For The Love Of a Daughter escrita por Nicolle Bittencourt


Capítulo 1
Capítulo 1: Don't you remember I'm your baby girl?


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores fofamente perfeitos! Tudo bem com vocês?Então, aqui estou novamente, com mais uma songfic (vocês sabem o quanto eu amo isso, certo?), dessa vez, baseada numa música da Demi. Na verdade, essa música é muito importante para mim, me faz pensar um pouco na minha própria família e pensar na infância da Demi. Então... É bem sentimental e dramática, eu chorei enquanto a escrevia, e a intenção é fazer com que vocês se emocionem com a história.Bem, eu peço que ouçam a música enquanto leem a fanfic (basta clicar no título no início do capítulo, aliás, deixem a música no repeat, fica bem emocionante), e peço que também leiam a tradução antes, para que entendam o contexto da história e da música (se bem quem a fanfic é bem explicativa). Eu tive que fazer pequenas adaptações para se encaixar na relação de pai e filha do Frederick e da Annabeth, por isso, não se assustem se a música não for levada tão ao pé da letra. Sem mais delongas... Boa leitura!



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For The Love Of a Daughter

Annabeth’s POV

Eu lembrava muito bem, me lembrava de todos os anos de esquecimento, de abandono, de todos os anos em que eu havia sido nada mais que uma maldição na vida dele, todos os anos em que ele havia tentando ignorar minha existência. Eu nunca poderia esquecer-me disso, muito menos, poderia esquecer às vezes em que ele tentou se aproximar, só para depois destruir tudo e me afastar novamente.

Não era para as coisas terem acontecido daquela forma, eu era sua filha, era para ele estar ali a todo o momento, era para ele me proteger do escuro, me proteger dos monstros, das aranhas, dos meus medos. Era para ele me amar, me abraçar, mas as coisas não haviam ocorrido assim, e agora...

Agora eu tinha doze anos, e estava ali, no chalé seis do Acampamento Meio-Sangue, enrolada em minhas cobertas, chorando em silêncio enquanto todos os meus irmãos dormiam. Eu poderia mentir e dizer que não ligava para meu pai, eu poderia tentar enganar a todos e falar que não precisava dele, que Luke, Quíron e meus irmãos eram o suficiente, entretanto, eu estaria apenas mentindo, e nesse momento, eu não podia mentir para mim mesma. Eu não queria mentir para mim mesma.

Eu nunca tivera uma mãe presente, ou sequer uma mãe. Obviamente, Athena era minha mãe, ela me protegia de monstros quando podia, e me guiava quando necessário, mesmo assim, eu nunca falara com ela, uma conversa sincera de mãe e filha; eu nunca tivera um abraço ou um beijo seu, e por mais que me irritasse, eu era capaz de entender o motivo. Ela era uma deusa, seu dever não era exatamente esse, e mesmo assim, ela se esforçava para fazer o melhor que podia.

Porém, ele... Ele não, ele nunca se esforçara realmente; para não ser totalmente injusta, ele havia começado a tentar quando eu era pequena, mas ele se casara, tivera outros filhos, e bem... Eu fiquei em segundo plano, ele parara de tentar qualquer aproximação comigo; ele preferia seus filhos mortais e sua esposa normal, ele não queria se lembrar de Athena e dos deuses. O grande problema, é que eu era um lembrete constante de tudo que havia acontecido na vida dele, e isso o fazia me desprezar.

Agarrei firmemente meu ursinho de pelúcia enquanto as lágrimas escorriam pela minha face. Ninguém sabia da existência daquele ursinho, e lógico, nunca saberiam, mas fora ele que havia me dado, meu pai. Eu era bem pequena, fora antes dele se casar, antes dele mudar completamente, fora num momento de amor e aproximação, fora meu presente de Natal. Eu ganhara outros, porém, aquele... Aquele havia sido meu favorito, e desde então, era com ele que eu dormia quando ninguém via, era ele que eu abraçava para me sentir perto do meu pai. É, eu o odiava com todas as forças, mas eu também o amava, ele era meu pai, Frederick era meu pai eu querendo ou não, e eu sentia falta dele. Aquele ursinho era a minha pequena conexão com ele, e era algo que eu carregava comigo desde os meus três anos. Eu me lembrava de uma noite em particular, em que eu havia o abraçado firmemente, assim como fazia agora.

Era uma noite refrescante em São Francisco, o céu estava estrelado, e eu sabia disso porque olhava para ele da minha janela.

Nós havíamos nos mudado há poucos meses, eu sabia disso, mesmo tendo apenas quatro anos, se bem que... Eu era bem esperta para a minha idade, ao menos, era o que os professores da escolinha diziam, na época, eu não tinha tanta certeza.

No entanto, ali estava eu, olhando a estrela mais brilhante no céu, a que ficava ao lado da Lua, e como qualquer pequena criança, eu havia feito um pedido: eu havia pedido que papai continuasse a gostar de mim como ele vinha gostando, que ele continuasse a me olhar como olhava: sem aborrecimento ou raiva, apenas com carinho. Lamentavelmente, o pedido não adiantara de nada, pois naquela noite, às coisas já haviam começado a mudar.

Assim que terminei de fazer meu pedido à estrela, comecei a ouvir vozes falando num tom baixo, mas ainda irritadas. Era como se as pessoas estivessem discutindo, porém, não queriam que ninguém as ouvisse, no caso, eu. Temo que o plano deles não tenha dado exatamente certo, já que meus ouvidos captaram o barulho de conversa.

Como qualquer criança que fica acordada depois da hora de dormir, resolvi descobrir sobre o que era a conversa. Claro, eu sabia que vinha do quarto ao lado do meu, estava bem próximo, só poderia vir de lá, do quarto do meu pai e da minha madrasta. Como eu disse, nós havíamos nos mudado há alguns meses, e era há exatamente alguns meses que meu pai estava casado com a Sr.ª Chase: uma bonita mulher asiática, que me tratava com carinho no início, até descobrir de quem eu era filha e saber que monstros me atacavam constantemente. Depois que soube disso, ela nunca me destratou, no entanto, cada dia ela me olhava de forma mais atravessada, e eu começava a notar que aquilo estava influenciando meu pai.

De qualquer forma, lancei minhas pequenas pernas para fora da cama, meu ursinho; marrom com uma fita azul amarrada em seu pescoço; ainda em minhas pequenas mãos fofas. Lembro-me de estar vestida com uma camisola branca de renda que tinha pequenos laços coloridos, meu cachos loiros caiam levemente sobre o ombro, enquanto eu saía de meu quarto e seguia em direção a porta do quarto deles. Meus pés descalços estavam tocando o chão gelado, mas eu gostava disso, era reconfortante.

Ainda abraçando meu ursinho, cheguei à porta. Ela estava muito bem fechada, porém, dava para ouvir a conversa melhor dali. Eles continuavam a falar baixo, e eu não entendia direito, talvez eu tivesse voltado para o meu quarto e ignorado tudo, se eu não tivesse ouvido meu nome ser pronunciado com total desprezo e raiva.

“Annabeth não é normal, Frederick, você sabe disso, não pode trata-la como se fosse, ela é uma ameaça!” – gritava a mulher de meu pai.

Aquilo me deixara em choque, era a confirmação de que ela não gostava de mim, de que eu era uma aberração. Tudo o que eu queria fazer era voltar para meu quarto e chorar, mas a ânsia por saber o que meu pai responderia era maior do que isso. Eu tinha certeza de que ele me defenderia, de que ele me protegeria dela.

“Eu sei, eu sei! Não precisa me lembrar disso toda vez que conversamos! Eu sei que ela é um risco para nós, eu sei. Porém, o que eu posso fazer?”. – ele respondia de volta, tão baixo que eu mal ouvia.

Lentamente, encostei-me na porta, deixando-a me apoiar enquanto eu escorregava em direção ao chão e chorava baixinho. Eu era nova, no entanto, era esperta o bastante para saber o que acontecia ali. Meu próprio pai estava me chamando de ameaça, dizendo que eu era um risco para a segurança de todos. Era como levar um tapa no rosto, porém, muito mais doloroso.

Aquela era uma espécie de guerra familiar, e eu era o motivo dela, isso era visível, e doía. Eu não era querida.

As lágrimas salgadas desciam vagarosamente por meu rosto, para por fim, caírem em minha camisola. Não importava, eu não me preocupava em secá-las, novas lágrimas surgiam enquanto eu soluçava e tremia completamente. Eu estava assustada, e a única pessoa que devia me amar, era aquela que estava temendo a minha presença.

“Frederick, eu sei que você não pode devolvê-la a mãe dela.” – o tom de minha madrasta era sereno, como se acalmasse meu pai – “No entanto, nós estamos começando a formar nossa família, em breve, o nosso bebê estará aqui, você consegue ver os riscos que seria para ele? Morar na mesma casa que Annabeth?” – ela pronunciara meu nome com completo ódio, era como se o cuspisse de sua boca, como se fosse algo imundo, como um veneno mortal.

Finalmente, eu me dei conta de algo. Era óbvio, ao menos para uma filha de Athena, que ela estava grávida. Logo eles teriam um lindo bebê normal, que não atrairia monstros, e eu seria completamente dispensável, ou como eles dizeram, uma ameaça ao filho deles.

Meu corpo ainda tremia convulsivamente enquanto eu tentava processar tudo o que eu ouvia. Era tão assustador ser uma criança de quatro anos e ouvir palavras odiosas voltadas à você.

Agarrei meu ursinho firmemente, o abraçando enquanto chorava, esperando o que meu pai diria a seguir.

“Eu entendo os riscos, eu sei deles. Porém, eu não posso abandoná-la, seria cruel demais, e Athena nos amaldiçoaria.” – respondeu simplesmente.

Aquilo me quebrou, me despedaçou. Ele só estava comigo porque minha mãe o amaldiçoaria? Ele não me amava? Nem um pouco? Nunca havia me amado? Será que todos os passeios, os sorrisos recentes, eram falsos? Eu era só o resultado indesejável do seu encontro com Athena?

O chão frio sob mim ajudava a me fazer estremecer mais vezes, e as lágrimas não estavam facilitando nada, nem as palavras deles.

Rapidamente, levantei-me, a tempo de ouvir minha madrasta falar algo sobre eles darem um jeito, ou tentarem me manter longe. Porém, eu não me prendi a isso, eu já ouvira o suficiente, sabia que não era amada por nenhum dos dois, então, segui correndo para meu quarto, a visão embaçada pelas lágrimas. Felizmente, nenhum dos dois ouvira meus passos, ou meus soluços.

Ainda em choque, ainda triste, lancei-me em minha cama, deitando minha cabeça no travesseiro, cobrindo-me firmemente com a colcha e agarrando o ursinho como se ele fosse minha vida. As palavras cruéis ainda gravadas em minha cabeça e em meu coração, e assim ficariam, para sempre.

Em meio à tristeza, eu fizera uma oração a minha mãe. Sim, eu já sabia que era isso que eu deveria fazer, mesmo sendo tão jovem. Eu lembrava-me de ter lhe contado tudo durante a oração, as lágrimas persistentes caíam em minha cama e as palavras saíam confusas por causa dos soluços. De início, eu pensei que ela não deveria estar me ouvindo, ou que simplesmente não ligava para mim, assim como todos os outros não ligavam.

No entanto, quando eu sugeri ir embora, porque seria uma solução, eu poderia jurar que ouvira sua voz, nítida e clara em minha mente, uma voz melodiosa, carinhosa e ao mesmo tempo, poderosa:

“Ainda não, meu bem, ainda não. Você terá que ficar mais um tempo, no entanto, um dia... Um dia, se tudo der certo, você encontrará seu verdadeiro lar.”.

Aquela fora a primeira vez que minha mãe falara comigo, e durante muito tempo, aquelas palavras e aquela voz não abandonavam os meus pensamentos.

E, em meio às lágrimas salgadas, enrolada na colcha e abraçando meu ursinho, eu ficara até tarde acordada, pensado, exatamente como eu fazia agora.

Agora eu conseguia ver o que antes eu não via, as mãos dele eram egoístas, ele queria uma vida perfeita e a família perfeita, mas a filha que era fruto de seu amor pela deusa da sabedoria não entrava no pacote. Eu era a ameaça ao “final feliz” deles, era assim que os dois viam tudo.

Sinceramente, eu conseguia, com muito esforço, entender minha madrasta, afinal, aqueles eram os filhos dela, e realmente, havia muitos monstros o tempo todo atrás de mim. Eu entendia sua preocupação, porém, o seu desprezo, acabava comigo. Mesmo assim, mesmo magoada com tudo que ela havia me feito, eu conseguia entender o fato dela não me amar, eu poderia tentar entender. Entretanto, meu próprio pai não me amar? Isso era tão errôneo e inconcebível que fazia meu coração despencar no peito, porque, por mais que houvessem pessoas que gostassem de mim, nada se compara ao amor de um pai e de uma mãe, e saber que eu não tinha o amor daquele, destruía meu coração. E isso era algo constante, sim, porque todas as noites, quando eu deitava em minha cama, eu pensava nisso, e a ferida em meu coração era reaberta, me fazia sangrar e chorar, fazia meu coração quebrar de novo, e de novo. Eu sempre me sentia fraca.

E todas as noites, eu me perguntava se a consciência dele pesava por ter feito isso, se ele se incomodava ou importava. No entanto, depois, quando fiz dez anos e lhe dei aquela chance, voltei a morar com ele e tudo o que aconteceu foi apenas se repetir o mesmo que vivi até os meus sete anos, bem, eu notei que para ele, eu não fazia muita diferença. Por isso, acabei voltando para o Acampamento.

Sim, às vezes ele tinha surtos de consciência, e isso o fazia me mandar cartas em datas comemorativas e no meu aniversário, porém, acho que é simplesmente isso. O que acontece para isso ocorrer? Bem, o coração dele era oco, para mim sempre seria, no entanto, não é porque um coração é oco que ele não pesa, na verdade, pesa em dobro, mais do que sua consciência, aquilo deveria ser o suficiente para fazê-lo fingir se importar comigo. É, ele apenas fingia, como todas às vezes anteriores.

Eu já havia tentado lutar contra aquilo, tentado entender e até mesmo voltar para casa aos dez anos, depois dele tanto pedir, mas fora exatamente como eu disse, tudo continuara da mesma forma, nada mudara, nem um pouco. Parecia que os três anos que eu havia passado longe não serviram para nada além de manter a indiferença comigo. Então, ódio por ódio, indiferença por indiferença, era melhor voltar para o Acampamento e sofrer de longe, e fora o que eu havia feito.

E agora, fazia dois anos desde a última vez que eu havia visto meu pai, minha madrasta e meus irmãos. Talvez, o pior de tudo não fosse apenas a dor de ser rejeitada, mas o fato de continuar os amando depois de tudo, e eu podia esconder isso de todos, porém, no fundo do meu coração eu sabia, eu os amava, por mais que quisesse distância de seu ódio, eu ainda queria seu amor. Eu... Não sei explicar! Deveria estar sendo estúpida por continuar a amá-los, entretanto, eu não consegui contornar isso, eu os amava.

Tinha vezes que eu apenas queria ir até o meu pai e gritar com ele o mais alto que eu pudesse, dizer tudo o que eu sentia. E tinha outras que eu só queria ir até ele, chorar e implorar seu amor.

Isso me fez lembrar o que havia acontecido mais cedo naquele dia...

Eu estava sentada sob o pinheiro de Thalia, lendo um bom livro enquanto o sol tocava minha pele e me fazia sentir viva e feliz. Aliás, estar encostada ao pinheiro já me fazia sorrir, era como se eu sentisse Thalia ali, comigo, era quase possível, para mim, ouvir sua risada.

Meu plano era passar as minhas duas horas livres de atividades lendo no topo da colina, no entanto, meus planos foram interrompidos por Quíron, que chegara galopando vagarosamente.

Ele havia ficado alguns meses fora, aparentemente de olho num semideus potencialmente importante, havia voltado naquela manhã, obviamente, o Acampamento ficara em festa, e eu ficara feliz, embora Grover ainda não tivesse regressado da mesma missão, e isso me preocupasse.

Pois bem...

Quíron era como um segundo pai, ou só como um pai, era alguém com quem eu sempre poderia contar, alguém que eu sabia que me amava muito.

“Annabeth, eu poderia falar com você?” – ele me chamara gentilmente, fazendo com que eu ergue-se meus olhos em sua direção, fechasse meu livro e ficasse de pé.

“Claro, Quíron!” – eu respondera sorrindo diante seu tom sereno. Eu amava conversar com ele.

Ele pigarreou levemente, o que me fez suspeitar que o assunto não fosse tão agradável quanto eu supunha.

“Minha querida, eu vim te avisar que seu pai te ligou. Na realidade, ele está esperando do outro lado de linha que você o responda. Ele quer muito falar com você.” – os olhos de Quíron eram de um castanho intenso, e me analisavam.

Engoli em seco. Eu havia fugido dos telefonemas do meu pai durante uma semana inteira, não sei por que achara que ele desistiria de me ligar tão fácil assim. Talvez, porque todo dia eu o rejeitava, achava que ele fosse entender que não queria falar com ele, mas pelo visto, ele era insistente.

“Quíron... Eu não quero falar com ele, Quíron, não mais.” – eu respondera, olhando para o chão.

Quíron remexeu-se, meio que sem jeito.

“Annabeth, eu sei de tudo o que ocorreu entre vocês. E embora não concorde com as atitudes do seu pai, acho que o mínimo que você pode fazer é atendê-lo.”- eu estava prestes a discutir quando ele continuou – “Eu fiquei sabendo que ele ligou durante toda a semana e você não o atendeu, o Sr. D. me contou isso. E eu sei que você quer ignorá-lo, porém, ele quer muito falar com você, Annabeth. Você deveria ao menos ouvir, mesmo que não acredite nele, deveria ouvir. No final, você poderá se surpreender, ou pelo menos, não terá que receber mais ligações todos os dias.”

Quíron piscou para mim, seus cabelos cacheados esvoaçando ao vento, assim como os meus.

Nervosa, olhei para o chão enquanto segurava meu livro e remexia no meu boné de invisibilidade que estava preso em meus shorts. Aquele havia sido o presente de aniversário de 12 anos que minha mãe me dera, e me fizera lembrar que era desde essa data que meu pai me ligava, talvez, ele só quisesse me dar parabéns.

Ainda remexendo no boné, olhei diretamente para Quíron, suspirando.

“Okay, eu irei atendê-lo, mas só irei fazer isso.” – respondi enquanto Quíron sorria largamente e assentia. Eu sabia que ele gostava de tentar fazer com que meu pai e eu nos entendêssemos, embora os resultados nunca tenham sido satisfatórios.

Em silêncio, seguimos para a Casa Grande, passando pela varanda e consequentemente pelo Sr. D, que nem perdeu seu tempo nos olhando. O que eu agradeci, estava nervosa demais para ter de lidar com as implicâncias dele.

Embora não fosse necessário, Quíron me guiou até a porta da sala “secreta” onde ficavam os aparelhos eletrônicos do Acampamento: o telefone; um computador e uma TV, os únicos meios de comunicação seguros do local, considerando que a sala era protegida, então, os monstros nunca localizariam o sinal emitido pelos aparelhos.

Quíron abrira a porta para mim, lentamente, porém, antes que eu entrasse, ele pôs uma mão em meu ombro.

“Tudo ficará bem.” – ele dissera, mas eu não prestara muita atenção, já entrava na sala, e tudo o que podia ouvir era a porta se fechando atrás de mim.

Analisando a sala, eu vi as familiares paredes brancas cobertas com fotos de antigos campistas, os grandes heróis que o Acampamento teve ao longo dos anos. Observei também os móveis de madeira, assim como avistei o telefone branco fora do gancho e em cima da mesa de mogno. Caminhando vagarosamente, alcancei a mesa. Deixei meu livro sobre a mesma e peguei o telefone, só então, notando que tremia e que ansiava por ouvir a voz do meu pai, e que era o que eu vinha desejando nos últimos dois anos que ficamos sem nos falar. Ao mesmo tempo, eu desejava que a ligação tivesse caído e eu não tivesse que falar com ele.

Respirei fundo e segurei o aparelho contra minha orelha.

“Alô?” – eu indaguei, minha voz tremeu levemente, e isso só me fez xingar mentalmente.

“Annabeth?” – ele respondera automaticamente, alívio presente em sua voz. A mesma voz que nos meus sonhos contava-me histórias para dormir, a mesma voz que me amaldiçoava em meus pesadelos — “Graças à Deus! Eu pensei que não conseguiria falar com você, novamente, eu queria tanto falar com você, minha filha.”

Por um segundo, meu coração veio à boca, ele me chamara de “minha filha” com tanto carinho... Mas eu não podia acreditar nisso, fora exatamente igual da última vez.

“Ah, sim, eu estava ocupada.” – menti descaradamente – “Mas o que o Senhor gostaria de falar comigo mesmo?”.

Talvez eu estivesse sendo grossa, porém, eu não me importava se ele se chatearia com isso, ele havia me magoado muito mais.

“Bem...” – ouvi o desânimo em sua voz – “Mesmo que tenha passado uma semana que tento falar com você, eu queria lhe desejar um feliz aniversário, minha filha.”.

“Hum... Nada de um cartão dessa vez? Vejo que o senhor está evoluindo.” – eu sabia que estava sendo rude ao mostrar desinteresse. No entanto, eu estava ressentida por todos os anos de abandono, e uma simples vontade de me desejar “feliz aniversário” não mudaria isso, mesmo que eu quisesse conversar com ele, conversar de verdade com meu pai.

Aliás, eu estava tomando o cuidado de não chama-lo de pai.

“Eu vejo que você está com raiva de mim, e você tem razão de estar zangada comigo.” - ele disse tristemente, eu estava prestes a protestar sobre eu estar zangada, quando ele me interrompeu - “Total razão, e talvez você não acredite, porém... Eu estou arrependido, Annabeth, e eu tenho sentido tanto a sua falta.”.

Eu fora obrigada a cortar sua conversa de arrependido, as palavras pulando fora de minha boca antes que eu pudesse controla-las.

“Engraçado o senhor sentir minha falta só agora, depois de dois anos.” – disse rispidamente – “Mas era só isso que o senhor queria? Dar-me os parabéns? Pois bem, obrigada! O senhor já fez isso, pode desligar se quiser.”.

O silêncio se seguiu, e por um instante, eu pensei que ele tinha desligado.

“Annabeth...” – ele começou, e eu sabia o que vinha a seguir, as mentiras sobre como ele me amava, eu sabia disso porque mesmo antes do “eu te amo” em si, tudo soava como uma mentira — “Minha filha, eu te amo! Por favor, pare de me chamar de senhor, eu sou seu pai e te amo!”.

Respirei fundo.

“O senhor quer que eu o chame de pai?” – eu perguntava incrédula enquanto mudava o peso do meu corpo para o pé direito – “O senhor tem certeza de que essa é a palavra para designá-lo? Acho que não! Talvez Bob e Matthew te chamem assim, afinal, o senhor é realmente pai deles. No entanto, o senhor não é meu pai. Não, porque nenhum pai detestaria a filha, nenhum pai a abandonaria ou a faria sofrer intencionalmente, nenhum pai chamaria um filho de “ameaça”. E como o senhor fez tudo isso comigo e nunca se desculpou, não posso chama-lo de pai, sinto muito, mas o senhor está pedindo demais. Ah! Só mais um detalhe: o senhor diz que me ama, porém, como alguém que maltrata uma criança de sete anos até ela fugir no meio da noite pode amar essa criança? Como que alguém que nunca esteve presente pode amar?”.

Eu havia o ferido, eu sabia que o havia ferido profundamente, que mesmo que ele não me amasse como seus outros filhos, mesmo assim, minhas palavras o haviam atingido em cheio, fazendo seu coração oco pesar mais. No entanto, eu também me feria, minhas próprias lágrimas descendo pelo meu rosto. Entretanto, não deixei o choro chegar a minha voz.

“Annabeth...” – ele estava chorando? –“Perdoe-me, minha filha, me perdoe, eu fui um idiota, eu não deveria tê-la tratado daquele jeito, me perdoe!”.

Eu sabia que ele pediria desculpas, e também sabia que não podia acreditar nelas, não podia.

Novamente, respirei fundo, diante do que ia fazer.

“É, o senhor é um idiota e não deveria ter me tratado do jeito que tratou. Não deveria mesmo.” - o silêncio do outro lado me mostrava quanto às palavras o haviam atingido, era quase como se eu conseguisse ouvi-lo levando um tapa em seu rosto.

Criei coragem, e então, dei um fim à conversa que nem deveria ter começado. Um fim que eu sabia, apenas o magoaria mais, se é que alguma coisa naquela conversa fora real da parte dele. De qualquer forma, ele não seria o único magoado na história toda.

“E sinto muito, por não lamentar o fato de que não posso o perdoar. Adeus!” – e desliguei o telefone, batendo o gancho com tudo contra o aparelho.

Tentando me concentrar em algo, olhei para minhas mãos, notando que segurava firmemente o anel de formatura preso em meu cordão, mas não um anel qualquer, o anel dele! Fora aquele anel que meu pai havia me dado da última vez que eu estivera em sua casa, para que eu nunca me esquecesse dele. Eu segurava o anel em umas das minhas mãos com tanta força que meus dedos ficaram brancos. Há quanto tempo o segurava? Por que o segurava?

O que se seguiu fora inexplicável, acho que eu havia chegado ao meu limite.

Eu simplesmente puxei o anel, arrebentando o cordão que o prendia e me machucando um pouco no processo, e joguei-o com tudo do outro lado da sala, amaldiçoando-o, livrando-me dele. A raiva me dominando.

O choro veio a seguir sem que eu percebesse, as lágrimas salgadas e quentes molhando meu rosto enquanto eu tentava me apoiar na mesa de mogno, tentando me acalmar.

Só que eu não consegui, o choro apenas se aprofundou, acompanhado de soluços cortantes. A princípio, temi que alguém entrasse ali, até lembrar que ninguém me atrapalharia, e que eu poderia fazer o que quisesse, já que ninguém ouviria.

Na batalha contra as lágrimas, eu decidi me entregar como uma covarde, ou, como alguém que já estava cansada demais para se segurar. Eu apenas desisti de tentar não chorar, deixei as lágrimas seguirem seu curso, e as convulsões de meu corpo triste continuarem ao som de terríveis soluços sufocados, minhas mãos agarradas a mesa para que assim eu continuasse de pé.

Por algum motivo, sem que eu percebesse, eu estava gritando, gritando com as paredes, com o nada, com o anel do outro lado da sala, com ele.

“Como você pode me expulsar do seu mundo? Como pode me afastar?”- eu gritava a plenos pulmões, aquilo era como me libertar de todos os meus demônios –“ Era para eu ser sua pequena garotinha, era para você cuidar de mim e me amar, o que aconteceu?”.

Ainda aos prantos, deixe-me escorregar ao chão, as costas apoiadas na mesa de mogno, a visão borrada pelas lágrimas, tudo indistinto a minha frente.

“Você não se lembra? Eu sou sua garotinha! Por que você não me ama? Por que me afastou?” – eu gritara mais alto.

O choro não parou, ele prosseguia num fluxo rápido e constante, como uma cachoeira indomável.

Apoiada com as costas na mesa, relutante, abracei minhas pernas, tentando diminuir a dor que se expandia em meu coração, apoiando a cabeça em meus joelhos, meus cabelos grudando no rosto molhado pelas lágrimas.

“Você mentiu para mim, você só mente para mim! Eu só queria a verdade, uma vez! Eu só queria seu amor, ao menos uma vez! Eu preciso de um pai, de alguém que vá estar ali para mim, que vá me amar sem pedir nada em troca. Eu preciso de você!” – eu soluçava, a cabeça enterrada nos joelhos, os cachos loiros ao redor. O grito dando lugar a sussurros sem fôlego – “Você me feriu quando deveria me amar, você me fez sentir a dor, me fez saber o que era dor quando eu não tinha nem idade para tentar entender isso. E agora...”.

Abracei mais firmemente minhas pernas, os olhos fechados não impossibilitavam as lágrimas de seguirem seu curso já demarcado.

“Agora eu tenho medo de amar, medo de ser amada, eu não confio em quase todo mundo! E foi você que me fez ser assim, você... pai!”.

A palavra saiu entrecortada e engasgada de minha garganta. Era como se fosse veneno para os meus lábios depois de tudo o que havia acontecido, era como se a palavra houvesse me queimado de dentro para fora.

Após aquilo eu não disse mais nada, nem sequer abri os olhos, tudo o que eu fiz foi escorregar completamente para o chão gelado de madeira. Deitando-me nele enquanto me encolhia como uma bola, permitindo-me sofrer mais um pouco, chorar mais e demorar-me mais naquela sala. Eu estava quebrada, eu vivia quebrada quando o assunto era meu pai.

Eu não sei quanto tempo fiquei ali, provavelmente muito tempo, considerando que as lágrimas sessaram, que meu rosto secara. Por fim, eu abrira os olhos, e a única coisa que eu conseguia ver perfeitamente era o grande anel de ouro do outro lado da sala.

Eu teria ficado ali muito mais tempo, não fosse Quíron ter entrado na sala e me visto daquela forma. Ele ficara preocupado, mas não me fizera perguntas, seus olhos confusos e cautelosos apenas seguiram meu olhar, vendo assim o anel, e em seguida, pareceu ter entendido tudo, seus olhos assumindo um tom de compreensão e ternura.

Lentamente, galopou até o anel, guardando-o consigo, e em seguida, veio em minha direção, retirando-me gentilmente do chão e me colocando em seu dorso.

Não me lembro de ter saído da sala, ou de nada especificamente, apenas do suave galopar embaixo de mim, e em algum momento, eu acabei pegando no sono, esquecendo os problemas ou a dor.

E agora eu estava ali, no meu chalé, olhando para o teto enquanto lembrava tudo.

Eu descobrira que depois de sair da sala, Quíron trouxera-me para o chalé de Athena, me deixara deitada, descansando, e dissera para ninguém me perturbar, que eu ficara indisposta e estava passando um pouco mal, nada que um pouco de sono não fosse melhorar. Sendo assim, nenhum dos meus irmãos me incomodou, desde então, embora eles tenham ficado um pouco preocupados.

Eu permanecia olhando para o teto, o sono não existia, considerando que eu havia dormido a tarde toda. A fome não aparecia, era como se eu estivesse satisfeita e apenas o pensamento de comer algo me deixava enjoada. Talvez, fosse toda a situação, todo o drama e sofrimento daquele dia, provavelmente era isso.

Eu queria esquecer meu pai, odiá-lo, ignorá-lo, mas eu não conseguia, eu o amava, e... Eu não era ele, eu não podia esquecer alguém que eu amava. Ele era importante para mim, me causando dor ou não, eu tendo raiva dele ou não. Nós éramos pai e filha, eu não podia ignorar isso, mesmo após o que ocorrera a tarde.

Secando as lágrimas que tinham surgido e controlando minha respiração, consegui visualizar algo que havia me passando despercebido. Um pequeno envelope branco encontrava-se sobre a pequena cômoda ao lado de minha cama, uma elegante caligrafia na frente, uma que eu conhecia muito bem.

Rapidamente, deixando meu ursinho de lado e empurrando as cobertas, sentei-me, a curiosidade me dominando, embora eu tivesse uma pequena noção do que deveria se tratar o envelope.

Logo, alcancei o envelope, mas para que eu pudesse vê-lo, tive que afastar os cachos loiros que teimavam em cair sobre meus olhos.

Na frente dele, encontrava-se meu nome escrito numa elegante e suave caligrafia, uma que eu reconheceria em qualquer lugar: a de Quíron. Meu nome encontrava-se escrito na frente, em letras grandes e refinadas, e a princípio não tive qualquer reação diferente. Até que abri o envelope e alcancei o pequeno papel branco que estava ali dentro.

Com cuidado, desdobrei-o, apenas para encontrar uma pequena frase na elegante letra de Quíron:

“Pensei que fosse gostar de tê-lo de volta.”.

Com o papel em mãos, encarei o envelope no meu colo, entendendo finalmente o que deveria ter ali dentro, e diante disso, minhas mãos tremeram levemente, algo que não era comum de acontecer, pelo contrário.

Deixando o bilhete em cima da cômoda, voltei minha atenção ao envelope, querendo pegá-lo e ao mesmo tempo não, por fim, acabei decidindo por alcança-lo, segurando firmemente entre minhas mãos.

Ao abri-lo novamente, consegui ver o que não havia visto antes: o anel de ouro que eu havia jogado do outro lado da sala, o anel que meu pai me dera quando eu tinha dez anos de idade. Era incrível como só o fato de vê-lo já me fazia sentir a nostalgia...

“Tome, querida.” – ele havia me dito numa noite estrelada, eu tinha dez anos e aquilo fora alguns dias antes de eu voltar para o Acampamento – “Eu gostaria que as coisas fossem diferentes, mas... Eu espero que isso permita que você lembre de mim, que nunca se esqueça que sou seu pai. E... Eu sei que não costumo falar isso, e que às vezes parece que não me importo com você, porém, eu te amo! Não quero que se esqueça disso.”.

Desde que ele começara a falar, eu havia assumido que cada palavra era uma mentira ensaiada, algo para diminuir o peso em sua consciência, já que eu estava indo embora de sua casa uma segunda vez. Porém, confesso que fiquei surpresa com a declaração de amor, só que a surpresa fora embora, substituída pela certeza de que assim como todas as outras conversas anteriores, aquilo era mentira, porque eu nunca encontrara em seus olhos o tal amor que ele dizia sentir por mim. Talvez... Pequenos flashes de amor, mas que sempre desapareciam, substituídos por algo vago e incerto.

E mesmo assim, desde aquele dia, eu usava o grande anel de ouro como pingente em um cordão, guardando com todo carinho perto do meu coração, já que era exatamente onde ele ficava. Era como se o anel me protegesse desde então, mesmo sabendo que tudo havia sido mentira, às vezes, acreditar um pouco na mentira me fazia bem.

Agora, estar sem o anel em seu lugar de costume, sem ter ele se chocando contra minha pele enquanto me mexia, era tão estranho, era quase como me sentir nua.

Lentamente, segurei-o entre meus dedos, com a maior delicadeza que pude, levando-o até a altura dos meus olhos e encarando-o como se fosse a coisa mais interessante no mundo inteiro, o que era verdade para mim naquele momento.

Era estranho como aquele pequeno objeto me fazia sentir conectada a meu pai de algum jeito, era a mesma coisa que eu sentia sobre o ursinho, no entanto, a força era maior sobre o anel. Talvez, porque ele só o havia conseguido por causa de minha mãe, que o ajudara a se formar na faculdade, ou, apenas porque ele havia usado aquilo durante longos anos, e era quase como ter uma pequena parte dele comigo.

Novamente, nosso diálogo daquela tarde passou em minha mente, assim como passou os momentos que vivemos juntos, os bons e os maus momentos. Tudo aquilo girando em minha mente como se eu estivesse em um rápido e enorme carrossel, tudo vindo de encontro à mim. Absolutamente tudo, e isso me deixou tão triste novamente, e me fez voltar a chorar, me fez voltar a sentir-me fraca, uma coisa que eu odiava. Mas a minha relação com meu pai, aquela delicada relação, sempre fora meu ponto fraco, o ponto sensível que me derrubava, e por isso, preferia evitar o assunto o quanto pudesse. Porém, era impossível fazer isso diante dos acontecimentos do dia, assim como era impossível não guardar rancor dele, não querê-lo longe.

E ao mesmo tempo... Eu o amava e queria que ele me amasse, era tão bipolar sentir isso, tão frustrante! Era como se eu estivesse no meio de uma batalha mortal, sem saber que lado ficar, contra quem lutar e quem defender. Era horrível!

No entanto, meu amor de filha falou mais alto, e antes que eu percebesse, parei de girar o anel em meus dedos. Levei minha mão ao pescoço e desamarrei o colar de contas do acampamento, que naquele momento, tinha cinco contas de argila de cores diferentes. Deslizei o anel de ouro pela corda do cordão, fazendo com que o anel ficasse em meio as contas, e então, eu voltei a amarrá-lo em meu pescoço, exatamente onde estivera antes.

Era tão reconfortante sentir o anel ali, repousado um pouco abaixo de minhas clavículas, onde ele esteve nos últimos dois anos, era tão certo e tão bom! Que eu me senti respirando mais levemente do que antes, as lágrimas embaçando minha visão.

Confusa com aquela mistura de sentimentos em relação ao meu pai, mas de certa forma feliz por Quíron ter me entregado meu anel de volta e por tê-lo ali comigo, decidi que deveria tentar dormir. Deixando assim, o envelope sobre a cômoda e voltando a me deitar em minha cama, apoiando lentamente a cabeça no macio travesseiro, os cachos espalhados ao redor do meu rosto, enquanto eu puxava as cobertas para cima com uma mão e alcançava meu ursinho com a outra, deitando-me de lado. Em seguida, continuei abraçada com meu pequeno bichinho de pelúcia, mas a outra mão agora repousava sobre o anel, as únicas duas coisas que eu tinha do meu pai, as duas coisas que me faziam sentir que alguma vez eu fora amada por ele, que alguma vez eu fora sua pequena garotinha, sua filha adorada.

Fiquei de olhos abertos, encarando o anel entre meus dedos por alguns minutos, visualizando o jovem homem bronzeado, de cabelos cor de areia e olhos castanhos inteligentes, convidativos. O mesmo lindo par de olhos que havia me olhado com amor, desprezo, raiva e carinho. O mesmo homem que havia me ensinado a andar de bicicleta, pegara minha mão quando eu caíra e me ensinara a falar. E ao mesmo tempo, o mesmo homem que havia fingido não me ver em inúmeros dias, que havia ficado sem falar comigo tantos outros, que havia me quebrado quando eu não tinha idade suficiente para entender a dor. Era incrível com Frederick Chase havia me mostrado várias facetas sua, havia me tratado de diferentes formas, mas agora, pensando bem... Eu nunca o ouvira falar comigo como a forma que havia falando mais cedo, pelo telefone, aquele desespero por perdão, por amor, às vezes soando como se quisesse me ter pro perto, como se sentisse minha falta, o que na hora da raiva assumira como fingimento, porém, que agora não parecia ser o caso real, já que soava bastante verdadeiro para mim.

Será que ele queria meu amor de filha como eu queria o seu de pai? Será que havia noites em que ele pensava no ursinho que havia me dado ou na forma como eu dizia “papai”? Será que ele não conseguia dormir pensando em mim e no que poderíamos fazer se estivéssemos juntos, se ele tivesse agido diferente. Será?

Eram tantas perguntas que rodavam em minha mente, tantas questões, mistérios e sentimentos não resolvidos, que acabou me esgotando, tanto mentalmente quanto fisicamente.

Sem que me desse conta, meus olhos começaram a pesar, o que me fez segurar meu urso mais firmemente, numa forma instintiva.

Antes que eu caísse na inconsciência, uma voz veio em minha mente, um antigo sussurrar em meus ouvidos, o mesmo que havia ouvido em algumas poucas noites, quando tudo estava bem. Aquilo fora em outra cidade, do outro lado do país, em outro ano, porém, eu nunca esqueceria a suave voz masculina, sussurrando com medo de me acordar, enquanto suas mãos puxavam a coberta para me cobrir, e seus lábios depositavam um beijo em minha testa.

Boa noite, minha princesa! Tenha bons sonhos!”.

Aquela mesma voz me atingiu em cheio, como se ele houvesse as pronunciado ao meu lado, como se ele estivesse ali, me colocando para dormir, como se fosse me proteger de todo mal e dele mesmo.

Meus olhos se fecharam, mas não sem antes uma lágrima escapar deles e percorrer minha face, não sem antes um último pensamento se prender em minha mente:

Você não lembra que eu sou sua pequena garotinha? Por favor, papai, lembre-se, pelo amor de uma filha!”.

Em seguida, eu cai na escuridão sem fim da inconsciência, onde não existiam perguntas ou confusão, nem dor, nem saudade. Apenas, o infinito e calmo vazio.

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Notas finais do capítulo

Gostaram? O que acharam?Espero que tenham gostado, e espero que comentem a fanfic, me dizendo o que pensaram dela.Obrigada por lerem mais essa songfic! Vocês são incríveis! Beijos! Obrigada! Nikki



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