Dias melhores virão escrita por Rose


Capítulo 24
Cap. 24


Notas iniciais do capítulo

Um ultimato, já que não havia outra maneira de fazer as coisas andarem



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Pilar havia entendido que não havia espaço para ouvir aquela conversa, bem conversa não era a palavra mais apropriada, ela via que aquele telefonema era decisivo...mesmo com toda curiosidade em saber o que eles conversariam, ela pediu licença e saiu.

– Félix, Angra dos Reis?! Angras dos Reis?? Qual a próxima parada?

– Niko, eu...

– Não, chega! Che-ga...eu não quero ouvir explicações, agora quem vai falar sou eu, criatura! Não é assim que você fala? Pois bem, criatura, calado, porque se você ainda quer me ver, vai ter que me ouvir. A primeira coisa é que eu cansei de tentar entender você, se você queria contar para minha família o que você fez, porque não falou comigo? Que confiança você tem em mim?

– Carneirinho, você...

– Cala a boca Félix, será que você não entendeu? Bom, você não entende...não entende nada...sabe porque eu chamo meu parceiro de companheiro, porque companheiro é aquele que acompanha, nas dúvidas, alegrias, na dor...agora que companhia é você? Aproveitou um momento, um momento sozinho com minha mãe pra sair contando tudo assim, como se eu fosse o quê? Um nada, que não poderia nem te ajudar nesse momento...se essa era a sua decisão, você em algum momento pensou que eu poderia te ajudar? Não, não pensou. Sabe por quê? Porque você é companheiro de si mesmo! E não confia em mim, nunca confiou pelo jeito.

Dessa vez Félix não tentou interromper. Pilar por outro lado se esforçava grudada a porta para entender o que Niko estava dizendo ao filho, mas sem sucesso.

– E sabe porquê você fez tudo isso, eu tenho minhas dúvidas que foi a sua consciência pesando...foi na verdade mais uma das suas tentativas de me afastar de você...será que não seria mais fácil me dar um fora? Eu já estou acostumado Félix...seria mais digno você dizer que não quer nada comigo do que ficar tentando me expulsar da sua vida! Ontem mesmo quando você saiu de casa pela manhã, não estava tudo bem? Estavamos contentes e tudo mais. Ah, mas aí teve seu pai... – Niko estava furioso, era um misto de fúria e decepção, afinal não era a primeira vez que ele tinha dúvidas sobre o que Félix queria pra eles, pra vida.

– Sim, seu pai. Seu pai está certo. Você é bicha, eu sou bicha! Sou bicha mesmo e nunca vou me envergonhar disso. Que nome você quer dar? Bicha, gay, homossexual ? Não importa, nenhuma dessas palavras vai fazer eu ser alguém repugnante, o que faz alguém assim são as atitudes e você está tendo uma chance, sua mãe te perdoou, sua irmã já te chamou pra trabalhar no hospital, eu...mas nada disso te satisfaz...e infelizmente Félix, seu pai não vai gostar de você, se seu pai é homofóbico como você mesmo já me disse, não haverá nada que você faça que vai mudar isso! Eu sinto muito Félix, mas seu pai não vai mudar...se eu pudesse fazer algo eu faria – a voz de Niko começava a se acalmar – mas não vai mudar nada...porque se eu fosse um mulher você não se interessaria por mim, sabe por quê? Por que você é bicha!

– Você está certo, carneirinho, nada do que eu fiz a vida toda mudou nada.

– Félix, eu gosto muito de você, eu sei que você sabe disso, mas pra gente ficar junto, eu preciso que você me ajude, que você se ajude...e pra isso eu preciso que você volte pra São Paulo...eu não sei o que você tinha na cabeça pra dirigir até Angra, mas eu preciso que você volte pra almoçar comigo e meus pais amanhã...

– Carneirinho, sua mãe não vai me aceitar...

– Cala a boca Félix e escuta! Amanhã na minha casa ao meio dia ou nem precisa ir mais lá, já fica aí em Angra de vez, afinal deve ter algo muito especial aí pra você sair feito um maluco de São Paulo pra ver o nascer do sol aí...

Não houve tempo para Félix responder, Niko já havia desligado o telefone. Mas não havia nada além de Niko que fizesse Angra especial para Félix.

Ainda na mansão, Niko convidava Pilar para o almoço de seu aniversário, com um único pedido, que ela não comentasse que iria no almoço ou o porquê daquela reunião sábado. Ele queria que Félix somente voltasse, não voltasse porque houvesse alguma desculpa.

Niko saiu da casa sem café, chá ou nada, também evitou explicar pra Pilar o que eles haviam conversado, melhor, o que ele havia dito. Ele não era muito bom em datas, não sabia dizer a quanto tempo Félix havia invadido sua vida daquele jeito, mas haveria outra opção? Aquilo tudo era inevitável? Não tinha resposta, quando achava que tudo sairia bem, Félix mais uma vez dava uma reviravolta tentando bagunçar tudo. Sim, bagunçar, estragar, não havia outra coisa na cabeça de Niko. E Angra dos Reis? Pra que ir até Angra, será que era lá que ele levava seus casos ou era pra lá que o destino de suas viagens de negócio para encontrar o Anjinho. Ele ainda tinha um dia long pela frente e o aniversário pra organizar, não queria nada de mais, mas precisava das suas pessoas queridas por perto, agora mais do que nunca.

Muito longe do dia cinzento em São Paulo, Félix mirava o mar a sua frente, cada onda quebrando o lembrava das palavras de Niko, será que ele não havia se precipitado em tudo? Tinha um sorriso no rosto, a lembrança da primeira vez dos dois...quanto tempo perdido... não sabia ao certo quando começou a ter esse desejo mais especial pelo Carneirinho, lembrava mais da rainha do hot-dogo o empurrando pra ele – ela nunca esteve errada...quando resgataram Fabrício se segurou para não convidá-lo a ficarem em Angra. Sempre acontecia alguma coisa que brigavam, brigavam, mas sempre se procuravam depois. Eles sempre se procuram.

– Mamãe,deixa que eu atendo. Deve ser o bolo chegando, só falta esse bolo pra chegar agora. – Niko correu para a porta, estava feliz por aquele dia, mesmo que não fosse exatamente do jeito que ele imaginasse há alguns dias atrás.

– Boa tarde, senhor Nicolas Corona, entrega de bolo de chocolate?

– Sim... – por um minuto Niko pensou que fosse Félix com um cartão de desculpa pelo atraso, mas não, Félix não era um cara romântico, ele não sabia o que era aquilo, mas nada disso impedia que Niko gostasse daquela criatura reclamona – eu já vou buscar o pagamento.. – Niko virou-se com a cabeça baixa, pelo menos agora era certo que ele não chegaria, ninguém chegaria para almoçar após as 14h. Onde estaria o cheque? Jurava que havia deixado fácil, na verdade, precisava de umas férias, nem havia dormido direito tentando entender o que Félix pensava, talvez se ele fosse uma mulher fosse mais fácil de entender.

Alguns minutos depois.

– Pode ficar com o troco rapaz. Não se preocupe, eu me entendo com o dono da casa....

Ao abrir a porta novamente, Niko vê Félix segurando a caixa do bolo.

– Eu ainda posso entrar pelo menos pra entregar o bolo? É aniversário do Jayminho hoje?

Silêncio.

– Carneirinho?

Silêncio.

– Niko?

Silêncio.

– Você não vai falar nada, criatura? Não me olhe assim. Eu peguei trânsito, a Rio-Santos não é fácil, depois a Dutra...Eestou aqui como você pediu, ninguém almoça meio dia em São Paulo,né? ...Carneirinho? Eu devo ter...

– Entra e fique quieto, não vai estragar o dia de hoje mais do que você já estragou. – Os olhos de Niko eram duros, duros como Félix jamais havia imaginado. E não olhavam pra ele, olhavam pro vazio. O Carneirinho arrancou a caixa de bolo das mãos do novo entregador e se foi rápido a cozinha.

Para a surpresa do moreno, não era um aniversário de criança, afinal sua mãe, Maciel, Jonathan e sua avó não eram colegas de escola do Jayminho. Era aniversário do Niko!

Um sorriso correu a seu encontro:

– Tio Félix? Estava preocupado! Vem cá comer brigadeiro comigo? – O abraço de Jayminho era reconfortante. – O papai falou que não poderia comer muitos sozinho, mas agora tem quem me ajude.

Félix abraçou Jayminho e olhou em volta a procura da mãe de Niko, mas não houve tempo.

Niko voltava com o bolo para cantarem parabéns.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos que comentam, uma vez ou sempre. É sempre bom saber que vocês estão lendo!



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