Dias melhores virão escrita por Rose


Capítulo 65
Cap 65


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!
(esse capítulo eu esperei muito pra escrever porque a história se tornou maior do que eu imaginava no início)



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Já passavam das três da manhã e Félix já não sabia o que era pior – a angústia da insônia ou a falta de coragem para ir logo atrás de seu Carneirinho, afinal o que ele fazia ali ainda? Logo agora que as coisas pareciam melhores eles começavam outra briga sem sentido, não; ele, Félix Khoury mais uma vez começava outra discussão por nada...Bom, na verdade havia uma razão, e isso lhe consumia mais que tudo, afinal Nicolas mesmo sem lhe dizer claramente tentava a todo tempo demonstrar como ele ainda era egoísta, como ainda se comportava como o mesmo Félix de sempre, só que agora arrependido dos erros do passado e talvez nada mais. Todas as palavras de apoio que seu carneirinho anunciava aos quatro ventos se perdiam pelo caminho quando ele se lembrava do longo caminho que ainda tinha a sua frente.

Que mal haveria em aguardar mais alguns dias para que viajassem e ele pudesse conhecer a cidade que Nicolas nasceu? Ele não precisava de nenhum crítico de revista para dizer quão bem seu carneirinho dominava a cozinha...Eram tantas coisas que ele gostaria de fazer antes que se mudassem para Angra ou qualquer outro lugar longe de São Paulo; tantas vezes pensava que para o lugar que fossem só voltaria se fosse morto.

‘Se eu saísse em trinta minutos ainda o pegaria na porta de casa ou talvez do condominio, ele sempre sai cedo para ir fechar a compra de peixe no mercadão...De repente vou junto....Um café...Sempre lembro dele naquele café quando ele veio agradecer...não sabia como aquele café iria mudar minha vida. Eu vou.”

Fazia frio e garoava, os termomêtros marcadando nove graus, nada que pudesse afugentar Félix da direção do carro...Perto da entrada do condomínio viu um carro branco saindo pela portaria. Nicolas.

“Se eu tivesse passado só um farol vermelho teria chegado a tempo....Se eu ficar muito próximo do carro dele, ele vai perceber...Se eu ficar muito longe só chego no mercadão com o GPS e aquilo lá é pior que salgar a santa ceia para achar uma vaga de estacionamento...Nesse frio então.”

Ele estava tão concentrado em seguir aquele carro branco e fugir de seus próprios pensamentos. Por que lhe era tão difícil simplesmente abster-se de si e dizer o que sentia, de verdade?

“Mas o que é isso?”

– Eu devo ter salgado a santa-ceia e o Mar Morto no mesmo dia para não ter percebido isso antes...

Ele estava seguiindo o carro errado!

Por um instante Félix quis parar o carro, sair e gritar até a voz sumir...Como nada disso seria possível, ele apenas riu balançando a cabeça de um lado para o outro...A única opção que lhe restava era voltar para sua casa.

O que ele talvez não tivesse percebido antes é que voltar para a casa naquele horário era enfrentar todos os carros ao mesmo tempo indo a seus destinos assim com ele também procurava o seu...Ele demoraria pelo menos uma hora para voltar...Cada carro a sua frente lhe lembrava que cada uma daquelas pessoas tinha um motivo nobre para estar ali, inclusive ele.

– Eu devo ter feito escova nos cabelos de Maria Madalena para ter gasto quase duas horas para chegar aqui. Bom só hoje eu prometo não reclamar – enquanto ele tentava se proteger do frio procurando a chave da casa – Talvez, bom, acho que reclamar do tempo eu posso...

Enfim, sua casa, de verdade.

– Carneirinho?! Que houve? Você está doente? Aconteceu alguma coisa? Por que você ainda está assim, de pijama?

– Félix!?! Você parece horrível...Que houve? Ai meu Deus, aconteceu algo com seu pai?

– Criatura, por que você não foi ao mercadão? Todo santo dia eu acordo e você já está saindo de lá...Que houve?

Nicolas extendeu uma xícara de café a seu amado e tentou esboçar um sorriso:

– Se você fosse menos estabanado haveria de se lembrar que eu contratei um fornecedor de peixe para restaurante assim nem o Edgar nem eu teremos que ir ao mercadão todo santo dia...Félix...você não muda...

– Eu tento tanto mudar... – ua voz diminuiu a cada palavra, o que ele mais pensava pelo caminho também era compartilhado por seu companheiro.

– Ei, desculpe...Eu não quis dizer isso...Eu só...Quer saber, deixa pra lá...Você está com uma cara horrível, parece que nem dormiu a noite...Eu nunca havia te visto todo arrumado sem a barba feita...Se não fossem essas olheiras até que você estaria um bofe de elegante!

– Só você pra me fazer rir num dia frio desses... – Passando a mão pela face para ter certeza que realmente não havia feito a barba – Não quero nem me olhar no espelho...Tem mais café?

– Tem pão de queijo com géleia de morango, quer?

– Carneirinho, só o pão de queijo, sem a geléia...por favor...

Nicolas parou e ficou olhando, esperando e nada, ele não conseguiria resistir a pergunta:

– Você não vai reclamar da géleia? Eu – Vou – Comer – Géleia....

– Não, Carneirinho....sabe eu sai da casa da mami há quase três horas, enfrentei um trânsito dos infernos porque achei que você estava no carro que eu segui até a entrada da Castello Branco pra só aí perceber que você não iria no mercado municipal de Itu ou coisa do tipo...E eu chego aqui achando que você vai reclamar até o límite da minha alma e você só está preocupado se eu estou com fome...

– Eu talvez tenha perdido algo por ter acordado mais tarde que o normal, você disse que estava seguindo um carro pensando que fosse eu indo ao mercadão?

– Sim.

– Você está bem?

Félix revirou os olhos enquanto respirava como que para buscar um temperamente que não lhe era tão natural como ele gostaria.

– Não, desde ontem quando eu sai daqui que não estou bem...

– Deixa eu escrever um bilhete para a Adriana, arrumar essas coisas aqui e vamos conversar no quarto...Melhor que o Jayminho não nos veja conversando....- Alguns minutos depois – Pegue essa bandeja, cuidado pra não derrubar nada e me espere no quarto...Eu só vou dar bom dia pro Fabrício e o Jayminho e já conversamos.

Nicolas assistiu Félix sair cabisbaixo com a bandeja de comida, ele não havia pedido desculpas ainda, mas pelo seu rosto havia alguma coisa que não estava bem.

– Pronto Félix, cheguei...Você não comeu nada...?

– Estava te esperando...

– Seu pai está melhor? Você não me respondeu...Você disse que ia ficar com ele ontem a noite...

– Eu menti...Eu tive medo de vir pra cá...Eu agi tão mal Nicolas...com você...eu só penso em mim, no final de tudo eu não mudei absolutamente nada...

– Não é verdade, você veio para cá....

Félix se arrepiou todo quando sentiu a mão direita de Nicolas em seus cabelos...Aquela sensação lhe fazia parar no tempo como se não precisasse existir mais nada nem passado nem futuro. Quando ele fez menção de parar o carinho ele o segurou:

– Continua mais um pouquinho...

– Você precisa comer algo além desse café...Precisa descansar...Precisa até fazer essa barba...

– Está bem...com geléia então, igual a você. Talvez falte um pouco de açucar na minha vida...

Pouco tempo depois Félix agradeceu a insistência para que ele comesse, realmente ele precisava se alimentar um pouco para aquela conversa...

– Sabe Carneirinho, às vezes eu me pergunto como você quer alguém como eu ao seu lado?

– Sabe que eu não me faço essa pergunta, dá que eu não encontro resposta...Então é melhor que você fique por perto...

– Você insiste em me fazer rir...- Só que dessa vez ele buscou conforto em um dos guardanapos para enxugar a maresia de seus olhos.

– Está tudo bem Félix...

– Não Carneirinho, não está...Se eu continuar assim...Se eu não mudar algum dia você vai acordar de manhã e se perguntar o que faz ao meu lado...Você vai me mandar embora...Você vai perceber que existem tantas outras pessoas melhores que eu e eu não quero sair daqui sem te dizer tudo que preciso...

– Esse dia não chegou...Se eu soubesse que ia te deixar tão mal essa história de me dar os parabéns...Desculpe...Pega mais um pão de queijo...

– Se eu continuar assim, além de sozinho, vou ficar acima do peso...Olha pra você...Quando eu voltava pra cá eu fiquei pensando em tudo, como eu posso querer uma vida ao seu lado se eu nem consigo ser sincero com você...

– Félix, eu não sei se eu peguei pesado...Mas eu só queria ouvir seus parabéns...Eu fiquei chateado...Eu sei que você gostou da minha indicação...É uma bobeira minha...

– Não é não, quem não gosta de ser elogiado? É só olhar pra mim...Eu adoro quando você me diz essas coisas bonitas que parecem que sairam de um livro de tão tocantes que são...Eu fiquei tão orgulhoso de você.

Ele continuou.

– Eu posso te dizer uma coisa...Mesmo que talvez eu tenha passado um pouquinho da hora em dizer isso?

– Não precisa pedir desculpas Félix...Eu já entendi...Você ficou contente, é isso que importa

Meio sem jeito, pois naquele momento ele se dava conta que era ali naquele instante que sua vida realmente começaria a mudar.

– Tem tanta gente que nasce, que morre, que briga, que faz guerra, que faz paz...Eu vi tantos hoje indo trabalhar nesse trânsito caótico ou talvez voltando pra casa...Muitos no fluxo, outros no contra-fluxo...Poucos até morrendo pelo caminho...Por Deus, prometa que nunca vai dirigir uma moto nesse trânsito...E se eu fosse um deles...E seu eu me culpasse uma eternidade sem você por nunca dizer o que realmente preciso, o que é realmente necessário...Eu aqui dando voltas e voltas pra te dizer só uma coisa Carneirinho...Eu te amo.

Seus olhos negros nunca esqueceriam aquele sorriso que se abriu a sua frente.

O que mais eles poderiam fazer além de de abraçar? Nicolas por menos que conhecesse seu amado sabia o quão difícil era ele expressar qualquer sentimento de forma tão clara. Quantas vezes ele havia se perguntado se algum dia ele ouviria essas palavras. Já havia imaginado de tantas maneiras; já velhinhos e cansados da vida ou numa noite dessas com um pouco mais de vinho à cabeça para que na próxima manhã ambos nem se lembrassem e isso ficasse perdido no tempo, em uma memória distante. Mas nunca com Félix mordendo um pão de queijo com géleia de morango

Por alguns minutos eles apenas trocaram carinhos e afagos, talvez por dúvida de como retomar aquela conversa ou simplesmente porque amar é intransitivo.

– Preciso te dizer uma coisa...

– Sim.

– Deixa eu fazer sua barba? Eu acabei de descobrir que prefiro você sem ela. Pronto, falei.

Tentando reorganizar as idéias o moreno passou as mãos no rosto e cabelos em sinal positivo...

– Mais tarde Carneirinho eu tomo um banho e resolvo isso...Não deve ser tão ruim assim, eu nunca reclamei da sua...

– Não, não, não...Eu quero fazer isso, vem cá.

Sem opção de defesa, ele foi puxado até o banheiro e acomodado no vaso a espera da espuma de barbear...

– Niko...

– Quieto, se eu errar você vai ficar com cortes e nunca mais vai deixar eu fazer isso...

Ele obedeceu e ficou calado apenas observando a concentração do loiro em deixar-lhe com o rosto. limpo novamente.

Alguns minutos depois ambos estavam se olhando no espelho, Félix ainda tentou convencer Niko de lhe retribuir o carinho e aparar-lhe a barba, Nicolas fugiu as gargalhadas, de sua barba ele fazia questão de cuidar.

– Félix...Meus pais vão chegar essa sexta para cuidar das crianças no sábado a noite. Assim que der certo eu te levo pra Franca, sem a Adriana, prometo.

– Obrigado...Posso vir almoçar com eles?

– Que pergunta?! Deve. Principalmente porque meu pai gostou muito de conversar com você...Mas na verdade eu preciso da sua ajuda em outra coisa.

O moreno franziu as longas sobrancelhas afinal o que ele poderia fazer se era ele quem no final precisava de ajuda...

– Eu preciso escolher um terno pra ir nesse evento com você e acho que não tenho uma roupa que combine...

– Eu vou com você?

Naquele momento Nicolas se deu conta que ainda não havia feito o convite e que não haveria como serem discretos num evento coberto pela imprensa em geral.

– Ai, desculpa, eu queria muito que você fosse comigo, mas eu vou entender se por causa da sua família você não quiser ir...

– Por causa da minha família não...Você quer dizer por causa do meu pai...

O rosto rosado de Nicolas confirmou a suspeita...

– Sabe Carneirinho, eu venho evitando ao máximo que meu pai veja a gente juntos, veja as crianças...eu sempre pensava que ele poderia te magoar você ou os meninos com algum comentário preconceituoso...Só que eu percebi que agindo assim o preconceituoso maior sou eu...Se vamos ficar em São Paulo ou em outro lugar com meu pai é bom que ele comece a nos ver juntos...Você é minha família agora.

– Eu te amo...

Mesmo que Félix apenas sorrisse, agora Niko sabia o que ele realmente queria dizer com aquele olhar.


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Notas finais do capítulo

a todo mundo que ainda lê, desculpem a demora em postar, tempos difíceis, não se preocupem que não vou desistir da história.
bjs e até breve