Dias melhores virão escrita por Rose


Capítulo 44
Cap. 44


Notas iniciais do capítulo

Parte 1.
Algumas coisas na vida são feitas para mudarem o rumo.



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César pediu para ser levado ao seu quarto pela ex-esposa, não quis conversar e naquele momento nem Pilar gostaria de ter qualquer conversa. Ele escutou Félix calado e calado decidira ficar, seu único filho até pouco tempo atrás, dizendo que era a namorada de outro que saiu praticamente aos prantos dizendo que o amava. Definitivamente algo estava errado.

Pilar o acomodou da melhor maneira possível e foi em busca de enfremeira que estava apavorada na cozinha com toda aquela confusão, mas nada como uma boa conversa para que ela voltasse a cuidar de César.

– Filho...eu te avisei tanto para conversar com seu pai...o que houve? Vamos se levante daí, vamos tomar um café e conversar.

– Mami, a senhora me perdoaria se eu pedisse pra não conversar agora. Eu sei que precisamos conversar. Eu preciso dessa conversa, mas agora eu preciso é criar coragem pra ir procurar o Niko. Eu perdi o controle tanto com ele como com o papai. Meu pai eu já perdi mesmo há muito tempo, só que faltava me consciência pra aceitar isso...Só que perder meu pai e o Niko no mesmo dia...eu preciso ir procurá-lo mamãe.

Ela se lembrava muito bem dos olhos vermelhos de Niko – talvez ele não tivesse chorado ainda, mas com certeza não iria reter aquelas lágrimas por muito tempo. Ele não quis conversar com ela também, só houve tempo dele pedir para que ela ajudasse o filho.

– Onde ele estará a essas horas? Se eu conheço bem o carneirinho ele não vai trabalhar, não vai ter cabeça. Preciso me desculpar, preciso. Será que ele foi procurar o Eron? Não, não posso ligar para a lacraia. Pensa Félix, pensa. – O trânsito estava infernal, como sempre.

– Oi Adriana, posso entrar?

– Que pergunta seu Félix?! Claro que sim, imagina se eu não deixo o senhor entrar.... – Ela era sempre tão simpática.

– Errr, o Niko não passou por aqui? Nem ligou? – Félix ajeitava a camisa como que querendo fugir da resposta

– Credo seu Félix, até parece que vocês brigaram... Está tudo bem?

– É claro que está criatura, é que hoje estamos fazendo 3 meses juntos e eu queria fazer uma surpresa, daí se ele não apareceu aqui melhor. – “Melhor inventar alguma história para a Adriana, assim pelo menos ela não fica me perturbando...”

– Ai que lindo seu Félix, um dia eu quero um homem assim romântico como o senhor! – a babá gostava do jeitinho dos dois juntos, eles brigavam, brigavam, mas sempre estavam juntos.

– Criatura se você for esperar um homem que nem eu vai morrer solteira, lembra, eu sou uma bicha! – e ele caiu na risada, não havia como ele perder a piada.

– Ai seu Félix, eu quis dizer alguém que lembrasse das datas importantes, que fizesse um agrado como esse que o senhor está planejando...mas deixa pra lá que eu já falei demais. O Jayminho vai chegar da escola daqui a pouco, o senhor pode fazer companhia pra ele enquanto eu dou banho no Fabrício?

– Claro criatura, faz tempo que eu não converso com ele. Vai ser divertido.

Banho, videogame, jantar, brincar, dormir. E nada de Niko chegar, já passavam das onze.

O final do dia era um alívio para Niko, ele não podia reclamar, o restaurante estava super movimentado e a fama de Niko já era alvo dos guias culinários de São Paulo, só que aquele dia, aquela noite tudo havia perdido o sentido...nada funcionava...como ele pôde ser expulso da mansão pela própria pessoa que ele tentava proteger. No fundo ele sabia que não podia intervir, mas talvez aquela declaração tivesse sido muito para Félix. Muito para os dois.

Ele estacionou o carro aliviado pelo fim do dia, faltavam alguns minutos para a meia-noite, as luzes apagadas indicavam que estava tudo bem e ele resolveu entrar pela cozinha para não fazer tanto barulho.

Ele riu enquanto lhe cairam algumas lágrimas, era o primeiro momento que se deixava chorar. O riso era um alívio, finalmente poderia chorar um pouco, faltava-lhe tudo, faltava-lhe Félix. Era melhor que chorasse na cozinha um pouco, talvez lhe abrisse o apetite pensava alto. Talvez houvesse um pote de qualquer coisa para comer que lhe agradasse, poderia chorar a noite toda, mas não com fome.

– Carneirinho? Assaltando a geladeira? – a voz era baixa, mas mantinha aquela ironia tão conhecida por Niko.

– Félix?! Mas como? Eu não vi seu carro parado aqui na frente. Quem te deixou entrar? – Ele procurou algum guardanapo para enxugar o rosto antes de virar-se na direção da voz, por alguma dessas razões que ninguém sabe ele pensava que poderia esconder que estava chorando.

– Eu vim de táxi...Eu não sou mais bem vindo?

– Não é isso Félix, você pode me dar alguns minutos? Eu realmente não esperava você aqui agora. Niko finalmente virou-se com a cabeça baixa, queria ir lavar o rosto, sabia que precisava de uns minutos para tentar sumir com a vermelhidão típica das lágrimas, mas ao passar perto de Félix foi pego pelo braço.

– Niko, olha pra mim, por favor?

– Félix, eu preciso ir ao banheiro, eu já volto e conversamos. – a voz era tão firme que Félix o soltou, ele já havia percebido pela voz embargada que ele não estava bem.

Niko foi para seu quarto, ele não queria conversar, não queria ouvir mais uma vez pedidos de desculpas; a verdade é que ele estava magoado, profundamente triste.

– Niko, eu não aguento ver você chorando, por favor....

– Eu não consigo ter privacidade nem na minha casa! Será que eu posso chorar sem ser incomodado? Eu vou para o quarto de hóspedes então...Ah não, mas o senhor vai atrás, não é? Sempre do seu jeito. Agora sai Niko...Agora fica aqui Niko, não é? Eu devia ao menos uma vez na vida seguir seus conselhos e ser mais parecido com você pra te mandar embora... – Niko falava baixo, não queria perder o controle nem correr o risco de acordar qualquer um naquela casa e Félix compartilhava da mesma preocupação.

Já que não havia como fazê-lo desistir Niko sentou-se no beiral de uma das janleas

– Sim, é tudo do meu jeito. Eu sou um pedante, mal-acostumado, egoísta, covarde, um grosso mas terrivelmente arrependido por ter falado com você hoje do jeito que eu falei... e é por isso que eu estou aqui.

– Está desculpado, satisfeito agora? – Aqueles olhos azuis perdidos...

Ele engoliu seco para continuar:

– Niko, se você nunca desculpar eu vou entender. Eu não consigo me desculpar...Mas eu preciso que você escute que eu perdi o controle. Eu fugi daquela situação com meu pai como o diabo foge da cruz, mesmo quando ele nos viu eu não consegui evitar que ele te ofendesse e ainda assim ele me tirou tudo...

Niko permanceia imóvel, ele só não conseguia conter as lágrimas...como Félix dizia ele era o mais emotivo. Em contra partida Félix já não tinha forças para ficar em pé, preferiou ficar aos pés da poltrona onde Niko estava agora tentando explicar-se.

– Carneirinho, eu não perdi o controle com você, eu perdi comigo, com meu pai, por toda essa situação que eu sempre vivi e nunca tive coragem de enfrentar até agora. Meu pai já me tirou tudo, até ouvir de você que você me ama pela primeira vez...

– Félix, até um cego veria como eu me sinto em relação a você, não? – Niko havia conseguido controlar a tristeza para falar – Eu já havia te dito isso outraz vezes eu tenho certeza...

– Sim, mas eu não tinha...sempre achava que era algum engano da sua parte...porque estávamos empolgados transando...desculpe...fazendo... amor, é assim que os apaixonados dizem,não? Eu sempre achei essa expressão uma besteira, agora...Você jamais vai ser uma transa pra mim...Ou porque você havia bebido demais...Ou por qualquer outro motivo que a minha insegurança fizesse achar que é mentira...Tudo mudou hoje, hoje você poderia ter ido embora como eu pedi mas você falou com meu pai para pra me proteger, pra mostrar que eu mudei e foi nessa hora que eu criei coragem pra dizer a verdade, sim, eu sou gay! E nós tivemos uma conversa...bem...eu fiquei falando sozinho pra ele ouvir...enfim...eu precisava falar com ele sozinho. Só que eu perdi o controle da pior maneira possível. Eu não sou um cara romântico, eu não sei ficar te agradando com esses pequenos mimos como você faz comigo; eu não sei ser carinhoso como você merece...o que eu sempre soube fazer era ser mal, era tratar as pessoas com desprezo, só que agora com você...e eu não quero voltar a ser quem eu era e a única referência que eu tenho pra melhorar é você, Niko. Só que eu não suportei a possibilidade de ver você e o meu pai brigando.

– Félix, eu não quero que você abra mão do seu pai. Vocês precisam se entender. Eu vou estar aqui o tempo que for preciso.

– Carneirinho, você quer dar um tempo?!

– Não Félix, não é isso. Você acha que de tarde eu me declaro para depois dizer que eu te odeio, assim tão rápido? Tipo um unlike no facebook...

Ele ficou levemente ruborizado, afinal era verdade, faltava aquele click pra saber que um amor de verdade não acaba assim.

– Olha pra mim, quando você acha que eu percebi que você sempre me escondia quando eu chegava na mansão? Você não achou em nenhum momento que eu não ficaria magoado? Foi a segunda vez que me esconderam do doutor César ou você não ficou sabendo que o Eron usava a fura-olho de fachada para crescer no hospital porque seu pai não gosta de gays... Em algum momento eu reclamei? Não, eu fiquei quieto porque eu confiava em você, que você ia conseguir.

– Niko eu...

– Cala a boca Félix! – E ele se levanta com raiva e senta-se ao lado dele no chão.

– Você fez hoje o que o Eron fez comigo a pouco tempo atrás... a diferença é que eu não sei se eu ainda amava o Eron naquela época ou se eu já estava acomodado, agora você, eu te amo. Olha pra mim! Eu te amo, você está ouvindo? Eu quero que você seja o último da minha vida, até o fim dos meus dias. Eu amo esse seu jeito falso malvado, eu amo quando você está comigo só pra me fazer companhia porque é aí que eu tenho certeza que eu não sou só uma aventura pra você. Porque você me procura por mim, não pelo meu corpo. Eu lembro que você disse que era alma...Eu nunca vou esquecer aquela noite. Ninguém mais faz sentido pra mim além de você...Você precisa entender que hoje eu estou chateado, m...Quando você me expulsou hoje pra conversar com seu pai, sabe o que doeu mais? Doeu porque você deveria saber que eu já estava de saída, porque você não teve paciência de deixar eu sair, você queria ficar com a última palavra pra mostrar pro seu pai quem manda e principalmente doeu porque você deixou que eu fosse pra depois vir aqui pedir desculpas mais uma vez. Não é você vir aqui pedir desculpas que vai resolver isso Félix, é você querer mudar de atitude comigo, com seu pai, com você....Félix eu preciso que você olhe pra mim.

Ele enxugou algumas lágrimas, agora era ele que precisava ir ao banheiro lavar o rosto. Ele precisava se olhar no espelho.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a quem continua lendo!
Essa conversa ainda continua, mas acho que tanto eles como eu precisam de um tempo pra retomar isso.
Espero que estejam gostando!
Quem quiser comentar, me xingar, dar uma sugestão, por favor!



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