Aquela frase ecoou nos ouvidos de Niko como uma martelada – ternos de grife! Não importasse o que ele fizesse, o quanto ele estava abrindo mão de sua vida e arriscando o futuro de seus filhos por aceitar tudo tão rápido da maneira que ele queria, que ele demandava já que se não fosse como ele planejasse...Enfim, parecia que nada iria funcionar...E ainda assim; nada, absolutamente nada era suficiente para satisfazer Félix, ele nunca conseguia aceitar um não como resposta...Nessas horas Niko se perguntava se deveria ter dito ao menos um ‘não’ quando Félix pediu pela primeira vez para que ficassem juntos, seria esse todo o problema? Ter sido fácil demais para ele? Porque para si, Félix ainda era a pessoa mais difícil a ser conquistada, ou melhor seria, domesticada?

– Félix!!! Sai desse banho! Ternos de grife!

– Carneirinho! O que foi agora?

– Eu não sei o que é pior, se é começar o dia com você tendo um ataque ou ficar aqui congelando porque você não termina esse banho logo!

– Entra aqui se está com pressa! – Félix ainda achava que seu Carneirinho estava brincando com ele.

– Não Félix, a casa é minha, o banheiro é meu e o chuveiro também. Eu quero tomar banho sozinho!

– Uiiii, que houve agora? Já acordou naqueles dias? Ontem a noite era nosso quarto...

– Félix, você é tão egoísta que nem percebe mais...

Félix saiu do box exalando aquela fumaça quente de um banho recém tomado, enrolado em uma toalha branca com um ar de surpresa, afinal ele havia perdido qual a parte que Niko havia ficado atacado...

– Carneirinho, o que houve? Você não disse que queria aproveitar o dia comigo?

– Félix...Félix?! Eu vou tomar um banho rápido, até porque só o senhor ainda não percebeu que precisa economizar água porque não chove nessa cidade. Quando eu sair eu quero me vestir sozinho nesse quarto independente do dono. Se você quiser me esperar...Vai lá com a Adriana ver o que tem para o café...Agora sai da minha frente!

Pela expressão de poucos amigos, Félix sabia que era melhor esperá-lo na mesa para o café, fazia muito tempo que não via aquelas sombrancelhas franzidas e o melhor mesmo seria atendê-lo.

Nicolas se lavava rápido, de olhos fechados, confabulando com seus próprios cachos agora encharcados pela espuma do xampu: “Egoísta, nem ao menos me deu os parabéns pela indicação, toda a preocupação dele é se eu vou largar tudo para ir com ele para Franca...Se fosse um evento com a família dele nem haveria o que discutir pois ele faria um escãndalo se eu não comparecesse...Eu nem deveria ter falado nada, eu bobo! Achando que ele iria me abraçar e iríamos comemorar a indicação...Quantos chefes querem ser ao menos indicados a um prêmio desses e ele nem deu a mínima importância...Pensa Niko! Preciso falar com meus pais para eles virem para cá me dar uma ajuda ou vou ter que pedir para a Adriana mudar a folga dela, coitadinha. Acho que é melhor eu ir para o restaurante e chegar mais cedo em casa para brincar com o Jayminho...Se eu ficar o dia todo olhando para a cara do Félix vai ser pior...”

Félix, o impaciente, esperava por seu Carneirinho com uma xícara de café e uma torrada a mão, aquela criatura loira o deixava louco às vezes...Porque não podiam entrar num acordo para irem logo para Franca?...Ele já havia explicado tantas vezes que sair da casa de sua mãe, tirar seu pai de lá era muito mais que urgente e infelizmente eles não poderiam mudar para aquela casa...Seu pai precisava de mais espaço e ele também.

Nicolas chegou emburrado, sentou-se em seu lugar de sempre e avançou sobre um pote de géleia de morango e antes que Félix dissesse uma palavra, ele já se adiantou:

– Eu vou comer o que eu quiser e não quero ouvir uma palavra a respeito!

– Carneirinho, eu não disse nada...

– Você não disse nada mas já pensou tudo que eu sei!

Félix arregalou os olhos que não puderam disfarçar sua feição rosada pela afirmativa certeira de seu carneirinho...Ele não conseguiu segurar o sorriso de satisfação, seu carneirinho já o conhecia como ninguém.

– Você quer deixar de ser genioso? Daqui a pouco a enxerida da Adriana vai vir aqui perguntar o que está acontecendo...

– Pelo menos a Adriana tem mais sutileza que você...Até um elefante Félix...Quer ver?

– Quero! Porque até agora eu não entendi o que te deixou tão sentimental.

– Adrianaaaaa.

A babá, fiel amiga de tantas horas chegou com um risonho Fabrício nos braços, não haveria melhor pessoa para ajudá-lo com seu filho do que ela:

– Sim seu Niko?

– Adriana, acredita que eu fui indicado como um dos chefes de cozinha revelação do ano?

– Ai seu Niko, o senhor merece! Deixa eu dar um abraço?...Melhor, o Fabrício e eu, que alegria, por Deus, o senhor merece, o senhor trabalha tanto! Já estou torcendo pro senhor ganhar isso...É importante?

– Obrigado Adriana...Sim, é bem importante...

Quando ela saiu da sala, os olhos de Nciolas não precisaram dizer nada pois o moreno já havia entendido tudo....Ele realmente ainda era muito egoísta....

– Félix, eu mudei de idéia, eu vou agora para o restaurante ver o peixe ser entregue e volto mais cedo pra casa para brincar com as crianças....Até.

Desconcertado Félix apenas balançou a cabeça. Melhor seria que ele permanecesse calado. Se bem conhecia seu Carneirinho ele deveria estar muito chateado e com razão...

Félix saiu em seguida, ainda se perguntava como havia esquecido de parabenizar Niko pela indicação...Também pudera, ele já acordou naqueles dias e nem lhe deu chance de explicar que o melhor seria se prepararem para mudar para Angra, afinal ele haveria de convencer seu pai que esse era a melhor opção...Quem sabe a Márcia tinha um tempinho para conversarem, não estava com humor para voltar direto para a mansão de sua mãe.

– Menininho?! Você, não, não, repete tudo de novo? Você nem ao menos deu um parabéns pela conquista?

– Não.

– E você ainda vem aqui me perguntar se isso é grave?

– Márcia, eu vim aqui pra conversar, não para levar uma lição de moral...O Niko não liga para essas coisas de premiação...

– Félix! Depois vem dizer que a Valdirene é que burra...Devia ter vergonha, só não posso dizer que você continua burro de coração como antes porque agora você vem aqui porque sabe que eu sempre vou te dizer umas verdades...Esse carneirinho deve te amar muito mesmo pra aguentar essa sua falta de tato!

Amar, essa palavra ecoou fundo em Félix, sua amiga, confidente, e que talvez ainda fosse sua babá inconscientemente, por mais simples que fosse, tinha em suas palavras força e determinação para lhe dizer o que ele deveria ouvir, mesmo que tentasse se enganar.

Aquela tarde em sua casa tudo se transformou num enorme vazio, nem seu pai com todas as provocações possíveis conseguiu lhe ocupar a mente.

Do outro lado da cidade um jovem aprendiz de sushi-man não entendia porque seu instrutor estava tão irritado.