Dias melhores virão escrita por Rose


Capítulo 41
Cap. 41


Notas iniciais do capítulo

A viagem acaba, mas não os sonhos e desejos desses dois.



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“Angra, mas o que aquela criatura foi fazer em Angra? Se já não bastasse ele acordar feito um carneirinho saltitante com sua prole, saiu de fininho sem dar explicação...será que está tudo bem? Talvez fosse melhor eu ir pra Angra atrás dele, mas com que carro? Devo ter jogado sal no mar morto pra ficar aqui preocupado com ele...Sendo racional, “sendo” não, Félix Khoury é racional: ele é adulto, vacinado, tem dois filhos, tem o cabelo mais lindo que eu já vi...Félix!...foco, foco...que eu posso fazer enquanto ele não chega? Ele vai estar bem, ele tem que estar.”

“Mas por que eu estou preocupado, se ele nem teve a coragem de me avisar é porque não devo ser tão importante assim...melhor eu comer algo...quando ele chegar quero ficar longe dessa cozinha...só falta ele trazer mais comida pra dentro dessa casa...devia ter falado pra irmos pra algum hotel, no hotel não teria como ele cozinhar...mas hotel ia sair tão caro e eu não tenho mais dinheiro pra isso. Que mudança de vida! Ainda assim acho que prefiro essa nova vida, mesmo que seja com o Fabricio se esguelando e o Jayminho berrando tio Fééélix no meu ouvido direto, deixa eu ir lá ver se a Adriana precisa de ajuda..estou escutando o Fabricio daqui...”

– Adriana, criatura, que essa criaturinha tem? Bom dia.

– Bom dia seu Félix, acho que é fome, hoje o seu Niko saiu e eu fiquei mais atrapalhada, bem que eu disse pra ele não ir tão cedo, mas ele estava tão empolgado.

– Eu não acredito que você sabia que ele ia pra Angra desde ontem e não me falou nada, criatura!? – então ele era o último a saber...

– Calma seu Félix, o senhor não me perguntou...olha até assustou o Fabricio...não chora bebê...fica com ele aqui por favor, que eu vou preparar a mamadeira dele, não vai assustá-lo, hein?

– Vai, vai, vai criatura. – Félix estava bem irritado, mas ao olhar aqueles olhinhos só viu os de Niko refletidos.

– Ei não chora, a maluca da Adriana já foi fazer sua mamadeira...ei...esfomeado como o pai não é?...Vou te contar uma coisa...Não deixa ele ficar te dando geléia, depois vai ficar gordo e já viu...Vai ter alguma menina linda dizendo que não gosta de gordinhos e você vai ficar todo chateado, igual seu pai...Mas não fique, ela tem que gostar do que está aqui dentro, senão é porque ela ou ele (vai saber) não te merece...também vou te ensinar outra coisa, filho, sempre lembre de dizer onde você vai quando sair de casa...se eu fiquei preocupado com seu pai, com você vai ser igual...imagina isso!...Preciso dizer isso pro seu irmão também.

Enquanto Félix abria seu coração preocupado para Fabrício, Adriana estava finalizando a mamadeira na cozinha, e Niko chegou carregado de compras para o almoço:

– Bom dia Adriana, tudo bem?

– Ai seu Niko, o Fabricio acordou e começou a chorar de fome, com fralda suja e tudo mais na mesma hora, chorou tanto que acordou o seu Félix, daí já viu, né? Bom eu acho que ele acordou com o barulho, sei lá. – Adriana já não sabia se esfriava a mamadeira ou dava explicações para seu patrão. Ela já tinha saído assustada da sala pois nunca havia imaginado dar explicações para um dos dois a respeito do outro.

– Adriana, deixa que eu levo a mamadeira, acho que meu pequeno deve estar com saudades do pai. Daí já acalmo o Félix, pelo que você me disse ele já deve estar mal-humorado, de novo... – “Bom, pelo menos não estamos brigando pra dormirmos separado...vou sentir falta daquele abraço em São Paulo”

– Fabricio, você entendeu tudo que eu te expliquei? Nada de geléia, viu?

– Féééélix? Mas o que é que você está dizendo pra ele?

– Bom dia Nikoooo, foi bom o passeio em Angra? Não, nem vem me explicar nada, passa essa mamadeira pra cá porque essa coisinha fofa está com fome. Vem meu bem, vamos comer? - E ele se virou em direção a porta com os olhos mais cirrados que alguém poderia ter...

– Félix, deixa de ser...Eu fui em Angra conhecer o mercado de peixe, eu tinha lido que tem coisas ótimas lá e fui comprar algo pro nosso almoço, até achei um peixe pra fazer sushi. Aposto que você vai gostar. Pode me devolver o Fabrício?

– Não, ele fica comigo, se o pai dele saiu e nem lembrou de olhar se ele estava com fome...Eu aposto que vou sair de Angra dos Reis feito uma bola, você só pensa em comer! Tanta comida nessa casa e você ainda foi comprar mais....Eu vou lá na varanda dar a mamadeira do Fabrício.

E sem muita opção, Niko acabou entregando a mamadeira para Félix, não ia adiantar nada tentar explicar que ele queria fazer algo especial pra eles comerem...

O loiro se voltou para a cozinha e foi limpar tudo com a ajuda da d. Maria, que de uma certa forma acabou sendo conquistada pelos truques culinário de Niko.

Por volta das 12:30 a casa havia sido invadida pelo aroma dos pratos do chef , mas Félix se manteve irredútivel e nem fora na cozinha ajudar ou dar algum palpite, por fim Niko achou melhor buscá-lo o jardim.

– Eu fiz uma paella maravilhosa, só estamos esperando você pra comer...

– Posso te pedir uma coisa? – Félix tira os olhos do livro para mirar Niko e continuar – Por favor, nunca mais saia nessas estradas sem me avisar, a Rio Santos é perigosa e tem muito motorista maluco por aí.

– Félix, eu dirijo muito bem! Que coisa, fica me tratando igual criança e ainda fica bravo porque eu não fico obdecendo seus mandos! A única coisa boa disso é que é bom ver que aí dentro tem algum lugar que se preocupa comigo, pronto falei! E quer saber, melhor você vir comigo agora pra almoçarmos, eu não cozinhei tanta coisa a toa. Mas se você não se levantar, não se preocupe que eu arrumo os meninos e vamos nós e a Adriana de volta pra casa, afinal o carro é meu. Você pode voltar de ônibus pra São Paulo. Voc sabia que em Angra dos Reis tem rodoviária?

– Você! Você devia parar de cozinhar um pouco e aproveitar o passeio! Só isso!

– Eu não acredito que você está voltando nisso, quer saber? Você que sabe da sua fome. – E Niko saiu passando a mão na cabeça tentando procurar alguma explicação, Félix, por outro lado decidiu levantar-se e participar do almoço, já bastava outro dia em que ele ficou sem café da manhã por causa das mesmas implicãncias com Niko e devia estar muito bom mesmo o que ele havia cozinhado, pois não havia um barulhinho no jardim, todos deviam estar a mesa.

Niko preferia algo mais informal e serviu o almoço na cozinha mesmo, todos estavam contentes, menos Félix – ele tinha certeza, o moreno até que tentou ser simpático mas Niko sabia que era só fachada. Mais uma tarde difícil ele pensava, seus pensamentos só foram interrompidos por uma frase que lhe tirou daquele mar de pensamentos:

– Niko, delicioso como sempre! – Ele pediu licença, deixou o guardanapo sob a mesa e saiu.

Por sorte Fabrício era muito pequeno e Jayminho ainda era novo o suficiente para não entender aquele drama. Já Adriana tinha certeza do que estava acontecendo...os caseiros, bem eles preferiam não se intrometer pois tinham medo de Félix devido ao Dr César e a D. Pilar, seria melhor não se intrometer nos assuntos dos patrões.

Já era noite novamente, Niko eventualmente decidiu não provocar a fera, pelo menos ele tinha almoçado bem e não havia ficado trancado no quarto a tarde toda. O plano era fazer as pazes a noite, mas o que ele realmente almejava era achar o equilíbrio, aquelas brigas sem motivos o estavam deixando louco. Nove horas da noite.

– Acho que você precisa de uma massagem, vem.- A voz era doce, porém decidida.

– Eu não sei como você me suporta, desculpe por hoje. Só que eu fiquei tão preocupado. Eu fico fora de mim quando penso em você. Se algo acontecer com você...

– Não é me deixando preso aqui que você vai resolver isso Félix...no começo eu até achei engraçado, mas não dá pra você ficar assim todo o tempo. Eu conheci um Félix seguro, o que houve?

Ele não sabia explicar, mas aceitou a mão do seu amado para ser levado ao ao quarto, aquela conversa não iria terminar ali na varanda, Niko queria dar um basta naquilo, ele realmente não conseguia entender o que faltava para Félix se sentir seguro a respeito dos dois. Para o loiro ciúmes ciúmes medida certa não faziam mal, só que aquela viagem estava mostrando que algo não estava funcionando, o quê seria afinal?

– Que massagem você quer primeiro?

– Eu nem sei como você me deixa escolhar, então fico com a opção da surpresa. – faltava lhe coragem para pedir qualquer coisa. Félix era impulsivo com seu Carneirinho, sempre aprontava para se arrepender em seguida.

– Então vamos aos pés. Eu sei que você adora esses pés relaxados...

Niko ligou seu celular nas caixinhas do som que havia trazido, a música era suave, mas Félix não perdia a oportunidade:

– Meu Deus, devo ter varrido a manjedoura para não perceber quanta coisa você trouxe de São Paulo, ainda tem o que tirar daquele carro?

– Tudo depende de você, seu bobo, ou tirar ou colocar de volta no carro antes do tempo...

– Já entendi, vou levar sermão de novo...fala Carneirinho, fala que eu mereço...

– Você sabia que eu gosto muito de você?

– Sim corujinha...Ai, ei, isso doeu! – ele tentou puxar o pé massageado, mas Niko o segurava firme, ele nem os pés iriam para lugar algum.

– É porque deve estar tenso, só isso, relaxa. A coruja aqui sabe o que faz, mas eu fui promovido ou rebaixado; de Carneirinho a coruja? – entre um sorriso e outro a fala era alternada com a mão pressionando os pés do moreno para ele relaxar.

– Sabe Félix, nessa viagem eu percebi que você não me conhecia direito ainda...parece que te incomodou um pouco esse meu jeito, vamos dizer, agitado...Acho que quem trabalha muito não sabe ficar parado.

– Até pouco tempo atrás eu também trabalhava e olha que a Vinte e Cinco não é nada fácil...Mas não Niko, não diga isso, acho que foi eu que fantasiei muito com a gente aqui nessa casa...sabe...é minha primeira viagem em anos que eu estou fazendo porque eu quero, não para agradar meu pai ou manter alguma aparência...eu vivi muito tempo na aparência...hoje que eu percebo.

– Nisso eu concordo, nem para me contar que você vendia cachorro quente na Vinte e Cinco de Março...naquele dia eu até fiquei na dúvida se você era meu amigo mesmo...afinal eu poderia te ajudar...eu esperava que você confiasse em mim...

– Ai, ai Niko, vai com calma, isso dói!

– Você não sabe que depois vai melhorar? Deixa de ser reclamão...

– Depois eu vou fazer igual nos seus pés...Mas sabe naquela noite eu estava dizendo pra Marcia que você sumiria como todos aqueles outros que se diziam meus amigos e sumiram quando eu perdi tudo e de repente a campainha tocou...a Márcia tinha certeza que era você.

– Pelo menos ela, eu passei o dia todo me organizando pra ir te buscar a noite, eu queria tanto que você estivesse comigo no Natal, e você?

– Eu achava que era engano, alguém perdido na noite de Natal...Ai! Tudo bem que dói, mas não exagera! Ai...Tá bom, eu falo, quando eu te vi eu não queria te deixar ir embora sozinho, até hoje eu lembro que fomos todos porque eu não queria deixar a Márcia sozinha. Afinal eu queria comer o seu peru de natal...Ai...Niko! Isso dói!

Ambos riram. E Félix que decide continuar:

– Eu acho que não estou preparado pra ter uma família, o feriado nem acabou e eu já devo ter te enloquecido com tantos pitis...

– Pelo menos a senhora admite que dá piti...Passa o outro pé? – não havia mais nada que Félix naquele quarto para Niko, nem uma multidão o faria tirar os olhos dele.

– Mas já acabou com esse? Só mais um pouquinho, por favor...

O loiro sorriu e continuo no mesmo pé, nunca iria entender direito sua metade.

– Você já é parte da minha família, pelo menos por mim...Mas eu preciso saber porque você ficou tão bravo porque eu fui até Angra sozinho...? – agora que Niko sabia que ele estava mais calmo era que começava a verdadeira conversa.

– Ah Niko, eu me preocupo com você...vai dizer que você ainda não sabe e quer ouvir minha doce voz.

– Deixa de ser irônico, eu ando por todo lugar em São Paulo, até na Vinte e Cinco...

– Mas é que aqui é como se você e as crianças fossem minha responsabilidade, imagina se acontece algo com você? Eu fiquei tão preocupado, Carneirinho, nem o celular você levou...Ai

– Se você ficou preocupado é porque as crianças e eu também somos parte da sua família? Família Khoury Corona, soa bem, não?

– Corona Khoury, muito mais elegante assim...Ai meu pé, que coisa! – Sim, Félix sempre queria ser o responsável por tudo.

– Passa o outro pé agora...Sabia que eu posso morrer amanhã? Tipo tropeçar na beira da praia e morrer afogado com as ondas!?

– Nunca, mas nunca mais fale algo assim! Não seria justo! – A expressão de Félix na meia luz do quarto era a imagem do medo.

– O que é justo Félix? Diga, o que é justo?

– Eu demorei tanto tempo pra te achar, te perder assim não seria justo...talvez eu esteja sendo infantil...você tem razão...eu nunca vou conseguir controlar isso...

– A gente nunca sabe o dia de amanhã, mas imagina que a gente viesse morar em outro lugar, qualquer lugar, até aqui se eu ganhar na mega sena acumulada pra comprar isso aqui do seu pai... você já me disse que queria mudar de São Paulo. Por um minutos vamos pensar que vai dar certo, que você vai fazer? Deixar-me numa bolha dentro de casa sem fazer nada...você acha que vai dar certo assim...?

– Você não para, não é? Nunca vai parar...eu nunca tive nada que chegasse perto de nós dois, se acontecer algo com você, nossa, eu morro junto! – uma das mãos foi ao encontro dos cachos como se quisessem mantê-lo ali naquela posição por quanto tempo fosse possível.

– Não, você não vai morrer e sabe o quê mais. Quem vai cuidar dos meninos? Eu não quero que você venha me dizer que gosta de mim só no meu leito de morte, entendeu? Você entendeu, eu sei que entendeu. Sabe o que eu imagino se um dia você ficar sem mim, por qualquer motivo...ou sei lá, se a gente se separar?

– Eu não gosto nem de pensar nessa possibilidade...- ele tinha uma feição triste, não gostava daquele tipo de conversa, especialmente com Niko, desde o AVC de César a morte havia tomado outro contorno na cabeça dele.

– Eu quero que você – ele deu uma pequena pausa pra continuar – eu quero que você encontre alguém que te faça feliz...eu acho que não gostaria de sabe no além-vida que você estaria sozinho chorando por mim... mas o que eu quero te dizer mesmo é que eu não quero ficar numa bolha; o que tiver que acontecer vai acontecer...e a propósito eu não tenho cara de madame pra ficar o dia inteiro sem fazer nada.

– Podia fazer ginástica? Aiiiiii – e ele puxou o pé no reflexo – Nikooooo! Está doendo!?

– O que você disse, amor? – Niko dava um sorrisinho, como quem queria dizer que sabia passar o recado.

– Que quem sabe um dia eu me acostumo com seu jeito...podemos passar para a próxima massagem?

– Não ainda, temos tempo. – Niko voltou a massagear aquele pé com mais carinho.

– Eu realmente tenho medo de te perder...talvez seja essa minha dificuldade de achar que alguém possa gostar de mim. Eu nem sei como você me aguenta Carneirinho. Nem salgando o mar morto de novo, eu acho que você me deixa e ainda assim eu tenho medo de acordar desse sonho...Aiiiii...você quer parar de maltratar o meu pé!

– Deixa eu te mostrar o que é maltratar, seu bobo! – E ele saiu do chão para abraçar Félix naquela poltrona. Haviam mais massagens a serem feitas.

Naquela noite e até o fim do passeio Félix não largou mais seu carneirinho, com as crianças brincou até a exaustão dia a dia; na cozinha se dignou a lavar e enxugar os pratos, e durante cada noite não havia como parar Niko com seus carinhos e conversas para lhe animar e ele sabia que fora tudo aquilo que o havia lhe conquistado por toda a vida.

Só lhe faltou coragem para dizer que não sabia mais dormir sem o abraço de seu carneirinho.


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Notas finais do capítulo

Por hora Angra vai ficar na lembrança dos dois, agora Félix precisa voltar para São Paulo e encarar seus piores medos...
Espero que tenham gostado da viagem e até breve!



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