Uma ilha chamada André escrita por My name is Winter


Capítulo 6
Capítulo 6




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Um problema além da escola

Então, até agora eu só falei do André e como é minha rotina escolar. Mas eu nunca falei como é minha vida em casa não é? Também nunca mencionei minhas belas características. Claro, nunca achei necessário contar. Até agora.

Eu sou uma moça de 1,70 com cabelo curto e uma franja que tapa quase todo o meu rosto, mas é por isso que a ponho de lado. Ah, e meus cabelos são pretos.

Tenho 60 quilos e prazer, sou Annie White e esse é meu rótulo.

Enfim, como é minha vida em casa? É estranha. Minha mãe é psicóloga e está sempre tentando me “descobrir”. Sempre perguntando se tenho problemas, se sou feliz e tal. Eu acho muito legal da parte dela se importar comigo, mas eu não sou problemática, acho. Como diria o ditado: Loucos não admitem que estão loucos.

Até então, não entrei em depressão. Mas minha mãe acha que tenho algum problema. Talvez ela não aceite o fato de que tem uma filha saudável e feliz. Ela encontra problema onde não há. E eu acredito nela. Isso sim me deixa louca.

Por exemplo, ela encontra mensagens nas músicas que escuto. Ela acha que estou infeliz só porque escuto Secrets. Segundo ela, as músicas que escutamos refletem a nossa vida e possivelmente coisas que não conseguimos dizer.

Eu concordo plenamente, mas existe a opção sensata de que eu simplesmente gosto daquela música e não há NADA que eu queira dizer.

Um dia eu estava escutando essa música no quarto e ela chegou:

– Se quiser me contar algo a hora é agora, querida.

– Não há nada de errado, mamãe.

– É algum menino?

– Não há menino, mamãe.

– Vamos, você não para de escutar isso! Uma música que diz “Me diga o que você quer ouvir para eu ter que inventar a mentira perfeita” ah querida, o que há com você?

– NADA!

Aí eu tranquei a porta do quarto e ela foi embora. Minha mãe tem que entender que não sou uma das pacientes dela. Se eu quiser desabafar com ela eu vou! Senão a vida vai me ensinar da pior maneira, eu sei disso. No momento eu não preciso aprender nada. No momento eu não quero aprender nada.

Falar com ela dessa maneira me faz pensar que sou má. Às vezes preciso de privacidade para pensar. Ela não quer uma filha problemática, mas ela não entende que às vezes o problema começa dentro de casa? Como uma psicóloga ela deveria saber disso.

Outra coisa que não gosto muito na minha mãe: o fato dela julgar as pessoas.

Sabe, se eu falo mal de alguma colega minha ela diz “cada um tem o seu jeito”.

Mas ela não aceita o MEU jeito de ser. Ela não aceita que a filha dela não é uma cópia de psicóloga feliz. Ela reclama do meu cabelo, do meu estilo, das minhas músicas, mas eu não ligo pra ela. Sigo o próprio conselho que ela me deu desde pequena: Não ligue para a opinião alheia.

Obrigada, mamãe. A senhora me ensinou o bastante para eu entender que a sociedade é hipócrita!

Mas tudo bem, nem sempre estamos na melhor.

Eu tenho que conviver com isso, já que somos só nós duas. Eu entendo que ela tenta me dar do bom e do melhor e agradeço. Só queria que pelo menos uma vez ela percebesse que não é perfeita e que é humana. Que percebesse que eu não sou uma cópia dela.

Meu pai foi embora de casa quando eu tinha 2 anos. Até então me pergunto o porquê. Será que foi por causa da minha mãe? Será que ela era tão chata assim? Ou o meu pai era um verdadeiro vagabundo? Não sei. E também, nem quero saber.

Tudo que minha mãe diz é “Não se case minha filha, você só vai arranjar problemas”.

Minha mãe não sabe que já estou acostumada com problemas. Vai ver meu pai também era uma ilha misteriosa e minha mãe uma exploradora. Ela deve ter se aventurado muito, mas se machucou muito também. Talvez meu pai fosse uma ilha que não devesse ser explorada.


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