The Last Taste - Season 1 escrita por Henry Petrov


Capítulo 33
Dead To Me


Notas iniciais do capítulo

Hello People!
Bom, aqui vai mais um capzinho pra vocês. Espero que gostem. Boa Leitura (:



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O resto do dia foi de puro tédio.

Sophie e eu sentamos em cadeiras no antigo quarto de seus pais, onde, sobre a cama, repousava o corpo de Hanna. Horas se passaram e nada. Acho que dormi na maior parte do tempo.

Então, uma luz surgiu na porta. Ela cresceu, tomou forma e cessou, revelando um rapaz. Seus cabelos eram pretos e seus olhos e seus olhos eram mais azuis que os meus. Ele tinha asas que, à primeira vista, eram douradas. Então, uma se tornou branca e angelical e a outra se tornou cinza e sombria, como um par de asas Yin-Yang.

–Meu nome é Jason.

Foi tudo o que ele disse. Sua voz era como um som fúnebre aos meus ouvidos.

–Trago más novas. – disse ele, um tanto depressivo. – Mas antes...

Ele olhou para o corpo de Hanna, entristecido. Ele suspirou. Então, tirou do bolso um pacotinho vermelho, desenrolando-o e depositando seu conteúdo sobre a cama, aos pés de Hanna: algo que parecia um amendoim e um anel.

–Quem é você? – perguntou Sophie, confusa.

–Meu nome é Jason. – ele repetiu, olhando seriamente para Sophie. – E eu sou o querubim que levou Hanna.

Meus olhos se arregalaram, em espanto.

–Onde ela está? – exclamei, pulando da cadeira.

–Morta. –disse ele. – Para sempre.

Meu estômago revirou. A sala rodou. Meu coração pareceu parar de bater por um instante. Cambaleei, atordoado e caí na cadeira. Eu senti tudo em minha volta desmoronar. Foi como se o ar em minha volta estivesse se esvaindo. Meus olhos não conseguiam parar de encarar o chão. As lágrimas já estavam prontas.

–Peter? – chamou Sophie, se aproximando.

–Bom, antes que eu os deixe... – Jason hesitou. Então, ele tomou o amendoim em suas mãos. – Lidar com todo isso, aqui está a semente da Árvore da Vida. Não queremos que a morte de Hanna seja em vão, certo?

–E o anel? – perguntou Sophie, tentando me consolar com tapinhas em minhas costas, mas sem tirar a atenção de Jason.

Jason o ergueu para que víssemos. O centro do anel explodiu em um campo de energia, como se faíscas fossem atraídas das extremidades do anel ao centro, como raios.

–Graça. – concluiu Sophie

Jason assentiu, devolvendo o anel à cama.

–A Graça de Hanna, precisamente. – falou Jason. – Esse anel é, simbolicamente, a alma de Hanna. Hanna escolheu ele como sua âncora à Terra. Com a Escolhida morta, não há como quebrar os selos. O anel está carregado com a Graça de Hanna, logo, ele deve ser usado para quebrar os selos, como um substituto. Bom, é só isso. Espero nunca mais vê-los.

–Espere! – Sophie chamou. – Não... Não... Ela não morreu. Eu sou um demônio. Eu a matei. Ela devia ter morrido e voltado.

–Bom, não foi isso que aconteceu. – disse Jason. – Na verdade, nós temos esse último passo, como uma confirmação da morte. Uma espécie de conjunto de desafios propostos a uma alma que deseje voltar a terra. Esses desafios são nada mais nada a menos do que a luta entre a alma e tudo aquilo que ela mais temeu em vida. É quase impossível que essa alma consiga passar. Hanna tentou, mesmo depois de avisarmos que podíamos perder o controle das criaturas usadas para tomar a forma de tais medos, mas ela não se importou. Bom, como era de se esperar, perdemos o controle, eles se tornaram parasitas da alma de Hanna, se alimentando de sua dor. Quanto mais eles “devoram” a dor de Hanna, mas ela sente dor e mais eles se alimentam e por aí vai. Vai chegar um ponto que vão matá-la. Eles vão colocar coisas em sua cabeça, vão usar os medos dos quais foram responsáveis por causar, para fazer com que Hanna desista. Vão sobrecarrega-la de um modo que a deixará inconsciente, sem saber quem é ou porque viver. Se eles não a matarem, ela vai se matar para libertar-se da dor.

Sophie suspirou, assustada.

–Mas se ela sobreviver? – perguntou Sophie, esperançosa

–Infelizmente, está um pouco atrasada. – disse ele. – Nós querubins somos omnipresentes, sendo capazes de conhecer e ver por dentro de todas as almas vivas e mortas neste momento. Porém, eu não consigo achar a alma de Hanna. Morta ou viva. Simplesmente desapareceu. E, dentre todos os querubins, meus poderes são mais fortes. Se digo que a alma de Hanna não está em nenhum lugar, Terra, Kraktus, Anakyse, Animus... Ela não está em lugar nenhum.

–O que isso quer dizer? – Sophie voltou a perguntar

–Que as criaturas destruíram sua alma. Ou ela achou um jeito de fazer isso ela mesma. – disse Jason. – De um jeito irreparável, sem direito a céu ou inferno.

–Mas... Mas eu sou um demônio! – insistiu ela, com lágrimas nos olhos. – Ela devia ter voltado!

–Como eu disse, algo deve ter ido errado. – comentou Jason.

Sophie hesitou.

–O que você quer dizer? – perguntou ela. – Que eu sou um anjo agora?

–Não, isso seria impossível. – retrucou Jason. – Anjos são abençoados por Deus, Demônios são amaldiçoados por Deus, não se pode ser os dois. Deve ter sido alguma coisa com a própria Hanna. Desculpe não ficar aqui para teorizar isso, mas eu realmente preciso ir.

Ele desapareceu em um feixe de luz. Sophie sentou-se na cama e encarou o anel, pensativa.

–O que deu errado? – perguntou ela, para si

–Pergunte a Hanna. – respondi, fitando meus dedos sobre o descanso da cadeira

Sophie me observou, um tanto incrédula.

–Sabe que ela está morta.

Resmunguei em resposta. Ela franziu o cenho, confusa.

–O que você está insinuando, Peter? Que eu... Eu...?

–Por quê a surpresa? – respondi de volta, encarando-a.

–Não faz sentido, Peter! – ela exclamou

–A ideia foi sua! – levantei da cadeira, exasperado

–Você pediu minha ajuda pra começo de conversa!

–Você aproveitou a oportunidade!

Ela recuou, me olhando dos pés à cabeça.

–O quê? – ela sussurrou, como um trovão antes da tempestade. Seus olhos se estreitaram, em desaprovação. – Você está insinuando que eu a matei sabendo que não iria funcionar?

Virei o rosto.

–Você perdeu a cabeça. – concluiu ela

–Não, você perdeu a cabeça! – vociferei. – Se você achou que isso seria uma maneira de eu virar os olhos novamente pra você...

–COMO É QUE É?! – ela gritou. Sua voz soou estridente e esganiçada, como se lutasse para manter as lágrimas. – VOCÊ ACHA MESMO QUE EU MATARIA UMA PESSOA INOCENTE POR VOCÊ?! PELO SEU PERDÃO?

Mordi o lábio, sem saber o que responder.

–POIS CRESÇA, PETER ROMAN, POIS O MUNDO NÃO GIRA EM TORNO DE VOCÊ! EU NUNCA FARIA NADA PRA MACHUCAR HANNA, PRINCIPALMENTE QUANDO ELA ESTEVE DO MEU LADO QUANDO VOCÊ NÃO ESTEVE, ME ENTENDEU E ME MOSTROU QUE SIM, EU PODIA CONSERTAR MEUS ERROS, TUDO ISSO ENQUANTO VOCÊ DAVA AS COSTAS E FUGIA POR AÍ COMO UMA CRIANÇA BIRRENTA! EU ESTOU CANSADA, PETER! CANSADA DO SEU DRAMINHA ADOLESCENTE, CANSADA DE ANDAR EM OVOS PELO SEU CONSENTIMENTO! ACABOU, EU DESISTO DE TE AMAR!

Sophie ofegou enquanto as lágrimas corriam em suas bochechas. Seu lábio tremia. Ela enxugou as lágrimas e arrumou o cabelo. Raiva tomou o lugar do choro. Ela parecia forte e cansada. Ela enrolou o anel e a semente de volta no pacotinho e jogou para mim.

–Quero você fora deste castelo. Agora.

Minha boca se abriu, em protesto, mas ela me interrompeu.

–Eu, Sophie Hough, a partir do poder que me cabe, expulso Peter Roman, acusado de falso testemunho e desacato a autoridade, de toda e qualquer localidade do Reino de Kraktus.

Ela suspirou.

–Até que seu direito seja revogado.

Naquele momento, eu me senti idiota. Idiota por dar as costas para a última pessoa que me restava. Idiota por me achar no direito de acusá-la. Idiota por que tudo que ela dissera, fora verdade. A algum tempo, eu pediria desculpas. Dessa vez, o orgulho me venceu. Passei por Sophie, sem olhar em seu olho ou dar uma palavra. Então, fiz o que me pareceu mais viável.

Fui ao Peep’s.

–E você sabe o que... O que... – eu murmurava, enquanto Bella lutava para fingir que prestava atenção. – Essa mesa tá suja, ó.

Ela revirou os olhos, irritada.

–Peter, você não tem nada melhor pra fazer não?

Ergui meus olhos com dificuldade, as pálpebras pesadas.

–Até tu, Bellus? – recitei, atropelando as palavras

Levei um tapa.

–Peter, dá pra parar de beber e explicar isso direito?! – vociferou ela

Mordi o lábio.

–Eu estou sozinho. – falei, ditando cada palavra perfeitamente. – Esse é o problema.

Bella me fitou por alguns instantes, como se decidisse se eu era digno de sua pena.

–Do que precisa? – ela perguntou

–Eu quero simplesmente... – comecei

–Peter, não. – interrompeu ela, sentando no banco ao meu lado. – Não faz isso. Você tem que ser forte. Eu não sei o que aconteceu, mas eu sei que não posso deixa-lo fraquejar. Não é porque você me largou por Hanna, que eu não me importo mais com você. Lembre-se, Peter. Temos os selos pra quebrar.

Pensei um pouco. Ela estava certa. Por mais que tudo tenha ocorrido daquele jeito, eu tinha de manter o plano. A vida de muita gente contava com a volta de Deus. Era meu dever.

–Certo. – falei, terminando o copo de cerveja.

–Beleza. – disse Bella, com um sorriso no rosto. – Vamos.

Senti um volume em meu bolso.

–Espera. Tenho que fazer uma coisa ainda.

Bella franziu o cenho.

–Aqui a vinte minutos? – perguntei

Bella assentiu e eu saí do Peep’s em direção aos portões de Kraktus. Fui andando mesmo. Demorei um século para chegar, estava quase escurecendo, mas não me importei. Quando cheguei aos portões, havia sentinelas protegendo os portões. Eles se mexeram inquietos ao ver minha aproximação.

–Eu fui banido. – falei. – Devo sair.

Eles se entreolharam, sem falar nada. Então, os portões se abriram.

–O que aconteceu com os efeitos mágicos? – perguntei

Eles não me responderam. Vai saber.

Passei pelos portões e me encontrei de volta à floresta. Aquelas árvores de altas copas, aquele escuro no meio da mata... Respirei fundo e segui em frente, me perguntando se Wendell guardava ressentimentos.

Logo eu descobri. Em um momento, eu andava pela floresta, em outro eu estava com as costelas sendo pressionadas contra o tronco de uma árvore, com dedos sujos e podres em meu pescoço e olhos azuis me encarando.

–Olá, menino Roman!

Wendell riu enquanto me soltava. Ele saltitou pela clareira até que se agachou no graveto de uma árvore.

–O que você quer agora, Wendell? – perguntei, impaciente

–Oh, não vamos nos apressar. – comentou ele, pulando da árvore. – Vocês ainda têm uma dívida comigo.

Não consegui acreditar na audácia dele.

–A morte de Joe não foi o bastante? – perguntou, incrédulo.

–Ué, aquilo foram juros, certo? – perguntou ele, como se fosse normal. – Ainda falta a dívida inicial. A alma de Robert.

–Tá, tanto faz. – falei, seguindo em frente.

Wendell pulou na minha frente, tentando me parar.

–Sabe, Sophie Hough foi quem fez o acordo. – falou Wendell. – Ela vai pra uma das minhas gaiolas.

–E desde quando me importo com Sophie? – perguntei, estreitando os olhos

–Ué, vocês não estavam... Juntos? – ele perguntou, com uma sobrancelha erguida

Seu rosto clareou, com uma pontada de ironia.

–Ah! Então você descobriu sobre o plano sujinho? – perguntou ele, fazendo biquinho

–Vai atrás de outra alma inocente pra torturar, faz favor.

Empurrei-o para o lado e segui pela floresta. Então, senti meu corpo ser jogado de um lado para o outro, minhas costelas sendo quebradas no chão e minha cabeça sendo esmagada contra as árvores. Se eu não tivesse Poder, eu teria morrido em segundos.

–Wendel!! – gritei, desesperado.

–Hora de brincar! – riu ele, como um bebê de três anos.

Sangue escorreu do meu nariz enquanto eu era usado de boneco de pano. Uma perna se quebrou, um braço também. Se o pescoço quebrasse, eu provavelmente, estaria morto.

–Acabou o showzinho, Wendell.

Não reconheci a voz. Só lembro de ser levemente depositado no chão. Aos poucos, senti meus ossos se regenerarem rapidamente. Recuperei os sentidos e fiquei de pé.

–Não se mete, Paris.

Paris estava de pé, em frente a Wendell. Ela usava uma roupa branca, com laterais escuras. Seu cabelo estava muito liso e caia em seus ombros. Ela parecia uma boneca de porcelana e seus olhos tinham um detalhe a mais.

–Eu te libertei. Posso te prender. – disse ele.

–Sabe que não. – falou Paris. – Apesar de você ser...

Ela hesitou.

–Você. – ela disse finalmente. – Nunca tomaria como refém um inocente.

–Bom, você não chegou a pagar sua dívida. Aquilo eram só...

–Juros, sei disso. – ela o cortou, impaciente. – Só que eu devo te avisar.

Wendell pareceu desconsertado.

–Essa é a minha floresta. Esse é o meu reino. Essa é minha casa. – disse ela, com um tom autoritário.

–Ela também é minha.

–Bom, cachorro de rua não tem casa. – devolveu Paris. – Acho que devia saber disso.

Wendell contorceu o nariz, como se cheirasse algo ruim.

–Convencida, não? – comentou ele, estreitando os olhos. – Pois bem. Vou indo por enquanto. Mas tenha cuidado: você está marcada. De novo.

Ele riu e saltitou até chocar-se contra uma árvore, onde explodiu em folhas. Paris olhou para a árvore, com desaprovação. Então, ela correu para ajudar-me a levantar.

–Você está bem? – ela perguntou, procurando por arranhões

–Sim, o que eu tinha de curar, já foi curado. – respondi, sacudindo folhas do meu ombro. – E você?

Paris sorriu.

–Bom, estou bem. – disse ela, seguindo pela floresta. Eu a segui. – Claro que de vez em quando sinto algumas recaídas, mas me sinto bem melhor. Tenho vocês a agradecer por isso. Você e Sophie.

Estremeci ao ouvir o nome de Sophie.

–O quê? – perguntou ela, ao perceber minha reação. – Vocês brigaram ou algo do tipo?

–Algo do tipo. –respondi, sem dar muitos detalhes.

Andamos mais alguns metros floresta adentro, até que ela finalmente perguntou:

–O que estava fazendo aqui?

–Procurava por você. – respondi.

Ela pareceu surpresa.

–Eu? Estou bem, não precisa se preocupar. – ela sacudiu a cabeça, rindo.

–Não, não é só isso. – corrigi. Então, parei no meio da floresta e tirei a semente do bolso.

Ela observou, abismada.

–Isso é... Essa não é uma semente normal. – ela deduziu.

–É a semente da Árvore da Vida. – falei.

Ela ergueu as sobrancelhas, espantada. Ela pegou a semente e olhou cada fibra do botão, como se cada linha, cada célula lhe fascinasse.

–Uau. – ela resmungou. Então, devolveu. – Tem sorte em achar uma dessas.

Bufei, irônico.

–Na verdade, esse é o terceiro selo. – falei. Ela murmurou um “ah”. – Preciso fazê-la germinar.

–Deixa eu adivinhar. – começou ela. – Você veio aqui para que eu cuidasse desse protótipo do Éden.

–É sua especialidade, certo? – perguntei, dando de ombros.

Ela pensou um pouco.

–Certíssimo.

Ela sorriu e tomou a semente de volta.

–Vamos, vou te mostrar minha casa. – ela sorriu e me puxou pela mão. –Vem!

Corremos pela floresta, como duas crianças despreocupadas. Ela ria enquanto voava entre as árvores. Então, ela parou bruscamente, em uma clareira. O sol tocava a grama molhada. Lá, o cheiro de rosas era mais forte. Tudo era mais intenso.

Encarei o chão, confuso.

–O que foi? – ela perguntou

–Como você pode ser um demônio e ao mesmo tempo ser tão doce? – perguntei. – Você não deveria espalhar o caos pelo mundo? Não deveríamos?

Paris suspirou.

–Peter, não somos demônios. – contestou ela. – Somos semi-demônios. Metade de nossa alma tem Poder, a outra tem Humanidade. Somos tão humanos quanto as pessoas, a única diferença são nossos poderes e o nome Demônios. Poucos de nós tem essa tendência caótica. Os demônios completos, esses sim são monstros. Insensíveis, impiedosos, sem um pingo de humanidade. Essas criaturas se deliciam com a dor, a agonia. E vai por mim, ainda existem muitos por aí.

–Achei que todos tinham caído nos humanos, formado a população de semi-demônios. – lembrei, confuso.

–Bom, mas alguns, mais poderosos, conseguiram manter sua forma original. – respondeu ela. – Você já conheceu alguns.

–Cavaleiros do Inferno. – deduzi.

Ela assentiu.

–Exato. – confirmou Paris. – São a corte do inferno, os filhos mais amados de Lucífer. Demônios mais poderosos. Lilith, Esposa de Lucífer, Rainha do Inferno e das tentações; Beelzebuth, filho de Lucífer e Lilith, Senhor da peste, da fome e da morte; Asmodeus, Lorde da ambição, da luxúria, da busca por poder; Azazel, Mestre das guerras, do confronto, da auto-destruição, do caos e Levithan, Princípe da inveja, da cobiça. São cinco. Todos eles estão espalhados por Kraktus e pela Terra, espalhando o caos e a dor por tudo que a vista alcança.

Ela parou um pouco, pensativa.

–Claro que existem os semi-demônios adoradores de Lucífer que querem o inferno na Terra, mas a maior parte de nós não. Não gostamos de Miguel, porque ele nos matará não importa o que dissermos. Não gostamos de Lucífer, porque nós queremos a paz, a felicidade.

–Querem que continue como está.

Ela assentiu.

–Chegamos.

Olhei em volta, procurando aonde chegamos. Fato: ela não dera um passo a mais.

–Aonde? – perguntei, confuso

–Na minha casa. – respondeu ela

Ergui uma sobrancelha.

–Não tem nada aqui.

–Não aqui em baixo.

Ela olhou para cima. Fiz o mesmo.

Flutuando, acima de nós, havia um emaranhado de nuvens. Como um iceberg de terra, uma extremidade pontuda descia das nuvens. Foi tudo que pude ver. Paris mexeu as mãos, como se fosse a maestra de uma orquestra. Vinhas surgiram do chão, se entrelaçaram e formaram uma escada flutuante que ia até o céu.

–Vamos.

Ela subiu e a segui. Em pouco tempo, já estávamos no topo.

Havia um enorme castelo formado por blocos de pedra, rodeado por paredes de plantas. Havia um arco cheio de curvas esculpidas logo na entrada. Passamos por debaixo do arco, para dentro do jardim de Paris. Árvores pequenas esculpidas em esferas se espalhavam pelo jardim, canteiros de flores formavam pequenas pracinhas em seu centro. Havia uma alta diversidade de plantas exóticas. Nos canteiros, alguns flutuantes, havia flores de todas as cores, azul, roxa, rosa, vermelha, brancas... As brancas eram lindas! Tudo parecia ter sido perfeitamente colocado em cada lugar, como se cada planta tivesse um efeito próprio perfeitamente adequado para sua posição. Além disso, no centro do jardim, havia uma enorme fonte, que derramava água azul e pura, pelos braços de um querubim. Além do jardim, um alto castelo rubro se erguia, refletindo a luz do sol, que batia em seus muros de pedra.

–É lindo. – comentei.

–Eu sei. – respondeu Paris, respirando fundo, orgulhosa.

Ela olhou um pouco, como se procurasse algo, sem sair da entrada.

–O que foi?

Ela suspirou. Então, começou a andar até o centro do jardim e eu a segui. Ela observou a fonte, coçando o queixo. Ela fez rodeou a fonte, olhando cada detalhe.

–Tire essa fonte. – ela falou em voz alta.

De repente, vinhas surgiram do chão e cobriram toda a fonte. Ela parou de derramar água e foi completamente engolida pelo chão, como se as vinhas fossem dentes levando a fonte até o estômago do castelo. Então, quando não havia mas nenhum indicio que um dia houve uma fonte ali, Paris ergueu a mão como se expulsasse algo. Um pedaço da terra sumiu, revelando um raso buraco redondo onde estava a fonte.

–Aqui é ótimo. – ela pensou alto.

Então, jogou a semente.

–Sua vez.

Suspirei e peguei o anel em meu bolso. Observei-o por alguns instantes. Era tão familiar. Eu sabia que era de Hanna, mas sentia tê-lo visto em outro lugar. Respirei fundo e coloquei-o em meu dedo anelar. Fechei o punho e senti algo subir pela minha mão, como se pequenas perninhas corressem pelo meu braço. Fui até o buraco e ergui as mãos. Concentrei-me ao máximo na semente. Senti o solavanco dentro de mim e senti-me como se soltasse um grande peso de minhas mãos, o poder descarregando do meu corpo. Senti o anel queimar em meu dedo. Abri os olhos. A semente tinha uma aura dourada em sua volta, como se a Graça e o Poder tentassem penetrá-la. Então, ela explodiu e tudo que vi foi um clarão branco.

Quando cessou, tentei ver o que acontecera. Uma folha, presa a um pequeno caule surgiu de uma abertura na semente.

–Afaste-se. – disse Paris, séria.

Obedeci, me sentindo um pouco zonzo. O anel parara de queimar. Paris posicionou as mãos como se segurasse bolas de ferro. Então, começou a se concentrar. De repente, as ‘bolas de ferro’ pareceram pesar e ela ergueu as mãos com dificuldade. A terra cobriu a semente e eu senti o chão tremer. Da terra, agora plana, começaram a crescer fortes raízes, subindo e se entrelaçando como se estivessem esperando suas vidas inteiras para fazer isso. O tronco se formou. Galhos surgiram dele, indo para os mais diversos lugares. Folhas brotaram, junto com flores. Das flores, nasceram frutos, maçãs douradas cada vez maiores e mais brilhantes. Ao fim, eu senti como estivesse de frente a oitava maravilha do mundo. Cada folha, cada galho, cada volta, era perfeitamente alinhada.

–Isso é lindo. – corrigiu Paris, fascinada.

Ela girou a mão e estendeu-a. Um fruto voou de seu galho para sua mão. Ela limpou em sua roupa e me entregou.

–Eu? – perguntei

–Sim. – respondeu ela.

Respirei fundo e tomei o fruto em minhas mãos. Eu podia sentir seu poder me atraindo, a vida mais perto a cada instante. Dei uma mordida.

Senti um gosto de chocolate. Aquele chocolate puro e doce, que derrete em sua boca e tem aquele delicioso gosto de açúcar. Deduzi que era feita para ter o gosto mais aplausível a quem o comia. Mastiguei por alguns instantes, sentindo que também era crocante. Então, engoli.

Foi quando começou.

Cuspi o fruto fora. Caí de joelhos, tossindo e sentindo meu estômago fazendo um forte esforço para se manter dentro do corpo. Senti como se todos os meus órgãos estivessem entrando em colapso, como se minha pele fosse ser arrancada do meu corpo. O ar escapava de mim. Ergui a cabeça, tentando respirar, mas tudo que consegui foi soltar um grito esganiçado. Minha vista embaçou e eu achei que fosse morrer. Eu segurava minha mão sobre meu coração, sentindo-o apertar.

Aos poucos, senti-me voltando ao normal. O ar voltou a entrar em minhas narinas, o colapso interno amenizou. Agora, tudo que eu sentia, era uma forte ânsia de vômito. Suspirei, ainda um pouco doído. Levantei e observei Paris, que me olhava abismada.

–Parece que quando um selo se quebra, tenho que quebrar uma costela. – falei, fazendo pequenos alongamentos com a cabeça e os braços.

Paris deu um sorriso tímido.

–Vamos, entre. – disse ela.

–Desculpe, não posso. – falei, seguindo em direção as escadas que desciam até o... Chão. – Tenho que quebrar os outros selos.

Paris murmurou um “ok”.

–Tchau. – ela disse, se virando para o castelo.

–Paris! – chamei.

Ela se virou.

–Você é uma boa amiga. – comentei.

Ela sorriu. Então, tombou a cabeça, desconfiada.

–Amiga, Peter. – ela lembrou. – Apenas amiga.

–Mas... – tentei contestar

–Tchau, Peter! – ela riu e o arco na entrada, foi bloqueado por plantas.

Sorri para mim mesmo e desci as escadas, voltando ao chão.

–Onde diabos você estava?

Bella estava impressionada com minha falta de pontualidade. Uma hora atrasado. Soltei uma desculpa que o trânsito estava lotado e ela pareceu não se importar.

–Entre, antes que o bar lote e eu tenha que trocar de turnos. – falou ela, me empurrando para dentro da porta lateral, atrás do balcão de bebidas.

Era uma salinha suja. Havia várias caixas empilhadas de qualquer jeito, algumas equilibradas em uma estante. Tinha um cheiro horrível de carne estragada. Havia dois freezers num canto, separados por duas geladeiras.

–Aqui é o depósito. – disse Bella

No centro da sala, havia uma mesa de madeira com duas cadeiras de metal. A mesa era coberta com um pano vermelho.

–O que vamos fazer aqui, de fato? – perguntei, sentando em uma das cadeiras.

–Descobrir o que precisamos para o próximo selo. – respondeu ela, sentando de frente para mim. – Você lembra qual é o próximo?

–Um minutinho.

Corri para o meu bolso, atrás de meu celular. Na noite em que resolvemos sobre a Árvore da Vida, Hanna me enviara a lista dos selos que ela mantinha no seu celular. Abri as mensagens e achei.

–“As águas puras devem ser corrompidas”. – li em voz alta.

Bella resmungou e pensou um pouco. Então, ela pareceu ter tido uma ideia.

–Sua mão. – ela disse, estendendo a dela sobre a mesa.

–O quê? – perguntei, com um tom sarcástico.

–Eu vou fazer uma ligação entre você e os selos. – disse ela. – A partir dessa ligação, posso descobrir o que você precisa pra quebrar este.

–Bem isso mesmo, Madame Bella. – falei, rindo.

Ela estreitou os olhos, irônica.

–Que engraçado.

Ela mesma puxou minha mão. Observei-a, incrédulo com a situação. Eu confiava em Bella, mas era um tanto engraçado. Ela segurou minha mão na sua e fechou os olhos.

–Hum... – ela murmurou. – Bom. Certo, não me parece muito difícil. Uma garota. Cabelos loiros. Olhos castanhos. Não parece ter mais de dez anos. Eu vejo você. Seu pai e...

Ela abriu os olhos, abismada.

–O que foi? – perguntei, levando a sério sua reação.

–Eu vi... – ela tentou falar. – A menina. Você tem que matá-la.

Meus olhos se arregalaram.

–Matar uma criança?! – perguntei, espantado. – Como você espera que eu mate uma criança?!

–Não é só isso. – ela falou, com uma expressão de pena. – Tem mais uma coisa.

–O quê?! – perguntei – O que pode ser pior?

–A menina.

Ela hesitou. Suspirou e soltou:

–É sua irmã.


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Notas finais do capítulo

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