A Garotinha: Sherry escrita por Walter


Capítulo 19
Mentira


Notas iniciais do capítulo

"A mentira é muita vezes tão involuntária como a respiração." -Machado de Assis



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/484679/chapter/19

–Tudo bem Alexander, pode me dizer onde vai ser o próximo local?

Estamos parados de frente à usina nuclear. Vejo Alexander olhar atentamente para o mapa, provavelmente tentando encontrar o próximo local. Começo a realmente acreditar mais ainda nas palavras dele, principalmente agora que ele está ao meu lado me acompanhando pra tentar matar o demônio.

–William, encontrei o local.

–Bom, agora podemos ir? Fico me sentindo um inútil parado aqui.

–Podemos, mas antes você precisa me prometer uma coisa. Quando chegarmos até o demônio, ele não pode me ver. Caso contrário, vai dar tudo errado. Ele sabe que sou uma força poderosa contra ele e com certeza vai fugir ou tentar nos matar. Eu vou me esconder quando estivermos próximos, mas você precisa ir até o final.

–Ok, eu prometo. Já estava sozinho antes mesmo.

–Pronto. Nosso destino é a floresta Arklay.

Pego o mapa das mãos dele. É a floresta que fica aos arredores da cidade. Tem como entrar nela por algumas trilhas que ficam ao lado da usina, não será tão difícil exceto pela parte que não temos um mapa da floresta. Nesse caso, creio que Alexander pode ajudar.

Caminhamos por uma rua estreita, chegando ao lado da usina nuclear. Vejo uma pequena estrada adentrando por uma vegetação um pouco rasteira que aos poucos vai se tornando arbustiva e logo arbórea até formar uma densa floresta. Alexander vai à frente e continuamos entrando. O caminho vai ficando mais difícil à medida que a vegetação se intensifica e a névoa parece ficar mais densa do que na cidade.

–Alexander... Afinal, o que aconteceu aqui?

–William, não nos é permitido falar sobre as coisas da Ordem para estrangeiros... Mas, já que você está nos ajudando, acho que posso falar.

Espero ele falar novamente. Não consigo imaginar coisa mais terrível que não possa ser dita, mas de qualquer modo...

–Bem... A algum tempo atrás, perdemos a proteção do nosso deus. A consequência disso foi que um demônio começou a nos aterrorizar das piores maneiras possíveis. A alternância entre esse e o Outro Lado é uma delas. Esse demônio visa instaurar isso para sempre, e posteriormente em todo o mundo. A cidade possui alguns lugares espirituais, onde acreditamos que os deuses desceram a Terra nesses pontos e tiveram contatos com os eleitos, isto é, meus antepassados. Se esses lugares apresentarem essas marcar, William, o Outro Lado se estabelecerá para sempre. Essa alternância não existirá mais e ficaremos todos presos até morrermos por causa desses monstros. Uma evidência da proximidade disso acontecer, meu caro, é a presença de monstros, da névoa e outros elementos nesse lado que estamos agora. Pode-se perceber que essas duas realidades estão profundamente entrelaçadas agora. Se essa última marca for feita, elas se tornarão uma.

–É tão sério assim?

–Sim, William...

Minha cabeça começa a doer novamente, tudo começa a girar. Sinto náuseas. Vejo as árvores começar a pegar fogo ao meu redor, as coisas começam a ficar escuras, estranhas... Sinto o cheiro de sangue, vejo pedras se tornarem pedaços de carne podre... Um alto barulho de sirene quase estoura meus ouvidos, e quando quase estou caindo de dor, sinto alguém me segurar. É Alexander.

–William, precisamos ser rápidos agora, pegue o TriCell!

Sinto o peso do objeto em minha mão, não posso falhar. Coloco no bolso e tento caminhar segurado por Alexander. Continuamos andando pela pequena trilha enquanto vejo árvores queimadas, outras queimando incessantemente como se o fogo não as consumisse. Isso traz um pouco de luminosidade. Alexander me dá dois pentes de beretta, talvez eu consiga usá-los. Coloco um na mochila e puxo minha arma do outro bolso, carregando-a. Apressamos o passo, Alexander ainda me segura um pouco devido à mudança de estado do mundo que me abalou. Estamos quase correndo agora, a trilha iluminada pelo queimar de algumas árvores adentra ainda mais na floresta o que me dá um pouco mais de medo. Vejo corvos gigantes sobrevoando algo, alguns deles tentam nos atacar mais Alexander os repelem com um pingente pendurado em seu pescoço.

–Rápido William!

Agora estamos correndo. Sinto-me melhor da tontura, mas nem há muito tempo pra pensar direito. Vejo cachorros aquelas coisas que parecem humanos, mas que são apenas bolas de carne ambulantes que soltam ácido. Alexander ainda tenta se livrar de alguns com o pingente. Eu entendo a expressão dele e começo a correr até o final da trilha o deixando para trás. Continuo correndo até que avisto uma enorme mansão à minha frente. É gigante. Aumento a velocidade pra tentar alcançar e quanto mais me aproximo, mas parece ter alguém na frente dela. É uma menina, a menina que eu vi em cima do reator na usina... O demônio. Mas aquilo não parece um demônio, pelo menos eu tenho uma visão diferente daquilo que o demônio é, ou que um demônio seja...

–Eeei... –grito correndo em direção a ela. –Quem é você?

Ela olha pra trás e a me ver estende a mão pra mim. Imediatamente sinto me chocar com algo bem sólido e resistente e caio no chão com uma forte dor no corpo. Olho e não vejo muro, árvore... Nada tão sólido a ponto de provocar isso. A menos que... ela tenha criado um campo de força!

A garota torna a virar de costas e continua a caminhar em direção à mansão. De repente, algo começa a vibrar no meu bolso. Não faço ideia do que seja, então coloco a mão e retiro o TriCell que vibra incessantemente. O objeto começa flutuar no ar e se mover. Ele brilha com uma forte luz azul e as três partes do objeto se separam, girando uma sobre a outra com um alto zunido. A garota olha pra trás, observando o objeto com uma expressão de terror como se soubesse o que estava para acontecer. O objeto intensifica uma luz azul que quase ofusca meus olhos, mas me permitem ver o que acontece. Rapidamente, ele dispara uma rajada de luz azul na menina, que cai de joelhos no chão gritando de dor. O objeto desaparece depois disso.

Tento correr até a garota, mas me sinto impedido. O choque com o campo de força me deixou esgotado. Começo a ouvir passos atrás de mim e uma voz. É Alexander.

–Ah, Alexia... Podemos parar com a brincadeira agora?

A menina apenas olha na direção dele com a mesma expressão de terror.

–Pai... Eu não quero mais o ritual. Eu não quero mais passar por tudo isso pra trazer essa coisa a Terra. Se for preciso tanto sofrimento pra isso, então isso não pode ser um deus.

–Ah, Aléxia... Você não sabe absolutamente de nada. É preciso sofrer para ver a luz novamente. É necessário tudo isso para que o paraíso se instaure de novo. Para trazer paz a este mundo, é necessário passar por tudo isso que estamos passando agora. Mas sofrimento você está trazendo para nós rejeitando isso! O deus escolheu você, e é em você que ele está sendo gerado. Agora basta que o ritual seja completo de uma vez por todas, para que finalmente essa cidade e o mundo conheçam o paraíso. O Caos precisa ser destruído e a Ordem reestabelecida. Deixe de rebeldia, garota. Você é minha filha e será a mãe de deus!

–Alexander! Ela não era o demônio? Você... você me enganou? Me fez atingir sua filha?

Alexander olha em minha direção, como se desprezasse cada palavra que eu disse.

–William, você não sabe de nada!

Os dois começam a brilhar. Reúno todas as minhas forças e tento correr até eles. Consigo tocar na garota, mas imediatamente sinto um forte frio na barriga, tontura, dor... Meus sentidos se bagunçam e eu desmaio.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

William e Alexander se enveredam por dentro de uma floresta, que até certo ponto parece existir de verdade. Quando tudo parece ser real se transforma no que é irreal, uma garota aparece, o que provoca no irreal a existência do que é real.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Garotinha: Sherry" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.