" Let's spend the night together
Now I need you more than ever
Let's spend the night together now "

[ Let's Spend The Night Together — The Rolling Stones ]

Aqueles dias em que ficamos na casa do Clint foram ótimos porém, a atitude do Thor havia me magoado, me ferido de morte. Por que ele continuava me tratando como se eu fosse de porcelana ou indigna de confiança ? Aquilo não era certo, estávamos casados, tínhamos um filho, então por que sentia que nosso relacionamento estava ficando cheio de rachaduras ?

Eu estava na fossa, na falta de uma palavra ou definição melhor. Eu agia feito um robô, toda a alegria que eu sentia antes parecia ter desaparecido, como se um dos dementadores do Harry Potter tivesse sugado ela de mim até eu ficar oca. Meus filhos eram a minha benção, eles me mantinham sã e em pé para continuar lutando para acabar com a raça do Ultron.

— CHEGUEI POVO ! — Escutei uma voz muito familiar no andar de baixo. Terminei de dobrar uma camiseta e a coloquei na pilha que eu estava fazendo. Saí do quarto e no pé da escada vi a dona da voz, Alice. Minha amiga não estava sozinha, ao lado dela estavam meu irmão e Melanie. — Eu trouxe Starbucks para todos, donuts e rosquinhas, quem vai querer ? Ah, oi Meg, que saudades.

— Alice ... o que está fazendo aqui ? — Perguntei antes de abraça-la contente.

— Vim ajudar, da minha maneira mas vim. Roy e Melanie vieram junto pelo o mesmo motivo — Disse e eu sorri. Abracei meu irmão e depois minha prima mais nova, era tão bom rever eles. — Ok, cadê meus sobrinhos ?

— Com o Clint.

— Ah, o Gavião virou a sua babá agora ? e cadê o seu marido ? ele foi o único que eu ainda não vi.

— O Thor não está aqui — Falei de modo sério e ela captou que algo estava errado, mudei de assunto rapidamente. — Ali, Mel, vocês dormem com a Natasha. Roy, sinto muito mas vai ter que dividir o quarto com a Eva, tem problema ?

— Não, tá tudo certo.

— Ok, podem se acomodar agora, eu tenho que fazer mais algumas coisas mas depois vamos fofocar, ok ? — As meninas assentiram e cada um foi para uma direção, eu voltei para a minha tarefa anterior de dona de casa com mania de organização. Depois de ter terminado de dobrar todas as roupas limpas, de dar dado as mamadeiras do meus pequenos e os colocar para cochilarem antes do almoço, me reuni com Alice e Melanie para um papo de garota. Estávamos na cozinha, elas sentadas ao redor da mesa e eu perto do fogão. Melanie descascava algumas batatas para as batatas fritas e Alice picava temperos para o marinado dos bifes.

— Meg, tem algo errado com você, não parece a mesma — Melanie começou enquanto cortava fatias perfeitas de batatas. — Parece muito mais uma das suas armaduras do que a minha prima, tem algo a ver com o Thor ? Eu ia responder mas Clint apareceu naquele exato momento, carregado de sacolas.

— Trouxe tudo gatinha.

— Valeu Clint — Agradeci com um sorriso. — Meu pai estava te procurando, algo a ver com o irrigador do jardim estar com defeito ou coisa parecida.

— Ah, tá certo, vou ver o que ele quer, até mais garotas — Se despediu das meninas, deu um beijo na minha testa e foi se encontrar com o meu pai. Comecei a mexer nas sacolas e pude sentir os olhares indagadores das minhas melhores amigas sobre mim.

— Abre o bico, agora — Alice ordenou e eu não tive outra opção a não ser contar tudo, sem omitir nenhum detalhe. Foi bom desabafar, eu precisava daquilo, foi como se eu tivesse tirado um peso das minhas costas. — Nossa.

— É, nem sei o que falar — Melanie se pronunciou, as batatas totalmente esquecidas. — Tipo, tá na cara que vocês estão passando por uma crise e agora das brabas. Vamos recapitular tudo: você foi sequestrada, volta grávida do James, Thor diz que está tudo bem e na primeira oportunidade pula fora do barco, crise número um. Você refez sua vida ao lado do James, o que é totalmente compreensível, Thor volta e se comporta como um ogro desmiolado, crise número dois. E agora tem isso, esse sumiço dele sem motivos, além de claro, ele dar a entender que não confia no seu julgamento e te tratar sempre como uma boneca de porcelana.

— E tem o Clint — Alice completou antes de voltar a cortar os temperos.

— O que tem o Clint ? — Perguntei, confusa com o rumo novo da conversa.

— Meu Deus, ele é louco por você, não notou ou está se fingindo de cega ? estou muito certa em afirmar que ele mataria e morreria por você — Apontou a faca que usava para mim e abriu um dos seus lindos sorrisos. — Homens assim são raros amiga. Não quero desmerecer o Thor, longe de mim, ele é muito cuidadoso quando se trata de você mas as vezes, na grande maioria delas, ele é super protetor demais. Acho que ele te colocaria em uma redoma de vidro se pudesse — Alice disse e Melanie confirmou com um aceno de cabeça antes de voltar a sua atenção para as batatas.

Ficamos em silêncio por um bom tempo, os únicos sons que ouvíamos eram as gargalhadas dos meus filhos vindas do quintal. Eu refletia tudo o que as minhas amigas haviam falado e um nó havia se formado na minha cabeça.

— Freya me disse que Thor era minha alma gêmea — Falei baixinho.

— Não vou dizer que ela mentiu mas até deusas do amor podem errar — Alice disse enquanto preparava os bifes que iríamos fritar na grelha e degustar de almoço. — E o seu verdadeiro amor, não quero dizer alma gêmea, mas aquele que te faz bem, que te respeita e admira, que confia acima de tudo, estiver bem ao seu lado ?

Suspirei bem alto, Alice tinha o dom de lançar umas perguntas bem capciosas, daquelas que te faziam pensar por horas a fio. Merda, será que eu havia cometido algum erro ou caído em algum feitiço do amor ? bufei, eu não podia acreditar nisso.

Terminamos ali na cozinha e fomos para a varanda dos fundos, iríamos almoçar todos ali por que não havia espaço suficiente na cozinha para tanta gente. Enquanto eu dava a mamadeira para Sven, eu observava Clint fazer caras e bocas enquanto dava colheradas da comida para Allison e Milo, aquela cena me fez sorrir instantaneamente. Clint era uma ótima pessoa e eu não me fingia de cega, eu sabia do seu sonho secreto e da sua paixão por mim mas eu sempre pensava que ele havia superado porém pensei bem errado. Será que o que Alice havia me dito mais cedo se encaixava naquela situação ? eu estava começando a achar que sim.

A noite chegou porém eu não dormia, eu não conseguia dormir devido as libélulas no meu estômago, elas se agitavam cada vez que eu pensava em Clint e naquela hipótese levantada por Alice. Ouvi um toc toc baixinho na porta e vesti rapidamente o meu robe por cima do pijama curtinho que eu usava.

— Oi Clint — Falei baixinho depois de abrir a porta e dar de cara com o Gavião. Ele usava apenas uma calça jeans que se moldava com perfeição as suas curvas, seu cabelo loiro acastanhado estava arrepiado e ele sorria. Eu podia contar cada cicatriz que havia no seu peitoral, cada marca de bala.

— Posso entrar ?

— Pode, espera um minuto — Verifiquei se o meu robe estava bem preso e deixei que ele entrasse no meu quarto, que na verdade era dele. — Tudo bem ? — O indaguei antes de fechar a porta com cuidado, todos já estavam dormindo.

— Tudo, vim perguntar se você está bem, passou o dia tão quietinha. Ainda pensando no Thor ?

— Não tem como não pensar Clint — Fui até a pequena sacada e me sentei no gradil, como eu costumava fazer todas as noites. Clint me seguiu e se postou a minha frente. — E eu tive uma conversa com as meninas hoje, foi bem ... produtiva.

— Que bom, não quero te ver infeliz Megan, não suporto ver um indício sequer de tristeza ou qualquer semelhança nesse rosto lindo — Falou e eu abri um sorriso.

— Lua azul — Falei de repente, maravilhada ao ver o astro no horizonte.

— Hã ?

— Lua azul Clint, olha — Apontei para a lua cheia que tinha uma leve coloração azul.

— Ãh ... olha só, é mesmo, uma lua azul. Dizem que é a lua dos apaixonados.

— É mesmo ? não sabia disso.

— Ela é a minha lua – Clint se aproximou mais de mim e se pedir permissão, me beijou. Não o rejeitei, minha consciência me dizia para seguir adiante com aquilo, que quem não arriscava não petiscava, e que daquela maneira eu saberia se o que Alice tinha falado era verdade.

Que todos os deuses me perdoassem mas não mandei Clint sair do meu quarto, eu não o rejeitei, eu apenas me entreguei, de corpo e alma. As libélulas no meu estômago pareciam que iam furar minha barriga para conseguir sair, meu coração parecia uma bateria e minha pele parecia em chamas. Teve horas que eu queria gargalhar pois a barba cerrada do Clint me fazia cócegas, outras eu me contorcia ora por que ele me fazia cócegas, ora por que ele me provocava com beijos e mordidas.

Acordei muito cedo na manhã seguinte e deixei Clint dormindo na cama. Eu precisava espairecer e entender o que eu tinha feito. Tomei um banho rápido e vesti um vestidinho de verão roxo. Caminhei pela a propriedade com um turbilhão de sentimentos e pensamentos confusos me atormentando. Voltei apenas quando o sol já tinha nascido e estava meio alto.

Eu e Clint nos comportamos normalmente, como se nada tivesse acontecido, aquele seria o nosso segredo. Ao fim da tarde um alvoroço tomou conta da casa, tínhamos visita.

— Olá vingadores e ... agregados — Fury disse. Estávamos curiosos, o que ele queria conosco ? — Tenho informações úteis, localizamos Ultron.

— Onde ? — Eu perguntei, rápida demais. Clint pegou a minha mão e apertou, eu retribui o aperto e não a soltei. Sentíamos a mesma coisa, vinha chumbo grosso.

— Seul.

Ah ótimo, iríamos para a Coreia do Sul agora.