Madness escrita por Valentina


Capítulo 4
Mudança de Ângulo


Notas iniciais do capítulo

Well, aqui vai um POV do Finnick. Toda vez em que ele for narrar o título do cap será esse, mas também avisarei antes do começo do texto. Espero que gostem!!



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Dois meses atrás – Finnick Odair

O trem chacoalhava quase que imperceptivelmente, se o líquido na taça de cristal não o denunciasse. Deduzi ser algum suco esquisito desses que Mags costumava tomar para manter sua boa saúde. Apesar de todos estarmos mastigando a maravilhosa janta de frutos do mar e pães de centeio, o silêncio constrangedor entre nós quatro continuava o mesmo desde que entramos no maldito vagão.

Leonard Frey era o tributo masculino. Era simpático o suficiente para atrair alguns patrocinadores. Costumava piscar para as câmeras, deixando algumas garotas enlouquecidas. Em suma, era um babaca, mas um babaca inteligente. Talvez conseguisse ficar entre os finalistas. Ouvi dizer que ele era muito bom com facas, e se esse imbecil fosse corajoso o suficiente para correr até a Cornucópia, poderia arranjar uma boa coleção delas. No momento, ele devorava uma lagosta sem cerimônias.

Annie Cresta era o tributo feminino. Ela era extremamente gentil e espalhava sorrisos como se estivesse plantando flores no jardim. Apesar de não ser muito falante, toda vez que abria a boca para conversar, elogiava algo ou alguém. Ela sabia ser agradável. No entanto, eu acho que ela é doce demais para uma voluntária. Com certeza ela vai atrair patrocinadores o suficiente, e se for realmente boa com alguma arma, poderá ganhar essa edição dos Jogos. No momento, ela sorri para a quantidade ínfima de comida que pôs no prato, parecendo estar sem apetite.

Individualmente, ambos nasceram para as câmeras. Porém, quando estávamos todos juntos, parecíamos um bando de antipáticos. Eu e Mags nos entreolhávamos porque sentíamo-nos verdadeiramente constrangidos com o silêncio. Eles eram carreiristas e carreiristas são carismáticos.

“Por que se voluntariou?” – perguntou Mags. Leo olhou para Annie igualmente curioso, enquanto enfiava alguma parte que eu não sei dizer qual da pobre lagosta na boca.

“Não sei” – eu a encarei por alguns segundos, incrédulo. A decisão de pôr sua vida em risco deve ser repensada várias e várias vezes. Tudo bem que os Carreiristas costumam treinar a vida inteira para isso, e são um bando de estúpidos que gostam de arriscar a própria pele. Mas Annie não se parecia com um deles.

“Não sabe?” – disse Leo, com a boca cheia. Reprimi o riso, pois a situação exigia seriedade.

“Eu perdi os meus pais há alguns meses. Estou sozinha. Achei que como eu não tenho motivos para continuar vivendo, seria um ato altruísta. Estarei poupando a vida de uma retardada que poderia ter planejado se voluntariar. Pelo menos, pouparei por mais um tempo” – ela disse, com uma voz triste que não era típica dela. Pelo menos, nas poucas horas em convivemos juntos até então, ela sempre me pareceu alegre.

Um nó se formou no meu estômago.

“Você não vai nem tentar vencer?” – disse Leo, engolindo alguma outra coisa em meio aos restos da lagosta. Comecei a ficar enjoado ao vê-lo comer.

“Vou deixar que o destino tome conta de mim. Não vou entregar minha vida de mão beijada, também” – ela sorriu, mas não foi um sorriso sincero. Foi um sorriso piedoso. Pena de si mesma.

“Você devia comer. Vai sentir falta dessa lagosta na Arena. Bem, talvez não tanta falta quanto Leo irá sentir” – eu falei, tentando amenizar a tristeza que se instalara no ar repentinamente.

Annie soltou uma gargalhada. Uma daquelas gostosas, da qual você poderia ouvir por horas e horas. Acho que o sotaque afetado das garotas da Capital, ou das desesperadas do meu Distrito, jamais poderiam reproduzir uma risada tão genuína como aquela. Tive vontade de rir também. Mags se juntou a nós e Leo começou a cuspir a lagosta depois de sentir um ataque de risadas subir-lhe pela garganta.

Atualmente – Finnick Odair

Annie se contorce na cama há alguns dias. Pelo o que fiquei sabendo, deram um tipo de sedativo a ela desde que teve um acesso de “loucura” perto do Sirius. Eu seguro o saco plástico que contém cubos de açúcar com firmeza nas mãos. Disseram-me que ela poderia acordar hoje. Estou nervoso. No fundo, sei que é a minha Annie que está deitada, sofrendo. Mas quando ela abre os olhos, é como se a Capital tivesse injetado seus piores medos neles, de forma que ela os veja o tempo todo. De forma que ela perca a si mesma dentro de todas aquelas lembranças. Eu sei como é. Mas jamais saberei como isso a afetou.

Enquanto eu tentava desesperadamente arranjar qualquer coisa que a pudesse manter viva por mais um dia, Annie se escondia dos desgraçados que deceparam o Leo. Lembro-me do comentário infeliz de Caesar acerca do ocorrido: Nossa, esse garoto do sete deve ter cortado muita lenha!

Eu estava em pânico, e perdia uma parte de mim cada vez que a via mais perto da morte. Foram momentos horríveis. Eu tive tão pouco tempo com ela, pensava, e ela vai partir assim. No pouco tempo que estivemos juntos, nos treinamentos ou enquanto eu a ajudava psicologicamente pelos cantos, Annie se revelou a melhor pessoa que eu já pude conhecer além de Mags. Através das decisões que ela tomou na Arena, só pude confirmar a beleza de seu caráter. Ela enxergava os Jogos. Ela sabia o que estava acontecendo de fato, além do prêmio final de fama e prestígio – se é que isso pode ser considerado um prêmio. Sobretudo, ela me enxergava. Annie tornou-se especial.

Vê-la assim, sem poder ajudá-la, é muito doloroso. Saber que a Capital causou danos a ela que são irreversíveis é muito doloroso. Saber que ela nunca mais será a mesma Annie, que não distribuirá sorrisos como costumava antes de tudo, bom, é muito doloroso. Contudo, sei que devo estar aqui por ela. Não a abandonarei agora, e apenas saber que ela está aqui, viva, já me deixa um pouco mais aliviado. Eu a ajudarei a superar todos esses medos que a Capital introduziu em sua mente frágil, porque em apenas uma semana, Annie me ajudou a ver a mim mesmo e perceber que há coisas mais importantes. Ela merece todo o meu apoio.


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Notas finais do capítulo

Ah, Finnick.
E aí, o que acharam?
Beijos, Valentina.