– Maciel, querido, você tem certeza? O Félix não deixou o carro no jardim?
– Tenho certeza, falta um carro na garagem. Mas Pilar, onde o Félix poderia estar? Será que ele não foi pra casa de alguém? ...Por favor, não me olhe com essa cara de pânico, precisamos ser racionais. Um amigo ou a Paloma, talvez?
– Eu não acredito que ele foi pra casa da Paloma, talvez a Márcia, vamos ligar pras duas...Mas Niko, está tudo bem, não? Por que você resolveu vir aqui tão cedo? Maciel, você poderia ligar para as duas enquanto eu falo com o Niko.
Assim que ele sai pra buscar a agenda telefônica, Niko desabou:
– Ah, Pilar, eu não sei o que deu no Félix, ele contou tudo pra minha mãe...
– Como assim tudo? Senta aqui querido, explica isso melhor – a expressão de Pilar ficava cada vez mais assustada.
Niko tentava explicar sem se atrapalhar tanto, mas era impossível, ele respirava fundo e continuava para o desespero de Pilar...ela sabia que era muito difícil que alguém aceitasse todo o passado do filho...especialmente porque às vezes até ela se perguntava como alguém que saíra de dentro dela fora capaz de tantas coisas horríveis.
Pilar pediu para ir ao escritório, não queria assustar a mãe logo cedo...mas precisava colocar as idéias no lugar pra decidir o que fazer em relação ao Félix e seu mais novo filho – o Niko.
– Niko, vocês se falaram depois que ele saiu?
– Não, não, eu confesso que fiquei passado...e fiquei conversando com a minha mãe...ela ficou chocada...
– Niko, quem não ficaria? Filho, eu sei que você gosta muito do Félix, mas não dá pra passar uma borracha assim e pronto...até hoje eu nem sei como a Paloma começou a perdoá-lo...
Maciel entra pedindo licença, mas nenhuma notícia é boa:
– Pilar, o Félix nem deu sinal por lá, ele não tem nenhum amigo que possa ter ido visitar? Alguém já ligou on celular dele?
– Pilar, o Anjinho já voltou da Espanha? – Niko olhava para o vazio, não queria imaginar o pior...
– Ai meu Deus...Maciel, boa idéia, liga pro celular do Félix, se der caixa postal continua tentando até ele atender...quando ele falar alô, passa pra mim... e você Niko, preciso te dizer uma coisa.
– Sim, claro.
– Querido, o Félix não tem amigos, ele tem você,você entede isso? Eu não sei onde ele está...estou rezando aqui dentro pra não ter acontecido nada...mas se aconteceu, que não seja grave... enfim....o Félix tem você; se você desistir do meu filho,e, veja bem, acho que você tem motivos de sobra pra isso. Meu filho não terá mais ninguém...é você que o está colocando no rumo e eu já sou eternamente grata por isso. Por favor, esqueça esse anjinho. Se você quiser deixá-lo, tudo bem, mas não o deixe pensando que ele está com outro...ele quer muito estar com você....
Niko se aproximou e segurou as mãos de Pilar, balançava a cabeça em sinal positivo , sabia que cada palavra era verdade, porém era muito melhor pensar que o Félix estivesse com o Anjinho do que qualquer outra coisa de ruim que pudesse ter acontecido.
– Pilar, o celular só toca, continuo tentando?
– Sim, por favor, alguém tem que atender esse telefone! – Pilar sabia que se surtasse, Niko iria surtar junto, então tentava manter a calma, mesmo elevando o tom de voz.
O celular do moreno apenas vibrava no bolso da calça, Félix havia desabado na cama...mal sabia como havia chegado...ma só incômodo lhe fez chamar:
– Niko...Niko...para de mexer comigo, deixa eu dormir? Eu não vou comprar peixe com você...
De volta a mansão Pilar pedia para Maciel parar um pouco, eles precisavam pensar o que fazer...será que ele já seria considerado um desaparecido?...
– Pilar, eu não sei por onde podemos começar a ligar, procurar...será que é bom eu ir nos hospitais ou ligar? – Os olhos de Niko se encheram de água...qualquer pensamento só lhe traziam imagens negativas.
– Maciel, desculpe te pedir, mas vai na cozinha por favor, e peça para as meninas prepararem um chá com algo pro Niko comer? Mas por favor não comente nada com elas, porque não quero assustar a mamãe assim que ela acordar...Ate essa agora...
Niko nem queria mais sentar na cadeira do escritório, passava a mãe entre os cachos, queria mesmo era sair procurando seu amado, mas onde? Quem será que ele fora procurar para pedir apoio...ele sabia que agora não era hora para ciúmes, mas quem além dele e o Anjinho o Félix procurava quando precisava...será que ele não tinha ido pra Espanha pra fugir de tudo pensava...
Pilar resolveu ligar enquanto Maciel não voltava, precisava se ocupar porque olhar Niko a estava deixando mais e mais nervosa.
– Niko, Niko, atende esse telefone? Eu não quero comprar peixe...tá cheio de peixe em Angra...Angra, estou em Angra...quem será que está me ligando? – ele meio que desperta...jurava que Niko estava do seu lado fazendo drama para que ele atendesse o telefone.
– Alô? Mami Poderosa? Calma, não grita...
– Félix, meu filho, onde é que você está?
– Mami, tá tudo bem, é que eu tive uns problemas e resolvi espairecer...
Niko arregalou os olhos em alívio...e se esforçava para disfarçar, mas estava acompanhando a conversa:
– Félix, onde você está???
– Angra dos Reis – e fechou os olhos esperando o grito do outro lado do telefone.
– Mas o que é que você foi buscar aí filho? Você tem noção do tamanho da preocupação que você me deu?
– A Mami, aconteceram tantas coisas ontem...eu achei que era melhor sair de São Paulo por uns dias...eu vim pra aquela casa da praia que temos aqui... está um dia lindo aqui hoje.
– Félix, custava avisar? Custava? Você dirigiu a noite toda, olha o perido disso...Você tem noção que se algo acontecer com você o Niko e eu não vamos aguentar?
– Mami, o Niko a essa hora não deve nem querer ouvir a minha voz...- e se houve um suspiro triste.
Pilar entragou o telefone a Niko, sabia que ele estava acompanhando a conversa. Seria melhor que eles se falassem, mas ela também queria acompanhar a conversa.
– Félix, é o Niko! – A voz do loiro era firme, apesar de toda a preocupação e uma certa ira, afinal o que ele tinha ido fazer em Angra dos Reis?!
Félix caiu de joelhos surpreso, tudo que ele menos imaginava era ouvir a voz do seu carneirinho, ele mirava a praia e as ondas pela janela a sua frente.