“Niko, eu confundi tudo, a Paloma casa em 15 dias e uma semana depois é o aniversário do Félix...Rs... Não se preocupe, eu cuido da viagem! Beijos Pilar”.

Após ler aquele SMS, ele não sabia muito bem onde estava com a cabeça quando aceitara a proposta de uma pequena viagem para o aniversário...Até tinha vergonha de admitir quão tentandor era um final de semana sem as crianças para aproveitar-se do moreno ao máximo. Por mais feliz que estivesse com os filhos ele realmente sentia que um momento a sós com seu amado seria o melhor presente...Para os dois...Por fim convenceu-se que se pudesse ter um pouco de ajuda, porque não?

Quanto a Félix não era mais novidade que a cada dia que passava a rotina de dormir na casa de Niko e passar o dia entre as contas do restaurante e as tentativas de cuidar de seu pai lhe consumiam exaustivamente. Já havia desistido de tentar achar uma razão pela qual seu pai pudesse ceder um pouco e ao menos tentar conhecer a família do Carneirinho...talvez o melhor fosse apenas se conformar com esse destino.

Seria isso aceitar a situação? Olhando-se no espelho muitas vezes não se reconhecia, em poucos meses havia deixado a arrogância, rancor e ressentimento trancados no armário, estava livre...Havia encontrado um amor como sempre desejara; tinha a certeza que pela primeira vez na vida seu pai via quem ele sempre quisera ser. Ele poderia suportar as ofensas e indiretas, ele sabia disso, seu pai não mudaria.

A última discussão antes do casamento fora difícil, César havia concordado em ir ao matrimônio da filha mesmo sabendo que Félix estaria acompanhado por Niko; com duas condições: exigiu um advogado e que Niko não falasse com ele em nenhum momento, já que Félix estava decidido a uma nova vida ele queria ter certeza que seu testamento iria refletir suas últimas vontades.

Félix foi firme, apesar de toas as ameças ele seguiria seus planos e pela primeira vez faria algo que lhe fazia sentir-se feliz, só faltava encontrar o caminho do meio com seu pai. Ambos não teriam mais espaço na casa de Pilar depois de tudo que ele tinha em mente. Aquele dia fora um marco como nenhum outro na vida dos dois, César havia se dado conta que nada faria Félix mudar de idéia. Era definitivo, o fim.

– Félix, se você achar melhor eu posso não ir com você para a festa da Paloma, se seu pai vai ele pode ficar nervoso, sei lá...pronto, falei! – depois dos últimos acontecimentos o que ele menos gostaria era de novas brigas, principalmente no casamento de sua amiga. Como ansiava por uma noite de paz.

Ao se desvencilhar dos braços de Niko, o moreno virou-se nitidamente incomodado com aquelas palavras:

– Eu devo ter jogado pimenta no cálice sagrado para ouvir isso! Eu não devo nada pra ninguém, a não ser que você queira aproveitar o tempo livre pra colocar o papo em dia com a lacraia do olho furta-cor, então? – Havia duas coisas que o incomodavam profudamente, Niko inseguro por causa de seu pai e a lacraia, eternamente a lacraia.

– Ai Félix, lá vem você, eu só estou preocupado com seu pai, quer saber? Vou dormir porque amanhã vai ser um dia cheio – e ele se vira terminando de soltar daqueles braços para dormir.Qualquer clima para aquela noite havia ficado fora do quarto depois daquelas poucas palavras.

Ele não sabia quão nervoso seu amado estava, quanto mais Félix pensava em tudo, mais tenso ficava...seus pensamentos sempre iam contra seu coração...Enquanto um pedia calma, outro pedia para que agisse logo,não perdesse tempo, por fim preferiu dividir seu plano em partes menores...Se algo desse errado seria mais fácil de concertar um estrago pequeno, adormeceu com a certeza que dias melhores viriam.

Durante o casamento a primeira parte com Niko fora fácil, ele nunca duvidou que ele o seguiria para onde quer que ele fosse, só sua mãe que ficara um pouco apreensiva pois imaginava que ele estava se apegando em uma coisa impossível, fazer com que César saísse daquela casa e fosse morar em outro lugar, Angra dos Reis...já fora um sacríficio fazê-lo convencer-se que vender a casa seria um erro, ela não fazia idéia como filho iria convencê-lo a mudar-se. E Niko? E as crianças? Quais seriam os planos de Félix? Estava decidida a não se intrometer mais do que já fazia...Afinal por mais que seu filho tivesse errado no passado, algo havia mudado.

Os dias passava, sem piedade.

Dezoito de Maio, dia de São Félix de Cantalice, esse era o motivo pelo qual Félix se chamava Félix, um domingo, era tudo muito simples: Niko iria jantar com a Adriana e as crianças na casa de Pilar na sexta a noite e em seguida eles viajariam para o Rio, Adriana havia concordado em ficar com as crianças na mansão para que Niko ficasse mais tranquilo – esse seria o presente do loiro para seu amado: tempo para ele...Acordar um dia tarde sem ter que sair correndo para o mercadão ou levar Jayminho atrasado para a escola, somente tempo para satisfazer todos os desejos de seu amado.

Aquela semana foi mais longa que um ano toda para o Carneirinho, estava cuiriosíssimo para saber quais seriam os planos do moreno e com a expectativa da viagem. Félix havia plantado uma árvore de curiosidades em Niko, muito maior do que ele mesmo poderia imaginar.

Enfim sexta:

– Adriana, pelo amor de Deus, nós precisamos chegar sete horas na casa do Félix, não vai dar tempo desse jeito...Olha o tempo lá fora, olha a chuva. Choveu nessa cidade e de sexta-feira ainda, nada anda...

– Paiiiiiii, por que eu não posso ir? Eu fico quietinho! – Jayminho estava inconformado em não participar do passeio...

– Porque eu já te expliquei filho, esse final de semana só o papai e o tio Félix vão, nas férias de julho nós vamos todos para a casa da vovó no interior, eu prometo... – em segredo ele pensava que na primeira saída de Jayminho para viajar com os amigos ele como pai falaria a mesma coisa, que queria ir junto e que ficaria quieto, riu internamente.- E além do mais, a casa da tia Pilar é ótima, vai ter tanta coisa para brincar que nem vai sentir nossa falta.

Já na casa de Pilar, toda a trupe se escondeu na cozinha para evitar que a surpresa fosse estragada.

– Félix, onde você vai? Janta hoje comigo filho, o Maciel vai chegar mais tarde...

– Mami, eu gosto de ir jantar com o Niko de sexta-feira...Tá bom, tá bom, não faz essa cara, é o apocalipse...Eu ligo e digo que vou me atrasar...não, atrasar não, eu ligo e falo que vamos jantar...É por uma boa causa. Minha adorada mami. – E como sempre, correu para abraça-la.

Estranhamente ele escuta um toque familiar de telefone na direção da cozinha. Niko, todo atrapalhado, não havia colocado o telefone no silencioso...Quase que tudo vai por água abaixo.

– Eu podia jurar que ouvi o celular do Carneirinho...estranho...ele também não me atendeu...será algum cliente chato?

Alguns minutos depois, enquanto as empregadas colocavam à mesa, Félix escutou um choro de criança e não era seu irmão, era o Fabrício!

– Mami, o que está acontecendo? Eu estou louco ou o Fabrício está chorando na cozinha? Eu vou lá...

Pilar começou a rir, não esperava que o pequeno fosse o responsável por anunciar a família Corona naquela noite.

– Mas mami, pra quê esconder o Niko na cozinha? Passa essa criança pra cá Adriana, por favor veja algo com as meninas pra ele comer...Eu nem acredito que deixaram você com fome... – e os olhos felinos se voltaram a Niko, o que afinal eles estariam fazendo ali. Não havia nada de especial naquela noite.

De qualquer modo aquele olhar durou apenas alguns segundos, ele já não conseguia disfarçar quão feliz estava, só era uma pena que seu pai não pudesse participar de toda aquela festa, afinal era nessas pequenas coisas que ele começara a perceber o real sentido de seu nome.

– Mami, eu já disse que não quero nada no meu aniversário...podemos não fazer nada, que acha? Agora tenho dois problemas porque além da senhora gostar de comemorações eu aposto que o Carneirinho vai querer cozinhar feito um louco domingo pra um batalhão de gente.

Niko permanecia calado com um sorriso de canto de olho, mal sabia o que lhe esperava de presente...Mal sabia Félix o que ele havia planejado.

Logo após o jantar, Pilar chamou uma das meninas para buscar a mala do filho.

– Mas como assim, viajar?! E as criancas? E o restaurante? É o apocalise!!! Eu não tenho roupa!!! – Não, ele não queria viajar, havia pensando em um final de semana totalmente diferente e agora? Seria melhor assim?

– Quieto Félix, sou eu que devo me preocupar com isso e já está tudo certo, vamos logo? Ou eu vou sozinho...Afinal não é sempre que eu ganho uma viagem para o Rio de Janeiro – por sorte Jayminho não estava escutando aquela parte da conversa ou ele seria o primeiro a oferecer-se para acompanhar o pai.

– Bom...Já que não tem jeito... Eu preciso ir pegar uma coisa no quarto...- Apesar de Pilar insistir que que tudo que ele precisava já estava na mala, ele subiu..Na volta passou no quarto de pai para dizer até logo e explicar onde estaria nos próximos dias. Melhor que não tivesse ido.

– Niko, aqui nesse envelope tem tudo, passagens, endereço e reserva do hotel, espero que vocês se divirtam. Qualquer coisa, por favor liguem!

– Passagens? Como assim? Eu achei que iríamos de carro...- Mas sem ter outra opção já que o avião seria o mais prático numa viagem tão curta.Sairam correndo para o aeroporto.

Félix fora dirigindo concentrado para não se atrasarem, pensava que tudo que precisava estava com ele, estava com Niko; talvez a viagem viesse numa boa hora para que continuasse com seus planos. Faltava-lhe coragem. Niko seguia apreensivo olhando pela janela do carro, não lhe saia da cabeça aquele mal tempo pela janela.

Chovia muito na região do aeroporto de Congonhas.