Em casa Félix não conseguia apagar a imagem de Niko feliz pela comemoração de dois meses, ele não sabia ao certo porque seu Carneirinho ficava tão extasiado fcom aquele tipo de lembrança; ele não se recordava de nenhuma data especial além do aniversário de sua mami e papi poderosos. Nem o aniversário do Niko ele tinha lembrado de anotar, seria um problema para o próximo ano ele pensava.

“Sim, próximo ano! Eu preciso deixar anotado para não cometer nenhuma gafe no próximo ano”. Sua cabeça girava com a alegria de Niko:

“Félix, meu amor, você lembrou?! Eu passei o dia pensando nisso, mas achei que se eu te lembrasse você iria ficar reclamando que você não é um príncipe num cavalo branco...”. Aquelas palavras, o beijo ainda na cozinha e Niko o chamando de amor...Era incrível como ele gostava de ser chamado assim agora...se algum dia Edith o havia chamado daquele jeito ele nem se recordava...mas com Niko era capaz de dizer quantas vezes ele o havia chamado assim...era tão espontâneo, tão de dentro... e como ele pensava, Niko só o chamava assim quando estava mais emotivo...será que ele lembrava que já o havia chamado de amor alguma vez? Se fosse um ano antes alguém o chamando daquela forma, com certeza seria escorrraçado por ele...Félix Khoury sendo amor de alguém...agora ele era e era tão bom ser o amor de alguém.

– Filho, filho, posso entrar? – Era Pilar que batia de leve na porta, ela queria conversar, sua voz trazia um tom de urgência, mas independente de qualquer coisa Félix sempre falaria com ela. – É sobre seu pai...

– O papi não está bem, mami? Que houve? – Félix já erguia as sombrancelhas em tom de alarme:

– Não diria que ele não está bem, por sorte ele é um dos donos de um dos melhores hospitais do pais, o poderoso San Magno...mas não filho...seu pai já sabe do Niko? Ontem a noite depois que você saiu ele só faltou me enlouquecer pra eu confirmar que você estava com alguém...mas eu fui firme e não disse nada...mas eu poderia ter dito? – Pilar sempre se lembrava da promessa de ano novo que fizera Félix jurar, sempre a verdade...

– Mami... – ele olha para baixo, mas não era vergonha, era medo.

– Fala filho, fala... – não haveria mãe melhor para Félix naquele momento do que sua mami poderosa.

– Eu não falei nada mami, e cada dia que eu vou lá e ele me pergunta, sinto algo bem aqui dentro dizendo que preciso conversar com o papi, mas não consigo nem manter cinco minutos de conversa sem ofenças com ele, imagina explicar do Niko. Sinto que sou um fracassado nessa hora...- e um suspiro de Félix com a mão sob o peito como se ele quisesse mostrar toda a angústia que estava sentindo. – E ainda tem mais Mami, eu chamei o Niko e as crianças – com a Adriana claro – pra ir passar o Carnaval comigo lá na casa de Angra, será que eu posso ir com eles lá, mami? Por favor? Pleasseeee....

– Só você mesmo filho pra convidar o Niko antes de me perguntar se pode usar a casa...imagina se a Paloma tivesse resolvido ir pra lá?...mas pode ficar tranquilo...a casa é de vocês pro Carnaval...eu fico realmente feliz pois além do Niko as crianças vão...quem diria meu querido que você está mudando assim, quem diria....

Com um afago nos cabelos negros do filho, ela continuo explicando que não se sentia bem com as cobranças de César, ela não acreditava que nenhuma das empregadas havia conversado nada com ele a respeito de Niko, sua desconfiança era que César também estava percebendo algo de diferente nele.

– Mami, a senhora acha que eu estou diferente? Será que estou engordando de tanto comer aquela comida ma-ra-vi-lho-sa do Niko? – E Félix se levanta pra mostrar a sua silhueta.

– Até nessas horas você me vem com piada filho?! Falando sério, esse rapaz te deixou mais leve, mais tranquilo...Eu sei que o tempo não volta, mas se eu soubesse que seria assim...desculpe filho...

Félix a abraça carinhosamente, não havia o que desculpar, ele havia feito tantas coisas erradas e ainda assim sua mãe lhe aceitara de volta...

– Mami, a senhora está certa, eu não posso esconder o Niko, nem os meninos...Eu adoro aqueles meninos, não quero que eles pensem que não podem vir aqui ou qualquer coisa do tipo...ah, e o Niko, a senhora tinha razão, aquela criatura é rapaz sério pra namorar e casar! – E quando Félix cai em si do que havia dito fica tão vermelho, tão vermelho que nem havia com que compará-lo naquele momento.

– Você tem noção de quanto tempo demorou pra eu assumir o Maciel? Nem precisa dizer que foi rápido...mas veja minha idade filho, já não sou uma adolescente pra namorar anos pra decidir se caso ou não...

– Mamiiii....eu só estava brincando! – ele ainda estava sem graça, nem sabia ao certo como tinha dito aquilo; pensava que se Niko tivesse escutado iria desmaiar de emoção...Casar...Félix Khoury...

– Pois eu não, se vocês se gostam, pra que viver nessa angústia da separação diária?...Pensa que eu não vejo como você chega aqui tristonho pois não conseguiu ficar mais tempo com ele...e nem vem que eu não fico escutando atrás das paredes...acontece que eu sou sua mãe e te conheço mais do que tudo...E ainda há aquelas duas crianças lindas, você precisa pensar nelas também, viu?

– Mami, a senhora está certíssima...eu vou resolver isso...é que o papi...acredita que ontem ele me ameaçou deserdar por causa disso? Mami, tudo que eu menos quero na vida é dinheiro agora...essa busca desenfreada por dinheiro só me deixou num fundo de um poço que eu nem sabia quão fundo era...

– Eu sei querido, eu sei, eu vou te ajudar – vamos pensar juntos nisso, talvez conversar com sua avó ou irmã pra termos alguma idéia... porque fácil não vai ser. E não se preocupe em relação a viagem a Angra, eu vou organizar a casa pra você, eu converso com a Maria, que acha? Ou você prefere organizar tudo?

– Mami, eu ficarei eternamente grato se a senhora resolver isso pra mim, eu só sei cozinhar salsicha, lembra? Organizar uma casa pra receber meus convidados iria ser uma tragédia – e ele enxugou algumas lágrimas enquanto esboçava um sorriso. – Talvez a Paloma ajudando, quem sabe o papi pelo menos me tolera?...Nossa ele não vai parar de me ligar enquanto eu estiver em Angra...

– Não, ele não vai. Eu vou pensar em algo com o Maciel pra te ajudar. Acho que vai ser importante pra você esse feriado em Angra.

– Sim mami, sim; quando eu pensei em convidá-lo pra Angra é porque lá eu achei que teríamos paz, não que eu queira ficar longe do papi, mas acho que precisamos desse tempo num lugar tranquilo...a senhora entende?

– Filho, na minha época não tinha essa história de namorados viajarem juntos, mas hoje em dia tudo mudou tanto... vocês até filhos já tem! – e Pilar começou a rir para quebrar aquela tensão da voz do filho que correspondeu ao pedido e foi lhe abraçando carinhosamente. Ela pediu que ele fosse encontrar Niko para conversar sobre a viagem, ela sabia que ele precisava de uma folga das ofensas do pai e também seria um teste para o novo celular que ela trazia no bolso para Félix, quando ele estivesse com Niko só ela lhe localizaria se necessário, quanto a César, pelo menos por hora ele teria algum passatempo em ficar ligando, ligando e ligando para o filho. De qualquer maneira eles precisariam resolver isso não muito depois do Carnaval.

Do outro lado da cidade Niko seguia preparando o restaurante para abertura para o jantar...uma conversa por sms iluminou seu sorriso, apesar do número desconhecido:

“Carneirinho, posso ir jantar com você de novo está noite depois do restaurante. Sou eu, Félix”

“Sempre. Te espero em casa. Que houve com o outro telefone?”

“Eu não tenho pressa essa noite, criatura, mas é bom você trazer algo pronto do restaurante, não quero você cozinhando até altas horas hoje. Depois te explico do número do telefone”.

Niko pediu que Edgar assumisse o balcão por alguns minutos, ele precisava preparar o pedido para viagem que acabara de receber.