– Félix? Félix, acorda? Já são 5:00h

– Duzentos e noveeenta e oito reais...Trezentos e cinco e vinte sete centavos...

– Félix, o que você está contando?

– Quinhentos e vinte sete com oito por cento de ICMS...

“Desisto, eu nem sei porque ele fala que vai me acompanhar...Ele sempre adormece dizendo que vai comigo no mercadão...E quando eu acordo, olha o estado dele? Culpa minha...Nossa a semana vai ser cheia e ainda viajar sem a Adriana...Ele deve estar louco...E eu louco por ele também, né? Preciso ir comprar peixe logo...Não, não dá para pedir para o Edgar, senhor Nicolas! O restaurante deve estar a zero. Coitado do Edgar e eu nem consegui convencer o Félix a dar-lhe um aumento generoso”.

Com um gole de café ele saiu rápido para o mercadão, talvez Félix o estivesse acostumando mal já que a cada dia que passava era mais e mais difícil deixá-lo adormecido para ir cuidar do restaurante. Era verdade que tudo ia bem, que as contas estavam em dia e que como o moreno já previa em breve haveria uma filial do Gian lotada por aí. Com isso mais trabalho e menos tempo para seu amor e as crianças.

Cheio de vontades de voltar para casa e ver seu amor acordar preguiçosamente, Niko teve de se contentar em ir direto para o restaurante e trabalhar, Félix ainda não sabia mas seu Carneirinho precisava dar alguns dias de folga ao seu fiel ajudante senão ele iria acabar pedindo as contas.

– Bom dia Adriana.

– Bom dia seu Félix. Eu deixei a mesa pronta com um café para o senhor.

– Mas criatura, cadê o Niko? Cadê o Jayminho? Que horas são?

– O seu Niko eu não vi sair, mas aposto que ele foi comprar peixe. Já o Jayminho saiu pra escola e o Fabricio vai sair comigo para passear.

– Ai.Não consegui acordar de novo...Olha a hora Adriana! – Como se a babá tivesse que acordá-lo...

Um pouco mais tarde, de volta a mansão, ele tentava organizar como seria a sua semana com o pai e especialmente com Niko, no fundo sentiu um certo remorso por não conseguir dedicar-se da maneira que gostaria aos dois homens mais importantes de sua vida.

– Filho? Posso entrar?

– Claro mami! Eu já te dei um abraço hoje?

– Como assim? Já havia me visto hoje? – Risos - Você sabe o que eu vim perguntar não é? Eu não quis ser indiscreta ontem a noite, mas eu preciso perguntar hoje senão vou infartar!

Félix abaixou a cabeça, ele sabia muito bem o motivo de tanta curiosidade:

– Mas mamy eu preciso de um abraço...

– Ah meu querido, eu tenho certeza que é só uma questão de tempo, não desanime.

E Pilar foi de encontro ao filho que lhe surpreendeu com um largo sorriso:

– Ele aceitou, mami!

– Eu sabia filho, eu sabia! Ontem seu pai passou o dia impaciente. Ele tinha medo que você tivesse uma sim na volta...Que confusão ele aprontou ontem...Tanto que o Niko nem quis ficar aqui com as crianças e te levou.. Não adianta disfarçar filho, eu sei que você ficou chateado.

Não havia como negar, Félix somente ajeitou as sombrancelhas para confirmar que sim e que não valia a pena insistir com seu pai nisso, o que lhe restava era cuidar dele sem esperar nada em troca. Depois de tantos desencontros ele finalmente havia aprendido que amor se dá apenas.

– Posso dar uma grande festa?

– Não mamãe, desculpe, mas acho que se o Niko concordar eu só queria um almoço com você, meu padrasto maravilha, vovotrix, enfim, nossa família e a do Niko. Claro, a Paloma também...Nossa juntando nossa família e a do Niko já vai ser uma grande festa. Só não sei ainda como faremos com o papai.

– O Niko vem morar aqui com aqueles fofos? Eu não vejo a hora de ter crianças correndo nessa casa novamente, foi tão divertido esse final de semana!

– Mami, o Niko quer que eu vá morar com ele. – E com uma certa insegurança no olhar pra admitir – e eu acho que quero começar isso diferente. Se eu não convencer mesmo o papi de irmos todos pra Angra ele vai ter que escolher ou ir comigo para a casa do Niko ou se mudar para uma casa de repouso. Ou quem sabe eu consigo convencê-lo que Angra seria a melhor opção.

– Como assim? Vocês vão me abandonar? Não filho, ele não precisa ir para uma casa de repouso. Ele pode ficar nessa casa, o Maciel não se incomoda. Aqui tem tanto espaço....

Se Félix dissesse que estava surpreso com a reação da mãe seria mentira, se há algumas horas também ficara com o pedido de Niko também seria mentira. Seu único pensamento era que todos lhe queriam por perto mais que tudo, afinal igual a Félix Khoury não havia ninguém igual.

– Não mami, eu preciso que o papi se convença que o melhor é deixar que eu cuide dele. Não haveria melhor enfermeiro que eu.

– Filho, mas se você não quer que o Maciel aguente os destratos do seu pai, como pedir isso ao Niko?

– Ele sabe mami que eu preciso cuidar do papi e ele me respeita muito por isso. O Maciel é diferente mami, o papi é seu ex-marido e ele não conseguiu fazer que eu virasse um ex-filho também. – Nesse momento ele tenta disfarçar a sua real vontade de chorar um pouco.

– Filho eu confesso mais uma vez que não entendo esse mundo novo que você e o Niko me apresentam a cada dia, mas se assim for eu não vou interferir. Quem sabe ele não aceita, não é?

– Ai Mami, não é um mundo novo...É o nosso mundo...O seu...O meu.

– Eu sei querido, desculpe. Não é isso que eu quis dizer. Só que eu realmente ainda não sei o que fazer com o seu pai...Mas pensando bem, eu prefiro me preocupar com sua festa, mesmo que pequena eu quero que vocês tenham algo especial.

Que mais aquela mãe poderia desejar? Era como se ela adivinhasse que finalmente depois de tanto tempo ela estaria realmente perdendo Félix para a vida, mesmo que nada fosse como antes ela já era eternamente grata à Marcia e ao Niko que em poucos meses haviam lhe mostrado o filho que ela sempre quis acreditar que existia.

– Mami, já te disse que não quero festança, só espero que o Niko concorde...Mas acho que pelo menos um bolo de casamento assim com uns três andares eu posso desejar, não é?

– Claro que sim, nem que eu tenha que deixar seu pai o dia inteiro fazendo exames no San Magno, nós vamos comer esse bolo! Você já tem idéia de data?

Arrumando as sombrancelhas ele não pestanejou em afirmar que no máximo em dois meses ele seria um novo homem, o primeiro passo seria ir visitar os pais de Niko para convidá-los para a cerimônia.

Longe dali trancado no restaurante Niko estava feliz por finalmente ter organizado o cardápio da semana e liberado Edgar para um descanso merecido dessa segunda até a próxima sexta, afinal não havia nenhum evento especial planejado e com certeza Niko daria conta do balcão e da cozinha.

– Senhor Nicolas Corona?

– Sim, sou eu.

– Telegrama para o senhor, poderia, por gentileza assinar aqui?

Niko leu e releu várias vezes para ter certeza:

“Selecionado para a categoria chef revelação do ano – revista Seja. Favor confirmar presença no evento de entrega dos prêmios próximo sábado no seguinte telefone...”

– Eu preciso falar com o Félix, urgente!