Together escrita por Max


Capítulo 6
Capítulo 6 - Como eu lido com proximidades


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal. Como vocês vão?







Tô me sentindo sozinha aqui, alguém pra conversar comigo? Ninguém? Ok.



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[Sábado, 7h00]
Depois que ajudei Abigail a arrumar as prateleiras da dispensa, arrumamos a cozinha e depois sentamos pra conversar. Ela era alguém agradável.
– Estão se dando bem? - Abigail servia meu café em uma caneca cor-de-rosa.
– Eu ganhei uma flor, uma pulseira. - mostrei a ela a peça de fitas coloridas trançadas. - Mas também uma confissão sobre estilo, não foi nada legal e alguns apelidos. Acho que estamos no mesmo patamar de antes.
Ela concordou rindo. Bea estava do outro lado da sala, sentada em no sofá e tomando mingau da mamadeira. A abertura de Phineas e Ferb que vinha da sala cobria o som da chuva se chocando levemente com as janelas da cozinha.
– Ele sempre demora? - bati os dedos em movimentos sincronizados na mesa.
– Normalmente tem que ir lá e bater na porta.
– Então tenho que ir lá. - tomei um gole da xícara e subi.
Bati na porta e não houve resposta, bati mais forte na segunda e a porta se abriu. Chamei seu nome.
– No banheiro.
O quarto dele era o contrário do que eu imaginei, não que eu tivesse imaginado o quarto dele, mas não era como eu esperava... Entendeu? Ok, o teto era de gesso preto, uma das paredes era igualmente negra, as outras brancas. Uma cama de casal enorme cheia de travesseiros, ao lado da porta, uma mesa com um computador, uma luminária, alguns papéis da escola e desenhos, muitas prateleiras de vidro cheias de miniaturas e porta retratos.
– Você vai demorar?
A gargalhada rouca e sínica me paralisou, minha mão travou na maçaneta da porta de entrada.
– Que safadeza Anna.
– O que?
– Me imaginando tomando banho.
Merda! Talvez meu subconsciente estivesse. Eu queria ser um avestruz e enfiar minha cabeça em um buraco.
– E continua imaginando. - ele saiu do banheiro com a toalha nos ombros. Já estava quase pronto, se não fosse pela camiseta que ele não estava usando. O calor subiu pelo meu corpo e eu tentei disfarçar, tentei meu olhar mais frio.
– Vo-você-cê. - eu gaguejei, eu era muito estúpida mesmo. - ...está atrasado.
– Si-si-sim, pa-pa-patolino. - ele gargalhou outra vez.
– Vai se catar. - entrei no quarto, não dei mais que três passos.
– Você veio me acordar?
– Era um favor.
– Talvez não.
– Não?
– As vezes eu durmo de roupa.
Eu fiquei olhando pra ele e depois percebi que estava travada. Eu tinha captado a mensagem. Ele mordeu a língua entre os dentes e depois se virou sorrindo.
– E você?
– Eu o que? - quase gritei e ele continuou com o sorriso idiota no rosto, satisfeito por me fazer parecer um vidro de ketchup de tão vermelha.
Com a camiseta na mão ele se virou, chegou tão perto que eu podia sentir sua áurea de eletricidade me arrepiar.
– Por que está aqui? Não devia estar na escola?
Obriguei-me a não dar um soco nele, como podia ser tão fofo e do nada tão rude.
– Você vai me levar pra escola.
– Não vai nem pedir com jeitinho?
– Talvez eu não te dê uns tapas no caminho, pode me levar pra escola?
Ele cruzou os braços, deixando os bíceps maiores, se era a intensão, bom... Ele alisou o queixo.
– Por que seu pai não te leva? - perguntou.
– Porque meu pai foi chamado pra ir até o trabalho.
– Você já comeu?
– Por que?
– Responde.
– Tomei café.
– Quer ir pra escola?
– Você quer me sequestrar?
Ele riu. - Não, só me atrasar um pouco.
– Eu tenho que ir?
– Só se você quiser. - prendi a respiração. - Conheço um lugar que vendem donuts ótimos.
– Donuts? - sussurrei soltando o ar.
– Eles vendem milkshake também, quero retribuir os tacos da semana passada.
Foi como um chute no saco, que eu não tenho. Fechei os olhos e depois sorri.
– Tudo bem, agora põe a droga da camiseta, eu não sei como não sente frio.
Ele colocou a camisa com um sorriso idiota no rosto. Babaca.

[Sábado, 9h30m]
Envolvi o copo de cappuccino com uma das mãos.
– E como ficam nossas faltas?
– Já pedi cobertura.
– Tinha tanta certeza de que eu ía aceitar?
– É claro. - bateu com os dois dedos na aba do boné.
– Ta bom. - concordei rindo.
– E você?
– O que? - perguntei, a garçonete colocou os pães de queijo dele na mesa. Disse 'obrigado', ela pareceu se surpreender e me deu um sorriso.
– Não vai comer nada? Só tomar café? Você só toma café?
– Você está pagando, acho que eu seria muito folgada.
– Não está.
– Se eu fosse um garoto, não ía querer pagar tudo pra uma menina que invadiu minha casa.
Ele balançou a cabeça de um lado pro outro. - Você não sabe como é ser um garoto.
– Graças a Deus, eu tenho uma vagina.
– Ei. - ele gritou, depois riu. - Isso é uma das coisas que você não pode falar.
Eu ri depois, ele tinha ficado com as bochechas vermelhas.
– Eu tenho uma pergunta.
– Comece. - ele se inclinou pra cima da mesa.
– Você desenha desde quando?
Ele sorriu. - Eu? Desde criança, por que?
– Você desenha bem.
– Você viu meus desenhos? - ele mordeu um pedaço do pão. - Quais?
– Os da sua mesa.
Ele relaxou os ombros. - Ah, sei.
– São lindos.
– Obrigado.
– Oh, meu Deus. Você sabe ser educado também.
Ele gargalhou. - Acabei de abaixar minha guarda, portanto abaixe a sua e coma um pouco.
– Não faça isso.
– Sério? Vai me deixar com isso na mão? - ele estendeu pra perto de mim.
Eu realmente não sei se era o melhor a ser feito, mas já estava tão perto da minha boca que peguei a comida com os dentes. Ele paralisou, eu senti seus olhos me analisarem, eu odiava quando ele fazia aquilo.
– Nunca mais vou comer nada que você me oferecer. - digo, ele sorri.
– Eu pensei que você não fosse comer.
– Tudo bem, mais uma coisa sobre mim que você não sabe.
– Parece que você está disposta a me surpreender.
– Quer apostar?
– Apostas... Vamos lá, se eu ganhar você vai à feira de outono comigo?
– Eu nunca vou à feira.
– Bom, você vai.
– E se EU ganhar?
– Eu vou te carregar nas costas pela escola inteira.
– Tudo bem. Qual a aposta?
– Se a próxima pessoa que entrar for um homem, você ganha.
– Se for uma mulher, você ganha? Ok.
Ficamos olhando pra porta, logo uma pessoa de capuz entra no estabelecimento. Quando tira o capuz, meu sorriso se desfez imediatamente.
Eu tinha perdido.

[Quarta-feira, 18h16m]
Bru estava escovando os cabelos. Eu amarrava os cadarços, eu já estava indo pra casa.
O término das aulas de física eram horríveis, sempre eu não sentia minhas pernas.
– O que acha de irmos para a praia? Não vai estar tão frio quando perto do natal e as aulas já vão estar paradas.
– Eu não sei, eu vou à feira de outono da escola.
– O que? Você? Que bicho te mordeu?
– Pedro vai me levar.
– Pedro? Você é maluca? Ele tem namoradas por todos os lados, você sabia disso? - Bru estava me dando uma bronca, eu não entendi porquê de ela estar tão furiosa.
– Eu perdi uma aposta, o que eu posso fazer?
– Por que você apostou?
– Nós saímos pra comer e...
– Você tiveram um encontro? Anna, desde quando?
– Não foi um encontro, nós fomos comer.
– Seu pai sabe disso? Ele ficaria decepcionado com você.
– Mas...
– Que vergonha, Anna! Francamente. Mas eu te perdoo, só não continue fazendo isso, você sabe o que acontece...
– Ta, eu sei. Para!
– Eu quero o seu bem.
– O que vocês foram comer? Ele pagou né? - eu confirmei e ela me abraçou. - Eu sinto muito.
– Ele não encostou em mim.
– De verdade?
– Eu nunca minto pra você, sabia?
– Confio em você.
– Eu também. - me aconcheguei no abraço dela.
Podiam falar o que quisessem da Bruna, mas ela sempre me acordava pra realidade. E a realidade era que os meninos que se aproximam de mim só me machucam, quando eu me acostumo com a proximidade eles se vão.
Naquele dia eu não voltei pra casa com o Pedro, eu fui andando. Era uma caminhada de alguns minutos, mas depois eu pedia pro meu pai me levar de novo pra escola. Seria mais difícil parar de me aproximar do Pê do que falar o que estava acontecendo pro meu pai.

[Sexta-feira, 19h30m]
Pedro estava de costas, pela roupa que estava vestindo, podia apostar que ía pra academia. Estava um silêncio absurdo na cozinha, ele fazia alguns ruídos enquanto pegava água.
– Ta, Anna, o que foi? Você está bem? - ele se virou rapidamente e sentou na cadeira de frente pra minha, sacudi a cabeça dizendo 'sim'. - Já faz mais de uma semana, vai me ignorar?
Não respondi, fiquei olhando pra ele, olhei nos seus olhos. Eu queria muito explicar pra ele, mas ele não entenderia.
– Eu achei que você fosse diferente das outras garotas, mas tudo bem. - ele disse e saiu da cozinha, parecia zangado ou magoado. Fiquei mal por isso.
Me voltei pro meu trabalho de geometria, vi a pulseira que ele me deu no meu pulso. Coloquei a cabeça na mesa, porque tudo tinha que ser complicado assim?


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