Together escrita por Max


Capítulo 30
Capítulo 30 - Eu acho que te amo melhor agora


Notas iniciais do capítulo

Oooi, sumida né? Eu sei.
Tô viajando, não aqui ainda não está legal.
Aliás, dia 1 de julho foi meu aniversário.
Estou com saudade de vocês.

Essa é Lego House.



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"Sem mentiras, sem segredos"

Essa era uma das cartas, apenas uma frase.

"Mais forte que titânio e mais valiosos que carvão.

Lembra de quando você me contou que todo o carvão daqui a milhões de anos será um diamante? Acho que o amor é assim também, é algo bruto que precisa de tempo pra ter um valor agregado. Independente de quanto tempo será o nosso 'milhões'.

Para: Eterno amor da minha vida."

Segunda carta do dia, algo maior, mas nem tanto.

Abria e fechava o isqueiro zippo em minha mão.

Guardei as cartas no bolso e entrei na sala.

Pedro assistia maratona de seriados.

– Vou deitar.

Pedro sorriu. - Mas já?

– Estou cansada da viagem e essas coisas na minha cabeça, você vem depois?

– Pode ir, eu não demoro.

Concordei.

Me cobri e logo adormeci.

Despertei assustada, virei pra procurar Pedro, ele não estava na cama.

Me arrastei pra fora do cobertor e desci as escadas, fui até a cozinha e bebi um copo de água.

Faria meu trajeto até o quarto de novo se não o tivesse visto encolhido no sofá, a TV chiava risadas gravadas de programas de comédia.

Cutuquei ele, ja deviam ser pelo menos duas da manhã e ele teria uma certeira dor nas costas se continuasse daquele jeito.

Pedro esfregou os olhos enquanto gemia na tentativa de um protesto pelas minhas chacoalhadas para acordá-lo.

– O que foi? - a voz rouca e manhosa sussurrou.

Sorri, penteei seu cabelo com meus dedos enquanto o mandava ir para cama.

– Que horas são?

Se sentou na cama e pegou minha mão enquanto eu olhava o relógio no outro lado da sala.

– Duas.

Ele bocejou. - Vem comigo?

– Estou logo atrás de você.

Ao se levantar, ele esfregou os olhos e me abraçou.

– Eu te amo.

– É claro que ama.

Ele sorriu sem mostrar os dentes.

– Por que disse isso de repente? Sonhou comigo?

– É isso que eu penso toda vez que olho pra você.

– Com toda certeza essa é a coisa mais fofa que você já disse.

– Tenho um arcenal dessas coisas.

– Arcenal? - gargalhei.

Ele morreu o lábio inferior. - Vou matar você de amor.

– Vai dormir. - espalmei minha mão no rosto dele.

– Eu estava dormindo.

Fiz beicinho. - Mas não comigo.

– Então a questão é eu não dormir com você?

Afirmei cheia de vergonha, a verdade é que eu passei a sentir falta absurda de outro corpo. O corpo dele.

– Você vem dormir comigo?

– Pede com jeitinho.

Corei e ele riu. - Desculpe.

– Meu Deus, quanta sedução.

Sorri.

– Você imagina a tortura que é dormir contigo?

Levantei as sobrancelhas. - É mesmo?

– É claro que não.

Seus dedos acariciavam minha testa e tiravam parte da minha franja dela.

– Podemos dormir de conchinha, que tal?

– Parece convidativo.

Corei. - Só dormir.

– Claro, foi o que eu quis dizer.

– Não, não foi.

– Talvez com um pouco de bagunça, sabe como é, você derrubando as coisas da penteadeira.

Bobo, até mesmo quando acordava falava coisas bobas.

– Você em uma parede é uma ótima sugestão.

– Vai dormir, Pedro.

Ele gargalhou.

Subimos as escadas e entramos no quarto, Pedro trancou a porta e me puxou pela cintura, nossos quadris se escostaram.

– Sua última chance. - o tom de voz fez meu estômago se contrair.

Beijei os seus lábios de devagar.

– Você me deixa com os nervos a flor da pele.

– Meu coração vai sair do peito.

Sorri, era verdade, podia sentí-lo enquanto abraçava meu Pedro.

Ele cortou o silêncio com um sorriso safado e algumas palavras.

– Só dormir mesmo?

– Os vizinhos podem nos ouvir, sabia?

– Vai gemer tão alto?

Dei um passo pra trás. - O que você disse?

Ele riu. - Ôh, pequena. - me puxou de novo. - É só brincadeira.

O beijei e dei passos para trás até sentar na cama.

Ele se aconchegou, beijou meu rosto e depois meu ombro.

– Alguma desculpa agora?

– Não, agora eu vou dormir muito bem.

– Muito bem acompanhada, você quis dizer.

– Convencido.

Ele riu e me abraçou mais forte. - Pode dormir agora, minha pequena.

Suspirei.

– Vai sempre cuidar de mim.

– Claro que sim.

– Não foi uma pergunta.

Cai no nosso logo depois.

Acordei quando ainda estava escuro, as estrelas ainda brilhavam seus últimos instantes antes dos primeiros e tímidos raios de sol tingirem a imensa tela azul escuro, o céu, com alguns tons de laranja e rosa.

Pedro dormia como uma criança, ele tinha um sorriso tímido. Fiquei com ciúmes daquele sonho que ele estava tendo.

Andei na ponta dos pés para chegar no banheiro e depois, já devidamente limpa, coloquei uma roupa confortável e resolvi fazer uma caminhada, talvez minha cabeça dispersasse, esfriasse, eu estava tensa e tentava tomar coragem para pedir ajuda do Pedro.

Queria pôr tudo em pratos limpos, contar sobre a caixa, as cartas e as minhas lembranças. Sobre como tudo aquilo estava refletindo em mim e queria saber mais sobre meu acidente.

Quando minhas costelas ja doiam e meus pés reclamavam eu parei de correr, o ar entrava e saia dolorosamente e o calor emanava de mim. Tomei uma garrafa de água, fui a padaria e comprei alguns doces e rosquinhas.

Não muito longe de casa, agora caminhava rapidamente pela certeza de que Pedro estaria acordado e também preocupado.

Corri pela grama e acenei à uma vizinha que molhava o gramado, ela respondeu com um sorriso.

Abri a porta, o cheiro de café entornava a casa.

– Estava me perguntando se deveria me desesperar, sabe, se você demorasse mais dois segundos haveriam cartazes de desaparecida pela cidade.

Ri.

Me virei, Pedro estava sentado no sofá da sala com os braços cruzados.

– Bom dia, meu amor.

Ele se levantou. Pedro beijou a extensão entre meu ombro e o pescoço, ri pelos arrepios.

– Aonde você estava?

– Correndo, e não faça isso, eu estou suada.

Me virei, ele deu os ombros. - Não ligo, dormiu bem?

Voltei-me para ver seu rosto, quando ja havia posto as chaves na mesinha. Abri um sorriso. - Sim.

– É bom ouvir isso. - disse e me guiou até a cozinha.

Ele se sentou e apontou pra cadeira a sua frente.

Coloquei a sacola de papel em cima da mesa, girei pela cozinha pegando copos, pratos e talheres pelas prateleiras. Queijo, presunto, frutas e sucos na geladeira.

Abri o armário e me virei estendendo uma xícara da prateleira para ele.

Pedro ria.

– O que foi?

– Você é tão pequena que precisa se esticar inteira e ainda tem que puxar com a ponta dos dedos. - ele disse com um tom divertido.

Me sentei mimada. - Não vejo graça.

– Já pensou como você vai cuidar dos nossos filhos? Eles vão ser maiores que você.

Levantei os olhos, um contato visual constrangido e doloroso.

– Desculpe, amor.

Concordei, continuei comendo.

Cortei um pedaço de bolo e o mordisquei antes de dizer.

– Precisamos conversar.

Pedro franziu a testa, terminou de mastigar e finalmente disse algo, o que me fez rir. - Isso não me parece bom.

– Não é nada sobre a gente, na verdade é...

– Se for sobre os filhos, Anna...

– Eles vão ser lindos, mas não é isso.

Pedro sorriu e beijou as costas da minha mão.

– Deixa eu adivinhar, você quer saber sobre o seu acidente?

Dessa vez foi eu quem franziu a testa.

Pedro sorriu e se levantou da cadeira. - Os médicos disseram que você iria querer saber assim que descobrisse.

Ele caminhou até a escrivaninha e trouxe uma pasta cheia de recortes de jornais.

– Quando você me disse pra te esquecer, eu tentei mudar de cidade, então vim morar aqui e por um tempo tive espaço de sobra na minha agenda, isso foi tudo o que consegui reunir.

– Você bancou o detetive?

Ele gargalhou. - Fracassado, se é o que quer saber.

– O que vale é a intensão.

O beijei rapidamente.

– Por que eu nunca vi nenhum desses jornais?

– Isso soa tão surreal, mas o médico comunicou à cidade que nós decidimos que você não deveria saber, então todos fizeram sigilo sobre tudo ligado ao seu acidente.

Folheei o caderno com as colagens, como tanta coisa ficou escondida e eu nem mesmo passei perto?

"Estudante de Sant Paul (escola) sofre grave acidente"

Essa era a principal manchete. Fora as outras de jornais menores ou de pouca importância, como o da escola.

Todos eles descreviam a mesma coisa e alguns tinham fotos minhas do album da escola, eu sorria feito uma idiota e meu cabelo estava horrível.

Em um dos recortes uma foto minha onde um tubo de respiração me mantinha viva.

Meu coração bateu mais rápido.

– Quer me contar o que você disse que era segredo?

Respirei fundo. - Eu tenho uma caixa cheia de cartas escritas por mim e elas não têm um só destinatário.

– Cartas?

– Eu também não entendo, mas eu tive o trabalho de escrever cartas e tirar fotos que ligavam uma coisa na outra.

– Como escondeu isso de mim?

– Desculpa, mas se te consola elas estão fazendo eu lembrar de coisas que eu nem sabia que haviam acontecido, nem fazia idéia.

Pedro não estava bravo, apesar estar chocado, ele tinha um sorriso enorme.

Me beijou. - Estou tão feliz por você.

É claro que ele estava.

Pedro lia as cartas e eu analisava as reportagens.

[Flashback on - Dois anos e quatro meses atrás, cozinha da família Prado]

Nossos corpos estavam colados e ele acariciava meu rosto.

Segurei seu queixo com dois dedos e passei minha mão por seus cabelos. Encostei nossas testas.

Ele sorriu. - O que vai fazer?

– Te mostrar um coisa.

O sorriso se perdeu, mas logo brilhou mais largo. Ele havia entendido minha mensagem.

Precionei nossos lábios formetente, mas estava entrando em desespero, por dez segundos não houve nenhuma resposta vinda dele. O larguei com medo e vergonha.

– Desculpa.

– Eu ía fazer isso, só fiquei com medo de levar um tapa.

Ri e ele me envolveu com os braços.

Nosso primeiro beijo. Nunca pensei que ía amá-lo tanto.

Flashback off

Estava escurecendo agora, voltávamos para casa depois de ir ao supermercado a apenas alguns quarteirões de casa.

Pedro estava de mãos dadas comigo e falava coisas sobre as constelações, eu estava amando ouvir a sua voz empolgada, por mais que eu realmente não fizesse ideia do que ele ria.

– Anna?

Levantei uma sobrancelha.

– Estou me sentindo um idiota agora, não vai dizer nada?

– Gosto de te ouvir falar.

– Eu também gosto de TE ouvir falar.

O beijei.

– Gosto disso também.

Rimos.

Chegamos na frente de casa, ele abriu a porta e entramos.

Enquanto colocava as compras na mesa, Pedro me ajudou a tirar meu casaco, massageou levemente minha nuca.

Ri. - Golpe baixíssimo. - zombei.

Senti seus braços envolvendo minha cintura. Suspirou perto do meu ouvido e mordeu minha orelha.

– Sabia que eu gosto do jeito como você analisa as coisas antes de fazê-las, tenho certeza de que nunca errará.

– Gosta de pessoas precisas?

Ele me virou rapidamente de forma brusca e me apertou contra o balcão, arfei.

– Gosto mesmo é de você.

O puxei pelos quadris pra mais perto.

– Aliás, amo.

Ele me suspendeu e derrubou as compras do balcão pra mesa.

– O que eu te disse sobre a bagunça? - ele provocou.

Sorri. - Eu falei sobre ontem, não mencionei nada sobre agora. Me agarrei em seu quadril e ele caminhou pra me colocar de costas no sofá.

– Amor?

Abri os olhos.

Pedro mordia os lábios.

– O que foi, Pê?

– Você é linda.

Sorri, me sentei e beijei ele.

– Mais uma do seu arsenal?

Ele sorriu. - Não, só quero que saiba que você era, é e sempre será a mais linda.

Abaixei a cabeça. - Não me faz chorar agora, idiota.

– Eu tenho uma confição.

Levei uma mão ao coração.

– Eu achava que tinha idade o suficiente para cuidar da minha vida, mas aí a dois anos atrás, você toda mimada se mudou pra minha casa e bagunçou ela de cabeça pra baixo e me mostrou que eu era um tolo de pensar desse jeito.

– Como você pensa agora?

Ele se acomodou de um jeito que os dois braços lhe davam apoio, além de me agarrarem.

– Você me pôs de joelhos, me fez querer te sacudir até que você acordasse e voltasse pra mim, pros meus braços.

– Do que você está falando?

– Eu ainda não sabia exatamente se eu te amava e se eu seria capaz de dar a minha vida por você. Pelo menos até o médico me dizer que as chances de sobrevivência eram mínimas.

Funguei, eu já chorava aos montes. - O que você fez?

– Eu fiquei lá não é? Eu não ia te abandonar naquela hora. E então quando todos acharam que era o fim, você acordou, uma tarde de quarta-feira, às duas horas, você pediu pra me ver.

Ele agora havia se sentado.

– Você me beijou 'uma última vez' e me disse coisas incrivelmente lindas, lindas como você. Mas também me recordo dolorosamente de você me mandando te esquecer, você sabia que ia esquecer em menos de 24 horas. Acho que foi aí que pensou nas suas cartas.

– Por que 24 horas?

– O tempo que a parte do seu cérebro demoraria pra desinchar, aí o estrago estaria totalmente feito.

Suspirei. - Isso explica muitas coisas, inclusive as cartas.

– Essa é a parte que ninguém ainda te contou.

– Se importa se ficarmos só aqui deitados?

Pedro abriu os braços e me embalou até digerir aquilo.

– Me desculpe não ter te contado antes, mas já era um segredo que eu não queria guardar.

Ainda bem.


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Notas finais do capítulo

Ainda vou postar regularmente, prometo.
Palavra de… sei lá.