Niko, às vezes, não sabia muito bem como agir com Félix, naquele momento estava um pouco apavorado, apesar de ter se saído muito bem com Pilar ao telefone para explicar onde seu amado estava, não fazia idéia de como explicaria pra ele sobre a ligação da mãe...tudo que ele queria evitar era a ira de Félix, sabia muito bem como ele era díficil, ainda mais num momento desses com o pai récem operado no hospital.

Decidiu vencer Félix pelo estômago, afinal, ele sempre elogiara sua comida, preparou panquecas e suco para comer com géleia, quem sabe assim ele não ficava um pouco menos azedo? Niko pensava alto quando Adriana chegou.

– Oi Seu Niko, vou levar o Fabricio pra tomar um sol, já passam das 9, tudo bem? Precisa de alguma ajuda?

– Não, não, Adriana, você quer panquecas? Estou fazendo algumas pro Félix...

– Hummmm, não obrigada...Mas seu Niko, posso perguntar uma coisa?

– Não Adriana, não estamos namorando, ok? - Niko sorriu, não imaginava outra pergunta da sua fiel babá. - Mas quem sabe em breve... a propósito, quem deu a idéia do Jayminho mandar um bilhete pro Félix???

– Seu Niko, não fui eu! Ele só veio me perguntar outro dia porque o seu Félix não aparecia mais aqui, que vocês brigavam, mas ele era divertido no final. Mas quem sabe o bilhete dele não dá uma ajudinha?

– Adriana?! Desde quando eu te dei essas liberdades? - Niko começou a gargalhar - Preciso da sua ajuda pra não criar expectativa no Jayminho, o Félix disse que iria, mas agora com essa história do pai dele eu já não sei...E não se preocupe, se o Félix e eu engrenarmos mesmo eu te conto!

– Mas já não estão? - Adriana provocava às vezes pera ver a reação do patrão, no fundo sabia que ele gostava de conversar com ela.

– Vamos ver Adriana, vamos ver. Bem que eu espero que isso dê certo. - Niko havia ficado vermelho...

– Estou torcendo seu NIko, o seu Félix bem que mudou desde que começou a vir aqui, hoje ele é bem menos carrancudo!

– Adriana!? Deixa ele te ouvir dizendo isso, vai lá levar o Fabricio, anda menina, daqui a pouco o sol fica muito forte. - Niko sorriu mais uma vez, nunca conseguiria ficar bravo com ela.

Minutos depois:

– Bom dia, am...ops...bom dia Félix, ei, acorda?! Niko tentava ser o mais natural possível, iria levar algum chamado do moreno assim que ele soubesse que horas seriam.

– Hã?! Eu ainda não acordei? Nossa Carneirinho, onde é que você comprou esse colchão? Eu dormi feito um anjinho aqui! - Félix coçava os olhos e se espreguiçava, mas nem havia se ligado que falara algo bem sensível a Niko. - E olha que cheiro bom, eu ia sair correndo pra ir em casa trocar de roupa pra voltar pro hospital, mas acontece que eu adoro panquecas...

– Anjinho?! Pôxa Félix! Precisava me lembra disso?! - Não era bem aquele bom dia que Niko esperava.

– Ei, ei, você que está com minhocas nesses cachos, eu disse que dormi bem, feito um anjo, nada de mais...Olha pra mim, por favor! - Naquele momento, Félix entendeu que mesmo sem querer, havia dado um fora...

Niko olhou de volta, meio sem graça, com a bandeja na mão, de tanto Félix falar que ele estava acima do peso e depois dele ver o Anjinho original, sempre ficava um pouco inseguro, era tudo muito difícil pra ele também:

– Eu fiz panquecas, pelo visto acertei, mas pensando bem, deixa eu levar isso embora porque assim quem vai ficar acima do peso é você!

– Carneirinho!? Você pode parar com isso? A propósito, que horas são?

– 9:30...- Niko fechou os olhos, franziu a testa e começou a contar na sua mente: “1, 2, 3, 4...”

– N-O-V-E E M-E-I-A!!!! - Félix pulo da cama feito um gato, literalmente – Mas eu te disse que queria sair daqui junto com o Jayminho e o senhor vai tranquilamente me preparar panquecas?! A visita na UTI é agora às dez horas, eu nunca vou chegar no hospital!!! Senhor Carneirinho, você pode olhar pra mim? Bom, nem precisa, depois dessa é melhor eu ir embora com fome...que é que deu na sua cabeça? Eu confiei que você ia me acordar!

Niko abriu um dos olhos e despejou:

– Sua mãe me ligou e disse pra eu te deixar descansar, que ela iria com você na visita da tarde, agora ela iria com a Paloma. – Niko não sabia muito bem onde Félix estava, mas sabia que ele iria continuar esbravejando... – Ela disse que você entenderia....e que me ligou porquê você nunca atende os telefones dela...

– Minha mãe te ligou? Desde quando vocês são íntimos? E você concordou com ela, MESMO eu te pedindo outra coisa? – Félix estava furioso. – Eu vou embora AGORA, nem sei onde estava com a cabeça quando eu vim pra cá! Grande companheiro você!

“E agora? E agora?” Niko pensava que ele ia ficar bravo, mas nunca daquele jeito. Quando abriu os dois olhos, viu Félix todo esbaforido se vestindo.

Niko larga a bandeja e segura Felix firme:

– Félix, você nervoso desse jeito numa UTI? Acho que a sua mãe quer entender melhor a situação pra te preparar. Você já pensou que seu pai pode estar em coma? Talvez a primeira visita seja melhor ela ir com a Paloma mesmo. Eu fiz o que ela me pediu porquê achei que ela tinha um ponto. Eu não faria nada pra te prejudicar. Você deveria saber! – pausa - Você chegou aqui muito nervoso...Eu sinto muito, mas talvez seu pai não saia dessa ou se sair, poderão haver sequelas. UTI não é quarto normal de visitação...você trabalhou ou não naquele hospital?

Sequelas, Félix lembrava muito bem dessa palavra dita um dia antes pelo cirurgião, aquela palavra o trouxe de volta para o mundo real. Se livrou das mãos de Niko nos seus braços e se sentou na cama, estático.

– Você já teve alguém na sua família assim? – Os olhos de Félix estavam cheios d’agua.

– Não, não tive. Mas mesmo que houvesse alguém cada caso é um caso e você precisa se acalmar. Aqui está seu telefone, você deixou na sala ontem. Por quê não liga pra sua mãe? Ela deve estar chegando no hospital. Eu vou sair um pouco pra você ficar mais a vontade....

– Não! Pode Ficar, por favor, Carneirinho, essa é a sua casa. Não posso te expulsar.

Niko se senta aos pés da sua cama com a cabeça baixa...Félix estava a um braço de distância...

– Alô, mami? Mami! Eu queria ir no hospital, que idéia foi essa? E pior, até o Niko te obedece?!

“Félix, querido, vamos ter bom senso, eu acho melhor entender a situação”, eu não sei como seu pai está, a Paloma é médica. Eu só estou te pedindo paciência. Você nem pra casa foi, ainda bem que existe o Niko, precisamos ficar tranquilos pra ajudar seu pai nesse momento...A tarde eu prometo que venho com você no hospital e você verá seu pai. Pode confiar em mim? Ninguém vai te esconder nada!”

– Sim, mami, sim... – mais alguns minutos de explicação e Félix se convenceu que era melhor sua mami poderosa com a Paloma de manhã visitarem o pai, era muito estranho, mesmo sabendo que o pai nunca havia gostado dele, a idéia de perdê-lo assim era insuportável.

– Carneirinho, minha mãe explicou tudo. Obrigado. Quando ela falou agora, tudo pareceu ter mais sentido, no final vocês estão certos em me preparar pra ver o papi... – Há um braço de distância, Félix estende a mão buscando a de Niko. – Eu explodo com muita facilidade, não é?

Quando a mão de Félix alcança a do seu carneirinho, eles se aproximam.

– Eu só fiz o que a sua mãe pediu e foi porque eu achei que ela tinha razão, você precisava descansar. Acho que você só pegou no sono bem próximo do amanhecer... – A voz de Niko era um pouco chateada, um pouco encabulada, no final havia uma dúvida se ele realmente havia feito o melhor para Félix naquele momento.

Por mais que cada um dele tivesse uma opinão diferente sobre o ocorrido, ao final o moreno não queria ir embora brigado com o Carneirinho, ele já havia entendio que Niko não fizera nada por mal e ainda havia feito panquecas...”Como cozinha esse Carneirinho...até a panqueca parece estar deliciosa”

– Niko? Ainda posso comer essas panquecas? – cara de pato triste.

– Sim, são pra você – Ele se levantou prontamente pra buscar a bandeja de novo e explicar o cardápio – Tem panqueca, geléia de uva e suco de laranja, também tem chá se você quiser, posso ir lá fazer rapidinho.

– Está tudo ótimo, Carneirinho, você me desculpa? De novo...

– Dessa vez não vou te dizer pra fazer uma placa ‘Desulpa Niko’, acho que eu também ficaria bravo nessa situação...mas não fiz por mal...foi porque a sua mãe pediu...Ela vai te ligar de volta pra dizer como foi?

– Sim vai, sim, disse que quando acabar a visita e ela entender da Paloma a situação, vai ligar em seguida.

Félix continuava a falar:

– Eu continuo dando fora com você, nem sei como você me deixa entrar nessa casa? Falando nisso, acabei de lembrar de uma coisa. Você não quer trazer aquela geléia que eu te dei de presente outro dia. Que tal experimentá-la? Você me acompanha nas panquecas?

– Aquela geléia de morango com pimenta? – Niko fica vermelho de repente.

– Sim, aquela mesma, você não gosta de morango? De pimenta?

– É que eu já comi.... – mais vermelho ainda – não imaginei que você ia querer experimentar , você sempre reclama das minhas geléias....

– Comeu?! Toda a geléia? – Félix olhava espantado!

– Sim, comi.

– Ai Niko...assim você acaba comigo!