Together escrita por Max


Capítulo 8
Capítulo 8 - As dores do coração


Notas iniciais do capítulo

Olá!



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[Depois do intervalo]
– Você fez o que? - Bru fechou o armário com brutalidade.
– Não é nada demais. - adverti.
– Não, é claro que não. E depois, vocês vão namorar escondido.
– Ei, qual é? Eu só estou tentando voltar a falar com ele.
– Beijando ele? - Bru se virou pra mim no meio do corredor.
– Eu não o beijei, ele não me beijou. Quem falou de beijo?
Ela continuou seu trajeto.
– Eu tô falando com você, Bruna. Quem te falou de um beijo?
– Ninguém, garota.
– Garota? - dessa vez puxei ela pelo braço. - Sério? O que tem de errado com você?
– Me encontre. - ela disse e me empurrou um papel com uma caligrafia que não era dela, não me lembro exatamente de quem.
Ela foi pra sala, eu enfiei o papel no bolso da calça.
– Eu não vou.
– Eu sei que não. - ela sorriu.
Fomos para salas diferentes, a escola era um tédio. Não entendo porque perdemos tanto tempo da vida entre quatro paredes testando coisas que muitas vezes não vão servir pra nada.
No meio da aula lembrei do papel, me contorci um pouco pra tentar pegar do bolso, li o papel, não tinha muitas coisas, só alguns rabiscos 'Ginásio, depois do horário. Okay?'. Mas a letra não era dela, tão pouco o recado era pra mim. Pensei em todas as possibilidades, em todas meeesmo.
Quando o sinal de saída bateu, eu fui até o lugar onde ela tinha me dito, mas preferi ir por outra entrada que não fosse a principal.
Abri a porta, um pouquinho. Bruna sentada praticamente no colo do Pedro.
"Ela está em casa agora, gosto dela, é como se fosse da família"
Eu o ouvi dizer, não era o que eu esperava, nem o que queria ouvir. Bru se jogou nos braços dele, tentei me convencer - sem sucesso, que não estava com ciúmes.
Eu não gostava dele, nem dos sorrisos, nem das provocações e brincadeiras.
– Pelu? - ouvi outra voz, dei um pulo de susto e me virei.
– Ingrid. - disse. Era a amiga dele; ruiva cheia de sardas.
– Oi Anna, viu o Pedro? Você está chorando?
– Não. - sorri. - Atrás da porta.
– O que aconteceu? - ela chegou perto de mim, estendeu a mão e tocou meu rosto.
– Atrás da porta. - repeti, saiu em uma voz mecânica.
Ela olhou pelo vidro e voltou com as mão na nuca, os ombros baixos. Sussurrou um 'vadia' bem baixo. - Vou fingir que não te vi, saia daqui e não deixe ninguém te ver assim.
Sorri e sai de lá. Correndo, um movimento que não pude controlar, minhas pernas não quiseram me ajudar a recuperar a sanidade.
Naquela hora, a única coisa que estava na minha cabeça era raiva, raiva por estar com ciúmes e raiva da minha melhor amiga. Mas também sabia que tinha que ir pra casa, Bru com certeza não ía me levar pra casa e eu não iria pedir que Pedro me levasse, nem se eu estivesse morrendo.
Coloquei a mochila em um dos ombros, eu tinha lágrimas teimosas rolando pelas minhas bochechas. As limpei rapidamente e marchei pro caminho pra casa, passei por uma lanchonete, havia um cartaz enorme escrito 'Os melhores Donuts da cidade', merda, quase pôde ouvir mamãe cantarolar 'Ah, o coração adolescente'.
– Oi gatinha. - a voz veio do alto, o que era bem difícil de se ouvir.
Dois caras me fecharam, não podia simplesmente passar por eles, como era meu desejo, a rua onde estava era quase deserta, muros e árvores pra todos os lados. Apertei a mochila no peito, deixei o medo transparecer e recuei alguns passos.
– Onde você vai?
– Pra casa. - sussurrei.
– Pra que a pressa? Nós não vamos te machucar.
– Mas a gente vai. - me virei, duas garotas baixas saíram de trás das árvores.
A adrenalina subiu pelas minhas veias. - Não encostem em mim.
– Seu nome é Anna?
– Como sabe meu nome?
– Bom, é você. Fomos bem pagos pra isso.
– Pagas?
– Ta surda? Vai repetir tudo o que eu falar?
Eu queria muito poder descrever o que aconteceu, mas foi uma confusão, não consegui nem me defender de alguns golpes. Foram minutos que pareceram uma eternidade.
Em um relâmpago vi o carro 'dele' dobrando a esquina, mas de novo não estava sozinho. Bruna estava no lado dele. Tinha que ser ele no carro, mas não lembro de ter gritado pra que Pedro ouvisse, o som ficou preso na garganta quando o pé acertou meu pulmão pela parte das costas. Caí de frente no asfalto.
Ouvi mais passos, indo e voltando. Não sabia se estava sonhando, mas Ingrid me pegou pelos ombros e me abraçou com força, me agarrei a ela.
– Vamos pro hospital.
– Não. - implorei. - Minha mãe trabalha lá.
Ela me levou pra calçada.
– Como eu estou? - perguntei.
– Está viva.
Engoli a seco. - Digo, em aparência.
– Alguns arranhões.
– Eu vou ficar bem?
– Claro que vai.
Ela sacou o celular e em alguns minutos um carro nada familiar parou perto de nós.

[Alguns minutos depois]
– E então, Doutor?
– Ela tem alguns ferimentos e por pouco, quase uma hemorragia interna.
– Mas está tudo bem?
– Está, devem tomar cuidado. Já foram a uma delegacia?
– Vamos daqui a pouco, eu a encontrei então... Só pensei em socorrê-la.
Ele concordou e saiu do quarto. Virei o rosto pra Ingrid, mostrando estar acordada.
– Você é meu anjo da guarda.
– Não diga isso. - sorriu.
– Olá, belas moças. Vou deixá-las em casa. - Ben apareceu na sala. - As duas.
– Ganhei um chofer?
– Amiguinha cheia de gracinha essa sua, Ingrid.
– 'Essa sua'? - me fiz de ofendida. - É assim que trata a pessoa que pode fazer sua nota de literatura ir pro brejo?
Ele tossiu. - Anna toda poderosa.
Gargalhamos.
– Me leva pra casa, vai.
No carro, me deitei sobre as pernas da Ingrid, estava tão cansada.
– Como me achou? - finalmente perguntei.
– Depois que você saiu. Fui atrás de você, Pedro te procurou por um tempo, disse que ía te levar pra casa. Então vi você de longe corri pra te chamar, mas aí chegaram pessoas esquisitas e...
– Eu sei. - sorri. - Ainda estou sentindo.
– Pedro é um idiota de não ver que você gosta dele.
– Você gosta dele? - Ben se virou.
– Garotos não tem cabeça.
– Eles tem duas, mas não usam a de cima.
– Ben, que nojo. - eu os fiz rir.

[Muito tempo depois do horário de sair da escola, aproximadamente 20h00]
Abri a porta relutante, ainda estava com o bíceps enfaixado, a jaqueta de couro apenas jogada por cima dos meus ombros. Não queria ter que encarar nem o meu pai e nem a Babi e Rick naquele estado.
– Anna? É você?
Pedro estava em casa. Joguei a mochila em cima do sofá e fechei a porta.
– Estávamos preocupados.
Abi apareceu do lado dele, os olhei por cima dos ombros.
– Onde estava?
Eles desceram as escadas, me virei.
– Seu braço. - ele estendeu a mão, senti minhas pernas amolecerem como molas.
Caí de joelhos na sala, Pedro avançou.
– Não me toca. - gritei.
– Ei, só quero te ajudar.
– Vai ajudar se ficar longe.
– Ai meu Deus. - Abi correu, colocou meu braço bom ao redor do pescoço dela. - Pedro, ajuda aqui.
– Ela não quer que eu encoste nela, o que posso fazer?
No fim das contas, Pedro teve que ajudar.
Fomos ao meu quarto, eu não sabia mas meu sofá tinha um chaise retrátil, me deitaram nele.
– Eu vou buscar alguma coisa pra você comer. - Abi disse saindo do quarto.
– Está tudo bem?
– Eu estou, agora pode sair.
A testa dele se engelhou. - Quem fez isso?
Tentei ignorá-lo, mas já fazia mais de três minutos e ele continuava lá, em pé, mostrando que não ía sair até que eu respondesse.
– Depois da escola. - disse. - Quatro deles.
– Por que não veio comigo?
Trinquei os dentes, eu arrancaria um pedaço dele se tivesse força para tal, não queria me lembrar porque eu não tinha voltado com ele naquele dia.
– Não vou falar mais com você. - avisei.
– Seria melhor melhor levar um gelo do que uma surra. - fechei os olhos, as dores voltaram, mas não eram as físicas. - Não chore, eu sinto muito.
Ele se sentou ao meu lado e me abraçou, beijou minha testa e eu chorei no seu ombro. O abracei também, se ele ao menos fizesse ideia que as lágrimas não eram pela surra.
Ele tentou se afastar, mas enrolei sua camiseta em minhas mão. - Não vá.
Senti sua respiração parar e o coração acelerar, ouvi tudo com minhas orelhas contra seu peito.
– Seu pai vai me matar se me ver aqui, assim. - ele riu e eu sorri.
Ele passou os braços pela minha cintura e se sentou ao meu lado.
– Vai me dizer porque não fala mais comigo?
– Esquece isso, vou me esforçar pra ser legal.
Ele sorriu. - Vai ter que aceitar muitos cafés pra me fazer esquecer.
Abi entrou no quarto, ligou a TV e se sentou perto de nós. Assistimos alguns episódios de Once Upon A Time e Revenge, antes de Bruna chegar em casa dizendo estar preocupada comigo. Depois que ela se foi, chequei minhas coisas. Lembrei do meu celular, o procurei na mochila e ele estava lá. Nada tinha sido roubado, realmente não levaram nada. E meu celular estava com a tela quebrada, não tinha como fazer chamadas.


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Notas finais do capítulo

E aí? Quem acham que mandou darem uma surra na Anna?