Dias melhores virão escrita por Rose


Capítulo 43
Cap. 43


Notas iniciais do capítulo

A conversa.



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– O que é isso, Félix? O que é isso? É o fim do mundo mesmo, como você tem coragem? - Não era preciso manter nenhum suspense para saber que Félix e Niko haviam sido flagrados por César...A enfermeira o levara para o escritório por algum desses motivos inexplicáveis...Nem nos piores pesadelos o filho imaginava que seu pai descobriria a respeito de seu carneirinho daquela maneira.

– Papi, por favor, controlo-se.... - Não houve tempo de tentar continuar, a fúria característica de Félix era uma velha e conhecida herança de seu pai que fazia questão de deixar claro isso.

– Por acaso quem deveria se recompor é o senhor, se eu não estivesse nas minhas condições atuais já lhe teria expulsado daqui. E essa coisa aí do seu lado, por que ainda não saiu dessa casa?

– Papai, vamos conversar, eu não estava fazendo...melhor, eu não preciso dar explicações da minha vida para o senhor. - Internamente ele estava se controlando para não explodir.

– Seu César, por favor, vamos conversar. Deixa eu me apresentar, meu nome é... - Era o Carneirinho tentando achar algum sentido naquilo tudo, o que mais lhe assustou foi o desprezo que César olhava, não para ele, mas para o próprio filho.

– Cale-se rapaz ou o que quer que você seja. Saia daqui! Eu quero falar com esse que um dia pensou que era meu filho! Agora ainda acha que é alguém pra não me dever alguma explicação! - Apesar da dificuldade para falar, era muito clara a mensagem de desprezo. Niko apenas sinalizou para o amado que o melhor a fazer era sair e deixar o pai dele se acalmar...Antes de chegar à porta do escritório, César gritou:

– Rapaz, quanto ele te paga? Diz, não precisa se envergonhar - Félix que até aquele momento havia evitado olhar o pai arregolou os olhos em descrença por ter que fazer seu carneirinho passar por aquilo, ele só não esperava que Niko desse um passo atrás para encarar seu pai.

– Desculpe, mas o que o senhor disse?

– Ainda se faz de surdo? Eu posso pagar mais para que você fique longe dele, aceita? Eu garanto que eu posso te pagar tanto que por um bom tempo você poderá descansar dessa vida.

Até aquele momento os olhos de Niko não haviam encarado César, ele se lembrava dos pedidos de Félix para suportar as ofensas do pai dele caso um dia elas acontecessem; ele sempre achava que as suportaria sem problemas pelo carinho que tinha por seu amado, mas naquele momento, naquela hora lhe faltou forças para ser fiel ao pedido de Félix.

– Senhor César, antes de sair eu gostaria de lhe explicar o porquê eu não posso aceitar isso. - Os olhos cerrados foram incapazes de escutar o apelo de Félix para que não desse ouvidos aos insultos do pai.

– Muito prazer, meu nome é Nicolas Corona, muito mais que meu nome eu preciso que o senhor saiba que eu não, veja bem, eu não preciso do seu dinheiro...Eu nunca precisei também do dinheiro do seu filho... Eu trabalho muito, e tenho muito orgulho de poder dar uma vida digna aos meus filhos e se o Félix quiser... a ele também. Eu quero que o senhor pegue seu dinheiro e ...

– Niko, por favor, não dê ouvidos a ele. - Era Félix mais uma vez tentando evitar uma catástrofe, ele sabia que Niko não suportaria manter aquela voz calma por muito tempo e seu pai também poderia se exaltar mais do que ele poderia. Apelos em vão.

– Desculpe Félix, mas é muito importante que eu explique isso ao seu pai.

– Saia daqui seu..seu...

– Papai, não! Vamos parar com isso, somos pessoas civilizadas - Félix interrompeu o pai mais uma vez tentando, mas ele nem sabia ao certo com quem deveria se preocupar mais.

– Félix, deixe eu terminar o que já comecei... - e ele se vira em direção ao pai dele, com os olhos cravados naquele senhor - Eu realmente não preciso do seu dinheiro porque eu posso trabalhar honestamente. Pergunte ao seu filho... Talvez fosse melhor que o senhor doasse esse dinheiro para um orfanato, eles fariam um uso digno dele... - Pequena pausa - Quem sou eu parar sugerir algo para o senhor, não é? Espere, antes que o senhor responda, deixe-me lhe poupar o trabalho.

– Eu não preciso do seu dinheiro, eu nunca aceitaria seu dinheiro para me afastar do seu filho por um único motivo. E é por ele que agora eu saio dessa sala em paz, mesmo não dizendo tudo aquilo que eu deveria e que está entalado aqui. Mas isso aqui eu preciso dizer agora para que não haja nenhuma dúvida: Eu amo seu filho, senhor César Khoury!

– Carneirinho, sai daqui, a-gora! - Era Félix com aquela voz característica que todos conheciam; ele nunca mudou, sua essência era aquela e não havia como fugir.

Niko saiu, sem olhar para trás e batendo a porta do escritório, nem Pilar que foi atrás dele no jardim conseguiu impedi-lo de ir embora.

Naquele escritório Félix permaneceu imóvel, ele jamais soube dizer quanto tempo permanecera calado se controlando, tentando voltar ao estado normal.

– Papi, precisamos conversar.

– Eu não tenho nada para conversar com você Félix, onde está aquela enfermeira inútil que me trouxe aqui pra ver o que eu vi.

– Chega papi! Se o senhor não tem nada para falar comigo, eu tenho uma vida inteira pra te contar! Não haverá nada nem ninguém que consiga tirar o senhor daqui antes que eu fale tudo que está aqui engasgado. – Ele puxou uma cadeira para sentar-se de frente ao pai, só que continuou em pé.

– Eu quero sair daqui agora! Enfermeira? Enfermeira?

– Não meu pai, dessa vez o senhor vai me ouvir como eu já deveria ter tido coragem a muito tempo. O senhor sempre esteve certo, eu fui um covarde, um covarde por tentar esconder por tanto tempo quem eu sou, do que eu gosto, das minhas preferências. Mas nenhuma mentira dura para sempre, não é?

César estava na entrada do escritório, faltava-lhe forças para adentrar ou sair de vez, foi o suficiente para que Félix o conduzisse mesmo sob protestos para dentro do escritório e fechasse a porta, não queria ninguém mais os espionando. Por fim, sentou-se na cadeira de frente à seu pai.

Ele já não acreditava que Niko o esperaria, já sabia que havia errado em expulsar Niko, mas esperava que mais tarde ele entendesse que não havia outra opção. Ele já havia esperado demais.

– Félix, eu quero sair daqui; já te disse que não temos nada para conversar. Eu já entendi tudo. É aquele ser que está acabando com a sua vida. O que você ainda quer me explicar? Deixa eu sair logo daqui. Dentro da minha própria casa, quanta humilhação. Agora entendi o feriado do Carnaval, foi com ele que você foi para Angra, não? Foram desfilar por acaso? A que ponto chegamos meu deus.

– Papi...Papai, se assim o senhor conseguir ficar calado...Essa casa é da mamãe e ela há muito tempo já conhece o Niko...Ele é meu namorado...É ele que está me dando uma vida que eu nem sonhava que podia existir... – Félix media as palavras, não sabia se haveria outra oportunidade como aquela para que a verdade viesse a tona.

– Chega Félix! O que você vai me explicar agora, que você é a namorada dele?

Aquelas palavras lhe lembraram outra conversa, outra pessoa e dessa vez Félix ele não fugiu:

– E se eu for, qual o problema? O que vai mudar? O senhor vai me odiar mais ou menos por causa disso? Eu não tranquei o senhor aqui pra contar qual minha posição favorita... e sim pra dizer que a vida inteira eu tentei de todas as formas ser aceito pelo senhor, vivi nas sombras, fiz tanta coisa errada que já nem sei mais e nada disso serviu para algo. Minto, serviu para que cada vez mais eu deixasse de ser um homem para virar um monstro!

César permanecia calado e com os olhos quase fechados na tentativa em vão de tampar seus ouvidos, Félix estava tão próximo como nunca estivera antes do pai para uma conversa.

– Eu não morri papai, eu não morri na piscina e o preço que eu paguei, pago, enfim, foi viver uma mentira. E sabe qual é a única verdade que eu tenho hoje? Eu gosto desse rapaz e eu não vou admitir que o senhor o trate mal novamente. Se o senhor não aceitar a gente, nos ignore, não fale conosco. Mas nunca....eu disse nunca mais fale com ele daquela maneira. Ele não sou eu. O senhor me entendeu? – A voz embargada continuava e continuava.

Silêncio.

– Ele não sou eu que quase vendeu a alma ao diabo para ser aceito por essa família...Eu joguei minha sobrinha no lixo como se ela fosse o problema, ela nunca foi o problema. Meu maior problema foi eu mesmo vivendo nessa mentira. Eu fui um fraco, deveria ter saído dessa casa assim que eu percebi que o senhor não gostava de mim...mas tolo que fui - eu sempre quis que o senhor gostasse de mim. – Nessa hora foi como se ele tivesse levado um soco que começasse a doer bem devagar até que aquela dor se tornasse insuportável.

O trinco da porta mexeu, era Pilar dizendo ao filho para abrir a porta.

– Mami, só mais um minuto. Está tudo bem. – Com uma das mãos ele fez sinal de silêncio ao pai, não sabia se ele estava olhando ou não em sua direção, César optou pelo silêncio já que não tinha condições de reagir e sair daquela sala por conta própria.

– Papi, eu não vou me esconder mais, o senhor gostando ou não já tomei minha decisão. Quanto ao Niko, lembre-se de nunca mais tratá-lo mal, ele não sou eu. Ele é muito melhor do que eu. Ele é bom. E por mais que eu goste do senhor eu não responderei por mim se ele for ofendido novamente, está claro? – nessa hora Félix estava cara a cara com César que cerrou os olhos de vez.

Félix abriu a porta, o rosto perdido em lágrimas.

– Meu filho. – Ele fugiu do abraço para pedir ajuda ao pai, não tinha condições de ajudar o pai a sair dali.

– Mami, por favor cuide do papai agora. Eu preciso tomar um ar. Estarei no jardim.

No jardim, Félix tirou os sapatos e pôs os pés na grama fria, queria sentir algo para ter certeza que estava vivo. Ele teve certeza que estava.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
(desculpem a demora em postar, esse capítulo foi bem mais complicado)
Até breve.



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