– Carneirinho, vamos sair daqui...por favor...chega de mal entendidos, tenho tanta saudade de nós..

Niko, ofegante, todo seu fôlego fôra roubado:

– Ai Félix...é que eu não posso. Tenho duas entrevistas daqui a pouco e logo depois reabro o restaurante. Desculpe...

– Eu devo ter feito chapinha nos cabelos de Maria Madalena pra você me dispensar assim - o moreno larga Niko e começa a se ajeitar.

– Mas entrevista pra quê, Carneirinho?

Niko respira fundo e:

– Gerente de restaurante, preciso de alguém pra me ajudar com o restaurante, bom você sabe...até já tinha te convidado...

Um flashback vem na cebeça de Félix, várias vezes o Carneirinho lhe pedira ajuda e Félix interpretava aquilo apenas como mais uma tentativa de cantada do que qualquer outra coisa. E agora pela situação do ‘pequeno’ escritório realmente Niko precisava de ajuda...

– E se eu te ajudasse com as entrevistas? Você ficaria livre mais rápido e poderíamos tomar um café pelo menos...

– Não me olhe assim! Depois das entrevistas preciso começar a organizar o cardápio para o jantar. Mas pensando bem até que não seria má idéia a sua ajuda com as entrevistas. Pelos currículos selecionei dois candidatos, se nenhum deles se encaixar no que preciso, contrato uma agência pra me ajudar... - Niko enxugava novas lágrimas.

– Carneirinho, mas o que foi agora?

– Eu achei que você ia me dispensar hoje...

– Vem cá – Félix abraça o amado – Além da sua ingenuidade, agora mais essa. Eu realmente gostaria que você tivesse me dispensado, pois ainda não acho que sou a melhor pessoa pra estar com você, porque aí, bom aí, eu acreditava que você ia ficar bem e somente eu na fossa...

– Félix, você precisa aceitar que as pessoas gostam de você.

– As pessoas não Niko, você – e ele abraça seu carneirinho mais forte ainda...

Enfim a primeira candidata chega...Luisa, após todos as perguntas Niko agradece e ela sai.

– Carneirinho, não seja louco, essa moça é uma desorganizada!

– Féeelix, como você pode falar algo assim? Você fez duas perguntas e se calou, eu que praticamente fiz a entrevista!

– Niko, você viu as unhas dela? Alguém que não faz unha pra uma entrevista, querer organizar o restaurante? Afff...Imagina que ela ia conseguir organizar aquela bagunça dentro daquilo que você chama de escritório?

Niko balançava a cabeça descrente, mas no fundo estava feliz por passar a tarde na companhia de Félix. Uma nova persperctiva estava se abrindo, talvez Félix entendesse que ele realmente gostava dele independente do passado, de seus atos.

Próximo candidato: João. E que candidato! Juliana, a moça da limpeza, não tirava os olhos dele. Forte, alto e parecia ser extremamente simpático.

– Boa tarde, senhor Nicolas.

– Olá João, posso te chamar de João? Por favor me chamar de Nicolas. Por favor sente aqui. Esse é o Félix.

Félix, de cara fechada, cumprimenta o rapaz e apenas apenas observa. Algumas perguntas depois:

– E por quê você decidiu sair do Rio?

– Por motivos pessoais estou em busca de novos ares...bom, vou ser sincero...sai de um relacionamento e o final foi complicado, daí optei por voltar a São Paulo e ficar mais próximo da minha família. Nessas horas ajuda ter amigos e a mãe por perto.

– E como – completa Niko lembrando como Félix havia o ajudado.

Por fim João agradece a oportunidade e sai. Félix mal se despede e já vai interrogando:

– Podemos tomar nosso café? Já que você não pode sair por causa do restaurante estava pensando em ir na rainha do hot-dog antes de voltar pra casa...

– Félix, deixa de ser, eu preciso trabalhar, hoje é sexta, um dia cheio no restaurante. Não posso decepcionar meus clientes! Mas o que você achou do João? Estou tentado a contratá-lo, que acha?

– Nem pensar! – Félix responde irritadissímo

– Félix, o que houve agora?

– Esse cara é gay! – mais irritado ainda.

– Desde quando você é preconceituoso??? – Niko não se contem e cai na risada.

– Carneirinho, você viu como ele te olhava, nem se preocupou em me responder direito. Não, esse daí que não vai trabalhar aqui, nem pensar! – Félix cruza os braços, irado.

Niko continua rindo.

– Ok, então vou contratar a agência pra pré-selecionar o candidato e incluir que gays não são aceitos?! Convenhamos Félix, o rapaz tem boas referências e experiência com restaurantes.

– Eu aceito!

– Legal, vou falar com a agência que tenho o número agora e já iniciar o processo – Niko respira aliviado, apesar da diversão com a cena de ciúmes sabia que não tinha tempo a perder com isso, todas as contas do restaurante estavam desorganizadas. Precisava urgente de um bom gerente.

–Não, Niko, que agência, que nada! Eu aceito ser seu gerente! Acho que vai ser a única maneira de te livrar desses lobos e lacraias que aparecem pelo seu caminho. – Félix olhava decidido para Niko, esperava que ele aceitasse a proposta sem pestanejar:

– Bom eu já havia dito que você daria um ótimo gerente, mas preciso saber sua pretensão salarial, afinal já tenho muitas dívidas – Niko adorou a idéia de Félix, mas agora sabia que não poderi a misturar os negócios com outras coisas.

– Niko, não seja bobo, eu não vou te cobrar. – Félix sorri aliviado pois Niko continuava confiando nele.

– Ah, não, ou eu te pago o que o João pediu, ou não tem acordo. Você que me dizia que não era para misturar cantada com negócios vem dar uma dessas? E é uma maneira de você aumentar sua renda, além não ficar na base da mesada da sua mãe! Pegar ou largar? E olha que se você largar, tem muita gente querendo pegar.

Félix se levanta vermelho como uma pimenta:

– Niko! Carneirinho, Carneirinho, não vem querendo aparecer – seu Carneirinho estava se divertindo, quanto mais bravo ele ficava mais Niko ria – Tá bom, tá bom, eu aceito o que você ia pagar para o João, mas não posso ficar o dia todo aqui por causa do papi soberano. Fechado?

– Bom, agora que eu já contratei um gerente, vamos tomar nosso café? Niko mirava a cara de pato do seu amado e achava aquilo tudo divino, não só tinha a sensação que Félix estava tentando mudar por eles dois mas também havia resolvido o problema da gerência do restaurante. – Depois do café voltamos e eu te explico em que preciso de ajuda e acredito que várias das coisas que preciso, você poderá fazer de casa... Não sou muito bom em contas..

– Engraçado, bem que o Jayminho me disse que você não era bom em matemática... Félix abaixara a guarda e sorria.

– Que mais ele te disse?? Deixa pra lá, vamos logo porque daqui a pouco nem café vai dar tempo de tomar.

– E falando em café? Depois que você fechar o restaurante, tem compromisso? Sorrindo maliciosamente o moreno esperava uma resposta.

– Sim, dei folga pra Adriana hoje...- Caiu na gargalhada. - Brincadeira. Você me liga depois que sair da Marcia?

Felix sabia o que Niko pretendia, mas já não podia fugir:

– Sim, ligo. – Já não queria mesmo fugir, mas ainda foi ao café com aquela cara de pato...