Together escrita por Max


Capítulo 31
Capítulo 31 - Velhos amigos


Notas iniciais do capítulo

A internet vai cair, ai ai ai.



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[Flashback on - Dois dias atrás]

Estaciono o carro na frente da garagem.

A casa azul, agora bem melhor e é quase irreconhecível, têm janelas de vidro que a fazem parecer uma casa de família. Até me enganaria se eu não o conhecesse.

Por fora há um gramado e um caminho de cascalhos, o carro preto com a sirene em cima entrega seu posto.

O salto da minha bota reclama no meu caminho até o portão. Ajeito meu vestido, quero parecer apresentável, por mais que eu tenha a certeza de que ele vai rir quando me ver assim.

Apertei o interfone. Chamou algumas vezes.

– Residência do Cherife Bickel.

– Cherife Bickel? Ian, para de ser bossal, abre pra mim.

– Anna Júlia?

– Anna Pestinha Júlia.

Houve uma gargalhada o barulho de chaves.

O portão de ferro destravou, cheguei a porta na mesma velocidade que ele girava a chave na maçaneta.

A gargalhada é certeira quando vê minha roupa, acabo ganhando uma bagunçada no cabelo de brinde.

Estou olhando pra seu rosto amassado agora, o cabelo sempre espetado agora está desgrenhado e a luz do sol castiga seus olhos. Hoje ele não usa os rayban pretos de lentes escuras.

Ian Bickel era realmente novo, poria minha mão no fogo dizendo que ele tem lá seus 30 anos. Se você olhar rapidamente ainda dirá que é só um aspirante de delegacia, levando cafés e limpando mesas, o que ele fez de fato quando mais novo.

Os olhos verdes, o corpo sarado… Ian era o tipo de policial que qualquer outra garota da minha idade iria querer que a levasse em cana. O que explica nós termos o maior número de festas adolescentes paradas por sirenes policiais. Sem contar que sempre há o cherife Bickel com apenas a porta do motorista aberta, um dos braços sobre o teto do carro e falando no alto falante algum tipo de ordem de evacuação e fazendo contagem regressiva. Acha que as garotas vão? Não, sempre a mesma desculpa do 'Pode esperar? Deixei meus sapatos/bolsa/sei lá mais o que, ali'.

Ele deixou espaço para eu passar pela porta depois de esticar o pescoço como se fosse se espreguiçar, analisou a rua e trancou a porta atrás das minhas costas.

E se você me perguntar o que eu estou fazendo por aqui. Bom, não vim para vê-lo com a samba canção que ele usa agora, nem pra checar se há sapatos femininos no pé da escada, e tem, dois pares. Precisava vir porque era um assunto importante e que só ele podia me ajudar.

Caminhamos até o final do corredor, para a direita uma escada e a cozinha/sala de jantar, pra esquerda a sala de estar e se imenda na sala de jantar. Como eu sei? Eu o ajudei a se mudar.

Ian procura alguma coisa pelo sofá, ele veste uma calça jeans de uma forma engraçada, parece que não encontra o buraco para pôr os pés. Ian está de ressaca.

– Tudo bem?

Me apoio no batente da porta. - Sim, e você?

– Ótimo, como vai a escola?

Abaixei a cabeça rindo. Houve um tempo, que Ian foi um dos meus melhores amigos, e isso incluia separar brigas entre mim e Tanner. Ligar para casa e ver se eu estava na cama às 22:00.

Acontece que quando eu tinha 5 anos, meus pais precisavam sair e Ian foi minha babá por uma noite. A coisa toda durou 8 anos e uma despedida cheia de lágrimas e promessas de presentes em datas comemorativas. Acho que meus pais eram retardados ou coisa assim por me deixar com ele no início, mas eu acho que Ian realmente gostava de cuidar de mim, descontando a parte de eu passar praticamente 8 anos comendo enlatados.

Parece que a vida passa realmente rápido e agora Ian até mesmo me chama pelos meus primeiros nomes, senti uma saudade inesplicável de ser chamada de pestinha por arruinar aquelas entregas de café e dedurar que ele havia trago alguma garota para casa.

– Ja estou quase acabando, sabia?

Ian sorriu. - Só faltou crescer em altura.

Cruzei os braços, de costas para ele eu observava a estante, uma foto minha e dele. Uma não, duas. Sorri.

Houve passos no andar de cima e dois gritos em uníssono, seu nome.

Me virei, ele estava com as mãos no quadril e olhos apertados.

– Que vergonha. - desdenhei.

Ele gargalhou. - Já estou indo. - gritou.

– Sant Paul?

Perguntei, porque Ian as vezes… Quase sempre, pra ser sincera, pegava algumas garotas da minha escola e isso podia lhe trazer problemas, eu sempre adverti.

– São universitárias.

Levantei as mãos pro céu.

– O que veio fazer aqui? Saudades é que não foi.

Me fiz de ofendida.

– Eu sinto saudades sim e você também, por que não se livra das fotos? Eu sei que você odiava aquele seu cabelo.

Ian deu os ombros. - Fui praticamente seu pai, pirralha.

– E os enlatados foram meus irmãos.

Ian pôs a mão na boca, fingiu um vômito. - Agora eu sou um bom cozinheiro.

Gargalhei. Depois houve um silêncio.

Coloquei as mãos para trás das costas, chutei o ar.

– Eu preciso de ajuda.

Ele levou as duas mãos ao rosto, urrou. - Seu pai vai me matar. Sorri.

– Henri vai me matar se souber que eu vou te ajudar, o que você aprontou?

– Nada, garoto.

– Nada?

Afirmei. - Eu o procurei na delegacia.

– Uma folga forçada.

Peguei a sacada no ar, uma folga, duas folgas estavam no andar de cima.

Ele deu uma risada e eu respondi com um sorriso.

– Eu preciso de uma de suas fichas de boletim de ocorrência.

Agora com ambas das sobrancelhas franzidas, ele me olhava com o rosto ligeiramente inclinado. - Que tipo de ficha?

– Sobre meu acidente.

Ouvi uma buzina, pneus arrastando na pista e o som de vidro se estilhaçando. Fechei os olhos rápido.

Lembrei da noite em que a mãe da Bruna morreu, coloquei a mão no coração.

Abri os olhos.

– Tudo bem, Anna?

Ondas se chocando contra mim e sangue.

Lembranças. Mas agora?

Ian me pegava pela mão.

Procurei o sofá, me sentei. - Ian.

– Acho que não ouvi bem o que você disse.

– Meu acidente Ian, eu lembro dele. Eu já sei.

Agora ele estava sentado no sofá comigo. - E lembra de tudo?

– Lembro, claro que eu lembro. - menti.

– Anna, fico realmente feliz por isso.

Ele me abraçou, as duas garotas agora estavam nos olhando da escada.

– É sigilo. - sussurrei.

Ian concordou.

– Bom dia. - aceno.

Ian olhou-as por cima dos ombros, sorriu pra elas.

As duas magrelas sorriram de volta, ambas vestidas apenas com langerrie. Elas saltitaram para a cozinha.

Torci o nariz e ele riu. Um pedido vindo dele de 'desculpa por isso' com dois dedos balançando.

– Que lindo exemplo.

Ele bateu no meu ombro. - Foi uma noite e tanto.

Fiz uma cara de nojo. - Deus que me livre, me poupe dos detalhes.

Olhei para meu relógio e fingi que tinha algo pra fazer. Me levantei, ele se levantou depois.

– Passo na delegacia daqui a uns dias, vou dar tempo pra você separar as ocorrências.

– Pedro sabe que você está aqui?

Parei de andar. - Sabe, por quê?

Ian pegou as chaves da porta. - Por nada, só que normalmente ele não te deixa sozinha.

– Como sabe?

– Ainda ligo todas as noites para saber se você está na cama, sabe, eu sei de tudo nessa cidade. Eu sou o cherife.

– Quem diria, se não eu.

– Oito anos é muito tempo, idiota.

Me voltei para ele. - Você me ama, não é, Ian?

– Claro que eu te amo, Anna. Se você fosse mais velha e não existisse um Pedro, eu casaria com você.

– Mas você disse que nunca ia casar.

Ele sorriu. - Pra você ver.

Andei até ele, o abracei.

Ian beijou o topo da minha cabeça.

– Não ande sozinha porque eu sei das surras, eu estou procurando os culpados, Anna. Eles não vão sair impunes.

Pode parecer egoísmo, mas era isso o que eu queria ouvir, porque já me tranquilizava o bastante.

Beijei seu rosto.

– Esqueça o que eu disse sobre as nossas fotos, pode emoldurar uma gigante e pôr na sua sala, eu não me importo.

Ele sorriu.

– Droga, se eu soubesse que você vinha, eu teria realmente me comportado, feito algo pra você comer e seria mais responsável.

– Você é responsável, não é? Cherife Bickel, não?

– Meu Deus, estou velho.

Gargalhei. - 45?

– Vinte e nove, pirralha. Agora vai pra casa.

Dei um passo pra trás, o olhei de baixo.

– Eu vou, mas eu vou voltar e espero que tenha comida da próxima vez.

O que me levou lá foram algumas linhas cheias de amor. "Sempre vou amar você, pequena. Se cuide, escove sempre os dentes. Nunca beba e nem fume. Sim, faça o que eu digo, mas não faça o que faço. Entre na linha ou vou te prender. Eu vou conseguir não é? Ser um tira, você disse que acredita em mim.

E venha me visitar quando seus pais brigarem com você* ou quando precisar de ajuda.

*sua mãe disse que era melhor eu não escrever fugir, porque aí você realmente vai fugir para cá. O que não é uma boa idéia, ou quer comer sopa direto da lata?

Não esquece de mim, pestinha.

Ian"

A primeira carta não escrita por mim, mas para mim. Também tinha um endereço rabiscado no verso do pedaço de papel arrancado de alguma agenda velha, o endereço tinha sido escrito com caneta permanente de escrever em cds. Patético, tinha que ser o Ian.

Chego em casa, Pedro está dormindo. Ainda não é nem meio dia e agora me dou conta de que queria tanto ver Ian que saí de casa antes das nove.

Peguei outra carta de dentro da caixa.

Essa azul clarinha no começo e no final cinza, as alternações de cores do céu - descubro depois.

Ela diz apenas. "Queria escrever mais, parece que meu tempo está acabando, desculpe pelas cartas em branco, provavelmente haveram algumas, não vou conseguir escrever em todas. Mas essa eu queria pedir que você aproveite cada dia, sim, é clichê mas é a verdade. Se estiver sol, saia pra passear, se estiver chovendo, se aconchegue e assista um filne realmente bom. Faça as coisas que eu nunca fiz".

Seguro a carta com as duas mãos, acho que sinto a 'vibe', as boas vibrações. Mas ainda não entendo porque eu tinha um tempo pra escrever.

Vamos sair amanhã de manhã bem cedo, espero que tudo dê certo por lá.

[Flashback off]


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Notas finais do capítulo

Novas leitoras, sejam bem vindas, princesas. Depois faço boas vindas dignas, prometo.

E vivi, tô lendo A escolha.