A Garotinha: Sherry escrita por Walter


Capítulo 21
Intervenção


Notas iniciais do capítulo

"Nem no ar, nem nas profundezas do oceano, nem nas cavernas das montanhas, em nenhum lugar do mundo nos podemos abrigar do resultado do mal praticado." - Textos Budistas



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Ele parece perplexo ao me ouvir.

–William, William... Achei que você fosse mais esperto.

Sinto a raiva subir a minha cabeça. Meu corpo dói por completo e minha mente está completamente perturbada com os últimos acontecimentos. Relembrar de Vallery, de como a matei e minha própria filha... Isso me deixou muito abalado. O que me faz pensar em partir pra cima de Alexander e mata-lo de uma vez. Começo a ouvir gritos lá em cima, parece ser de uma mulher.

–Onde está Sherry? É a ultima vez que pergunto!

Aponto minha arma em direção a Alexander. Não importa se ele vai ou não me ajudar com Sherry, eu vou mata-lo se ele não responder.

–Bem... Eu prometi, não prometi? Aqui está ela! –Ele aponta para o corpo queimado.

Olho mais atentamente. Parece ser uma garota, seu corpo está queimado e cheio de ferimentos. Há faixas envolvendo aquilo e, embora não tenha a mínima condição de estar viva, a garota queimada parece respirar profundamente como se estivesse adormecida. As velas ao redor iluminam e sinto certa familiaridade ao olhar para o corpo. Volto meu olhar para Aléxia, ajoelhada ao lado da cadeira de rodas, chorando. Como já havia percebido antes, ela tem uma grande semelhança com Sherry. Volto a olhar para Alexander.

–Senhor, eu não estou para brincadeiras.

–Puff... E acha que eu estou brincando, William?

De repente, ouço um barulho de alguém descendo as escadas correndo. Alexander olha imediatamente para trás ao passo em que uma policial aparece correndo e gritando com algumas pessoas vestidas com mantos pretos atrás dela. É Jill.

–William, William... Sherry!

–O quê?

–Calem a boca dela agora!

Olho em direção a ela, que foi segurada e está tendo a boca amordaçada. Tento correr até ela, mas sou jogado para trás pela mesma barreira invisível que bateu em mim a pouco na frente da mansão. Levanto um pouco atordoado. Alexander caminha até o centro da mansão, um círculo de pessoas vestidas de preto se forma em volta de nós.

–Ah, ela seria uma ótima sacerdotisa se cedesse aos meus pedidos... O que é uma pena. –Ele puxa um manto vermelho da mão de alguém, colocando sobre seu terno preto. –Está na hora do nosso deus vir à Terra e estabelecer o seu paraíso aqui, mudando o rumo de nossas vidas e restabelecendo a Ordem neste lugar.

Minha cabeça começa a girar, sinto náuseas e dor na cabeça. Aléxia parece olhar pra mim como se pedisse algo, como se soubesse o que tenho a fazer.

–Como é do conhecimento de todos –William continua –Hamilton nos ajudou bastante mantendo o corpo de Aléxia vivo e impedindo que as feridas se curassem, para que houvesse mais dor e sofrimento, mantendo assim a metade do deus viva e nutrida. A outra parte de Aléxia agora está aqui, e está na hora de juntar as duas em uma só, para que ela possa dar origem ao deus!

Fico olhando tudo atentamente. Aquela barreira ainda está presente, então não consigo me aproximar de Alexander e tão pouco de Aléxia ou do corpo.

–Bem, vamos mais uma vez explicar o que aconteceu, para que todos fiquem cientes de como o nosso deus quebrou com o Caos do mundo e reestabeleceu a Ordem. Aléxia foi a escolhida para ser a mãe de deus, mas ela relutou. No dia do grande Ritual, ela interviu e conseguiu impedir que o ritual acontecesse. Ela conseguiu poder suficiente através do poder do TriCell, o objeto deixado pelos deuses e pelo próprio deus que já era gerado dentro de si. Aléxia com esse poder conseguiu trazer o Outro Lado e nos amedrontar com ele, fazendo com que nós pagássemos por tentar trazer o paraíso. Por fim, ela dividiu sua alma em duas, a fim de que nunca fosse capaz de gerar completamente o deus, pois dividindo sua alma, também dividiu a aura do deus e incapacitando-o de nascer. Mas agora, finalmente atraímos este homem –ele aponta para mim –o responsável por cuidar da outra parte de Aléxia, que já está com o seu corpo original. Esta que se encontra ajoelhada é a criatura que foi responsável por todos os terríveis acontecimentos em Raccoon City. Mas agora, colocaremos a sua alma por completo dentro de seu corpo e o deus será gerado trazendo paz para todos nós.

Todos aplaudem. Vejo Jill sendo arrastada até Alexander, que agora pega uma katana e segura em suas mãos. Sinto nojo e medo ao ver aquilo, pois já imagino o que seja. As pessoas que a levam estão com armas e penso em pegar uma delas quando tiver oportunidade.

–Vamos purificar esse lugar de uma vez! Essa mulher é responsável por descobrir e tentar acabar com a nossa religião e por tal ato de rebeldia, o derramar do seu sangue purificará esse lugar que ficará então pronto para receber o deus.

–Não! –Grito, mas não sou ouvido.

Alexander pega a katana nas mãos e olha fundo nos olhos de Jill.

–Tirem a mordaça!

Jill olha para ele, agora em silêncio.

–O que tens a dizer? Queres ainda ser usada como sacrifício? Ou aceitas o meu convite a arrepende-te dos teus pecados, sendo redimida pelo nosso deus misericordioso?

Jill respira fundo.

–Se existe um deus, e sei que Ele existe, é mais misericordioso do que esse demônio que se alimenta de dor, sofrimento e morte a quem vocês servem!

–Já basta!

Alexander ergue a katana e desfere um golpe no pescoço de Jill. A cabeça dela cai no chão e sangue jorra do seu pescoço. Eu tento correr até ela, mas a barreira me impede mais uma vez. Fico assistindo a cena horrível sem poder fazer nada. Sinto lágrimas caírem dos meus olhos e não consigo imaginar o porquê de tanta maldade. Olho para Aléxia, que continua a manter seus olhos fixos em mim como se quisesse dizer alguma coisa. Ouço aplausos quando o corpo de Jill tomba no chão, ainda jorrando sangue.

–Ó deus, aceite o nosso sacrifício como perdão dos nossos pecados e redenção do nosso chão para recebê-lo aqui. Que a alma dessa pobre coitada suba até você e que tenhas misericórdia dela.

–William? –Ouço uma voz feminina fraca em meus ouvidos. Era Aléxia. – ...tá me ouvin... lance a ...beça.

Balanço. Vejo Alexander pegar um colar com uma pedra brilhante e caminhar até Aléxia que está ajoelhada ao lado da cadeira de rodas.

–Quan... ficar brilhan... ogue o líquido ver... em mim.

Olhei para ela tentando mostrar que entendi. Tinha um líquido verde na usina, eu guardei na mochila e ainda o tenho aqui. Aléxia continua olhando em direção a mim e firmemente nos meus olhos. De fato, ela deve ter alguma solução com isso tudo. Ainda me sinto triste por tudo o que aconteceu, se aquele corpo está com a minha filha, minha querida Sherry, eu não vou deixar que ela sofra pra gerar esse demônio.

Alexander chega até ela e coloca o colar na garota. Ele começa a emitir certo brilho e logo ilumina todo o hall da mansão com uma luz muito forte que ofusca meus olhos. Não consigo ver nada por alguns minutos e pouco a pouco a começo a acostumar meus olhos. A luz diminui, mas não cessa. Olho ao redor e vejo todos ajoelhados no chão à exceção de duas pessoas: Alexander e uma mulher de uns 20 anos vestida de branco e resplandecendo a uma forte luz branca que iluminava o lugar. Seu rosto era fascinante, com uma beleza inimaginável. Loira, muito parecida com Sherry. Sua pele parecia porcelana com olhos azuis claramente visíveis. Seu corpo parecia envolto de raios azuis, e tinha um brilho pouco menos intenso que o sol. Meus olhos ardiam ao olhar para ela.

–Contemplem e se prostrem diante da mãe de deus!

Por alguns segundos, fiquei perplexo com a beleza da mulher que me fitava os olhos. Ela não demonstrava expressão de dor, na verdade, nenhuma expressão. Então me lembrei do que Aléxia havia me dito sobre o líquido verde. O momento era agora. Alexander olha atentamente para a mulher, esperando algo acontecer. Sinto a forte barreira, mas sei que se Aléxia sabe de alguma coisa, então é melhor seguir.

Ajoelho-me no chão e começo a vasculhar dentro da mochila. Todos olham atentamente para Aléxia, então não tenho a atenção de olhos voltados para mim. Encontro finalmente o frasco do líquido verde, levanto e uso toda a minha força restante para joga-lo em direção a mulher de branco. De alguma forma, o frasco atravessa a barreira e se choca com a cabeça dela, quebrando e derramando todo o líquido sobre o corpo. Todos olham pra mim nesse momento e a mulher cai no chão, gritando de dor. A luz que ela emite perde intensidade e Alexander olha furiosamente para mim com uma expressão de ódio.

–Seu idiota! Não deveria ter jogado isso nela!

A mulher continua no chão gritando. Ela não brilha mais, porém seu corpo parece sangrar e se modificar em alguma coisa, como se algo estivesse saindo de dentro dela, mas a medida que isso ocorre, o corpo da mulher vai desaparecendo.

Alexander olha para a cena e se volta para mim novamente com um sorriso sarcástico no rosto.

–Você tentou, mas não conseguiu impedir seu nascimento. Deem boas vindas ao deus de Raccoon City!


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Notas finais do capítulo

William encontra Alexander e parece ter também encontrado sua filha. Jill surge mais uma vez para purificar tudo. O palco é formado para receber os próximos acontecimentos, que parece ser o nascimento de um deus... Ou de um demônio. William descobre quem realmente é o quê e em meio a mais um ritual, cabe a ele lidar com os novos problemas apresentados.



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