Aqueles gritos, sabe? – lembrei – Eram dela. O Sr. Whitlight vive batendo nela e na mulher e eu não pude resistir ao ouvir elas gritando, era... Agonizante.

–Nunca se importou com os gritos. – ela disse, com uma expressão mais suavizada – Por que se importa agora?

–Por que... – comecei, mas sinceramente, não havia um motivo certo. Eu sabia a resposta, estava na ponta da língua, mas nem morto eu diria isso para minha mãe. Ela nunca mais me olharia do mesmo jeito e se isso vazasse... Minha reputação estaria destruída. – Por que conta a lenda que quando uma pessoa está machucada, você ajuda ela a se curar. Não é?

Minha mãe concordou, mas com certeza ficou com uma pulga atrás da orelha. Pelo seu olhar, aquela conversa não tinha acabado.


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Notas finais do capítulo

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