Dias melhores virão escrita por Rose


Capítulo 64
Cap. 64


Notas iniciais do capítulo

Por que é tão díficil escrever o que se sente...?
Espero que gostem



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Aquele dia parecia interminável, por mais que os segundos passassem os minutos pareciam rastejar pelos olhos de Félix, de que lhe adiantava um relógio tão caro se ele não conseguia lhe trazer a noite amiga com seu carneirinho?

Após a conversa com Márcia e infinitas brincadeiras com Mary Jane a mansão lhe parecia o caminho mais natural, não suportaria ir ao restaurante e ser ignorado por Nicolas, mesmo sem entender o porquê de sua criatura preferida ter ficado chateada pela sua falta de interesse em parabenizá-lo já que sua preocupação era unicamente resolver os detalhes para que pudessem oficializar a união, e de preferência levando seu pai para onde quer que fossem. Ainda não lhe havia entrado na cabeça qualquer outra possibilidade que não fosse Angra dos Reis. Nessas horas a insegurança lhe batia forte, nem o soco mais pesado seria capaz de lhe tirar o fôlego daquela maneira: ali, agora, sentado na sala olhando fixamente seu relógio suíço.

"Pelas contas do rosário, eu deveria ir para o restaurante jantar com ele, meio de semana é sempre tranquilo."
A noite por fim caiu e ele decidiu-se por fazer companhia a seu pai mesmo tendo certeza que qualquer conversa que tivessem somente o fariam sentir pior, mas ainda assim era seu pai.

César preferia jantar no quarto com o auxílio da enfermeira, seus movimentos ainda não lhe davam a liberdade de se alimentar sozinho e aquilo lhe angustiava mais que a tudo, depender de estranhos, ter como companhia aquele filho e por mais estranho que fosse ainda tinha saudades de Aline mesmo sabendo que tudo que viveram foi uma mentira...

– Papi, boa noite. Dona Lourdes, pode ir descansar um pouco, eu sirvo meu pai hoje.

– Além de querer brincar de casinha com aquela bicha, vai querer me fazer de boneca?

– Papi, por favor...Já sei, já sei, não precisa dizer; papai, por favor.

Quando Félix entonou sua voz séria para chamá-lo de papai ele concordou em sua companhia para o jantar.

– Félix, não me diga uma palavra, eu quero jantar em silêncio.

Desde o momento que seu pai havia descoberto Niko e as suas pretensões, enfim, suas poucas conversas se referiam a rotina de enfermeiras, fisioterapia e médicos. César, desde o último final de semana com a volta do filho do Rio de Janeiro, recusava qualquer conversa com o filho...Afinal, a única coisa que lhe vinha a cabeça era como deserdá-lo.

Ele se alimentava com dificuldade, devagar e, o ganho dos movimentos era lento e a única coisa que lhe animava no meio de toda aquela situação era a esperança de se ver livre da ex-esposa, do filho e fugir dali...Mas para onde? Quem iriam cuidar de um inválido como ele? Como médico ele tinha certeza que não haveria melhora suficiente para que ele se tornasse independente de novo.

A gelatina lhe descia amarga pela garganta, era tanta humilhação que ele se pudesse preferiria morrer de fome e acabar de vez com aquele tormento...Félix seguia cabisbaixo, ultimamente se contentava com tão pouco que somente o fato de estarem ali sem brigar já era algum tipo de vitória. Melhor que saísse logo depois e pudesse se enganar por alguns segundos que seu pai o estava aceitando.

– Félix

– Sim, papai.

– Aquele garoto, o Jayme... Félix, vocês vão estragar a vida dele, que exemplo ele vai ter dentro de casa? Duas bichas brincando de casinha? Meu filho, ele não tem culpa do pai ser assim...

– Boa noite, papi...

Félix fechou a porta suavemente, mais uma vez suas mãos seguiam em direção ao peito num movimento característico de angústia. Que ele poderia responder ao pai? Que Jayminho era uma criança adorável que ele amaria e cuidaria como se fosse seu? Que não era a opção sexual dos dois que definiria a pessoa que o menino viria a ser? Ele já estava tão cansado de tudo que foi refugiar-se em seu quarto. Pela primeira vez em alguns meses teve medo por não ver seu carneirinho, o que faria ele nesse exato momento? Pergunta óbvia: cortando peixe.

Talvez fosse melhor ficar em casa, ao menos uma noite deixar seu Carneirinho ter espaço para pensar em tudo que estava acontecendo. Mas como fugir sem ser questionado...Conhecendo seu gênio, talvez fosse melhor deixar Niko se acalmar um pouco para que ele pudesse concertar as coisas, afinal era só uma indicação de uma revista...

“Se eu não disser nada ele vai aparecer aqui todo esbaforido...Posso dar uma desculpa...”

“Carneirinho, a enfermeira da noite faltou e não há ninguém para ficar com meu pai, nos vemos amanhã. Te amo.”

– Não, não está bom. Não dá pra dizer isso pelo telefone. Eu nunca disse, começar assim...Ele merece algo especial...Eu amo meu Carneirinho...

“Carneirinho, a enfermeira faltou e preciso ficar com meu pai, nos vemos amanhã. Saudades.”

– Mas não fazem nem doze horas que sai da casa dele...

“Niko, preciso ficar em casa hoje com meu pai. Quer vir pra cá?”

“Carneirinho, ainda posso ir dormir na sua casa?”

“Nicolas, meu carro quebrou. Não tenho dinheiro pro táxi.”

– Félix Khoury, isso é só uma mensagem, você não sabe mais escrever? – O celular é atirado longe, afinal o que ele poderia escrever para aquela criatura que lhe dominava como mais ninguém, se tudo aquilo que lhe embrulhava a alma era amor, talvez fosse por isso que as pessoas relutassem tanto em se apaixonar. Era tão difícil.

“Fico em casa hoje com meu pai. Te ligo”

– Acho que está bom, pronto, enviar...Não, não, como será que eu faço para trazer de volta essa mensagem? Inferno, devo ter jogado sal no mar morto para que não tenham inventado isso ainda...Olha só, nem para ler a mensagem e responder, aposto que deve estar de conversinha com algum cliente enquanto corta aqueles sushis...

Nicolas, ao contrário do que Félix imaginava, estava atarefadíssimo com um grupo grande que havia chegado de surpresa para comemorar um aniversário, a notícia de que ele havia sido indicado como chefe revelação já circulava pela internet começava a trazer resultados inesperados, o restaurante estava nitidamente mais cheio.

“Ele nem chegou ainda com um ramalhete de flores pedindo desculpa, deve ser o trânsito...Pelo menos quando ele chegar eu não terei tanto trabalho em convencê-lo a me acompanhar na entrega dos prêmios...Já pensou eu entrando com ele no salão? Espero que ele não dê pra traz como a lacraia, ops, melhor dizendo o Eron que não gostava de ser visto em público comigo...’

As horas foram passando assim como a ansiedade de Nicolas fora aumentando pela ausência das desculpas, será que algo havia acontecido com ele? Quase dez horas...Faltava pouco para que ele pudesse ir embora. Não seria possível que a cidade ainda estivesse parada nesse horário ou seria?

A caminho do carro, o celular vibrou indicando as mensagens não lidas...Recado da Adriana, fornecedor de peixe e dele.

“Será que ele precisa de ajuda?”

“São quase onze horas...Até eu chegar lá já vai passar da meia-noite...”. “Vou ligar...Não, se ele mandou mensagem deve querer uma mensagem de volta, se eu ligo e ele está cuidando do pai já vai ser mais um motivo para briga. Por que será que ele não liga? Ele quer ser tão tecnológico que só atrapalha...Melhor responder rápido, aiiii, pensa Niko, pensa....Já sei”

“Ok, amanhã nos falamos.”

A resposta curta e seca de Nicolas surpreendeu Félix, exaurido a espera de qualquer sinal de vida de sua corujinha gorda. Definitivamente ele não estava acostumado a alguém que pudesse lhe responder da mesma maneira que ele escrevera...


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Notas finais do capítulo

Pra quem acompanha, mais uma vez peço desculpas pelo longo espaço entre os capítulos, eu realmente tento regularizar isso...Vamos ver se agora vai...

Até breve...