A Garotinha: Sherry escrita por Walter


Capítulo 22
O deus


Notas iniciais do capítulo

"O deus de muitos religiosos não passam de deuses manipulados por seus demônios senhores." - Desconhecido



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Um zunido se apodera dos meus ouvidos e mente junto com uma confusão geral dos sentidos. A coisa que saiu de Aléxia/Sherry agora está tomando forma enquanto de algum modo levita no ar envolto por raios laranja. Não consigo mais ver a mulher, mas consigo ver todas as outras pessoas. A coisa toma agora uma forma estranha: tem uma cabeça semelhante a um bode com chifres, seios femininos e uma cintura delimitada por algo semelhante a uma coluna vertebral. A coisa tem pernas e braços, além de um par de asas que a mantém no ar. Olho para Alexander, que fica maravilhado ao olhar a criatura.

–Sim, sim! Agora todos nós podemos contemplar toda a glória do nosso deus!

A criatura se envolve de raios laranja e começa a espalhá-los pelo lugar. O local onde os raios tocam começa a pegar fogo. Vejo tudo sendo sucumbido para uma escuridão mais profunda, tudo começa a se alterar mais uma vez. O cheiro de sangue aumenta, meus sentidos estão completamente bagunçados. A escadaria desaparece, as paredes são substituídas por grades queimadas e deterioradas, o chão é modificado por um alambrado mostrando um fundo altamente escuro e vazio. A única luz que ilumina as coisas é o fogo que emana do lugar aonde chegam os raios do monstro.

–Alexander... Esse é o seu deus?

Ele olha feliz para mim.

–Sim William, esse é o nosso deus! Prostre-se diante dele e ele terá misericór...

Alexander olha para trás no exato momento em que a coisa dispara raios laranja sobre ele. Os raios o atingem e ele grita e começa a rir de um modo assustador caindo no chão queimando em chamas. No mesmo momento, os raios começam a atingir todos que estavam presentes, e o lugar fica mais estranho, queimando em fogo com corpos, gritos de dor. Meu coração dispara e sinto que vou morrer, mas de algum modo... Olho ao redor e procuro por alguma coisa. Vejo uma shotgun caída ao lado de um dos participantes do ritual, provavelmente aquele que estava com armas. Meu coração continua acelerado, meus sentidos se confundem e penso que provavelmente irei morrer... Mas não deixarei isso acontecer sem lutar.

Tento correr em direção as armas, o zunido continua em minha mente e meus olhos lacrimejam. Sinto dores em cada centímetro do meu corpo e meus sentimentos continuam altamente confusos. Eu não sei o que fazer. Vejo raios sendo disparados em todas as direções e queimando pessoas que deram suas vidas para que tudo isso acontecesse. Começo a sentir ódio. Isso não poderia ser um deus, mas qualquer outra coisa contra. Alexander disse que eu devia parar o demônio, mas só queria a minha ajuda para que esse viesse ao mundo e destruísse tudo que já estava horrível nessa cidade. Consigo chegar à arma e olho para a coisa que ainda dispara raios aleatoriamente causando um incêndio no lugar. Miro a shotgun na criatura que voa bem próximo a mim e consigo acertar o primeiro tiro.

A coisa dá um grito, aumentando ainda mais os sons que parecem ecoar dentro de minha mente confusa. Meus olhos reviram incontrolavelmente, essa coisa parece ter um poder sobre a minha mente e é então que tudo faz sentido. Essa coisa tinha alguma ligação com Sherry ou Aléxia de alguma forma. Ele estava vivo de alguma maneira e imprimindo as coisas da minha mente na cidade... Ele queria me impedir de parar seu nascimento de alguma maneira. Varla tinha sio apenas um manifestar da minha mente, todas as outras coisas que me atemorizavam, tudo o que essa cidade apresentou parecia ser influência desse deus se sobre o lugar.

Sinto uma forte dor de cabeça que quase me faz cair no chão. Não sei como, mas aquele líquido verde tem que ter enfraquecido de alguma forma, de modo que eu consiga destruir essa coisa. Eu confiei em Aléxia, espero que ela não tenha me decepcionado. Por outro lado, Alexander também pareceu furioso quando viu o líquido sendo derramado sobre ela, o que de fato possa ter causado algum problema com a coisa. O monstro olha pra mim e quase vomito se não fosse pela rajada de raios que ele disparou em minha direção o qual escapo por pouco. Começo a correr em círculos tentando me desviar e quando o deus para mais uma vez no ar, acerto o segundo tiro o fazendo gritar e piorando a situação da minha mente.

Começo a ter pequenos flashbacks, vendo Vallery, Sherry e algumas raras situações da minha vida. Volto à realidade a tempo de pular pra esquerda quando o monstro atira uma segunda rajada de raios que acerta um dos homens restantes que estava no ritual. Volto a correr em círculos, como se tivesse a plena certeza de que o monstro não me acertaria. Vejo o parar mais uma vez no ar e em meio a gritos das pessoas que ainda estavam vivas, acerto o terceiro tiro. O zunido em minha mente é insuportável e vejo Aléxia queimando no hall da mansão e todos pronunciando palavras estranhas. A cena é horrível, vejo Aléxia gritando de dor, gritos que cortam minha alma, o que me faz abaixar e me livrar de mais uma rajada de raios. O monstro me persegue pelo ar e corro em meio ao fogo ainda com o movimento em círculos. Tenho mais três tiros para liquidar com essa coisa. Me livro de mais uma das rajadas e caio no chão junto com minha mochila que se rasga. Provavelmente foi atingida. Vejo as rochas que encontrei caírem no chão e pego uma delas. De repente, sei o que fazer. Pego qualquer uma e jogo no monstro, o que provoca um forte clarão e arrebata meus sentidos.

Abro os olhos, vejo Aléxia com seu corpo queimado em cima do que parece ser uma cama de hospital. Olho para um homem caído no chão e o TriCell flutuando e emitindo uma forte luz azul. De repente, o objeto dispara a luz em Aléxia e ali surgi um pequeno bebê, quase que recém-nascido. O bebê some do nada e ouço o barulho comum da sirene, que inacreditavelmente não me afeta. Tudo começa a ficar escuro, vejo o Outro Lado se apoderar do local enquanto várias pessoas vestidas com um capuz preto correm aleatoriamente sem saber o que fazer enquanto monstros como os cachorros que havia visto antes começam a aparecer e atacar as pessoas. Alexander surge e usa um pingente para afugentá-los. Em seguida, pega o corpo queimado e começa a caminhar...

Abro os olhos mais uma vez e vejo o deus parado acima de mim. Ele parece atordoado. Miro e acerto o quarto tiro, sentido uma pontada ainda mais forte na minha cabeça que me faz cair no chão. O deus olha pra mim e consigo rever Varla ao invés dele. A menina alta de cabelos negros e cacheados está diante de mim com uma faca suja de sangue, voando de alguma forma sobre o ar. Sinto ódio, ódio mortal.

–Eu já matei você uma vez... Nada me impede de matar você novamente.

Abro um sorriso e miro mais uma vez a arma para o monstro, acertando o quinto tiro. O monstro toma sua forma original e começa a atirar rajadas de raios laranja. Começo a correr com todas as minhas forças em círculos, tentando me livrar de todo e qualquer contato com os raios ali atirados. Ouço o último membro da religião gritar de dor e o vejo queimar ao ser atingido por raios que o monstro disparou. Meu coração dispara e percebo que agora só restamos eu e ele aqui. Não há mais ninguém para distrair, ele vai me matar e eu tenho apenas um tiro. As rajadas continuam e eu continuo correndo pelo lugar.

O deus olha pra mim, o que aumenta o zunido no meu cérebro. A dor é lancinante e sei que não tenho muito tempo antes que um desses raios me acerte e eu comece a queimar como os outros. Começo a correr em círculos imediatamente na hora em que ele me persegue lançando raios laranja em todas as direções. O monstro parece decidido a me matar. Começo a lembrar de Sherry, começo a lembrar de tudo o que passei até aqui... Começo a sentir raiva, lembrando que vim passar alguns dias na tentativa de descansar e escrever um livro e passo por tudo isso. Sinto minha raiva subir a cabeça, lembro de Varla, lembro do rinoceronte, lembro da arrogância de Alexander. Tudo começa a centrar em apenas um lugar: a cabeça do deus!

Viro-me repentinamente para ele em meio aos raios incendiários e atiro. Vejo sangue jorrar de sua cabeça e a coisa cair no chão com uma espécie de grito feminino. Olho para a coisa e já não vejo mais a criatura: vejo uma mulher vestida com um vestido branco completamente manchado de sangue no chão piscar com uma luz muito fraca. Ela segura uma criança e olha para mim ao mesmo passo em que começa a cair fogo do céu, pequenas labaredas que iniciam um incêndio estranho em grades que não tem mais o que ser queimado. Aléxia olha pra mim e não consigo resistir, mas vou até ela e pego a criança em minhas mãos, segurando-a como segurei Sherry ao encontra-la na estrada... O dia em que a adotei há dez anos.

Aléxia aponta para trás e vejo uma luz branca. De repente, tudo começa a tremer e sei que é para essa luz que devo correr de algum modo. Seguro a criança, uma menina, firmemente em meus braços e saio correndo, dando uma ultima olhada para Aléxia, cujo corpo está caído e morto no chão. Respiro fundo. Agora tudo faz sentido. Continuo correndo até chegar na luz branca, então ouço a sirene e meus sentidos se confundem, mas vejo imediatamente o hall da mansão se formando ao meu redor e tudo voltando a mesma forma que estava quando cheguei na cidade.

Abro a porta da mansão e vejo as árvores, algumas mais longe, encobertas pela névoa e as familiares cinzas que caem do céu constantemente. Sei que deixei a mochila no Outro Lado, mas nada importa agora. Vim buscar Sherry, e de alguma forma sei que a estou levando em meus braços. Não sei o quê, ou quem é essa criança, o que Sherry foi ou é desde o início... Mas não assumirei o mesmo erro que cometi com Varla.

–Vallery, Varla... Por favor, perdoem-me!

Respiro fundo e começo a caminhar pela floresta trilhando o mesmo caminho até a usina nuclear. Sei que os monstros não vão mais nos atacar, sei que de alguma forma, nesse lugar reina a paz por enquanto. Até quando, isso eu não sei. Respiro fundo ao saber que acabou, que poderei viver uma vida feliz e dar isso a Sherry, longe de todo esse bando de malucos... Pelo menos posso ter certeza de uma coisa: nunca mais porei meus pés aqui! Adeus, Raccoon City.


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