Together escrita por Max


Capítulo 3
Capítulo 3 - Lei de quem?




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O bairro era de luxo, imagina eu, vindo de classe média… tudo bem que alta, mas peraí. Morar em bairro de luxo? Por favor, mande essa grana que eu quero.

As casas todas do mesmo tamanho, o mesmo designe e o mesmo espaço umas das outras. Nem aqui eu escapava da minha monotonia. O carro reduziu a velocidade e eu fechei os olhos.

– No que está pensando?

– Em um filme.

– Qual?

– Mágico de Oz. – respondi, estava de olhos fechados, mas sabia que ele estava sorrindo. Meu pai era apaixonado por filmes, e esse era um daqueles que sempre nos lembravam manhãs preguiçosas. – Me chame de Dorothy.

– Antes ou depois do furação?

– Depois.

Ele riu. – Nas ruas de ouro?

– Do asfalto às ruas de ouro.

Ele abriu a porta do carro, desci logo depois. Logo duas figuras que eu nem quis analisar vieram na nossa direção. Oh, eu estava nervosa. Como podia?

– Anna, essa é Bárbara. Eu te falei dela, lembra? – a voz me puxou como um anzol pra onde nós estávamos. De frente pra casa pintada de branco e janelas de vidro a adornando lindamente, varri o terreno com os olhos rapidamente, a mangueira do lado esquerdo era enorme, havia até uma casinha lá. Completamente rosa.

Talvez eles tivessem uma filha pequena, que eu logo ía me apaixonar por ela. Minha mãe não teve outros filhos, e nem meu pai. Então sou filha única, e ser criada praticamente sem contado com primos foi meio traumático. Minha mãe não teve irmãos e meu pai tinha dois, um deles era estéreo e o outro tinha dois filhos, um casal de gêmeos. A garota era única com quem eu brincava e o garoto não gosta de mim.

O tráfego na rua fazia uma leve sinfonia que eu preferi dar ouvidos à ter que escutar cumprimentos. Eu estava morta. Tudo bem, eu podia ouvir as batidas do meu coração. Podia até mesmo ouvir sua voz, e ela dizia ‘Escute, querida. Ainda amo você!’. Ah, mãe… Podia ter sido diferente.

– Quer que eu te ajude? – uma voz grave me fez olhar para o casal que estava na porta da casa.

Meus dedos se apertaram tanto a alça da mala que meus dedos ficaram brancos. Meu movimento rude e apavorado fez meu pai me abraçar de lado.

– E esse é Henrique. – era homem alto e forte. A barba por fazer o deixava mais novo. Não consigo explicar. Ele passava um ar de compaixão por mim.

– Seja bem vinda. – baixinha, e os cabelos loiros acinzentados íam até metade das costas. Esse foi o retrato que me deparei ao olhar em sua direção.

Eu queria muito dizer “Oi, tudo bem? Meu nome é Anna”, “É um prazer conhecê-los” ou até mesmo “Obrigado por receber eu e meu pai”. Mas não disse, meu meio sorriso sem graça foi tudo que consegui naquela hora.

Me movi ainda agarrada aos meus livros preferidos e a lembrança do dia em que minha família comprou a casa que a pouco deixei pra trás. Eles já haviam entrado a algum tempo, segundos, talvez.

As pessoas se cumprimentando se viraram pra mim, outras ainda estavam se abraçando.

– Ei pessoal, essa é a Anna.

Todos sorriram. Haviam sete pessoas na sala agora, três eram empregados da casa. Pude logo perceber. Tão fofos que abracei telepaticamente por uma fração de segundos.

Uma senhora rechonchuda e de cabelos pretos. Um senhor gorducho e com uma barba branca. E uma mocinha magra que logo veio se apresentar pra mim, Abigail.

Quando o garoto que estava de costas se virou, o observei de baixo pra cima. O tênis da Adidas encardido de lama, a calça levis escura e a camiseta de mangas compridas me fizeram montar o modelo perfeito de garoto. Mas eu o olhei nos olhos, vi seu rosto.

Era ele.

– Esse é meu filho, Pedro. – Babi me fez olhar diretamente pra ele. E só pra ele.

Quase dei um pulo de tanto susto.

– Anna Júlia. – ele disse.

E andou até mim, me abraçou. O abraço veio como um choque de 220 vts. Ele cheirava a algo bom, mas passada impressão de coisa ruim. Por alguns segundos quase esqueci que aquele era o Pedro Prado. Deveria ter percebido só de olhar pro pai dele. Eram quase idênticos, quase.

Seu hálito quente na minha orelha veio com um aviso.

– Vou ser simpático, só um pouco.

– Não se esforce. – sorri enquanto o afastava.

– Tô saindo. – ele se virou pra Babi.

Passou por mim e eu me virei junto. Agora ele abria a porta.

– Filho, espera. – ela o seguiu, pensei que fossem começar uma discussão, mas ela colocou a mão em seu ombro e subiu nas postas dos pés pra lhe dar um beijo no rosto. – Vai me deixar preocupada?

– É claro, meu sobrenome é Prado.

Ela sorriu. – Te amo.

Ele riu. – Eu também.

Virei o rosto quando percebi meu pai e Henrique pegando minhas coisas.

– Então, quer ver seu quarto? – Henrique perguntou.

Olhei além dos sofás da sala e vi pela porta uma prateleira cheia de livros. Se pudesse entrar lá, seria meu lugar preferido da casa.

– Vou ficar triste se não falar alguma coisa logo. – Babi havia passado o braço pelos meus ombros.

– Obrigada. – sussurrei e ela sorriu.

– Espero que fique muito tempo, vou poder ver como seria se tivesse uma filha mulher.

Aí me dei conta. Eu ía ficar na mesma casa com Pedro Prado. Diversos pensamentos cortaram minha cabeça. Muitos deles suicidas, só pra constar. Outros homicidas, Bru ía tentar me matar e assumir meu lugar. Ah, cara! Maldita lei de Murphy.

“Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira possível, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.”

– Nem vai. – papai a cortou com um sorriso. – É quase um garoto.

– Papai! – o chamei manhosa e eles riram.


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