Together escrita por Max


Capítulo 7
Capítulo 7 - Você serve pra mim




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– Mãe, o que está fazendo aqui?
– Ah, eu dei uma volta no shopping e trouxe uma calça jeans pra você, quer ver?
Eu não podia acreditar, ela me tirou da sala de aula só pra me mostrar uma roupa.
Nos sentamos na lanchonete, ela começou a devorar um daqueles bolinhos super calóricos de chocolate+acúçar+gordura.
Pedro passou lá atrás, o vi por cima dos ombros dela. E não estava sozinho.
– Anna, olha pra mim. - mamãe chamou minha atenção.
– Eu tô olhando.
– Fofinha, você tá é viajando, que carinha é essa?
– Carinha? - apoiei meu queixo em uma das mãos.
– Você tem estado dispersa ultimamente, ainda é pelo que aconteceu entre mim e seu pai?
– Não mãe, não.
– E então?
Suspirei. - É um dilema.
– Um dilema? E ele envolve exatamente o que?
– Minha melhor amiga de um lado e do outro um cara.
– Meu bem, você está apaixonada? - ela abriu a boca, deixando o queixo cair.
– Apaixonada, mãe? Claro que não. - rebati.
– Por que não, bebê? Se apaixonar não é doença não.
– Eu sei, a gente se conhece a pouco tempo.
– E isso não impede nada, se não apaixonada, que tal... Gostando, você tá gostando dele?
– Mãe, por Deus!
– Como ele é?
– Magro, alto, chato.
– Magro magro ou magro forte? - me perguntei que diferença fazia.
– Magro forte, mãe.
Ela sorriu. - Bonito?
– É, mãe, sei lá, é.
– Chato porque perturba ou porque fala demais?
– Porque ele me lembra você. - mamãe riu.
Era por isso que eu não gostava de passar tanto tempo com ela, Karen se divertia as minhas custas, além de me fazer parecer uma criança. Sempre apontando minhas falhas e fazendo comentários irônicos ou de duplo sentido, não levava a sério meus motivos pra chateação, estresse ou outra coisa do tipo. Eu ainda era tratada, por ela, como a 'Anna gorducha e fofucha da mamãe'.
– Você se estressa à toa, coração. - ela virou-se pra mim, me olhou por cima dos óculos. - Você é bonita, inteligente e gostosa.
– Mãe! - gritei rindo. - Pergunta logo o que você quer saber.
– Qual o nome dele?
– Pedro.
– O que mais?
– Pedro Lucas, quer o sobrenome também? Belarc Prado.
– Você está dizendo... O filho da Bárbara? - mamãe gargalhou, eu nunca a tinha visto assim. Pelo menos, não a muito tempo. - Desculpe, filha... Filha.
– É mãe, ele mesmo.
– Anna, qual o problema de você gostar dele?
– Você sabe como eu fico quando me magoo.
– E daí? - ela se ajeitou na cadeira, ficando reta.
– E daí? Como assim, 'E daí'?
– Você tem quantos anos mesmo?
– Eu tenho dezessete, mãe.
– Dezessete, você já está tão crescida. Sabe se cuidar sozinha agora e não precisa de mim, nem de seu pai, nem ninguém pra dizer o que você tem que fazer com o seu coração, gata. Ele é seu, só você sabe o que sente. Entendeu?
– Entendi.
– Ótimo, porque já imagino onde a Bruna entra na história.
Eu ri, minha mãe não gostava muito da minha melhor amiga. Ela tinha um 'radar', mas as vezes esse radar falhava.
– Vou indo, vai embora sozinha? - ela se levantou.
– Sim, não posso pedir carona depois de uma semana ignorando alguém.
– Você tem razão, o que ele ía pensar? Que você não tem um carro?
Sorri. Minha mãe era bem fora das ideias.


[Hora do almoço]
Ainda era cedo, nem meio dia ainda.
A porta de entrada estava aberta, ela só a empurrou. Bon Jovi tocando na cozinha a fez andar mais rápido.
– Alguém? - ela chamou.
Entrou na cozinha, a música já estava no refrão. - Oi. - Rick respondeu.
– Como foi na escola?
– Normal.
– Normal?
– Entediante. - tentou de novo.
Rick ficou olhando pra ela algum tempo, ele tinha o sorriso parecido com o do filho. Anna o observou por esse tempo, imaginou se quando mais jovem ele era parecido com o Pedro. Eles eram quase idênticos.
– Isso é bom. - finalmente ele completou.
Anna se sentou, colocou a mochila na cadeira do lado. - Bom?
– Quase tenho certeza que um dia você vai chegar e dizer 'hoje eu explodi a escola'.
Ela riu.
– É o meu sonho.
– Era o meu sonho também, não conte ao seu pai.
– Ta bom. - sorriu.
– Já deu uma olhada na biblioteca?
– São livros ótimos, acho que vou me mudar pra lá.
Ele riu.
– Oi. - Babi entrou com Bea no colo. - Como vão?
– Eu tô fazendo comida e ela tá me distraindo, onde você tava?
– Resolvi dar uma folga pra Abi, Bea está doente, posso fazer isso por ela. - Rick largou tudo e pegou Bea no colo. - E Pedro? Onde ele está?
O sorriso de Anna se fechou.


[Aproximadamente 20h00]
Já tinha contado todos os azulejos de quadrados 4x4 da cozinha, um por um. Estava entediada, vi alguém subindo as escadas. Abi.
– Abigail. - chamei. Ela se virou pra mim, parecia estar cansada e/ou exausta, mas não me negou um sorriso.
– Oi, Ju.
– Falta muito?
– Só tenho que tomar banho.
– Preciso conversar. - ela riu.
– E o Pedro?
– Então, é sobre isso, relações cortadas, preciso de uma nova amiga. - fiz beicinho.
– Ta bom, você aproveita e me ajuda com o dever da escola.
Esqueci de mencionar, Abigail era nova de verdade, tipo, a minha idade. Ela cuidava da Bea e era filha da cozinheira/faz-tudo e do jardineiro/zelador. Eu não consegui entender porquê a família inteira trabalhava aqui, mas basicamente era um lugar bom, eles tinham um teto, a filha tinha uma escola boa e não lhes faltava nada.
Ela não demorou muito a voltar, Abigail era bonita, os cabelos negros repicados e rebeldes eram perfeitos em harmonia com seu rosto infantil e o corpo magro. Agora, usando um vestido leve e óculos de grau ela estava estonteante.
– Onde você estuda? - tratei logo de perguntar.
– Na escola bem pertinho daqui, fica perto da escola da Bea, então quando eu vou e quando eu saio, é meu dever fazer o mesmo com ela.
Concordei.
– Ok, o que você tem que revisar?
Ela me estendeu a lista de exercícios. Eu também não entendi algumas coisas, ela insistiu de eu ter que perguntar pro Pedro como se fazia, porque ele sabia. Muito relutante eu subi e fui até o quarto dele. Bati duas vezes na porta, ele abriu e eu dei um pulo pra trás.
– Já disse pra você que é perigoso me acordar.
Não respondi, minhas bochechas responderam, ele sorriu.
– O que você quer?
– Ajuda.
– Oh, meu Deus! Você ainda fala.
Revirei os olhos e dei a folha pra ele. - Me explica, eu também não entendi e a Abi precisa pra amanhã.
Ele concordou e leu o problema da questão. Depois abriu a porta e se sentou da cadeira dele.
Eu ía sentar na cama, mas a voz dele me impediu.
– Se eu fosse você, não sentava aí.
Fiquei em pé mesmo. Voltou a analisar a folha e rabiscou algumas coisas.
– Você não dividiu os valores.
– Dividir? Por quê? - fui até ele, meus cabelos deslizaram pelo ombro dele.
– Porquê é o que o problema pede, 'decompor'. - explicou.
– Obrigada. - disse e peguei o papel da mão dele.
– Pelo menos sirvo pra alguma coisa.
– É, você serve. - sorri e beijei seu rosto. 'Pra mim', pensei.
Ele soltou meio que uma risada e um sorriso ao mesmo tempo, ele tinha olhos lindos.
– Eu sei. - ele devolveu o beijo no rosto, que deslizou pro canto da minha boca.


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