A Garotinha: Sherry escrita por Walter


Capítulo 18
Alexander Ashford Parte 2


Notas iniciais do capítulo

"Chorar sobre as desgraças passadas é a maneira mais segura de atrair outras." - William Shakespeare



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Abro a porta principal da usina nuclear. Não posso acreditar que aquele idiota esqueceu o TriCell dentro do hospital... Quanta imbecilidade e irresponsabilidade. Mas enfim, espero que ainda não tenha encontrado ela. Se ele tiver encontrado, o que é bem provável já que estamos no Outro Lado, não poderá fazer nada, e pior... Nem quero pensar. Se ele descobrisse toda a verdade, me odiaria e provavelmente me mataria. Ele não sabe muita coisa, mas preciso que as coisas andem mais rápido, uma vez que, William deve desconfiar de algo. Uma hora ou outra, ele vai acabar descobrindo e se isso acontecer antes de... Vai ser uma tragédia.

Olho para o corredor sombrio, com a ajuda da luz da lanterna que carrego. Meu pingente no pescoço pisca, indicando a presença das criaturas aqui. Sinto um leve temor, mas sei que não devo me preocupar muito. Estamos nos passos finais, aliás, eu estou. São os momentos finais e decisivos, onde terei que me desdobrar em dois para ajudar o deus a nascer. Sei que coisas horríveis foram necessárias, mas definitivamente eu não me importo. Deixei de ter sentimentos a muito tempo atrás, com a morte dela, minha esposa.

Meu nome é Alexander Ashford, e lembrar disso me ajuda a não enlouquecer. Sou descendente da família Ashford, neto direto de Verônica Ashford, a última mulher a ser usada naquele horrível ritual. Meu pai era visto como o fracasso, como o idiota que acabou com todo o bem que havia em Raccoon City... O filho da desonra. Consequentemente, eu também e toda a minha família. De fato, eu sofri muito quando criança. Sempre fui rejeitado por tudo e todos... Mas como um legítimo Ashford, eu tinha a responsabilidade de cuidar da Ordem e ser o responsável para tentar mantê-la o máximo que conseguisse.

Quando meu pai foi gerado por uma atitude de rebelião e revolta da minha avó, Verônica. Eu não deveria existir. Por causa disso, o deus se afastou de nós e perdemos a proteção que tínhamos contra o Caos. Aprendi que todo o mau que havia aqui tinha sido por causa da minha família, do meu pai, da minha avó. Quando ele morreu, toda a responsabilidade sobre isso passou para mim. No decorrer do tempo, aprendi tudo sobre a Ordem, sobre as coisas que tinha que fazer. Tornei-me o principal sacerdote do deus. Quando fiquei mais velho, eu me casei e tive um casal de gêmeos, Alfred Ashford e Aléxia Ashford. Os dois eram lindos, muito lindos.

Com o tempo, eles foram crescendo. Eu descobri o motivo de tudo isso ter acontecido. Sim, sim... Como costumo dizer, há males que vem para o bem e foi exatamente o que aconteceu. Ele (o deus) sabia que tudo isso precisava acontecer, pois ele me elegeu junto com a minha família para trazer de volta a honra, a glória que já foi essa cidade. Com o nascimento de Aléxia e Alfred as coisas voltariam ao lugar, e melhor ainda. O ritual para trazê-lo à Terra precisava de um casal de gêmeos, exatamente o que aconteceu comigo. O deus foi bom comigo e com a minha família e me deu esse presente. Com a chegada dele, o paraíso se estabeleceria na Terra e todos poderiam viver tranquilos novamente. Além do mais, Aléxia era especial. Uma garota que tinha uma limitada capacidade de fazer uso de sua mente para a realização de alguns feitos... Isso só mostrava o quanto ela era a escolhida para trazer o deus até nós. A única vez que ele veio à Terra, foi para estabelecer o Outro Lado: uma dimensão controlada por pessoas especiais, eleitas. Elas podiam ter a capacidade de abir, de fechar, de estender ou de caminhar por regiões dentro dele. Eu tenho a capacidade de me deslocar com facilidade dentro. Foi assim que consegui encontrar o TriCell quando era criança.

Bem, depois do ritual fracassado com Verônica, o Outro Lado ficou fora de controle. O que era pra ser uma coisa boa, agora estava aterrorizando a cidade e todos os habitantes dela. Muitos morreram ou se perderam dentro dele. Criou-se certa conexão entre os dois mundos, elementos de um era trocados com o outro e as duas realidades ficaram completamente entrelaçadas. Eu não fui tão afetado porque sabia me deslocar por dentro dele. Mas vi coisas horríveis, presenciei coisas inefáveis a seres humanos comuns, que não são eleitos. Eu descobri então os erros que minha avó tinha cometido... Não quero fazer o mesmo agora que o deus me escolheu para salvar esse mundo. Então, ensinei meus filhos sobre a Ordem, os ensinei a dedicarem a vida deles à causa. Eu fiz o que fosse preciso, inclusive oferecer minha esposa como um sacrifício ao deus, para que ele perdoasse a rebeldia de minha família e ainda concedesse a honra de ser a família que o traria até a Terra, tendo minha filha como a mãe salvadora. Ele aceitou, mas ela se recusou. Se arrependeu no instante final, mas eu não poderia deixar isso acontecer... E não vou!

Entro no corredor seguinte e vejo a placa indicando perigo maior próximo dos reatores. Mas eu sei onde ela vai estabelecer a marca, exatamente em cima do reator 1. Aqui na usina, muitas pessoas sofreram por conta de rituais realizados. Havia um pequeno grupo de pessoas, que faziam rituais ao deus. Eram pessoas eleitas, mas não faziam parte do grupo principal. Alguns desses rituais consistiam em obter o favor dos deuses para alguma coisa, inclusive até para a ressurreição dos mortos. Alguns conseguiram. Aqui é mais um dos locais espirituais da cidade, afinal, é próximo do rio Circular. Abro a ultima porta, vejo os reatores. Um deles há uma forte luz azul brilhando em cima, ela está lá estabelecendo a marca. Mas não pode me ver com o TriCell, nem me ver aqui. Preciso encontrar William e dar pra ele.

Olho novamente para o reator. Vejo a luz azul se apagando. Ela conseguiu, resta apenas um lugar agora. Preciso encontrar William, pelo menos sei que ele está aqui, pois a porta estava aberta. Ela não pode estabelecer a ultima marca. Se ela o fizer, estamos ferrados. Vejo o Outro Lado ir embora, a luz, névoa, cinzas... Tudo começa a voltar como se nada tivesse acontecido. A claridade volta, o cheiro de sangue some e é trocado por o forte cheiro químico do “dia” de Raccoon City. Decido esperar. Se William subiu até lá, preciso saber o que ele descobriu. Uma hora ele vai descer... Volto meu olhar para o Rio Circular.

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Um deles olha pra mim com um focinho demoníaco, desfigurado. Empunho a arma pra ele e consigo atirar no momento em que ele pula em minha direção. O cachorro cai aos meus pés, acho que estou pegando a prática disso. Ainda restam dois. O cachorro aos meus pés rosna e eu piso na cabeça dele. O rádio chia loucamente. O segundo e o terceiro cachorro começam a correr em uma direção, erro o primeiro tiro. Minha mão treme. Um deles pula no meu braço e morde, sinto uma dor lancinante no meu braço. Bato nele com a arma e ele solta. Decido correr, mas eles não vão desistir. Tenho seis tiros. Corro até a escada e eles correm atrás de mim. Meu braço dói muito. Tento subir as escadas até em cima do reator, que ainda brilha. Os cachorros continuam em minha direção. Viro pra eles e consigo acertar dois tiros em um, que cai rosnando e se contorcendo. Ainda resta um, quatros tiros. Empunho minha arma e ele avança em minha direção com um pulo. Acerto dois em sua cabeça, ouvindo um gemido e silêncio em seguida. Volto onde o segundo cachorro está se contorcendo e piso nele com toda a força que ainda me resta. Ele geme e morre. Começo a subir as escadas mais rapidamente, tentando chegar o mais rápido possível em cima do reator.

A luminosidade vai aumentando e começa a ofuscar meus olhos. As escadas chegam ao fim e finalmente chego. Há uma grande marca no chão, a mesma que vi no hospital e na escola. Mas esta brilha em azul, um azul vivo. Olho em volta, vejo pouca coisa daqui de cima até que algo me chama atenção. A minha frente, vejo uma garota de mais ou menos uns dezoito anos. Ela tem cabelos loiros e olha pra mim com uma expressão indiferente. Está vestida de roxo e me lembra da garota que passou na minha frente, causando o acidente que deu início a tudo. Só penso em uma pessoa...

–Varla...?

A garota olha pra mim e faz um gesto de desaprovação. Ela balança a cabeça negando ser Varla. Eu não consigo entender quem é... Na verdade, ela se parece um pouco com Sherry, uma Sherry mais velha. Tento pensar se não é coisa do meu cérebro... Ela vira de costas.

–Não, espere...!

Tento gritar na esperança de obter alguma resposta, mas a garota simplesmente desaparece diante dos meus olhos. Sinto certa confusão na minha mente... Seria aquilo o demônio? Porque assumiria a forma de uma garota? E porque uma garota tão parecida com Sherry? Minha cabeça começa a dar voltas, sinto tudo rodar. Meu corpo dói novamente e caio no chão. Desmaio.

...

Abro os olhos, tudo parece “normal” de novo. Vejo névoa, cinzas e minha mochila caída a um canto do reator. Levanto ainda um pouco tonto. Não vejo mais a marca e tão pouco a luz azul. Corro até a mochila e coloco nas costas. Em seguida, desço as escadas e não vejo mais os corpos dos cachorros que matei. Abro o portão que tinha passado e vejo um homem loiro de terno, cabelo bem penteado e barba. Alexander Ashford.

–William, como pode esquecer o TriCell?!

Olho pra ele, sentindo a raiva subir a cabeça.

–Seu... Seu... Você não sabe absolutamente nada que passei até aqui! Como pode me exigir que consiga lembrar tudo? Se tem que acabar com esse demônio, faça você mesmo. Não vou querer mais essa droga de objeto. Vou procurar minha filha que ganho mais, com ou sem sua ajuda.

Ele olha pra mim com desdém, avaliando minhas emoções.

–Ah, claro. Quando encontra-la me avise. Acredite no que eu estou dizendo William, apenas eu posso encontra-la. Sem minha ajuda, você é um inútil, pois nem consegue realizar uma tarefa fácil como encontrar a droga de um demônio e acabar com ele. Acha que vai encontra sua filha numa cidade que já é grande e que é regida por duas realidades diferentes? Faça-me o favor. Se quiser encontra-la, pare o demônio. Se não, procure-a sozinha e veja o seu fim junto com o dela e o de todos nós. E mais uma coisa, eu não sou do tipo de pessoa que gosta de pedir coisas para os outros, mas se pedi pra você para o demônio, é porque eu não tenho capacidade de pará-lo. Ou isso não passa por esse seu cérebro de idiota?

Minha raiva aumenta ainda mais, porém ele parece estar certo mais uma vez. Pelo menos ele estava certo em relação a esse lugar ser o próximo a receber a marca. De fato, ele tem maior conhecimento sobre essas coisas do que eu, mas existe algo que me faz desconfiar do que ele diz. Preciso encontrar Sherry, mas ele está certo novamente. Essa cidade é grande e com esse alterar constante de realidades, será complicado encontrar Sherry e sair daqui. Preciso minimizar as emoções e ser mais focado no que quero. Encontrar Sherry. Alexander vai me ajudar se eu parar o demônio, e se fizer isso, talvez esteja promovendo a segurança de Sherry onde quer que ela esteja. Se parar o demônio fará todas essas criaturas e realidade desaparecerem, então enquanto eu não fizer, Sherry corre o risco de ser morta caso eu demore a encontra-la. O melhor a se fazer é ouvir Alexander, mesmo que ele esteja faltando com a verdade.

Olho pra ele me analisando, parece um psicopata. Sinto medo em fazer mais uma vez o que ele pede, mas que alternativa eu tenho?

–Alexander...

–O quê? –Responde sem expressão.

–Eu vou parar o demônio. Mas preciso da sua ajuda. Venha junto!

Ele pondera por alguns segundos, coloca a mão no queixo e avalia a situação.

–Tudo bem, eu irei com você.


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Notas finais do capítulo

Alexander encontra o TriCell e o leva até o William lembrando de coisas passadas sobre si e sua família enquanto o outro tem um encontro face a face com o que poderia ser o demônio. Duas pessoas com o mesmo propósito, mas com objetivos diferentes. Salvar a garota, salvar o mundo. Talvez uma parceria que possa dar certo...



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