A Garotinha: Sherry escrita por Walter


Capítulo 17
Raccoon Nuclear


Notas iniciais do capítulo

"Como a luz numa masmorra faz visível todo o seu horror, assim a sabedoria manifesta ao homem todos os defeitos e imperfeições da sua natureza." - Marquês de Maricá



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Encaixo a chave na fechadura e giro. Ouço dois “clicks” e giro a maçaneta. Tenho certa dificuldade em empurrar a porta meio enferrujada, mas consigo. Olho para a grande sala de recepção e imediatamente meu nariz é inundado pelo forte cheiro químico que senti quando “acordei” aqui na cidade. Minha cabeça começa a girar enquanto tento me recompor. A recepção está completamente abandonada, vejo bancos e cadeiras de espera, uma bancada com dois computadores em cima e uma porta dupla de metal à esquerda, semelhante à porta de entrada. Respiro fundo e sento em um dos bancos. Não consigo acreditar que vim parar aqui. Eu sinto medo, não sei o que pode acontecer. Pelo que sei de usinas nucleares, elas são bem perigosas. Se essa está abandonada, pode estar vazando radiação... Levanto. Prefiro não pensar nisso. Se realmente houver um vazamento, então estou ferrado. Além do quê, Alexander me mandou aqui para morrer... Estou pensando seriamente se o demônio da história não é de fato ele. Prefiro esquecer isso e continuar focado no que preciso fazer: encontrar o demônio e acabar com ele de uma vez por todas com ele, além de aprender a usar o... O TRICELL!!

Coloco as mãos na cabeça e penso novamente. Deixei o TriCell no chão enquanto corria de Varla... Agora como vou parar essa coisa sem o TriCell? Como pude esquecer a droga do TriCell? Ah, quanta idiotice da minha parte! Mas agora com ou sem ele eu vou encontrar a porcaria desse demônio e mata-lo de uma vez. Já passei por muita coisa, não vou desistir agora. Voltar e procurar o TriCell vai ser perda de tempo, tenho que fazer isso antes dele estabelecer mais uma marca. Se não conseguir fazer, já era. Alexander falou que só terei mais uma oportunidade além dessa, então não posso falhar de forma alguma. Se falhar... Sherry.

Respiro fundo, nem quero pensar. Pego a arma dentro da mochila e conto os tiros que ainda me restam: oito tiros. Espero que seja o suficiente para parar as coisas que vou encontrar aqui dentro, que provavelmente vão aparecer com tudo. Estou temeroso, muito temeroso. Mas vejo que já não adianta mais fugir. Se esse é o meu destino, então eu vou seguir até o fim. Levanto. Sinto-me meio tonto e nauseado, além de que, minha cabeça dói bastante... Encaminho-me até a porta dupla de metal e a abro. Vejo um corredor com oito portas, uma de cada lado. Estou na parte administrativa da usina, pois em cada porta vejo palavras como: secretaria, diretoria, recursos humanos etc. Nas paredes há murais com metas a serem cumpridas, informações de segurança, mapa de perigo além de um mapa inteiro sobre a usina. Pego ele e tento me localizar. Descubro que estou realmente na área administrativa. Copio as informações necessárias dos outros mapas para um deles e decido prosseguir. Tento a primeira porta a direita.

Vejo uma grande sala completamente bagunçada. Parece ser uma espécie de biblioteca ou coisa assim. Vejo estantes caídas no chão, livros por cima de livros. Decido dar uma vasculhada. Vejo coisas sobre a usina, papeis sobre Raccoon City e livros sobre energia nuclear. Nada de mais. Continuo vasculhando o livro e começo a ouvir o pequeno rádio vermelho chiar... Isso não é bom. Empunho minha arma, carrego o pente com oito tiros, mas não vejo nada. Fico por alguns minutos, até que desisto. Talvez seja algum problema que o rádio deu. Continuo a vasculhar os livros, mas não sei exatamente o que estou procurando. Talvez alguma coisa que me dê mais informações sobre o que está acontecendo nessa droga de cidade. Penso em tudo isso ser causa de algum incidente nuclear, mas logo esqueço ao lembrar de Varla. Isso com certeza é algo além do normal, não há explicação. Continuo vasculhando até que vejo uma coisa brilhante. É um fragmento de rocha. Lembro-me do que aconteceu na escola, quando peguei aquele fragmento de rocha e ouvi coisas. Decido pegar este. Sento no chão, tiro o rádio e o livro que também encontrei na escola sobre rochas e decido descobrir que rocha é aquela. Ela é de um tom azul-claro, translúcida. Procuro pelas características, provavelmente é um fragmento de Água Marinha. Coloco a rocha no buraco do rádio, que intensifica o chiado até produzir coisas inteligíveis.

–... eu tô com medo, papai...

–... vai ... er ... o ... mundo... suas... mãos...

–... não... nada... tire... másca...

–... cê ... pode... er-se... pura...

–Porque... eu...

–... oi... escolhida... o demônio... você.

–Eu não quero!

–Você... impedir... o mal... mundo.

O rádio parou de chiar e o fragmento de rocha foi expulso. Não sei o que entender com isso, na verdade, não faz sentido algum. Todavia, fala alguma coisa em relação a algum demônio e traga alguma pista. Coloco novamente o fragmento e ouço o diálogo. Nada de novo. Guardo o fragmento e o rádio na mochila. Dou mais uma vasculhada pelos livros e encontro um livro sobre a história de Raccoon City. O título era: Raccoon City: História, Cultura e Economia. Sento no chão e começo a folhear tentando encontrar algo que fale sobre algum demônio. Até que encontro finalmente algo.

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Raccoon City, uma cidade histórica e culturalmente interligada. A fundação e desenvolvimento da cidade estão completamente ligados às práticas religiosas. Praticamente todos os habitantes da cidade fazem parte dessa religião, mas segundo rumores, apenas os “eleitos” são designados por um aprofundamento maior. Os membros dessa religião a denominam como A Ordem, uma vez que o propósito principal deles é manter o Caos distante e proporcionar a Ordem no mundo. Para isso, os “eleitos” são os responsáveis por praticar rituais que mantenham o Caos fora do mundo. Alguns rituais, segundo rumores, estão completamente ligados à pureza e uso de sangue. Aqui estão listados alguns dos rituais:

O Ritual do Demônio Cego:

Esse ritual é necessário para que, posteriormente, o Ritual da Purificação seja realizado.

Uma moça, previamente escolhida é cegada por uma máscara com pregos nos olhos e colocada em uma sala com várias meninas ainda crianças. A moça cega é o demônio cego. Seu objetivo é pegar todas as meninas. A primeira menina a ser pega é a mais fraca, pois cedeu ao demônio a sua vida primeiramente. Ela será a próxima a participar do ritual como o demônio cego e deve ser preparada desde a infância. A última que restar é a mais pura, pois não cedeu sua vida ao demônio. Esta será preparada desde a infância para o ritual de purificação.

O Ritual de Purificação:

A menina escolhida no Ritual do Demônio Cego é preparada desde a infância para o ritual. Ela é mantida em uma área da Mansão Principal, onde todos os “eleitos” poderiam vê-la. Todos usavam máscaras e ela não poderia sair da mansão, nem ter contato muito forte com pessoas a fim de se manter pura do mundo e das coisas que ele oferece. Ela era mantida até completar uma certa idade, longe de qualquer contato com o mundo exterior. Ao chegar a essa idade, ela estava pronta para a realização do ritual.

O ritual consiste em três partes. A primeira, a garota escolhida era amarrada pelos quatro membros a quatro cavalos. Esses cavalos eram assustados pelo fogo e levados a correrem em direção oposta. Os deuses ajudavam que eles corressem nessas direções, arrancando um a um os membros da garota. Esse rito fazia com que o sangue e parte do corpo fosse levado aos quatro cantos do mundo, protegendo cada um deles e purificando dos pecados para que o Caos não viesse a nenhum deles. Em seguida, o mestre do Ritual decapitava a menina com a Katana de Purificação. Por fim, o corpo era queimado e sangue era derramado para que o portal fosse selado e o Caos não viesse para a cidade além de que o mau causado por cada habitante de Raccoon fosse purificado. A fumaça que emanava agradava ao deus da cidade e fazia com que ele não se afastasse... (O restante está borrado, não se pode mais ler).

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Termino de ler a parte nítida e sinto um aperto no coração. Começo a pensar em Alexander... Se ele não quer fazer algo semelhante à Sherry. Quem seria esse demônio então? Eu não consigo entender... Essa religião parece ter propósitos horríveis. Sacrifício de humanos? Eu não vejo isso desde a antiguidade. Como em pleno século XX se fazem coisas como essas? Começo a sentir náuseas ao pensar, minha mente começa a girar... Vejo o chão mudar, a parede descascar... Está acontecendo de novo! Meus ouvidos começam a ouvir o barulho de uma sirene, que vai aumentando gradativamente. Meus olhos giram, eu caio no chão com uma dor insuportável na cabeça. O demônio deve ter chegado e vai estabelecer a sua marca. Ainda estou no chão, à dor é muito forte para que eu me levante. Vejo grades ao meu re...

...

Abro os olhos. Tudo está diferente. O chão que eu estou caído não é mais o chão: são grades como as de uma cerca. As paredes estão deterioradas e parecem pulsar. Tudo está escuro. Vasculho na bolsa, tento encontrar alguma lanterna... Nada. Estou completamente no escuro agora, sem lanterna, sem TriCell... Não sei de forma alguma como sair daqui. Decido levantar e vou em direção à porta. Dou uma ultima olhada tentando enxergar o pouco que consigo. Não vejo mais as estantes com os livros bagunçados. Parece que estou novamente naquela outra dimensão. Com a mochila em minhas costas e a arma na mão, abro a porta.

O corredor parece o mesmo, exceto pelo chão com grades, que dá pra ver um enorme vazio negro através e as paredes estranhas, além de não ver luz. A usina nuclear agora parece que explodiu. O cheiro químico, cem vezes mais forte do que antes. Estou começando a imaginar mais uma vez se Alexander não me mandou para a morte certa aqui nessa usina. Deve estar vazando algum material radioativo, só pode. Ainda consigo ver as oito portas, contando com a que acabei de abrir. Tento a porta em frente à minha... Trancada. Vou pra segunda porta ao do corredor ao lado direito. Abriu. Vejo um pia, algumas cadeiras e geladeira, tudo completamente embebido de sangue. Provavelmente isso tenha sido alguma copa um dia. Vasculho tudo procurando alguma coisa... Nada de útil. Volto pro corredor e tento todas as outras portas. Todas parecem trancadas, à exceção de mais duas. Uma delas dá em outro corredor e a outra em uma sala que parece ser uma sala de um diretor. Volto nela. Vejo o birô, a cadeira... Tem alguns papeis que parecem inúteis. Abro as gavetas da escrivaninha e em uma delas encontro um líquido verde dentro de um pequeno frasco cilíndrico. Pego e guardo em minha mochila, talvez sirva pra alguma coisa. Volto ao corredor e abro a última porta, a que dá em um corredor. Vejo algumas placas, forçando bastante minha visão, sujas de sangue indicando que estou indo para uma zona mais perigosa da instalação. Estou me aproximando dos reatores.

Prossigo em frente seguindo pelo corredor que tem o chão gradeado. Olhar pra baixo me dá vertigem, pois vejo um grande nada abaixo e sinto por momentos que estou suspenso sobre um grande abismo. Meu estômago se revira ao ter essa sensação. Finalmente chego até a porta e abro. Dou de cara para uma grande área aberta, próxima a um rio. Provavelmente o Rio Circular, que cruza a cidade. Vejo um grande cilindro, um dos reatores. Existe uma luz azul em cima que ilumina um pouco um lugar. Olho à direita e há uma entrada que leva até uma escada que dá em cima do reator. Sinto uma súbita vontade de subir e ver de onde vem aquela luz. Se fosse um material radioativo, eu já estaria morto. Corro até a entrada, que dá em um pequeno caminho até a escada. Vejo três cachorros, olhando pra mim. Empunho a minha handgun.


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Notas finais do capítulo

William chega à usina, se dando conta que esqueceu de uma coisa muito importante. Ele encontra novas informações sobre todo o contexto religioso da cidade. Em meio a isso, o Outro Lado dá as caras novamente. William decide continuar sua busca pelo demônio, pois acredita que já tenha chegado até ele. Enquanto continua a vasculhar o local em busca de informações, ele encontra uma luz que pode ser uma nova esperança para si, sua filha e talvez toda a cidade.



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