Together escrita por Max


Capítulo 34
Capítulo 34 - Casa nova, comida pronta


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, eu sei, sou culpada. Desculpem a demora.
Mas estou de volta.



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Estou indo embora, é oficial.

Corro a mão por todos os móveis, é como se eu deixasse um pedaço de mim.

Uma das partes mais difíceis foi me despedir da Bea. Eu havia ganhado desenhos. Um monte deles, neles eu era desenhada como parte da família. Aquilo me impactou e eu senti vontade de chorar.

A abracei com os joelhos no chão, toda pequena.

– Vou sentir saudades. - sua voz era doce e me transmitiu paz.

Repeti o que ela disse e beijei-lhe o rosto.

Ela se afastou de mim e correu até o Pedro

– Eu me saí bem? - perguntou para ele, queria sussurrar, mas falava alto.

– Claro, já até pode parar de fingir, ela lembra.

Bea arregalou os olhos, se virou pra mim, ela sorriu feito boba.

– Eu disse, não é? - Pedro colocou uma mecha do cabelo dela atrás da orelha.

Ela sacudiu a cabeça em um movimento afirmativo.

– Posso visitar ela? Você me leva? Eu juro que me comporto.

Pedro abriu a boca, acho que para contra argumentar, só que sorriu e concordou.

Em segundos já não via mais ela, Bea havia disparado para longe do meu alcance. Me levantei e limpei o joelho da calça jeans.

– Então, vamos?

Pedro colocou as mãos em meus ombros e me levou para fora.

Chegamos em Sweet Berry, uma falsa sensação de proteção tomou conta de mim.

Nem as portas, nem os muros, nem cercas elétricas podiam me proteger, uma ideia implantada em minha cabeça e que não ía sair tão rápido. O medo estava em mim, dentro de mim.

Meu condomínio não era de luxo, era de classe média. Alta.

As casas eram diferentes uma das outras, minha casa era a de número 46. Andamos entre as ruas e chegamos alé lá.

Coloquei os pés no chão, só agora a ficha caiu. Eu estou me mudando, vou ter que repetir isso até finalmente entrar na minha cabeça.

Andei pela escadinha de degraus largos e encarei a porta com as chaves em uma das mãos.

Abri a porta de entrada, a casa já estava repleta de mobílias, tudo estava pronto e somente à minha espera. As chaves ainda estavam na minha mão e tinha certeza que Pedro analisava a casa por cima do meu ombro.

Me virei pra ele e fiz sinal para pegarmos as caixas no carro.

Abri o porta malas.

– Trouxe suas coisas? - perguntei.

Pedro procurou com os olhos, entre as caixas ele ergueu e sacodiu uma mochila azul. - Fiquei com medo de exagerar.

– Esperei mesmo um guarda roupa.

Ele sorriu. - Quem sabe daqui à uns meses.

Fiquei pensando naquilo e me peguei sorrindo como uma bobalhona.

Quando já colocamos tudo pra dentro, ao pé da escada, Pedro me deu um beijo de despedida e disse que voltava antes de anoitecer, precisava ir pro trabalho.

Trabalho, tinha esquecido disso. E a escola.

Procurei minha mochila e abri minha pasta, meu curriculum estava entre os trabalhos da escola que deveriam estar prontos para a semana que vem.

Olhei pra ele, eu arranjaria algo bom, algo realmente bom. No exército, talvez. Ou no hospital local. Eu tinha chances e qualificação, é só que por um momento, por alguns dias eu tinha deixado minha vida de lado e tentado reviver o passado. Amanhã eu iria procurar um trabalho. Depois de arrumar meu quarto.

Guardei tudo na mochila de novo.

Suspirei cabisbaixa quando finalmente fiquei só.

A visão completa da sala de estar era, o piso de madeira e as paredes brancas.

Os móveis eram todos cor de marfim, o que deixava a sala neutra, haviam molduras de vidro mostrando plantas ressecadas. Eu sei lá porque meu pai gostava daquilo, sempre me perguntei, mas nunca realmente perguntei pra ele.

Do lado direito era impossível ignorar a presença de uma parede falsa de madeira, no espaço entre a sala de estar e a de jantar, envolvi o puxador com as duas mãos e ouvi um 'click' quando puxei e o trincar leve de garrafas, abri a porta por inteiro, uma adega. Uma adega completamente cheia.

Fechei e fui até a sala de jantar, senti uma coisa estranha, aquilo era diferente de como nossa casa era antes. A nossa habitual mesa de madeira agora era de vidro, onde antes existiam quatro cadeiras agora era onde existia espaço para dez pessoas. Teríamos festa todos os dias? Porque era a única explicação que eu encontrava para tantas cadeiras.

Entre a cozinha e a sala de jantar, havia uma porta de carvalho, a abri e me dei de frente com um jardim enorme com árvores e arbustos ao redor. Seriam as famosas sweet berrys?

Fechei a porta e entrei de volta na casa, me virei para a cozinha, um balcão enorme atravessava metade da cozinha, atrás dele os eletrodomésticos eram prateados. A minha direita, uma mesa totalmente colada a parede dispunha quatro lugares. A luz não era direta, assim como nos outros cômodos que eu vira, a claridade se distibuia pelo teto transparente, mas fosco e iluminava as paredes. Deliguei a luz.

Cheguei na entrada de novo e subi pela escada do lado esquerdo, haviam quatro portas e no final do corredor uma varanda enorme.

Era uma casa toda acolhedora, moderna e acolhedora.

Desci a escada e no andar de baixo peguei a primeira caixa contendo meu nome rabiscado com caneta colorida.

Fui deixando as caixas no corredor, depois que todos já estavam ali fora. Catei a chave com borrachinha roxa e abri a porta do meu quarto.

As paredes eram cobertas por papel de parede florido e piso branco, branco como porcelana. Uma cama enorme e cheia de colchas de cama limpas e cor-de-rosa. Travesseiros e almofadas em degradê, do branco ao rosa escuro.

Sem televisão, meu pai era contra televisão nos quartos.

Abri a porta do closet, o bastante para duas de mim. Era enorme, tudo era enorme aqui. Cheio de prateleiras, ganchos, cabides e nichos.

E ainda havia uma parede sem nada, onde mais tarde eu ía querer montar meu mural.

Quando as coisas já estão devidamente organizadas, começo a fazer os trabalhos da escola.

O tempo passou e já é quase oito horas da noite quando Pedro chega, o céu está escuro e cheio de estrelas, que milagre.

Desço, mesmo só de calcinha e uma camiseta grande que vai até quase metade da coxa, um pouco mais curta.

Abri a porta, Pedro estava tão lindo. Menos formal do que no dia do meu aniversário, já que não usava paletó.

– Sentiu saudades? - perguntou, então levantou a cabeça.

O olhei de cima a baixo, ele carregava uma pizza e uma sacola com refrigerante.

Levantei a perna no batente da porta, formando uma curva. Joguei o cabelo pro lado. - Oi, bonitão.

Pedro estava com as sobrancelhas levantadas e a boca estava entre aberta, ajeitou a postura e limpou a garganta. - Demorei?

Sorri, o puxei pela gravata. - A entrega está atrasada.

– A pizzaria é um pouco longe...

Coloquei um dos meus dedos nos lábios dele, indicando que deveria fazer silêncio. - Eu estava falando de você.

Ele riu, me puxou para perto, fiquei com as duas pernas encaixadas em uma das dele. Senti sua respiração em meu ombro.

Ele fechou a porta com o pé e tentou equilibrar a caixa com a pizza para não cair, mas também não queria me soltar. Fez isso de um jeito engraçado.

– Desculpe, é que, você sabe, a concessionária estava abarrotada de gente hoje.

O abracei. - Coitadinho.

Ele sorriu, me beijou algumas vezes até chegarmos na cozinha, fiz todo o trajeto de costas.

– Onde está seu short?

Me apoiei no balcão. - Molhado.

– E se não fosse eu?

Ninguém sabe que eu me mudei, só sua família. Pensei, mas não disse. - Tem um olho mágico na porta.

Ele afroxou a gravata. - Como foi o seu dia?

– Cheio de poeira e lágrimas, senti sua falta.

– Eu também. - um selinho. - E a fome?

– Sempre.

Ele riu, pegou alguns copos descartáveis da sacola.

Conversamos sobre alguns assuntos pendentes e sobre os planos para o futuro.

Fizemos tudo isso entre piadas e alfinetadas sobre as próximas semanas. Quando já ía me servir, pediu a faca. Ele tinha se esquecido da faca para cortar a pizza.

Abri a gaveta e escolhi a menor faca, serviria e esperava que não cortasse o papelão.

– Bonnie foi até a concessionária hoje.

Me virei rapidamente, a faca ainda na mão. Pedro deu um passo pra trás quando me viu, devo ter feito uma cara horrível.

– Queria mudar de carro.

Continuei parada onde estava. Senti um sentimento horrível dentro de mim, algo que me corroia por dentro e me sufocava, me impedindo de gritar.

Olhei para baixo, suco de uva está escorrendo de mim, eu estou ensopada.

Olho para os lados e a luz piscando me cega, mas ainda sou capaz de ver risos escondidos entre as mãos, olhos espantados e gargalhadas.

Me virei para Bonnie, ela tinha uma das mãos na frente da testa e fazia um 'L' com a mão. LOSER.

Quando me dei conta e voltei a mim, eu apertava tanto a faca que os nós da minha mão estavam brancos. Eu estava aterrorrizada.

Soltei a faca na pia e me virei, Pedro me abraçou. - O que você lembrou?

Olhei para cima.

– Alguma festa, eu estou coberta de ponche.

Ele sorriu, não sei que tipo de felicidade ele havia encontrado.

O empurrei e dei passos para trás.

– Você só lembra do lado ruim, não é? - apesar do tom triste, ele não fechou o sorriso.

– Nesse dia estávamos brigados e era a festa de aniversário da Bruna. Bonnie jogou o ponche em você.

– E então?

– Nós saímos juntos da festa e você ficou tão brava com ela que nem me deu atenção. Eu fiquei meio magoado.

Cruzei os braços, como um nó frouxo.

– Foi a nossa primeira vez, lá na casinha da árvore.

Claro, eu sabia alguma coisa sobre. Lembro vagamente de algumas partes daquela noite.

Em frações de segundos, não lembro como, mas eu estava nos braços dele outra vez.

– Foi inesquecível.

– Mesmo comigo rindo por bater a cabeça no chão?

Os olhos dele brilharam. - Você se lembra.

Eu lembro de muita coisa.

A caixa da pizza está jogada no balcão, no andar de baixo. A pasta com depoimentos no meu quarto, logo ao lado. Agora eu estou deitada no quarto de hóspedes.

Coloco minha cabeça no peito do Pedro, tudo está escuro e a cama aqui é macia, agora eu posso sentir de verdade. Estou cansada e quase para dormir, mas lembranças estão voltando como bolhas de sabão, vem e explodem e então eu lembro. Muitas coisas, muitos acontecimentos.

Bruna está olhando pra mim, ela está em cima do pier.

Me sinto leve, estranhamente leve, mesmo estando em baixo d'água consigo respirar, curioso, né? Não, eu não estou respirando. E estou afundando.

Ela me olha lá de cima e parece desesperada. Bruna, ela é minha melhor amiga. Sempre foi minha melhor amiga. Não é mais. Por onde ela anda agora?

Pedro me envolve com os dois braços.

Olho para o relógio, 23:12.

Adormeço.

O céu azul deu lugar a um teto madeira. Acordei do meu sonho estou deitada em uma cama coberta por um edredom azul, estou sozinha aqui, escuto o chuveiro ligado.

Levanto.

Vou à cozinha, pego um copo d'água.

Olhando para as colinas do lado de fora da janela, tenho uma lembrança quase engraçada se não fosse meio catastrófica.

[Flashback on]

Tanner está bagunçando o próprio cabelo quando desço do gipe, a colina dos Sullivan estão acima do ombro dele, se esticar o pescoço consigo ver todos por lá.

– Você ainda está por aqui?

Ele ri e dá de ombros. - A festa não é sua, é?

Coloquei os óculos escuros e fingi que não ouvi a afronta.

Quando todos já estão alterados e apenas 15% daqueles jovens pode dizer que está sóbrio as coisas começam a mudar, as bebidas que antes eram batizadas anonimamente agora começam a ser bebidas do gargalo.

Tanner vem da minha direção, Pedro saiu faz alguns minutos e espero que volte logo.

Tanner cai, se joga, para cima de mim e com todo o ódio eu vocifero pra ele.

– Tanner, pode dar espaço?

O empurro com o ombro.

Ele se vira, visivelmente bêbado, se onclina sobre mim e preciona de forma violenta os lábios nos meus, o empurro e lhe acerto um tapa.

Pedro já está quase partindo pra cima dele quando os caras do time de futebol surgem para segurá-lo.

A música já parou e ele está com a mão no maxilar. Me dou conta que minha mão dói, arde como se tivesse estapeado uma parede.

– Qual é o seu problema?

Me irrito com a pergunta. - O meu problema? Como assim o meu? Qual é o SEU problema?

– Você gosta vai, sei que ainda está louquinha por mim.

Sinto nojo, repulsa. - Nem morta.

– Isso com o magricela é só fachada, todo mundo sabe.

Não era verdade, olho para o lado, Pedro parou de se debater e assim como todos espera para escutar atentamente o que eu tenho pra dizer.

– Você é uma otária mesmo, quer saber? Eu traí você, traí sim, muitas vezes.

Meus olhos estão prestes a explodir lágrimas. Sei que não deveria ficar triste, mas estou, me dou de frente com o meu tempo perdido.

– E a lista não acaba, as pessoas riem de você pelas costas, sua melhor amiga já provou e ao mesmo tempo que você.

Bruna? Parei de respirar, prendi a respiração com o impacto da notícia.

Mas eu sou melhor do que isso, não sou? Foi por isso que terminamos, Ian ficaria orgulhoso se eu dissesse uma das coisas que ele diria, talvez ele risse e depois enxhesse enchesse Tanner de porrada, mas eu sou muito menor que Tanner e não posso bater nele, minha mão é a prova disso. Pensei no que Ian diria.

Sorri. - Tanner, tudo bem.

Ele arqueou as sobrancelhas.

– Quem gosta de sobra dos outros é cachorro, e meu bem, é isso que todas essas garotas foram e são, um bando de cachorras.

Ele está boquiaberto. Todos estão.

– E você também é, não adianta esconder seu rabinho entre as pernas agora.

Pedro já se soltou e é pra lá que eu quero ir, para os braços dele.

– Babaca.

Esbarro com violência no ombro dele e dou a mão para o Pedro que me conduz para longe dali.

[Flashback off]


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Notas finais do capítulo

Bjss, consegui meu whats de voltaa.



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