Dias melhores virão escrita por Rose


Capítulo 42
Cap. 42


Notas iniciais do capítulo

As pessoas podem se enganar por algum tempo, não por todo o tempo...
Espero que gostem.



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Félix não conseguia se lembrar o que havia sido mais impactante – retornar a mansão após ser perdoado pela mami ou agora no retorno de Angra dos Reis. Eram tantos cômodos e nenhum deles tinha alguma criança gritando ‘tio Féééélix’ para preencher esse estranho vazio... E durante a noite o seu quarto era o pior dos pesadelos, pela primeira vez na vida sentia que a cama era grande demais, que faltava algo. Era um vazio que mesmo sabendo a resposta ainda lhe faltava a coragem e também a oportunidade para resolver.

Por um lado, imaginava que Niko poderia se cansar daquela vida, afinal ele vivera anos morando com Eron e agora estava sozinho e responsável por duas crianças. Por outro lado à sua frente estava seu pai, sempre ameaçador e rejeitando qualquer possibilidade de aceitar seu filho. Era uma tormenta, quase vinte dias depois do feriado e ele não havia esquecido o Carnaval..

– Papi, amanhã temos médico pela manhã e depois podiamos dar uma volta no Ibirapuera, que acha?

– Eu acho que a primeira coisa que o senhor poderia fazer é parar de me chamar de papi. Papi, papi! Olha sua idade Félix. Bem que você podia ao menos tentar disfarçar esses seus trejeitos. É por isso que nem um emprego você consegue. Uma pessoa de quase quarenta anos que depende da mãe para qualquer coisa. Uma vergonha. Olha sua irmã se matando lá no hospital e você nem aí...

– Papi...Papai, não diga isso. Eu estou aqui mas estou fazendo uns trabalhos esporádicos num restaurante de um amigo meu pra organizar...Já havia te explicado isso, não? – No fundo ele sabia que o ele seria mais útil no hospital, mas lhe faltava forças para suportar os comentários e mesmo para enfrentar seu rosto no espelho depois de tudo que havia feito com a sobrinha; e por uma ironia do destino lhe adorava. Outro emprego? Talvez a memória de seu pai falhasse ao lembrar-se que ele foi o responsável por queimá-lo no mercado de trabalho. A lembrança de que o único emprego que lhe havia restado era o de vendedor de hot-dog era muito forte.

Com tudo isso na cabeça ainda lhe sobrava espaço para imaginar uma vida nova, uma vida em que pudesse ter o Carneirinho ao seu lado. Sempre haveriam bons administradores e com certeza a Paloma conseguiria achar alguém até melhor que ele para ajudá-la. E por hora, qualquer tentativa de arranjar outro emprego seria em vão, ele queria se dedicar ao pai. Havia aprendido que por mais que fugisse nunca conseguiria deixar de amar seu pai, incondicionalmente.

– Filho, um dia nem eu nem a Pilar estaremos mais aqui e toda essa fortuna será dividida entre vocês e os meus netos. Eu já te avisei que não vou deixar nada pra você e o dinheiro que sua mãe deixará não vai sustentar todos os seus luxos por muito tempo. Você deveria parar de me paparicar e de dormir a noite fora e procurar uma ocupação. Deixar dessa...Bom você sabe... Olha que eu estou falando pro seu bem; depois não venha chorar no meu túmulo porque eu vou rir de onde quer que eu esteja! Tomara que a Pilar saiba cuidar bem do meu outro filho e ele não desmunheque como você – César parecia se divertir com aquilo, incomodava-lhe que o filho não tentasse se humilhar para conseguir algo da herança, ele permanecia sempre calado e quando o pai cansava-se da conversa, ele pedia licença e saia.

Ele não tinha o que questionar – ele dormia fora ? Sim. Dormia com um homem? Sim. Era aquele homem que lhe dava forças para seguir em frente e tentar ser uma pessoa melhor? Sim. Só que seu pai era incapaz de entender que esse homem era o maior responsável pelas mudanças na vida do filho. Uma vez César lhe havia dito que preferia que ele tivesse morrido ao invés do irmão...que talvez seu irmão fosse homem de verdade. Félix talvez não percebesse ainda, mas poucos homens aguentariam o que ele se propunha todos os dias.

Quando ele saía dessas conversas só lhe restava trancar-se no quarto para pensar e trabalhar as finanças do Carneirinho. Algumas vezes pensava em ir até o restaurante e desistia ainda na garagem, sabia que não podia atrapalhar os negócios de restaurante muito menos roubar seu carneirinho dos clientes para que ele o consolasse como realmente precisava. Além dessas conversas indigestas, Pilar o cobrava a respeito da conversa com o pai para explicar de sua nova opção de vida, ou seja, explicar o relacionamento com Niko. Sua mãe não sabia que o que Félix mais fugia era a possibilidade de ser rejeitado pelo pai para sempre.

Incomodava-lhe muito a idéia dessa conversa, Félix só conseguia enxergar que ele e Niko estavam se entendendo e ponto, explicar o quê ao pai? Ele não aceitaria mesmo e que diferença iria fazer? Já se sentia um deserdado mesmo. Sobraram-lhe as conversas com o pai, mesmo difíceis, ainda era conversas. Também não visualizava o que iria facilitar a presença de Niko na mansão...Quando Niko aparecia para jantar ou trazer alguma roupa de Fabrício para seu irmão mais novo, ele tratava de organizar uma operação de guerra para que o Carneirinho e seu pai jamais se encontrassem.

Niko já havia percebido aquele comportamento, e, mesmo chateado, preferia dar tempo ao tempo. Às vezes César era mais presente na vida dos dois do que qualquer outra pessoa que soubesse deles.

Em uma dessas tardes mais uma vez Niko chegou para visitar seu amado, César estava no jardim tomando sol com a enfermeira e não conseguia enxergar ao certo quem havia chegado, Félix por sua vez agiu rapidamente para levar o carneirinho ao escritório. Ele já havia aprendido muito bem que mesmo naquela casa enorme as paredes tinha vida própria.

– Félix, eu estava pensando qual seria o próximo feriado que você poderia viajar? O Jayminho não fala em outra coisa – que foi legal, que você reclama muito – Risos – Que a Adriana nunca conseguia pegá-lo....Acho que ia ser divertido, você ainda toparia? – Podemos ir pra casa dos meus pais dessa vez, que você acha? Daí eles conseguem nos ajudar também e teremos algum tempo livre. – Os olhos de Niko já tinham aquela expressão característica que Félix sempre se atrapalhava e dizer um não, enfim, não era opção...

– Ah Carneirinho, eu não sei...Tem a Páscoa mas até lá preciso ver como o Papi vai estar e se a mami poderosa quiser viajar para descansar um pouco com meu padrastro maravilha...Bom eu não acho certo deixar meu pai aos cuidados da Paloma, ela está se preparando para renovar as bodas....Pode algo assim? Mal casou...É o apocalipse! – Ele balançava a cabeça receosoe que não houvesse uma resposta e ainda assim tentava extrair alguma piada da situação,díifícil. Ele não fazia idéia de quando poderia deixar o pai sozinho novamente, e seu senso de obrigação não lhe deixava muita opção... Do outro lado da moeda o medo de decepcionar Niko. Angra havia sido maravilhoso apesar de todas as brigas, pois sempre houve o fazer as pazes depois...e com isso Félix começava a acreditar que aquela idéia absurda formarem uma família poderia dar certo.

– Vamos tentar na Páscoa algo? Se não der certo haverão outros feriados e também as férias de julho do Jayminho na escola? – Ele se levantou e foi em direção à Félix para lhe segurar o queixo – Agora que eu sei como é bom viajar com você...você acha que eu vou desistir fácil assim da sua companhia?

Niko havia reclinado o corpo para olhar Félix bem de perto, queria ter certeza que ele entenderia o recado. Para sua surpresa seu moreno ficou ruborizado, não sabia se era a dificuldade em lhe dizer não ou o desejo de tê-lo mais perto.

– Niko, Carneirinho! Eu não respondo por mim se você continuar me olhando desse jeito. Olha fiquei até sem graça...- Niko se aproximou mais ainda – Niko! Eu estou sem graça, que coisa! – E naquele joguinho de gato e rato ele saiu da poltrona esperando ser pego.

– Olha só Carneirinho, aqui tem uns albuns antigos. Deve ter foto até de quando eu nasci, quer olhar? Fica aqui qu eu vou buscar algo pra você comer na cozinha...Você deve estar com fome...Torradas, geléia e cha? Adivinhei?

– Que tal uma banana...nanica? – O loiro caiu na risada, sabia que Félix estava fugindo agora mas que de noite ele iria para sua segunda casa...ambos sentiam uma falta enorme de estarem juntos.

– Eu vou lhe trazer uma uva! E água. Chega de geléia... – Félix saiu rindo do escritório, Niko fazia aquilo para provocá-lo. Desde Angra ele percebera como comer uma banana perto dele o deixava incomodado...Félix havia achado um álbum bem antigo com fotos dele bem novinho, mais novo até que Fabrício para deleite de Niko que não sabia se comia as torradas ou olhava as fotos.

– Você era lindo, olha isso!

– Como assim era lindo? Devo ter lavado o Santo Sudário para ouvir algo assim. Você já parou pra reparar em mim? Estou quase nos quarenta, mas muito bom por sinal, garanto que não fico devendo nada para a lacraia do olho furta-cor ou você vai dizer que prefere banana-maçã?

– Fééélix, deixa de ser indiscreto! É claro que eu prefiro você por muito mais motivos que esse, seu bobo. – E nessa hora os olhares se cruzam como dizendo que não haveria porque esperar até a noite por um carinho, por um abraço que virava um longo beijo.

– Vem em casa? Vem?

– Você veio aqui pra isso, não é? Pra me deixar louco...Como eu vou aguentar até a hora que você fechar o restaurante? – Ele nem sabia se falava ou prolongava o abraço, os afagos nos cachos do Carneirinho, mas também precisava de fôlego para voltar a beijá-lo

– Eu aguento várias noites sem você. O que são algumas horas? – A expressão de Niko dizia tudo, também não estava sendo fácil para ele. Ambos precisavam daquele abraço apertado.

– FÉLIX?! MAS O QUE É ISSO AQUI EM CASA? – Aquele grito ecoou por toda a mansão.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
Agora tudo muda outra vez!
Até breve.



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