Together escrita por Max


Capítulo 27
Capítulo 27 - Você tem sido solitário, por muito tempo


Notas iniciais do capítulo

Confessando aqui que quase chorei vendo a tradução dessa música, Dust To Dust - The Civil Wars.


Entrem no clima, escutem essa música enquanto leem, de verdade.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/485381/chapter/27

Despertei com com o vento entrando pela janela da varanda. As cortinas de seda dançavam com a brisa.
Rolei na cama.
Estiquei os braços e bocejei.
Coloquei uma calça jeans justa, uma camiseta de mangas compridas e um sobretudo.
Desci as escadas com pressa, achei que todos estariam em seus destinos.
Mas, quando desci, me dei conta de que todos ainda vestiam seus pijamas.
– Acordou cedo. - Bárbara riu quando entrei no espaço gourmet.
Sorri. - Não consegui dormir direito.
– Por que?
– Muitos pensamentos. - respondi.
Puxei minha calça enquanto andava até a mesa.
– Bem vinda ao brunch¹. - Abbi passou pela minha frente, ela carregava com as duas mãos uma pequena tigela de pudim.
– Bom brunch, então.
Abbi colocou a tigela na mesa e se sentou, me sentei ao lado dela.
Pedro beijou meu rosto quando me sentei ao lado dele também.
– Como está?
– Melhor agora. - beijei seu rosto também.
– Então. - Rick puxou assunto.
Bea brincava com a comida, Bárbara a repreendia de uma forma engraçada.
Abbi trocava olhares comigo, parecia querer me dizer algo.
– Alguma novidade para nós essa manhã?
Eu tinha acabado de colocar uma colher de ovos mexidos na boca, fiz um sinal com dois dedos para ele esperar. - Me lembrei de algumas coisas, mas isso dá dor de cabeça.
– Literalmente. - Pedro completou.
Rimos.

Eu carregava uma almofada futon colorida, uma das cartas e uma vasilha com alcaçuz.
Escalei a escada.
Meus pés travaram quando eu coloquei as mãos no corrimão de contenção.
Depois de respirar fundo eu me arrastei caminhando até a porta.
Não consegui entrar na casa, um cadeado bloqueava minha passagem.
Me sentei do lado de fora, na varanda.
Frustrada, pois queria saber como era lá dentro.
Aconcheguei-me na almofada.
Abri a carta de envelope azul, duas folhas secas grampeadas no topo direito da folha cheia de desenhos florais.

"Eu sou uma egoísta,
Depois de apenas três meses, nós tivemos a nossa primeira briga e foi bem feia. Na hora foi difícil pra mim tentar escutar os seus motivos, o porquê de não me deixar sair.
Agora entendo, você estava com medo. Estava tentando me proteger.
Errei quando preferi ir à outros lugares, com outras pessoas.
Me agarrei à outras coisas, quando deveria ter me agarrado ao meu sonho. Deveria ter me agarrado a você.
Por favor, não pense que não amo você. Eu amo. Amo muito, irei repetir quando tempo for preciso.
Me perdoe pelo que te fiz passar, juro que tentarei te recompensar por ser tão atencioso quando tenho sido uma babaca.
Juro que vou tentar, porque você está do meu lado. Todos os dias, se forem dias bons ou dias ruins. Se forem dias de avançar um passo ou cair a montanha inteira.
Obrigada por estar ao meu lado.
Por me deixar passar por todas essas mudanças, essa metamorfose, como você costuma dizer, 'seja uma borboleta'. Não sei de onde você tira essas coisas bobas, mas elas me dão forças todos os dias.
Eu amo você, Pedro.

Ps: As folhas formam uma borboleta.

Ps 2: Não consigo parar de pensar em você."

Ouvi os passos na escada, dobrei a carta e enfiei em meu bolso.
Os cabelos de Abbi esvoaçavam enquanto ela subia. - Anna?
– Oi. - sorri.
Ela chegou até a varanda, engatinhou até mim. - Querendo ficar sozinha?
– Querendo lembrar de algumas coisas.
Ela concordou. - E lembrou de mais alguma coisa?
– Lembrei, sinto muito, não tinha me dado conta do quanto Tanner fez mau para você.
– Estou desintoxicada.
Balancei a cabeça.
Era meio que desconfortável, depois de tudo. Agora eu entendia como funcionava pra ela, para todos, como era meu estado de amnésia. Consistia basicamente em expectativa, sempre acreditando que eu poderia lembrar. Crendo que eu um dia lembraria.
– Eu trouxe cookies de chocolate.
Me virei rapidamente pra ela. - Você disse 'cookies de chocolate'?
Abbi abriu um sorriso. - Pode pegar.
– Parece errado.
Ela abaixou a cabeça ainda sorrindo. - Não se preocupe, não tem veneno.
Peguei um dos cookies, mordi um pedaço.
Ela fez o mesmo. - Gosto daqui.
– Eu também.
– Costumávamos vir aqui, sabia? - ela apontou acima de nossas cabeças. - Se você pudesse ver lá, em cima do telhado, escrevemos nossos nomes.
– Por que?
– Você disse que queria ser lembrada. - ela riu. - A ideia mais boba do mundo.
– De fato, ninguém me esqueceu.
– O que aconteceu foi o contrário, né? - fechei meu sorriso, Abbi mordeu os lábios. - Desculpe.
– Esqueça.
– Anna?
Olhei pra baixo, Abbi se deitava em meu colo. - O que?
– Você promete guardar um segredo?
– Eu prometo, mas provavelmente vou esquecer.
Ela riu. - Antes de você... Bom, você sabe.
– O que aconteceu?
– Você me entregou uma carta.
Quase saltei pra cima dela. - Como ela era?
– Envelope vermelho, você disse que eu deveria te entregar, mas me desculpe, eu li.
Fechei os olhos. - E o que ela dizia?
– Dizia que você estava com medo, que já não conseguia andar sozinha, estava com medo até mesmo que ficar só em casa.
– Por que?
– Alguém estava te ameaçando.
– Como estão fazendo agora?
– Sim.
Joguei a cabeça pra trás, a apoiei no tronco da árvore. - Por isso ainda ficou cuidando de mim?
– Sim.
– E agora?
– Se distancie de quem você acha que mandou machucar você.
– Não faço a mínima ideia de quem seja.
Abbi levou as mãos até a barriga. - Eu acho que sei.


Encostei minha cabeça nas costas dele.
Minhas pernas rodeavam o seu quadril, ele levantou uma das mãos, acompanhei seu movimento, as entrelaçamos.
Não falamos por um bom tempo, nossas bocas estavam entre abertas, mas nenhum som saia delas.
Tínhamos uma sintonia.
Ele se curvou sobre meu corpo, cedi ao movimento.
Desci rápido demais e acabei batendo minha cabeça no chão, ele gargalhou e eu sorri. Amava aquela gargalhada, amava o ver feliz.
Pedro foi parando de rir, ficou com um sorriso no rosto.
– Seus olhos. - sussurrou.
Me sentei, as minhas pernas de frente para as dele.
Apoiei nossas testas. - O que há com eles?
– São como janelas.
Os seus dedos ajeitaram parte da minha franja para trás da orelha, o que foi inútil, já que a mesma mecha voltou com a mesma rapidez que saiu do meu rosto.
– Janelas de um mundo onde eu só vejo com você.
– Como esse mundo é?
Pedro colocou as duas mãos em minhas costas. - Perfeito.
– Só eu e você?
– Tudo só pra gente.
Fechei os olhos, senti sua respiração pelo meu maxilar. Agarrei seus braços, os apertei quando ele roçou os lábios em meu pescoço.
– Minha. - uma onda quente de êxtase percorreu o meu corpo inteiro.
Imagens vieram como fumaça, senti toques em lugares onde Pedro não estava tocando agora.
Senti beijos descendo pela minha barriga.
Rolei a cabeça pro lado, eu estava deitada no chão da cabana agora.
Resvalei minhas mãos e agarrei os cabelos dele.
Pedro levantou a cabeça.
Olhei em seus olhos, eles queimavam como sempre.


Abri os olhos, minha respiração estava descompassada.
Segurei o edredom fortemente.
Meu quarto estava vazio.
A janela enorme da varanda estava aberta, a lua no seu ápice iluminava um terço do meu quarto.
Desloquei-me da cama até o closet.
Caminhei pelo o closet, abri as cortinas com força, as mesmas que cobriam minha linha do tempo. Minhas mãos foram à parede, procurei a foto da carta que eu tinha lido aquela manhã.
A foto confusa quase que zombava de mim.
Ainda com os braços estendidos e as palmas das mãos na parede, eu abaixei a cabeça, lágrimas rolaram de meus olhos, pelas bochechas e depois, finalmente, impactaram-se com o chão.
Onde estava toda a força que eu tinha a segundos atrás?
Peguei a foto sobreposta com as duas mãos, a analisei, um pedaço de papel transparente fino se soltava dela. Tirei a película, a foto de borboleta saiu de cima.
Na foto de baixo, Pedro estava com um das mãos em meus ombros e a outra me girava. Estávamos dançando no jardim.
No jardim, e lá havia a árvore com a casinha. Com não tinha percebido antes que aquilo estava na foto?


Enrolei-me no robe e saí do quarto.
Pedro estava com a porta trancada, então ripo que bater. Bati na porta, Pedro a abriu depois de alguns segundos.
– Anna, o que foi?
Ergui a cabeça, os meus braços me rodeavam em um abraço solitário.
Pedro estava com uma calça de moletom, não vestia camisa, estava descalço e usava os óculos. Lindo, posso dizer. Olhei pra dentro do quarto, ele estava pintando uma tela.
– O que você tem?
– Quanto tempo a casa da árvore está trancada?
Ele me deu espaço para entrar. - Seis meses, talvez.
Entrei, mas corri para o mais longe dele dentro do quarto.
– Aconteceu alguma coisa?
Me distanciei alguns passos quando ele se aproximou. - Eu...
Pedro ficou me olhando de cima, ele não deixava transparecer o sentimento que estava dentro dele agora.
– O que está havendo?
– Fique aí onde você está.
Ele arqueou uma das sobrancelhas quando se sentou na cama. - Você precisa ficar calma.
– Eu quero ficar, acredite.
Ele fez um movimento afirmativo. Me virei para a tela. - São meus lábios?
Me virei, ainda com um dos polegares por cima dos ombros.
Pedro tinha um dos braços cruzados na frente do peito, outro levava a mão até os lábios, ele mordia o polegar. - Sim.
Sorri, depois virei de costas outra vez.
Procurei algo para me fixar. O poste de luz do outro lado da rua foi meu objeto preferencial.
Passei as mãos pela cortina. - Seus olhos. - eu disse. - Eles são como janelas, janelas de um mundo onde eu só vejo com você.
– Como esse mundo é? - sua respiração estava passando em meu ouvido agora.
Me virei. - Perfeito.
Seus olhos olhavam fundo nos meus, procurava algo que nem eu mesma sabia onde eu tinha achado.
Me joguei nos seus braços, seus lábios agora estavam nos meus, ele se inclinou por cima de mim, seus braços me impediam de perder o equilíbrio.
Demos alguns passos pequenos, ele andou para trás e eu segui seu movimento.
Sempre seguindo seus movimentos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

¹ uma combinação de café da manhã com almoço.

Vamos lá, uma simples continha.
33 cartas - 18 cartas separadas (especiais) - 5 cartas lidas - 1 carta que a Abbi ja falou - 1 carta misteriosa. Isso dá: 8 cartas sem um significado aparente.

Serão cartas deixadas para vocês escreverem, o que acham?
Pode ser sobre qualquer coisa.
PS: Tô esperando as cartas de vocês por MP.

E então? Uma nova velha nova amizade? (sim, escrevi 'certo' mesmo).