Dias melhores virão escrita por Rose


Capítulo 48
Cap. 48


Notas iniciais do capítulo

Enfim, a conversa, o fim, o meio e o início.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/486349/chapter/48

– Com licença… - Niko tinha a voz mais respeitosa que alguém poderia ter, como se aquilo pudesse de alguma maneira ajudar naquele primeiro encontro. Sim, ele nunca imaginou que seria o último, a não ser que Félix desistisse de tudo quando soubesse daquela conversa. Mesmo sem receber o consentimento, abriu e fechou a porta rapidamente para evitar qualquer tentativa sua de desistir.

– Rapaz, eu não tenho nada para conversar com você, por favor me deixe descansar. Por que você não vai procurar a aberração daquele que um dia achou que era meu filho... – Daquela cadeira de rodas, César tentava virar o rosto para fugir de qualquer tentativa de olhar daquele rapaz que ele sabia que não sairia dali até falar tudo que queria.

– Eu sei senhor César, e eu sinto muito por insistir, só que eu realmente preciso conversar com o senhor a respeito do Félix. Eu vou entender se o senhor não quiser conversar comigo, é um direito do senhor não aceitar a gente...Enfim, eu pensei muito se era certo lhe procurar, eu tentei planejar por vários dias o que eu poderia falar para me explicar... – Niko estava nervoso, entre o limite da fala e do gaguejar - Mas na verdade eu não tenho uma explicação ou argumento para tentar fazer o senhor me aceitar...

– Rapaz, não se humilhe...você já tem o que quer do meu filho, não é? Por favor, veja meu estado, vá embora... – a voz era grave, ele queria acabar logo com isso, mas parecia que quanto mais ignorava aquele homem, mais aquilo dava forças pare ele continuar a falar, falar, falar...

– Eu sei que o senhor tem certas limitações depois da sua doença, e sim é verdade que estou usando essas limitações hoje para podermos conversar, serei breve...bom estou aqui e realmente eu preciso perguntar uma coisa pro senhor...Eu sou pai, o senhor sabia? – Niko a cada frase tentava se aproximar do pai de seu amado para facilitar qualquer palavra que pudesse fazer com que eles mantivessem aquela conversa.

– Não me venha com piadas, pelo seu jeito eu dúvido que algum dia você já tenha gostado de mulher...Eu não consigo acreditar o que meu filho viu em você...Saia daqui por favor...- mais uma vez ele tentava evitar aquele rapaz na esperança que ele sairia para sempre da vida dele.

– Senhor César, não é o que ele viu em mim...Se não fosse eu, haveria outro e mais outro...E quando eu digo outro é porque seu filho se interessa por outros homens...Pronto, falei! – Por um instante ele se imaginou na pele de Félix, aquele médico não era uma pessoa fácil e não parecia aceitar qualquer opção que não fosse a sua própria opinião.

César deixou de respondê-lo.

– Eu tenho dois filhos, um adotado – o Jaime e outro por barriga de aluguel, o Fabrício...E como eu tenho certeza que o senhor não sabe, foi o Félix que me ajudou e muito a tê-los comigo agora...Caso um dia o senhor queira saber como ele me ajudou, por favor, pergunte pra ele...Eu não vim aqui falar disso.

Com uma expressão digna de revirar os olhos de tanta impaciência, César mais uma vez tentou expulsá-lo de lá:

– Mas afinal o que é que você veio fazer aqui? Se até agora você não conseguiu me explicar, é porque nem você sabe; então não tome meu tempo e vá embora...Deixe-me em paz...Eu já sei que o Félix não vai te largar, o que mais você quer?

– Uma família! – Sim, era uma família o que Niko mais queria na vida, e para ter uma família completa ele precisava de seu amado livre, só que a liberdade só chegaria de verdade para seu amor quando seu pai o aceitasse...se é que algum dia aquilo ocorreria Niko pensava que a única coisa que ele poderia fazer era tentar, tentar e tentar.

– Uma família, doutor César...Se o senhor me disser que falta uma mulher na minha vida, eu lhe responderei que já tenho a minha mãe que diferentemente do senhor entendeu que a minha felicidade não está no que a maioria das pessoas considera normal. Pra eu ter essa família eu preciso do Félix, só que ele precisa do senhor...

César fechou os olhos, não queria ouvir.

– Não ouve um dia que eu encontrasse o Félix em que ele não dissesse como estava triste por essa situação de isolamente em que vocês estão, ele sempre comenta dos seus avanços , da sua força de vontande.

– Se você veio me dizer que ele não aguenta mais eu reclamando é isso mesmo que quero...Saia daqui. – a voz estava nitidamente incomodada com a conversa.

– O Félix nunca reclamou do senhor, a única coisa que eu realmente acredito que ele gostaria hoje era de voltar a conversar com o senhor, mas conversar de verdade...Sabe, eu já disse isso no ano passado para a Pilar e seria bom que o senhor ouvisse, eu poderia tirar o Félix daqui...Eu tenho condições de tirá-lo daqui só que o que ele realmente precisa é da família dele e eu entendo isso pois a minha família só será completa quando ele conseguir completar-se aqui também. Doutor César, o senhor não precisa falar comigo, não precisa gostar de mim ou dos meus filhos...Só que ele é seu filho e lhe ama muito, por favor eu lhe imploro – E nessa hora Niko fez uma pausa para se aproximar de novo dele – Eu lhe imploro para que volte a falar com o Félix; eu só quero o bem do seu filho, e o bem dele inclui o senhor. Por favor pense no que lhe digo agora, eu quero o Félix pra uma vida inteira...Com licença. – Niko desistiu, não conseguiu permanecer mais tempo naquela situação, faltou-lhe coragem para a única pergunta que ele não queria fazer: como um pai podia desprezar tanto um filho? Ele era pai, sabia que jamais iria ignorar os seus por mais que eles pudessem lhe menosprezar uma dia, mas como pai nunca os deixaria.

E ele saiu, sem olhar para trás, perdendo a chance de ver César de olhos abertos tentando procurá-lo naquele quarto. Por mais piegas que o médico achasse aquele rapaz, ele tinha muita coragem de ir ali conversar com ele, nem seu filho conseguia manter aquele tipo de conversa por muito tempo, ele preferiu viver na mentira grande parte da sua vida...De uma certa foram, isso também irritava César, ele queria um filho homem, que enfrentasse os desafios da vida e por todo o tempo o que teve foi um filho que vivia na mentira e uma grande mentira.

Niko sentou-se na sala principal, tinha certeza que não havia falado o que precisava da maneira que gostaria; estava decepcionado, perdera a única chance de tentar convencer César de que se não fosse ele que destino teria Félix? Por vários dias, por sua insegurança até chegou a pensar se não seria melhor que terminassem, só que se essa fosse uma opção ele tinha certeza que Félix entraria em colapso. Ambos teriam algum tipo de surto. Tanto esforço para aquela conversa e nada havia funcionado.

– Meu filho, eu te vi aqui sentando e resolvi te trazer esse chá. Você aceita? Como foi? Está tudo bem? O César ao menos te deixou falar? – Era Pilar.

– Eu sei que ele me ouviu, mas não acho que vai funcionar...eu me atrapalhei todo, Pilar me desculpe... – com uma certa timidez Niko admitia que não havia conseguido atingir seus objetivos e talvez houvesse piorado tudo.

– Eu não aceitava a verdade do Félix até pouco tempo atrás...Você é bom com as palavras, meu querido. Se não fosse você eu acho que jamais teria o aceitado de volta aqui nessa casa...Vamos dar tempo ao tempo...Você quer descansar um pouco e esperar o Félix voltar para o jantar?

Niko até gostaria de ficar, o carinho da mãe de seu amado era um conforto que ele precisava mais do que nunca,mas o restaurante precisa do seu chefe. Despediram-se, com a promessa que Félix jamais saberia por um dos dois daquela conversa já que não poderiam sequer imaginar o que César estava pensando. Trabalhou como um louco no restaurante até o último cliente, queria chegar tarde em casa para que Félix já estivesse dormindo ou com tanto sono que fosse incapaz de perceber seu desapontamento.

Tudo em vão, naquela noite Félix o estranhou, sabia que algo estava errado; ele estava distante, sua voz era o oposto de suas palavras tentando tranquilizar o moreno que começava a se preocupar com aquele jeitinho tristonho tão atípico.

– Carneirinho, você confia em mim? – ele estava saindo do banho, nada do que Niko imaginava para sua chegada estava acontecendo. Félix estava mais acordado e vivaz do que nunca.

– Que pergunta, Félix!? Claro que sim, vem cá, vamos dormir... – o loiro já tentava se ajeitar na cama fingindo um cansaço corporal que não existia – toda sua angústia estava na sua cabeça, no seu coração que oferecia o abraço à Félix na esperança de dormirem logo.

– Carneirinho, aconteceu algo hoje com você. Eu tenho certeza disso. Você não confia em mim para compartilhar isso? – ele havia concordado com o abraço de Niko, mas isso não significaria que desistiria tão fácil de entender o que estava acontecendo, naquela posição mesmo que quisesse fugir dos olhos negros de seu amado o loiro já não tinha opção.

– O mundo tem tanto ódio por aí, é tudo tão injusto. Acho que hoje eu fiquei um pouco frustrado porque não consigo resolver tudo do jeito que imagino, estou me sentindo impotente...Mas não há como resolver tudo, não é? Amanhã estarei melhor, vamos dormir – com um selinho ele tenta indicar que a conversa deveria acabar naquele momento...

– Olha você, adotou uma criança quando já não havia mais esperança que qualquer casal se interessasse por ela, ofereceu sua casa, sua família a um homem que merecia estar preso e pagando por vários crimes e ainda se sente culpado por não poder fazer mais? Ah Carneirinho...é por isso que eu gosto de você, sua bondade está além do que eu jamais poderia imaginar.

Enquanto se abraçavam, algumas lágrimas caíam dos olhos de Niko, ele sabia que Félix estava certo só que ele não podia contar o real motivo daquela tristeza.

– E agora você vem me dizer que se sente impotente? Se não fosse por você eu não estaria vivo agora, não, não estou dizendo que teria me matado...Estou dizendo que o que me faz ter alguma alegria diante de todo meu passado e toda minha situação agora é você, carneirinho. Eu não consigo imaginar como seria minha vida sem você...Parece que antes de nos encontrarmos é como se eu não tivesse vivido...

Niko sabia que ele não desistiria de animá-lo nem de mantê-lo acordado até ter certeza que ele se sentia melhor, por um lado era bom aquele afago na alma pois era uma das maneiras que Félix tinha de demonstrar o quanto gostava dele...Niko já havia se acostumado com a idéia que ouvir um ‘eu te amo’ da boca daquele gato arisco seria algo quase impossível, uma vez que ele preferia demonstrar seu amor de outras maneiras – o cuidado, a proteção, o carinho e as palavras desajeitadas, às vezes até sem nexo, para dizer o quanto ele era importante na vida dele.

– Félix, não fale assim...Daqui um tempo toda essa euforia vai passar, vamos entrar numa rotina, nossa rotina e só o tempo dirá se você será meu último companheiro assim como se eu serei o seu...Vamos dormir...Estou cansando – ele tentava disfarçar mas precisava enxugar os olhos marejados.

– Eu nunca te vi chorando de cansaço...Eu não sei o que te deixou tão pra baixo hoje, mas já entendi que você prefere não me dizer. Eu vou te respeitar por mais difícil que isso seja pra mim, criatura, e te deixar descansar hoje. Agora olhe pra mim... – rapidamente ele acende um dos abajures para ter certeza que ambos olhares se encontrariam.- Sim, eu sei que um dia essa euforia vai passar, vamos virar um casal normal e talvez até acomodado...Como você acabou de dizer só o tempo dirá...Só que de uma coisa eu tenho certeza, é você é a criatura que eu quero ao meu lado até o dia que Deus me deixar nesse mundo. Até esse dia você será meu único carneirinho e não haverá nada que me faça afastar de você. Não é uma promessa, é a minha palavra, palavra desse homem que...

Antes que ele conseguisse terminar a frase, Niko o beijou e não deixou que ele continuasse com qualquer pensamento que não fosse paixão. Niko se entregou por completo, não havia como resistir ao encantamento que os olhos de Félix tinham; precisava dele como nunca e Félix sabia disso, ele já havia aprendindo tudo sobre seu carneirinho quando o sim era sim e quando o não era sim também, em poucos meses juntos ele mesmo não se reconhecia na cama, havia mudado tanto por seu carneirinho, para ter certeza que lhe fazia feliz.

Por fim, adormeceram com mais uma noite de certeza que estariam juntos até quando lhes fosse permitido.

Do outro lado da cidade César permanecia acordado, não sabia se a raiva, a culpa ou a insônia que lhe consumia... Félix não estava em casa e não via a hora de poderem conversar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pessoal, desculpem a demora em postar. Espero que tenham gostado. Até breve. (Tentarei postar mais rápido nos próximos dias).



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dias melhores virão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.