Together escrita por Max


Capítulo 33
Capítulo 33 - Me beije rápido antes de ir


Notas iniciais do capítulo

Oi de novo.
Acho que aqui nem é tão ruim, tem internet de madrugada e da até pra baixar pdf hahaha



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Os dias seguintes foram normais, nada demais.

O céu estava radiante, o dia estava radiante.

E eu também.

Passei pela sala, Pedro assistia um filme sobre dinossauros e pessoas filmando, nada de king kong. Só algum outro filme que devia ser uma imitação horrível.

– Aonde você vai?

Parei na mesma hora, me virei nos calcanhares.

– Vou até a delegacia.

Pedro fez uma expressão estranha com o rosto, me perguntei se era ciúmes, mas não, não aquela expressão que ele usava quando sentia ciúmes.

– Fazer o que?

Coloquei a alça da bolsa no ombro.

– Ian separou algumas fichas pra mim.

Dito isso, me inclinei para beijá-lo, ele aceitou como normalmente fazia.

– Vou com você.

Continuei onde estava, olhando para os olhos dele. - O que foi?

Pedro deu os ombros. - Não quero ficar sozinho.

Ri. - Diga certo, você não quer é me deixar ir sozinha.

Pedro me beijou de novo.

– Está certa disso?

– Talvez.

– Então vamos logo.

Pedro levantou e pegou-me pelo cotovelo, de forma gentil.

– Eu deveria ter ido lá semana passada, assim que voltamos.

Ele concordou, eu achava que ele nem estava me ouvindo.

Ponto de Vista: Pedro Prado

Entramos na delegacia, não que eu já tivesse vindo aqui muitas vezes, mas era uma das únicas no raio de 10 quilômetros. Então quase tudo era feito por aqui.

O bebedouro sempre no mesmo lugar e o saco de copos descartáveis sempre jogado em cima do garrafão d'água. Tudo como sempre foi.

Até algumas caras conhecidas como figurinhas repetidas que todo mundo sempre tem. Como o velho Billie, parece que nunca vai morrer, é velho desde que me conheço por gente. Tenho a impressão de que ele já não prende mais ninguém e se prende é porque o meliante ficou com dó de fazer o velhinho correr demais. Isso é tão rude. Peço desculpas mentalmente por isso.

Enquanto andávamos pelos corredores, cabeças se ergueram de seus cubículos e mãos acenaram para Anna.

– O que você andou aprontando?

Ela riu. - Não fui presa, nunca, se quer saber. Ou fui?

– Uma namorada de ficha limpa, que sorte eu tenho.

Passei meu braço envolta do seu pescoço, ela acariciou meu braço rapidamente e me deu a mão.

Nem esperamos muito ao sermos anunciados.

Entramos na sala, Ian estava do mesmo jeito de sempre, mergulhado em resmas de papel.

[Flashback on: Alguns dias atrás]

Joguei a carteira de couro sobre a mesa.

Ian olhou pra mim por cima dos óculos escuros e abaixou os papéis até abaixo do queixo. Fez uma careta quando se esticou para ver o que eu tinha jogado na mesa.

– Bom dia. - o tom de divertimento quase me fez socá-lo.

– Pode me dizer por que Ethan está envolvido com as surras da Anna?

– Pedro? Você tá maluco?

Respirei fundo. - Ela o reconheceu, Ian. Reconheceu o Ethan.

Ele se levantou, o distintivo reluzia na sua cintura. Colocou a mão na minha testa, afastei com um tapa.

– Precisa de uma água? Um remédio?

Ele ainda achava que eu estava brincando.

– Sabe com o que você parece? O Fred, do Scooby-Doo, a versão kids, sabe? Sempre colocando a culpa no ruivo Hering.

– Ian, cara, eu tô falando muito sério.

Ele não se convenceu e inclinou a cabeca pro lado.

– Abre a carteira.

Ele fez o que disse, arregalou os olhos. - Como pegou?

– Estávamos indo viajar, mas paramos em uma loja de posto. Entrou uma ganguezinha, quando ela o viu… Anna agarrou o meu braço, ela estava tremendo. Ele deixou a carteira cair.

Ian levou as duas mãos até o rosto e depois socou a mesa, a mesa tremeu.

– Droga, droga! Onde esse garoto vai me levar?!

– Você tem sorte de eu não ter batido nele.

Ian riu, uma risada triste. - Sorte tem ele, agora vai apanhar só de mim.

– Não acredito que Ethan está no meio.

– Se você que não é irmão dele não acredita, quem dirá eu.

[Flashback off]

Dessa vez ele abriu um sorriso enorme ao ver Anna, deixou o papel na mesa de forma relaxada, levantou e se inclinou por cima da mesa para abracá-la.

Estendeu a mão e eu a agarrei, sacodi. Ele me deu dois tapas amistosos no ombro.

– Desculpe a demora.

– Não se preocupe com isso.

Ele saiu de trás da mesa e trouxe algumas pastas cheias de papéis.

– Isso foi tudo o que eu achei.

Ele sorriu e eu fiquei olhando-o sério, ele afrouxou a gola da camisa, estalou o pescoço pro lado e me perguntou silenciosamente se ela já sabia sobre Ethan, eu neguei.

Ele pareceu se aliviar. 'Vou dar um jeito nele, vamos conversar', silabou.

Anna tirou os olhos do papel na mesma hora.

– São depoimentos, quem são todas essas pessoas?

Ian olhou por cima do ombro dela, apontou para um nome na parte de cima do documento. - Dono do bar na frente do pier.

Pegou outra ficha. - Bruna, sua amiga. - ele disse.

Vi Anna tonar um ar de misto de tristeza e raiva. Temos que conversar.

– Eu tenho que ler aqui ou essas são cópias?

– São cópias, pode levar.

Ela sorriu, beijou o rosto dele. - Obrigada.

– Temos que ir. - avisei.

Não tínhamos nada pra fazer depois dali e não, eu não senti ciúmes do Ian, sei que ele cuidava da Anna e a tem com todo o carinho. Eu só queria conversar, a sós. Desde a nossa última conversa sinto que ela vem me deixando a par de algumas coisas, tem guardado as cartas pra si e não conversa direito comigo.

– Pedro?

Eu me virei. - O que?

– Cuide dela.

Assenti.

Ponto de Vista: Anna Júlia

Pedro estava de mãos dadas e entramos em casa.

A cozinha cheirava a folhas secas ao serem fervidas. O cheiro normalmente me enjoava, mas agora fazia a cozinha parecer, era aconchegante, talvez por um leve aroma de limão que se misturava.

– Chá? - perguntei quando meus saltos já haviam anunciado minha chegada.

Tia Babi limpou as mãos no avental. - Oi querida, como você está?

– 'No pique'. - sorri.

– E a mudança?

Ele me olhou. Tinha me esquecido, devia ter contado pra ele no carro.

– Que mudança? - Pedro perguntou.

Sorri. - Pra minha casa.

– Quantos dias vai passar lá?

Ele passou por mim e pegou algumas uvas, eu franzi a testa. - O resto da minha vida, talvez, não sei.

– Na casa da Karen? Que repentino.

Abri a boca, mas ele me interrompeu com a mão estendida, acabou de mastigar uma das uvas.

– Não diga, seu padrasto vai viajar de novo?

Entendi. Ele achou que eu ia me mudar por alguns dias.

– Pedro. - chamei.

Ele sorriu. - O que?

– Eu estou me mudando, uma casa nova. Vou me mudar, eu e meu pai outra vez, começar do zero. Ele volta no começo do próximo mês.

Pedro riu, mas logo o sorriso se fechou.

– Foi engraçado, no começo.

– Pedro, é sério e amanhã eu provavelmente não vou mais estar aqui.

Ele agora parara de sorrir.

– Assim do nada?

– Não foi do nada.

– Quanto tempo.

– Alguns dias.

– Como pôde esconder de mim?

– Eu não sei, deixa isso pra lá.

Ele mexeu a cabeça de um lado pro outro dissipando, provavelmente, a ideia de me esganar.

– 'Deixa isso pra lá'? Anna, que merda você tem nessa cabeça?

Coloquei os braços na cintura. - Como é?

Ele bufou.

– Só estou preocupado, vai ficar sozinha em uma casa e não quer que eu fique nervoso? Por favor digo eu.

Não dei ouvidos, dei de ombros.

Pedro cruzou os braços.

– Onde é essa casa?

– É em um condomínio, em Sweet Berry.

Ele quase gritou um 'O que?'.

– Sweet Berry. - repeti.

Um bairro familiar em onde antes era quase rural, pode perceber pelo nome, o limite da área metropolitana.

– É longe demais.

Estremeci de ódio. Nem uma hora de distância. De carro.

– É longe porque é comigo, se fosse pra outra coisa você se lembraria que existe ônibus, bicicleta, carro, moto. E mais alguma coisa com rodas.

– Não é só porque é com você, foi um comentário e você está fazendo uma droga de uma chuva em uma gota d'água. Mas que porra, Anna.

Fiquei chocada. Era a primeira vez que o ouvia falar daquele jeito, gritando e xingando.

Tia Babi olhou para mim e para Pedro como se visse uma partida de ping pong.

Bati na mesa.

Saí pisando forte e tinha certeza de que Pedro tentaria vir atrás de mim, mas seu próprio conciente o pararia na porta da sala com um sussurro de 'Dê um tempo à ela'. Então ele pararia, voltaria para a cozinha e conversaria aos sussurros com a mãe. Sempre espreitando para ver se eu voltava.

Desci a escada com largos degraus e cheguei a rua, meu carro estava estacionado, agora eu tinha planos para comprar um SUV. Mas aquele ali ainda era o meu primeiro-lindo-imaculado carro e acho que estava agarrado à ele.

Abri o porta malas e agarrei em baixo do braço algumas caixas vazias e desmontadas.

Quando voltei à cozinha ouvi vozes baixinhas, Pedro parecia estar pedindo que ela não me deixasse ir, mas porquê diabos não pedia pra mim? Pessoalmente. O que estava acontecendo?

Entrei com passos pequenos. Pedro me olhou, seus olhos queimavam a decepção. Tristeza. Angústia. Eu sinto muito, Pedro. Eu sinto. Podia falar com ele, mas não falei.

Primeiro porque Pedro abaixou a cabeça e me ignorou quando saiu calado da cozinha.

Segundo, as mãos dentro dos bolsos significavam que queria ficar isolado.

Saiu deixando um machucado em meu coração.

Me debrucei no balcão. Soltei uma baforada como um touro e um urro.

– Meu bem, foi difícil pra ele.

Concordei de cabeça baixa.

– Por que ele não pode tentar entender e ele pode me visitar, não é? Ele pode ir.

Estava decepcionada comigo mesma. Encondi por uma semana inteira.

Agora, de frente para meu quarto, eu observava o que ainda faltava para ser empacotado. Cheguei a rir porque eu havia chegado apenas com duas malas, uma delas cheia de livros e agora eu tinha de dez a vinte caixas de papelão de tamanho médio, todas abarrotadas de coisas do closet. Roupas, acessórios e sapatos. Espaçosa.

Me sentei no chão e comecei a empacotar as coisas mais frágeis, artigos de decoração que eu nem sabia se ía precisar na nova casa.

Peguei o estileite da caixa de ferramentas, estava pronta para cortar um pedaço da fita de lacre. Houveram cinco batitas seguidas e uma pausa para mais duas. Sorri.

Gritei para a pessoa entrar.

Pedro colocou a cabeça para dentro do quarto de um jeito engraçado.

– Está brava?

– Quando é que eu não estou brava?

Ele concordou.

– Está com fome?

Afirmei. Ele entrou por inteiro e mostrou que tinha uma bandeja nas mãos, sanduíches de queijo e tomate. Copos de refrigerante.

– Puxa, você já até encaixotou tudo.

Sorri sem jeito. - Não demorei mais que algumas horas.

Ele não disse nada.

O silêncio pairou sobre nossas cabeças como o anúncio de uma tempestade violenta. Comemos tudo em silêncio.

– Olhe pelo lado bom. - quebrou o silêncio como se quebra um vidro usando um martelo. Um estalo e depois se despedaça.

– O que?

– Eu estava com medo do porquê você tinha andado afastada.

Suspirei. - Me desculpe.

Me levantei chateada, limpei a boca e coloquei a bandeja na mesa.

Ouvi quando ele se levantou porque esbarrou na caixa. Idiota. Sorri pra mim mesma e me dei conta de que não estava com raiva, nem tinha como sentir raiva dele.

– Anna. - ele puxou meu braço. - Amor, por favor. - sussurrou.

– Me desculpe, Pedro. - o abracei. - Me desculpe.

Ele deu um passo para trás ao tentar manter o equilíbrio.

– Esqueça. - disse.

Fiquei o abraçando por alguns breves segundos.

– Olhe pra mim.

Obediente, olhei em seus olhos. Olhos perturbadoramente intimidadores, mas que de alguma forma me passaram confiança.

– Vai tudo ficar bem, não é? Eu e você, sempre fica tudo bem com a gente, não importa o quê, não importa aonde.

– Sempre estamos bem. - completei.

Ele sorriu contra meus lábios depois de me beijar.

– E agora? - ele estava com o nariz colado ao meu.

– Sobre o que você está falando?

Ele apontou com o queixo para as caixas já lacradas.

– Eu sinto tanto, mas a gente sabia que eu não ía ficar aqui pra sempre.

Ele abriu um sorriso vacilante, algum tipo de conspiração que não me contou, balançou a cabeça afastando qualquer que tenha sido a coisa que havia pensado e então falou com uma voz quase baixa, mas calma. Sexy, me arrisco a dizer.

– Sem nenhum tipo de fugidinha a noite?

Fiz que não. - E nem batidas na porta, quando todos já foram dormir.

Ele pareceu cansado, não, pareceu lamentar. - Vou sentir falta.

– Do quê? De mim ou dessas coisas?

Ri da minha frase como se fosse a coisa mais engraçada de todo o mundo.

Ele colocou as mãos em lados opostos, lados paralelos da minha cintura e roçou com o nariz um carinho na minha bochecha, mandíbula e pescoço.

– As duas coisas.

– Não vai não, agora pode trazer suas amiguinhas pra conhecer seu quarto.

Disse em tom de brincadeira, Pedro estreitou os olhos para mim, achei que tinha ficado chateado e então abriu um sorrisinho de canto. - Se eu mudar alguma coisa de lugar todos os dias você vem conhecer ele todo dia?

Mordi a língua de leve. - Quem sabe.

– 'Quem sabe', por quê? Vai estar ocupada demais desempacotando as caixas com um dos seus amiguinhos pra vir me ver?

Usei as duas mãos e um pouco de força para me levantar e sentar em uma das cômodas do closet.

– Provavelmente, senhor Pedro. - dei os ombros.

Ele se encaixou entre as minhas pernas e apertou minhas coxas. - Trabalho com nomes, quem são?

Peguei o elástico do pulso e amarrei meu cabelo. Ele observou tudo com os lábios pressionados, um contra o outro.

– Tem o Pedro, o Lucas, o Pedro Lucas, o Lucas Prado, o Pedro Prado...

Ele me pegou com uma das mãos posicionada no final das minhas costas, acima do meu cinto entrelaçado.

Usei um dos dedos para deslizar pela lateral do rosto dele, da linha de onde saia as ondulações do cabelo, acima alguns dedos da sobrancelha até a madíbula e queixo, cobertos por uma fina barba que aparentemente ele não cortava fazia alguns pouquíssimos dias.

– Você pode fugir pra lá quando quiser, meu quarto tem uma varanda bem próxima da árvore.

– Seria uma pena se fosse QUASE DO OUTRO LADO DA CIDADE.

– Não se preocupe com a distância, Lancelot. Eu tenho um carro.

Ele sorriu. - Eu também.

– E meu pai não mora em casa, não por agora e nem nas próximas duas semanas.

Ele levou uma das mãos até o queixo e alisou, parecia analisar a proposta, por fim abriu um sorriso malicioso.

– Duas semanas? Foi o que você disse, não é?

Passei meus dois braços pelo pescoço dele. - Quatorze dias, é muito tempo.

– Muito tempo pra aproveitar você.

Ele disse 'aproveitar você' e não 'aproveitar com você'.

Por essa noite os depoimentos na mesinha podiam esperar, eu não tinha pressa em saber o que realmente acontecia, pressa eu tinha, mas não ali, não agora. Não com Pedro me beijando apaixonadamente.

– Pode se mudar até para o Japão se quiser. - ele disse. - Eu compraria uma passagem.

– Por mim?

– E por todos os sushis que eu conseguisse comer.

– Mas e em Sweet Berry?

– Sem vizinhos por pelo menos trinta metros, não é? E duas semanas e sem aula. Só eu e você.

Sorri.

Só nós.


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Notas finais do capítulo

Tchau.
Mas ainda quero ir para casa e usar minha internet de dia, quando o tédio vem e eu não tenho que escutar sobre como as crianças podem se afogar na praia.



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