Uma ilha chamada André escrita por My name is Winter


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Ainda bem que o Nyah voltou! Aproveitei o tempo em que o site ficou fora do ar para fazer capítulos mais completos e rever algumas coisas.



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Amigos e Papai

Hoje na aula de História estávamos estudando sobre o período Feudal. Eu já sabia tudo sobre o assunto e ter que ouvir tudo aquilo era um saco e quando eu tentava participar meus colegas me xingavam.

Alguém sabe me dizer como estava divida a Sociedade Feudal? – perguntou meu professor.

Ignorei a pergunta e comecei a divagar sobre a vida. Abri meu caderno e peguei um lápis. Comecei desenhando tudo que se passava pela minha cabeça. Pássaros voando no fim da tarde com o por do sol mais bonito que já vira. Nuvens que formavam diversas figuras e algumas com colorações rosadas feito algodão doce. Desenhei crianças em volta de uma fogueira cantando diversas músicas e sorrindo sem se preocuparem com fato de que um dia terão que crescer.

Já não estava com paciência pra tudo. Uma vida monótona é como um cego no escuro. Não faz diferença.

Meus pensamentos foram interrompidos quando senti uma bolinha de papel bater na minha cabeça.

– Quem foi? – perguntei olhando para os meus colegas que riam da minha cara. Olhei rapidamente para minha amiga Daianne que me olhava e balançava a cabeça de modo que eu notasse que fora ela que jogou a bolinha. Era um bilhete.

Estava escrito: É melhor prestar atenção na aula. Se continuar assim não vai ganhar bolinho! – olhei para ela e revirei os olhos.

O sinal toca e vou com ela para o intervalo.

* * *

– Não é muito educado da sua parte tocar bolinhas de papel na sua melhor amiga.

– Não seja dramática! Você estava divagando a aula toda e se o professor te pega desenhando?

– Ele me mata?

– Ele faz sacrifício Maia na frente de todos, é isso que ele faz! – rimos muito enquanto íamos para o pátio.

– E como anda o Mané? – perguntou ela quando sentávamos em um banco.

– É André. E eu não sei como ele anda pelo simples fato de não falar com ele. Talvez eu deva desistir, não é?

– O que um dinossauro faria?

– Eu não sei o que um dinossauro faria. O que um dinossauro faria?

– Um dinossauro não desistira!

– Eu não sou um dinossauro.

– Quem disse?

* * *

Desde que eu era jovem

Eu sabia que te encontraria

Mas o nosso amor era uma canção

Cantada por um moribundo cisne

E no meio da noite, você me ouve chamando

E, em seus sonhos, você me vê caindo

Inspire a luz

Eu vou ficar aqui nas sombras

À espera de um sinal, como a maré cresce

Mais alto, mais alto e mais alto

E quando as noites são longas

Todas as estrelas recordam seu adeus

A música parou. Droga. Minha mãe desligou o rádio.

– Saia desse quarto, vá sair um pouco, vá viver!

– Sair com quem? Que amigos? Onde? Com que dinheiro?

– Não era eu que deveria fazer essas perguntas? – falou ela rindo.

– Eu não quero sair com ninguém. – resmunguei.

– Convide seu namorado.

– Eu não tenho namorado.

– Suas amigas não disseram isso. Eu ficaria feliz em conhecer seu namorado!

– Eu também queria conhecer ele, mas talvez ela tenha se perdido no meio do caminho. Talvez tenha morrido, talvez tenha ficado preso numa ilha ou esqueceu que existo.

Minha mãe me olhou com uma cara de desdém e então se sentou na minha cama e falou:

– Já contei como conheci seu pai?
– Na verdade você nunca menciona nada sobre o papai.

– Então, eu conheci seu pai na escola. Ele era quieto, tímido demais, bom aluno e muito educado com todas as meninas. Isso me encantava demais. Mas ele não era muito social, sabe? Ficava só com um ou dois amigos, talvez os únicos.

– Como se apaixonaram?

– Eu sempre tive uma queda por ele, então só depois de uns três meses resolvi contar o que sentia por ele. Levei um não ligo bem seco na cara e fiquei magoada. Mas eu fui atrás, eu não desisti. Seu pai tinha um mundo próprio. Sabe por quê?

– Por quê?

– Ele era autista.

Autista? Não seria uma pessoa anti-social?

– Bem mais que isso! Autistas são pessoas que não tem noção do que seria a vida social. Eles têm seu próprio mundo. Suas próprias regras. São pessoas que não tem conhecimento do sentimento ao próximo. Não ligam muito para emoções. Mas há vários tipos de autismo. Estágios diferentes. Tem pessoas que tem um autismo muito avançado. Possuem um Q.I acima da média e são totalmente desligadas do mundo. Há outras que já podem conviver normalmente, mas com certos problemas sociais. Seu pai era desse tipo. Acabou que ele foi esperto demais e nos deixou. Estudei Psicologia justamente para entendê-lo.

Então papai era autista? Interessante. Talvez eu tenha herdado dele esse pequeno problema de interação social. Não que isso seja um problema, pelo menos não é um problema para mim. Meus melhores amigos são meus livros. Se tenho problema com um, talvez o problema não seja eu. Mas se tenho problema com vários, o problema sou eu. Eu não sei puxar assunto, tudo bem. Eu não sou autista pelo simples fato de não ter um Q.I tão elevado e o mais importante... Eu ligo pro sentimentos das pessoas.

* * *

Então chegamos no ponto da história. Vamos parar no tempo. Quero relembrar vocês um pouco. Sou Annie White e agora tenho 16 anos e estou contando como foi me apaixonar pela primeira vez. Claro, mas o que isso tem a ver com o meu pai? Bem, lembram quando eu falei que eu tenho um leve problema de interação social e aparentemente André também? Então. Eu não sou autista. André é. E foi daí que comecei a estudá-lo. Até que tivemos problemas. Mas não houve só problemas. Isso vocês saberão mais adiante. Agora vou falar um pouco mais sobre autistas. Eles têm dificuldade em manter uma relação, dificuldade em fazer amigos e dificuldade até de manter uma conversa. Alteram o comportamento facilmente e tem uma certa fixação por objetos. Não buscam consolo quando estão tristes e não notam a presença das pessoas ao seu redor por terem seu próprio mundinho.

A ilha chamada André. Um mundo maravilhoso, não?


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Notas finais do capítulo

Fechando com chave de ouro o capítulo 10! Enfim, eu estava pensando... O que acham de começar o cap.11 com um P.O.V do André? Gostariam de saber o que se passa na cabeça dele? Quem é ele quando ninguém está olhando? O que ele pensa da Annie? Isso é decisão de vocês. Eu posso continuar narrando a história como Annie, afinal, a história é dela. Mas, seria legal ver a visão do outro protagonista, não? Quero tentar algo diferente, mas preciso da opinião de vocês :)