Um Romance Impossível escrita por TalesFernandes


Capítulo 3
Capítulo 3




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– Este lugar é o que sempre vou quando estou triste com algo. - observou Gary. - Então venho aqui sempre.

Soltei uma risada tímida, e olhei para o lado observando as lindas feições de Gary refletido sob a luz do sol. Não sei quanto tempo se passou, pois quando virei para ver mais uma vez o sol, ele já estava bem em cima de nossas cabeças.

– Está na hora de ir almoçar, prometi a sua avó que iria lhe trazer em uma hora. - ele olhou para o relógio branco no seu pulso e arregalou os olhos. - Já se passaram duas horas desde quando chegamos!

Não disse nada, apenas fiz um O com a boca, e sai correndo em disparada para a minha casa junto com Gary atrás de mim. Com tanta pressa que estávamos, nem reparamos quando não pegamos o caminho normal da trilha.

Andei correndo por mais de meia hora quando o cansaço me venceu, e Gary logo atrás de mim reclamou de suas pernas. Olhei em volta para saber onde estávamos, e o pânico invadiu minha cabeça. Só tinha árvores e mais árvores altas em volta.

– Gary, onde estamos? Isto não parece o caminho da trilha.

– Mas.. - ele virou a cabeça e olhou em volta, e fez um O com a boca. - Porque não pegamos o caminho da trilha? - sua voz saia engasgada.

– Isto que dá sermos apressados, Gary. - observei e ele olhou para mim, e quando foi protestar, ouvimos um barulho distante.

No começo, pensei que era só alguns barulhos de pequenos animais na floresta, como de praxe sempre acontecia, mas quando olhei para o meu lado, um ponto branco á minha frente estava bem no meio das árvores.

O pânico mais uma vez tomou meu corpo, e minhas pernas bambearam. Gary iria abrir a boca para perguntar o que houve, mas ele olhou para frente e viu o porque de meu medo intenso.

A nossa frente, tinha um lobo enorme. Seus dentes saindo para fora, e sua pelagem branca coberta de sangue. Seus olhos eram a parte mais assustadora, um era de um vermelho vivo igual sangue, o outro de um preto escuro como a meia-noite.

Tentei me mexer ou fazer algo, pegar algum objeto de madeira ao lado e matar o lobo como sempre faziam em filmes de ficção. Mas esta era a vida real, e eu simplesmente não conseguia me mexer. O lobo apenas estava avançando mais e mais, e olhei para o lado vendo que Gary se encontrava na mesma situação que eu.

A última coisa que lembro antes de desmaiar de medo, foi o lobo abrindo a boca para me comer, e logo em seguida uma pedra sendo acertada em sua cabeça.

&&&&&&

Minha cabeça doía, e pude sentir que estava apoiada em uma pedra dura e rochosa. Um calor percorria o meu corpo no lado direito de meu braço, e podia ouvir um choro de pessoa ao meu lado esquerdo.

Todos os músculos do meu corpo doíam, e pensei que este era o céu, ou o inferno. Tentei abrir os olhos, mas não consegui, parece que uma cola grudava eles. Tentei falar, só para dar algum sinal de vida e acabar com um choro que reconheci era de Gary.

Após muito esforço e meu corpo protestar de dor, finalmente consegui levantar levemente minha mão. Percebi que o choro cessou, e logo em seguida um grito de empolgação.

– JÚLIA! - berrou Gary um pouco alto demais e soltei um resmungo em reprovação.

Abri os olhos lentamente, dessa vez meu corpo me permitiu isso, e a luz fraca do sol já se pondo acertou meu rosto em cheio e logo fechei ele novamente.

– Tome, beba isto. - um líquido desceu sobre minha boca, e logo reconheci que era água. Minha boca que antes estava seca, agradeceu pela água, e meu corpo melhorou em resposta.

Desta vez, abri os olhos mais vagarosamente e desviei o sol do meu rosto. Levantei com uma dificuldade vidente, e Gary colocou as mãos sobre minhas costas e me ajudou. Passei a mão no meu rosto e pude sentir algo seco nele, e quando tentei descascar vi que era sangue seco.

– Isto é meu? - perguntei assustada olhando para minha mão.

– Não, é do lobo que matei. - Gary disse isso sem nenhuma empolgação aparente na voz, e pensei que ele iria começar um discurso de meia hora falando como era o machão por ter matado aquele lobo.

– Como você fez isso? - minha voz saiu como um som fino e grave.

– Peguei uma pedra ao lado e acertei bem em sua cabeça momentos antes de você desmaiar de pânico, e antes dele te abocanhar. - ele estendeu a mão e mostrou bem ao meu lado um corpo de um lobo deitado no chão e escorrendo sangue.

Me afastei na hora com uma cara de nojo, e Gary se fosse em outras circunstâncias teria rido desse meu nojo. Olhei para aquele lobo que tive que admitir era bonito, mesmo ele quase me matando hoje mais cedo.

E quando toda essa onda de lobos passaram, veio uma preocupação ainda mais grande que quase me fez desmaiar de novo.

– Gary, ainda estamos perdidos? - arrisquei falar mesmo sabendo que era óbvio a resposta.

– Sim, Júlia. Tentei achar um caminho, mas como você estava desmaiada apenas fui até um riacho que achei aqui perto e peguei um pouco de água. - ele completou e deu um longo suspiro.

– Não fique triste Gary, obrigado por me ajudar. - coloquei a mão na sua bochecha e ele corou, e meu coração começou a bater mais rápido. Não vou mentir, minha vontade era dar um beijo nele ali mesmo, mas ele iria achar que sou muito oferecida e que só fiz isso por ele ser meu herói, e não por mim sentir algo por ele, mesmo eu sentindo e não sendo nada pouco.

– Não foi nada Júlia. - corou novamente. - Teria feito o mesmo por mim em uma situação dessa.

Ia falar algo, mas meu estômago roncou alto na minha barriga, e quando me dei conta da fome, parece que ele foi reduzido a uma azeitona. Olhei para o lado a procura de comida mas não achei nada, seria pedir demais de Gary.

– A sim, vamos procurar comida, acho que tem algumas árvores frutíferas aqui perto. - assenti com a cabeça e fomos andando mais adentro da floresta.

Quando mais andávamos, mais ela parecia horrenda, com algumas árvores de vinte metros com musgo na madeira, o local parecia daqueles filmes de conto de fadas na floresta em que o tal príncipe fugia com sua amada esposa. E não, eu odeio essa coisinha melosa chamada conto de fadas onde tudo é perfeito, eca.

– Achei! - Gary apontou para uma árvore a uns vinte metros da gente com alguns frutos amarelos, que eram mangas.

Meu estômago pulou na minha barriga e coloquei as duas mãos sobre ele.

– Fique aqui, Júlia. Eu pego as frutas. - ele me sentou calmamente no chão de uma árvore ali perto, que formava uma boa sombra, mesmo o sol não nos castigando muito mais.

Após algum tempo, ele voltou com a camiseta cheia de mangas. Ele jogou ela no chão ao meu lado e estendeu uma para mim pegar, logo em seguida pegou uma e devorou ela com veracidade.

Fiz o mesmo com a minha, esquecendo daquele clichê de que meninas comem muito devagar, acabei com 2 em menos de um minuto. Quando vimos, já tinha acabado com todas as 5 que ele trouxe.

De barriga cheia, me deitei na árvore e fiquei olhando para as folhas enquanto as fracas luzes do sol penetravam nelas.

– Posso me deitar também? - disse Gary e apenas virei o rosto e assenti.

Ele deitou bem perto do meu lado, o suficiente para nossas pernas se encostarem. Ele estava fortemente corado, e deduzi que não estava melhor que ele. Meus impulsos diziam, beije ele! Mas minha mente falava que era melhor não.

Gary olhou para mim com aqueles olhos negros penetrantes, e tentou falar algo, mas não saia.

– Está com medo de mim? Eu não mordo! - brinquei soltando um pequeno riso o que fez ele corar ainda mais.

– Sabe Júlia é que eu.. - ele engoliu um seco. - Eu acho que você é uma grande amiga para mim, e eu acho que..

– Que? - aquilo estava ficando interessante e senti que meu primeiro beijo não estava distante.

– Nada, é só que queria falar que obrigado por ser minha amiga. - ele engoliu um seco mais uma vez e passou a olhar para cima corado. Mas mesmo assim, a partir daquele momento soube que ele estava gostando de mim, pelo menos é o que eu achava. E de um jeito ou de outro, até que esse relacionamento poderia dar certo.

– Sabe Gary, - rapidamente tentei mudar de assunto. - Você também é um grande amigo, além de ser muito bonito. - minhas bochechas esquentaram e ele corou violentamente, e desejei não ter falado aquilo.

– Digo o mesmo. - ele apenas pronunciou isso, e pensei que iria falar mais quando abriu a boca, mas apenas se levantou quando percebeu a noite que já caia no céu. Quanto tempo passamos lá? Pareceu minutos! Gary provocava isso, perto de o tempo voava de Trem-Bala com asas.

– Vamos achar um abrigo, e depois podemos.. - antes de terminar ouvimos duas vozes distantes gritando por nossos nomes. Nós dois assustamos, e tentamos achar a direção dela.

Sem nem dizer nada, corremos na direção das vozes, e após algum tempo correndo por aquela mata fechada e horrenda achamos duas luzes ao longe.

– ESTAMOS AQUI! - berrei o mais alto e pude, e as luzes se viraram para o nosso rosto.

Chegando mais perto, vimos que era minha avó e Frederico com lanternas grandes movidas a pilhas. Cheguei na minha avó e dei um abraço de urso nela, e percebi que Gary fez o mesmo.

– Ai meu Deus! Nunca mais me passe esse susto, Júlia, NUNCA MAIS! - berrou minha avó entre choros.

– Acalme-se vó, está tudo bem, estamos bem. - tranqüilizei ela e Gary já estava abraçado com o seu avô nos esperando. Minha avó cessou o choro e olhou para Frederico.

– Obrigada, Frederico. - ela olhou para uma luz ao longe. - Agora vamos para a casa Júlia que precisamos conversar.

– Xau, Gary, xau Sr. Frederico.

– Xau para você também, Júlia, e tome cuidado da próxima vez! - observou Frederico.

– Ahn, xau Júlia obrigado por tudo. - Gary disse e apenas assenti.

– Digo o mesmo por me salvar daquele lobo. - ambos os avós arregalaram os olhos e olharam para nós assustados.

– Que história é essa de lobo? - disse minha avó e respondi logo em seguida.

– Em casa eu te conto. - e todos os quatros foram para sua respectiva casa sem falar mais nenhuma palavra.


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