The Last Taste - Season 1 escrita por Henry Petrov


Capítulo 2
The Hospital


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal! Bom, mais um capítulo fresquinho. Espero que gostem. Eu sei que deve estar muito bom, todo dia um capítulo, mas é porque eu programei pra postar, tá? Depois do capítulo 10, posso demorar mais pra postar. Enfim. Boa Leitura (:



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Acordei com cócegas em minhas pernas. Abri os olhos lentamente e vi: uma barata caminhava pelo meu corpo. Gritei e, assustada, ela foi embora.

–É só uma barata.

Do outro lado da sala, um vulto loiro falou.

–Hanna?

Ela me deu um “ok” com o polegar.

Estávamos em uma cela. Fedorenta e empoeirada, com algumas poças de óleo, outras de água e posso jurar que vi uma de sangue. Nossos calcanhares estavam acorrentados a bolas de ferro, que pareciam pesar, pelo menos, uma tonelada. A sala era cinzenta e parecia uma garagem, tinha até a porta de metal rolante. Era mal iluminada por uma lâmpada quase que caindo do teto.

–Como vamos embora? – perguntei, forçando a corrente

–Não sei. –respondeu. – Vamos rezar, que tal?

–O que tá acontecendo com você? – perguntei. A atitude “não me importo” de Hanna me preocupava.

–Estou esperando a morte. – ela falou respirando fundo. – Já não bastasse estar com você, agora fui sequestrada. Maravilhoso.

–Prefere ser sequestrada do quer estar comigo? – perguntei.

Yep. – ela respondeu, sem me encarar.

Mordi o lábio, pensando em alguma coisa, mas fui interrompido. A porta se abriu e uma luz invadiu a sala, revelando que Hanna estava com parte dos cabelos com um liquido preto avermelhado, provavelmente, óleo. Á porta, havia um homem. Ele tinha cabelos castanho-claros arrumados em um topete engraçado. Usava uma bata branca e tinha um estetoscópio enrolado em seu pescoço. Usava óculos e seus olhos eram verdes. Seu rosto era quadrado e não tinha barba.

–Bom dia, luz do dia. – ele falou, colocando a mão nos bolsos.

–O que você quer? -perguntei

Ele riu e pôs as mãos para trás e começou a andar pela sala.

–Peter Roman. – ele falou, olhando para mim. – Descendente de Joseph Roman, considerado pioneiro no ramo da bruxaria.

Franzi o cenho e pensei em rir, para mostrar o quanto ridículo aquilo soava, mas eu não via graça nenhuma em estar sequestrado.

–Hanna Whitlight. –ele olhou para Hanna. – Descendente de Johanna Whitlight, considerada pioneira no ramo de milagres. O que você acha?

–Acha que somos macumbeiros e curandeiros? - Hanna perguntou. Pelo seu tom, estava cansada e falar era um esforço, não que a fizesse fraca, mas por mera preguiça.

–Que tem os mesmos poderes. – ele respondeu, voltando à porta. – Meu nome é Carl. Sou um cientista. Ilegal, claro, nunca aceitaram minhas teses.

Ele hesitou e saiu da sala, mas voltou.

–Ia me esquecendo. Não esperem resgaste. Provavelmente, vão morrer aqui.

Ele fechou a porta e a luz foi embora. Por pouco.

Havia um pequeno feixe de luz iluminando o chão. No canto da porta, havia um sapato. O de Hanna.

–Brilhante, Hanna! – parabenizei

–Tá, tá. – ela falou. – Consegui segurar a porta. Isso é um começo.

Passamos cerca de meia-hora pensando no que fazer. Passei boa parte desse tempo, olhando para a lâmpada, esperando uma luz.

–Você acredita nele? -perguntei

–Não. – respondeu ela. – Acho que ele é maluco. Falta um parafuso chamado Juízo naquele homem.

Ficamos calados por ainda mais tempo. Dez minutos. Uma hora. A porta voltou a se abrir, mas não era Carl. Era um homem de jaqueta e capuz preto. Aquele não parecia um homem de se aborrecer.

–Carl quer a garota. – ele falou, pegando uma chave.

Se abaixou para destrancar o cadeado de Hanna e livrá-la da bola e ferro. Então, Hanna bateu com a cabeça na dele, com tamanha força que ele desmaiou, mas Hanna continuou acordada. Ela deu uma cabeçada nele. Se levantou e veio até mim.

–Se eu for pega por causa de você... – comentou

–Eu sei. – interrompi

Ela me soltou com a chave e corremos para fora da sala. Parecia um hospital abandonado e muito mal iluminado. O corredor estava vazio, exceto por alguns bancos com as pinturas descascadas e algumas placas caídas. Hanna olhou de um lado para o outro, aflita. Ela calçou os sapatos.

–Pra que lado? – perguntei, tentando ver aonde que dava as duas direções. – Tive uma ideia.

Corri pelo corredor até uma placa caída próxima a um banco. Com letras grandes e quase soltas, estava escrito “Depósito Hospitalar”.

–Um hospital... Aqui era onde os médicos estocavam medicamentos, aparelhos... – contei

Hanna afirmou com a cabeça.

–Ok. E agora, Sr. Tive Uma Ideia? – ela cruzou os braços.

Observei o chão. Havia uma trilha de sangue que seguia para o caminho da esquerda. O corredor da direita estava quase destruído.

–Sangue. – Hanna falou, cruzando os braços. – Ele carrega a vítima... Sangrando.

Respirei fundo e segui o corredor destruído, Hanna também. Quanto mais seguíamos, mais destruído e escuro o corredor ficava.

–Não estou gostando disso. – Hanna comentou

Então, nossa esperança cresceu. O corredor foi parar em uma salinha com um balcão de granito e várias cadeiras almofadadas.

–Recepção. – anunciei e comecei a procurar uma saída. – Porta, porta...

–Achei! – Hanna exclamou

No lado oposto da sala, havia um portal sem porta, que deixava a luz do sol entrar no hospital.

–Isso foi fácil. – falei, rindo e saindo do hospital.

–Fácil demais. –ela observou, quase que para si mesma.

Quando senti a luz do Sol tocar meu rosto, fui brutamente interrompido por latidos e rosnados: cinco cachorros negros, com coleiras vermelhas com espinhos de metal. Os buldogues esbanjavam sua raiva, babando.

–Peter! – Hanna gritou, me puxando pelo braço.

Os cachorros avançaram para cima de mim, mas corri para dentro do prédio e eles desistiram de nos perseguir.

–Tenho certeza que Carl ouviu os latidos. – falei, seguindo de volta para o corredor.

–É, ouvi.

Carl apareceu na porta da recepção, com uma pistola apontada para nós. Seu sorriso tremia de raiva. Antes que pudéssemos correr, ele atirou.

Esperei a dor e o sangue, mas eles não vieram. Senti uma alfinetado dolorosa em meu pescoço e a última visão que tive foi de Hanna tentando fugir, mas sendo pega pouco depois.

Acordei em algo gelado. Aos poucos, senti meus sentidos retornarem lentamente. Quando abri os olhos, tudo que vi foi uma luz, branca e incandescente. Então, uma sombra entrou na luz. O sorriso branco de Carl estava escondido por uma máscara.

–Olá, menino maluquinho.

–Por quê não nos deixa em paz? – perguntei. Falar estava consumindo todas as poucas forças que me restava.

–Veja isso como uma honra. – ele respondeu, pegando uma seringa e um gravador, apertando o play. – 5471 está sendo testado com o veneno Crotalus. Nas próximas horas, seu corpo deve ser estimulado a manifestar suas verdadeiras condições, para sobreviver.

Tentei me desvencilhar da agulha, mas eu estava preso, acorrentado em uma maca de ferro. Além disso, ainda estava fraco por conta do tranquilizante que ele atirara. Devagar, senti ele segurar meu braço (que eu mexia, relutante) e senti o penetrar da agulha, o líquido sendo despejado. Comecei a ofegar por nervosismo.

–5472 está reagindo mal aos testes feitos. – ele falou, em algum lugar da sala. – A mordida está infeccionando e não há respostas do organismo. Existe a possibilidade da necessidade de aborto do teste.

–Hanna. – minha voz parecia um sussurro, baixa e falha.

Ela não respondeu, mas eu conseguia sentir o seu perfume. Tentei olhar para onde Carl foi e fiquei em choque. O braço de esquerdo dela estava tombado para um lado, na maca de ferro. Estava sem uma parte da pele, em carne viva. Essa parte do braço estava completamente encharcada de sangue. Ela fazia poucos movimentos, deveria estar na beira da morte. Comparado aquilo, veneno era brincadeira.

Eu queria salvá-la. Tirá-la de lá, abraça-la e nunca mais soltar. Por mais que ela me odiasse, naquele momento, ela era tudo o que eu tinha. De algum jeito, Hanna despertava em mim o caráter que eu não tinha. Era a luz em minha mente obscura.

Comecei a sentir minha visão ficar turva, minhas pernas perderem o movimento. Não fazia ideia de quando tempo havia desde que tinha sido envenenado. Aquele homem era louco. Olhando para Hanna, pude observar o quão impossibilitada estava. Seus cabelos loiros, ainda sujos de óleo, estavam soltos de todo jeito. Sua mão direita repousava em sua blusa florida e seu braço pingava de sangue. Então, algo aconteceu.

Minha visão voltou ao normal. Recuperei meus sentidos e me senti como novo, apesar de estar levemente cansado. Forcei as barras por um bom tempo, até que elas cederam. Levantei e corri para Hanna. Ela quase não respirava.

–Hanna, acorda. – chamei, sacudindo-a com com cuidado, porque né? – Temos que ir.

Ela gemeu. Peguei-a no braço e fui arrastando ela até a saída, que dava em um corredor sujo. Ela falou, muito baixo, meu nome mas continuei. Passei por vários corredores, salas e recepções, mas não havia saída aparente. Por sorte, encontrei um depósito, repleto de medicamentos que não aparentavam 50 anos como os outros.

–Isso! – fiquei aliviado.

O depósito era dentro de uma sala bem fedorenta. Haviam várias estantes, repletos de potes e potinhos com comprimidos e cápsulas variadas. Procurei por algum remédio que pudesse curar Hanna, mas fui impedido. Simplesmente, perdi o movimento das pernas e tombei, quase desmaiando. Não me pergunte o que aconteceu, eu mesmo não tinha ideia que brincadeira de mal gosto estava sendo feita comigo. Me arrastando, achei um comprimido que dizia “Mafalda Perks – Tomar de 12 em 12 horas em caso de dor.”

–Hanna. – gemi, entregando-lhe o pote.

Lentamente, ela o pegou e engoliu a única cápsula que restava. Fechou os olhos e tombou a cabeça para trás. Ela dormiu. Então, me entreguei a dor e desmaiei.

Acordei com ela me chamando. Sua voz estava bem melhor e mais confiante, podia dizer que ela estava bem. Eu estava mil vezes pior do que antes. Minha cabeça doía, não conseguia respirar direito e minha visão estava toda embaçada, mal conseguia ver Hanna no depósito iluminado. Agora não eram só as pernas, meus braços estavam imóveis. Sentia meu corpo todo queimar de febre e meus pensamentos se esvaiam facilmente, não conseguia me concentrar em nada.

–Peter, o remédio fez efeito. – ela falou.

Ergui meus olhos para observá-la. Seus olhos estavam abertos e ela parecia ativa, acordada, bem melhor do que antes e o braço envolvido por um curativo.

–Achei alguns na estante do fundo. – ela falou, ao ver que eu olhava para os curativos.

–Vou morrer. – conclui. A dor era mais forte do que nunca.

–Não, você não vai. – ela falou.

Eu podia sentir o ar se esvair de mim, a dor ir e vir. Eu procurava forças, mas não sobrara nenhuma. Tudo o que não senti enquanto fugia com Hanna, eu estava sentindo agora. Hanna colocou minha cabeça em seu colo e acariciou meus cabelos. Seu perfume penetrava nos meus pensamentos, me fazendo temer a falta daquele cheiro. Eu estava com medo de morrer. Ela fungou.

–Você está chorando? – perguntei, piscando lentamente.

Ela não me respondeu, só continuou a me acariciar.

–Por quê está assim? Tão.. Gentil?

Ela fungou de novo e, com a voz trêmula, respondeu:

–Porque agora eu te entendo. Você precisa de alguém que te entenda, que esteja do seu lado, que não te julgue. Tem que sentir que alguém se importa com você.

–Hanna. – falei, com minha voz falhando no último “a”. – Me perdoa.

Ela não respondeu. Em vez disso, abaixou a cabeça e pude ver a trilha de lágrimas em suas bochechas rosadas, entre seus ondulados cabelos loiros. Ela molhou os lábios e me beijou.

Foi como se estivesse sendo resgatado, puxado do fundo de um abismo. Parecia que éramos só nós dois e que o sequestro fora nada a não ser um problema de outra vida. Aquele beijo fora o melhor de todos o que eu já tinha sentido. Parecia um beijo culpado, perigoso, mas ao mesmo tempo cheio de paixão e amor. De todos os beijos, de todas as meninas que eu já tinha sentido os lábios, os de Hanna eram simplesmente... Perfeitos. Eu me sentia feliz enquanto meus lábios dançavam nos dela. Senti minhas pernas e braços voltarem ao normal, ganharem os movimentos. Eu estava curado do veneno. (de novo, não me pergunte porque)

Levantei e beijei-a com mais força, paixão. Deitei por cima dela e segurei sua cabeça enquanto beijava seu rosto, seu pescoço. Ela puxava meu cabelo, o amaciava entre seus dedos, me deixando louco.

Por fim, encostamos as testas e rimos. Não nos impressionava o fato de eu ter sido curado, de novo. Aquele momento era mil vezes mais importante. Era engraçado como havíamos nos odiado por tanto tempo, enquanto um amor entre nós me parecia ainda maior do que qualquer coisa que tínhamos sentido um pelo outro.


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Notas finais do capítulo

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