Happy Birthday, Molly escrita por Louise


Capítulo 16
Segredo


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Não vou ficar me demorando aqui. Esse capítulo é da cronologia passada, ou seja, faz parte dos flashbacks ;) Sem ficar enrolando, vambora!



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A paisagem que circundava o carro do detetive mantinha-se calma. Uma imensidão de um azul monótono tomava os céus, tocando o chão verde ao fundo, no horizonte. Devagar, os pneus potentes do range-rover galgavam a distância e, devagar, a silhueta da pequena Belacqua começou a delinear-se. Dentro do veículo, o casal não queria quebrar o silêncio. Desde que se encontraram, depois do sucedido roubo, não ousaram trocar uma palavra.

Molly pensava. Com os fones de ouvido no máximo e as pálpebras quase se colando, continuava sua pequena linha de raciocínio. Excelente, as cartas agora estavam sobre as asas seguras do Governo. Pelo que notara na primeira vez que pousara os olhos eu uma das figuras de papel, ela continha alguma espécie de código. Mas esse seria um trabalho para Holmes – fosse Sophia ou Sherlock, até mesmo Mycroft – resolver.

Uma pergunta sorrateira invadiu sua mente. Depois de se envolver em assuntos governamentais, isso fazia dela o que? Uma espiã? Provavelmente. E isso não era nada bom.

Outra preocupação era com Charlotte. Os Moran não ficariam nada felizes ao saberem que foram roubados. E, pelo que notara, eles não eram muito piedosos. E se algum deles a encontrasse? O que ela poderia fazer? Era uma legista, não uma espiã treinada. Não saberia o que fazer.

Suas preocupações eram bem diferentes das do moreno, o qual a mente gritava de dor com tamanha quantidade de ligações que tinha de completar. Aos poucos, a teia de Moriarty começava a tomar forma. Sherlock sabia que era grande, e que não seria fácil desmantelá-la – mas não tinha ideia de que seria maior do que imaginava. Levaria bem amis do que o esperado para acabar com tudo.

O nome de Molly brotou em seus pensamentos. O que faria com ela? Não poderia mais expô-la a tanto, não queria que a legista saísse machucada. O detetive se culparia pelo resto da vida por saber que a mulher que o ajudou tantas vezes – e com a qual tinha uma dívida eterna - estava machucada, e por algo que ele fez, como convidá-la para vir para a França. Ele a mergulhara no mundo dele e, mesmo que não quisesse, a colocara em perigo. Charlotte saberia dizer quem ela era, se a visse novamente. E isso não era nada bom.

__ E agora? O que fazemos? – ela ousou quebrar o silêncio. Abaixou o volume dos fones para ouvir a resposta, se é que Holmes iria responde-la.

__ Decodificamos as cartas, descobrimos qual é o plano e o arruinamos. Rápido e simples – ele nem desgrudou os olhos da estrada de terra. A frente, os portões de entrada da cidade.

__ E como fazemos isso?

__ Sophia vai tomar conta da bolsa. Ficará sobre a proteção do Governo, até que saibamos o que fazer.

O telefone do detetive vibrou. Uma mensagem. Ignorando o pequeno trânsito da cidadezinha, ele o tirou do bolso do casaco, desbloqueando-o e fixando os olhos na tela. Levantou uma sobrancelha ao chegar a última frase. Passou-o para a parceira, voltando a atenção para a rua.

Molly tomou o telefone em mãos.

“Venha logo para o hotel. A festa dos chefes de Estado foi adiantada para amanhã. Preciso levar Molly para comprar o vestido. Você também precisará de um terno novo. E nem pense em ir com o seu casaco. Te encontro na frente do LeGrand. – SH”.

“Como assim a festa foi adiantada para amanhã? Merda” ela praguejou mentalmente. “Pelo menos vou ter tempo de comprar o vestido”.

–-

__ E você não pense que vai escapar das compras, Sherlock – Sophia disse, ao ver o irmão caçula tentando escapar para as entranhas do hotel. Sua vontade era de segurá-lo pela orelha, como normalmente fazia quando sua mãe pedia para o pequeno Sherlock fazer algo e ele tentava escapar. Para não perder o costume, segurou-o pela gola do casaco. Ele voltou, desistindo da empreitada. – Não vou deixar você ir com esse seu terno velho. E nem com seu casaco.

“Trabalhar com Sophia pode não ter sido a melhor escolha” pensou ele. Molly riu da expressão decepcionada do detetive.

__ Onde vamos? – Molly virou os olhos para a Holmes.

__ Ora, vamos para uma loja especial. Não achou que vou deixar você usar qualquer coisa, não é, ma chèrie? – a loira abriu um sorriso misterioso. – O dono é um velho amigo, saberá nos ajudar com o vestido certo para você.

–-

Desde pequena, Molly nunca gostou de fazer compras. Como sua mãe, sempre foi o mais direta possível – se precisava de algo, sabia exatamente o que queria e simplesmente pagava e voltava para casa com a compra nova. Para ela, passar horas e horas experimentando dezenas de saias e shorts e blusas era como passar esse mesmo tempo mergulhada na chatice. Mas agora, por algum motivo, ela estava gostando de experimentar todos aqueles vestidos. Ver a si mesma longe das roupas comuns, com as curvas do corpo mais delineadas, o busto realçado, as pernas a mostra, era revigorante.

A loja da qual Sophia falara era aconchegante, como a maioria das construções da cidade. Com dois andares reservados somente para roupas de festa, o dono – Alexei, um gordinho de bigode italiano cheio e preto – os atendeu com um sorriso estampado no rosto. No primeiro andar, as araras expunham dezenas de vestidos, separados por cor, tamanho e corte. No canto da sala, uma escada de madeira levava ao andar superior e, ao lado, o balcão com a caixa registradora. Em um canto mais afastado, já debaixo do assoalho do andar superior, haviam provadores e algumas poltronas brancas.

__ Não é sempre que recebemos a visita da realeza! Sra. Holmes, como vai? – ele cumprimentou Sophia. Ela o abraçou.

__ Alexei, esses são Sherlock, meu irmão mais novo e...

__ Esse é o pequeno William? Meus Deuses, você cresceu! Lembra-se de mim? – seu sotaque italiano era aparente.

__ Alexei, a quanto tempo... Conseguiu se livrar de todos aqueles problemas?

__ Graças a você e a sua irmã. Resolvi me dedicar a aquilo que fiz a vida toda: administrar uma loja.

__ ... e essa é Molly, uma colega do meu irmão – a loira completou.

__ Ciao, senhorita. Do que precisam? Qualquer coisa pelos Holmes!

__ Precisamos de um vestido muito especial para ela, e um terno apropriado para ele – A Holmes mais velha anuiu. – Lembra-se daquele vestido que lhe entreguei, antes de tomar o taxi, em Florença? Acho que ele deve servir para ela.

__ Oh! Não me lembro onde o coloquei, mas vou procurar. Fiquem a vontade, podem olhar tudo o que quiserem.

A ruiva observou atentamente cada vestido. Eram lindos singularmente, seria extremamente difícil escolher somente um. Azul, vermelho, amarelo, branco, cinza, preto... Tantas opções! Qual seria a mais apropriada? Algo que não chamasse muita atenção. Mas não seria muito fácil encontrar algo assim na loja de Alexei.

Escolheu alguns e, junto a Sophia, caminhou para os provadores. Fez cinco escolhas – um de cada cor, com um corte diferente. Sherlock, entediado, sentou-se em uma das poltronas e observou a jovem adentrar a cabine.

O primeiro a experimentar era vermelho. Feito de seda, descia desde os quadris formando uma cascata de brilho. Mas alguma coisa não a agradava. Talvez a cor, ou a quantidade excessiva de luz que refletia – nada nos padrões que ela estabelecera.

Saiu da cabine com os cabelos soltos, e viu o rosto do detetive se iluminar enquanto ela se olhava no espelho. Notou que suas pupilas dilataram enquanto ela dava voltas no próprio eixo, testando o pano do vestido. “Porque ele está assim? Estou tão diferente do normal?” pensou consigo mesma. Sim, ela estava. Sherlock tomou um belo susto ao vê-la assim, radiante. Nunca imaginou que algum dia fosse dizer que Molly estava linda. Embasbacado – essa era a palavra que provavelmente descreveria o modo com o qual ele a olhava.

Decepcionada, voltou ao provador. Despiu o vestido e, com cuidado – para não estragar o pano frágil – vestiu o próximo. Com lantejoulas e pequenas pedrinhas brilhantes por todo o pano preto, encaixara perfeitamente em seu corpo - nem tão apertado, nem tão solto. Não tinha alças ou mangas – somente a renda branca escondendo o elástico que o prendia acima dos seios.

Saiu do provador com um sorriso ainda maior no rosto. Sim, aquele estava perfeito. Não conseguiu segurar uma pequena gargalhada ao ver o rosto do caçula se contorcer num sorriso mal-feito, como se não quisesse que ela visse. Repetindo o processo, deu pequenas voltas em torno de si, fazendo o pano flutuar, dançando junto ao ar.

“Hoje é o dia da minha morte” Sherlock concluiu.

Um a um, os cinco vestidos foram. Havia outro, além do preto, que Molly gostara – porém ele não chegava aos pés da perfeição do segundo vestido. A legista estava decidida: aquele era o escolhido.

Para o detetive, os trinta minutos que Molly usou para experimentar todos os vestidos pareciam horas. Era uma tortura – estava entediado e ao mesmo tempo interessando em vê-la cada vez mais divina dentro dos trajes de gala. Após o último, quando ela finalmente saiu da cabine com as roupas costumeiras, Sherlock se sentiu livre de um cárcere.

__ Sophia, já fiz minha escolha. É esse – entregou a ela o vestido preto.

__ Espere, querida. Alexei ainda está trazendo o vestido que quero que experimente.

__ Não pode ser mais bonito que esse.

__ Espere e verá, ma chèrie.

Alexei passou mais alguns minutos enfurnado no segundo andar da construção, quando finalmente voltou com uma sacola de pano suja e cheia de poeira. Desceu as escadas atrapalhado – tropeçando em caixas e derrubando sapatos – e entregou-o nas mãos da legista. Mais uma vez escondida no provador, deixou as roupas no chão e vestiu o pano azul-marinho. Quando terminou, de frente para o espelho da cabine, sentiu o queixo cair. O vestido era indescritível.

Teve uma ideia. Sem antes sair da cabine, tirou o traje e recolocou sua calça, a blusa e o casaco pesado. Escondeu-o dentro da sacola novamente, e saiu como se ainda não estivesse impressionada com o vestido. “Acho que posso manter um segredo até amanhã à noite”.


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Notas finais do capítulo

Que tal? Senti falta de vocês comentando no capítulo passado! Se gostou, pode comentar a vontade :3

Beijinhos da ruiva,

Amelia.



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