Laços Temporais escrita por Kunimitsu


Capítulo 2
Danza Violento


Notas iniciais do capítulo

Oi!O/
Bem, consegui postar esse capítulo ainda hoje!!
Sorte!
Espero que goste,
Boa Leitura!



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Dança Violenta

O céu estava em um tom azul profundo, as estrelas brilhavam como pontinhos ao longe, e a majestosa e gorda lua lá em cima, com toda a sua glória. Em uma pequena cidade da Itália, quase não se via uma única alma a perambular aquela alta hora da noite. Sombras se projetavam nos beco e vielas, as ruas eram iluminadas pelas poucas lamparinas. As casas de família eram silenciosas, bordeis e bares ainda abertos naquela noite fria de outono. Uma mulher de beleza invejável, com seus longos cabelos de cobre caindo em cachos pelos pálidos ombros nus, de vestido verde até os joelhos, com mangas de seda e com corpete, dando volume aos seios. Ia cambaleando pelas ruas mal iluminadas, os saltos negros em suas mãos, obviamente era um ser que os moradores chamavam de prostituta.

Entrou em uma viela mal cheirosa, onde um gato marrom saiu de uma das latas de lixo, apoiou-se nas paredes podres do lugar, e totalmente fora de si, ficou cantarolando alguma música. Um barulho de metal batendo no chão chamou sua atenção, e virou-se para ver o que seria isso. Mas a única coisa que pode visualizar no meio daquele breu foi a silhueta de um homem grande, o mesmo ergueu um objeto metálico. Seus olhos esmeraldinos arregalaram-se, e um grito agudo rompeu pela sua garganta, até que foi cortado subitamente e o som de algo pesado caindo no chão foi ouvido.

~*O*~

Nessa mesma noite linda, os sons de timbres altos ecoavam pelas paredes de mármores do salão. Risadas, músicas suaves, conversas entre pessoas bem vestidas. Mulheres com seus melhores vestidos, dos mais simples aos mais extravagantes. Os homens estavam esbanjando elegância com seus ternos caros. No meio do salão alguns casais dançavam em um ritmo lento, aproveitando cada nota da melodia. Alguns a mesa, aproveitando a deliciosa comida, outros pegavam petiscos ou uma boa taça do mais fino vinho que refinados garçons serviam, circulando através da multidão de nobres.

A conversa fluía, risadas altas, alguns já começando a se embebedar, e a festa se seguia rumo à meia-noite. Em meio aquele mar de pessoas, um belo ser conversava o mais amigavelmente possível com dois seres que tinham sua exclusiva empatia. Seus cabelos dourados, sedosos, que inexplicavelmente desafiavam as leis da gravidade, com uma franja displicente caindo aos olhos laranja vibrantes. O sorriso nos lábios finos era claramente forçado, e as sobrancelhas finas ora ou outra franzia em desagrado.

– Então, o que você me diz? – perguntou um dos homens com quem conversava.

Os olhos azuis celestes analisavam com certa malícia o jovem Vongola Primo, os cabelos acajus caiam nos ombros. O terno cinzento estava impecável, e em uma das mãos segurava uma delicada taça de vinho. Ao seu lado outro homem mais atarracado, com ralos cabelos negros e profundos olhos cinzentos, que observavam atentamente o mais jovem, com um sorriso de canto. Era obviamente o mais velho deles.

– Bem, tenho que dizer que essa... proposta que faz será muito bem analisada por mim, e por meus guardiões. Tenho certeza que iremos chegar a um acordo. – respondeu com uma face calma, mas por dentro estava esbravejando de raiva. E pedindo licença, seguiu rumo ao meio da multidão.

Misturando-se pelo salão, parava de vez em quando para conversar com alguém conhecido. Até que no final conseguiu cumprir o seu objetivo, chegar a uma das varandas do cômodo. Vongola Primo, ou para os mais íntimos, Giotto Taru, apreciava a bela noite que era. As poucas flores que ali tinha, eram as mais bonitas da região naquela época de ano. Passeava devagar pelo jardim, apreciando a brisa que passava, até ele já estar longe o suficiente para apenas ouvir vagamente a música vinda do salão. Sentou em um banco de pedras brancas, que ficava abaixo de uma árvore e a sua frente uma fonte de pedra lustrosa. Ficou ali, apenas a observar, mas sem realmente ver o que estava a sua volta. Sua cabeça latejava desde que acordara, e sua Hiper Intuição doía no âmago de seu estômago. Depois do pequeno café-da-manhã, saiu sem avisar ninguém, apenas levando um de seus subordinados (não seus guardiões).

Horas atrás...

O sol brilhava naquela manhã, quase não se via uma nuvem no céu azul. Um vento passava levando as folhas secas, típicas do outono. A carruagem andava a galopes calmos e sem muita pressa, o cocheiro guiava os cavalos atentamente na estrada pouco movimentada naquela hora do dia. O comércio ia aos poucos se abrindo, as pessoas eram aos poucos vistas nas ruas.

Dentro da carruagem um jovem loiro, chefe da famiglia Vongola, tinha os dedos indicador e médio em suas têmporas, em uma tentativa falha de amenizar a crescente dor de cabeça que o assolava desde que acordara. O homem sentado a sua frente tinha o cenho franzido, em total preocupação com o mais novo. Seus olhos negros analisavam com cuidado todos os movimentos do outro, em alerta para algo fora do normal. Quando ouviu o outro suspirar em dor, resolveu pronunciar-se:

Boss...? Tem certeza que está bem? Podemos voltar, se o senhor desejar. – sugeriu, e por um momento achou que Primo não havia lhe escutado, mas antes de falar novamente, Primo abriu os olhos e fixou seu olhar cansado ao subordinado.

– Está tudo bem... Tenho que fazer isso, se não só vai piorar. – respondeu em uma voz baixa, mas o suficiente para o outro ouvir, o mesmo ainda o olhou duvidoso.

– Desculpe insistir, mas tem mesmo a certeza, senhor? - sua voz estava carregada com incerteza, e olhava Primo receoso.

– Eu tenho certeza. – respondeu Primo, sorrindo calorosamente para o outro. – E eu que devo lhe pedir desculpas, acabei por preocupá-lo.

– N-não se desculpe, por favor. – murmurou constrangido. – Eu devo muito ao senhor. Por sua causa agora eu tenho um lar e pessoas em que eu posso chamar de família.

– Fico feliz em ouvir isso.

O resto da viagem foi mais tranquila, Giotto era naturalmente uma pessoa sociável e amigável, era difícil não gostar de si. Em um curto tempo, a paisagem foi mudando, dos prédios e casas, para o campo, com prados e lavouras, onde se via alguns trabalhadores já em seus postos para o dia. A estrada antes lisa, agora era toda esburacada, fazendo a carruagem chacoalhar a todo o momento, isso deixava Giotto com um pequeno mal estar. Árvores esbeltas começavam a aparecer e tomar conta da vista, até que ao longe o destino da viagem foi avistado. Um casarão de campo, grande e bem cuidada, com um jardim de entrada de lindas flores. A carruagem parou em frente à casa, o cocheiro abriu a porta, e o subordinado saiu, averiguou o local rapidamente, para então seu chefe sair.

– Primo, você tem pessoas super protetoras ao seu lado. – uma voz calma e divertida vinha da porta de carvalho do casarão. Um homem jovem, cabelos negros caindo na nuca e divertidos olhos castanhos mel. Vestia-se casualmente, apenas com uma camisa social branca de tecido leve, com as mangas dobradas até o cotovelo, e uma simples calça escura. Sorria abertamente, caminhando até o amigo, Giotto, que deu uma risadinha divertida, e correspondeu ao saudoso abraço.

– E eu agradeço por isso, meu amigo. – disse o loiro, desfazendo o abraço. – É graças a eles que eu ainda tenho minha cabeça presa no meu pescoço. – logo depois rindo junto ao moreno.

Giotto rapidamente deu instruções ao cocheiro, Frankin, e ao subordinado que o acompanhou, Enzzo, para então seguir o amigo casa adentro. Se por fora era lindo, por dentro era mais deslumbrante, com paredes cor pastel, e moveis escuros, poucos quadros de paisagens, tinha uma decoração sofisticada, com poucos moveis, mas ainda mantendo a beleza da casa. Acompanhou o anfitrião até uma sala com uma lareira acesa, com sofás estufados, mesinha de centro com um vaso com flores. Giotto sentou-se em um sofá e o outro se sentou em sua diagonal esquerda, em uma poltrona, de couro, marrom. Era um lugar aconchegante, acolhedor, Giotto rapidamente se sentiu bem ali. Gostava disso no amigo, ele assim como o chefe Vongola, tinha o dom de deixar o clima agradável. Conhecera Primo Cavallone logo depois de formar a sua famiglia, em uma festa da nobreza. Deram-se bem assim que se conheceram, e desde então eram aliados, e mais importante, amigos. Giotto sabia que podia contar com o Cavallone sempre que precisar, e o mesmo valia para o Cavallone.

– Então, o que te aflige, meu amigo? – indagou logo depois que uma das empregas lhe trouxeram uma bebida e se retirar, deixando os dois sozinhos. O Cavallone era esperto o suficiente para saber que esta visita não era apenas de cortesia, algo estava errado com o mais novo.

– Na verdade, eu ainda não sei o que realmente é, Fabian. – respondeu sinceramente Giotto.

– Como assim? – curiosidade brilhando nos olhos de Fabian, uma elegante sobrancelha arqueada.

– Dor de cabeça constante, minha Intuição me deixando louco. Sinais claros que o perigo está se aproximando, mas não está perto o suficiente para nos atingir... agora. – o jovem loiro suspirou cansado, sendo observado atentamente pelo mais velho.

– Perigo...? Que tipo de perigo? Está acontecendo muitas coisas entranhas ultimamente, mas não pensei que poderia nos atingir de alguma forma. – refletia, tomando um gole de seu vinho tinto.

– Sinceramente, eu não sei. Mas, o que está acontecendo de estranho? Não soube de muita coisa ultimamente. Estou ocupado com muitas coisas, acho que deixei algo passar, talvez.

– Não me surpreenda que você não saiba. Poucos sabem na verdade, as autoridades não estão deixando nada vazar para a imprensa.

– Então é algo grande...

– Na verdade, nem eles mesmos sabem, mas estão querendo sigilo. Houve mortes recentes ao redor da cidade, sem quaisquer pistas. São pessoas aleatórias, sem nenhum padrão de escolha. São brutalmente assassinadas, apesar de algumas estarem com padrões de suicídios, mas nada de confirmação. Está deixando as autoridades de cabelos em pé, estão irritados com certeza. – por um momento se fez um silêncio, Giotto ainda digeria a informação, surpreso.

– N-nada até agora? Quanto tempo faz isso? – murmurou ainda um pouco surpreso.

– Menos de um mês que isso está acontecendo. Logo a população da cidade vai começar a notar.

Se não notaram... – bebeu um pouco de sua bebida, para acalmar-se, sem notar sua fala.

– O que quer dizer? – perguntou Fabian intrigado. Giotto o olhou surpreso por um momento, mas logo soltando um suspiro lembrando-se do ocorrido.

– Dois dias atrás estava na cidade para ver como estavam às coisas. Achava estranho que estivesse tão calma por tanto tempo, e pelo visto, não tão calma. Mas, bem, enquanto saia de uma loja... hãnm... de doces, uma senhorita me parou, em lágrimas pedia que devolvessem sua irmã. Não entendia o que estava acontecendo, e bem, conseguindo acalmar a pobre mulher, ela contou que alguém havia levado sua irmã, e eram os mesmo que estavam fazendo atrocidade ao redor da cidade. Depois, quando voltei para a mansão, pedi imediatamente para Alaude investigar. Ele ainda não voltou.

– Se ele não voltou ainda, a coisa é mais séria do que imaginamos. – falou o moreno, brincado distraidamente com a sua taça. Também conhecia o Guardião da Nuvem, tão bem quanto, talvez, o próprio Giotto.

– Sim...

Conversaram ainda por um bom tempo, comparando informações que cada um tinha, fazendo algumas suposições. Conversaram por tanto tempo, que o loiro teve que ficar para o almoço, que por sinal, estava divino. Logo uma deliciosa sobremesa, que Fabian insistira e um Giotto mais do que feliz aceitara. Depois Giotto saiu, cada um prometendo que manteriam contato enquanto o Cavallone permanecesse em sua casa de campo, trocando informações.

À volta para a mansão Vongola foi silenciosa, e na opinião de Giotto, foi mais rápida. Ao chegar ao seu destino, já no meio da tarde, foi recebido por um raivoso G., que mais que prontamente deu-lhe uma bronca aos gritos, e parecia nunca ter fim. Foi salvo por seu maravilhoso mordomo-chefe, que conseguiu apaziguar o seu mais fiel braço-direito. Depois foi direto para seu escritório, e ficou lá, com pilhas, enormes na opinião do loiro, e saiu de lá só algumas horas atrás, para poder se arrumar para a festa.

Agora...

Giotto soltou um suspiro cansado, sua dor de cabeça passara, mas sabia que era por pouco tempo, logo voltaria. Pena que não podia dizer o mesmo da sua Intuição, ela estava o deixando com um mal estar. Suspirando novamente, passou a mão em seus picos de cabelos dourados, os puxando levemente, uma mania sua desde que era garoto. G. dizia que se ele continuasse a puxar seus cabelos, ficaria careca antes do tempo. Soltou um riso involuntário.

– Rindo sozinho? Isso é um dos sinais de loucura. – ouviu-se uma voz baixa e fria, que daria arrepios em qualquer um que não estivesse acostumado com o timbre de voz.

Giotto virou seu corpo para trás, visualizando a silhueta de um homem encostado em uma árvore, os cabelos lisos e loiro-platinados, os olhos azuis claríssimos, eram frios e amedrontavam qualquer um, e não ajudava a aura mortal que parecia o rodear. Giotto sorriu, seu Guardião da Nuvem estava do jeito que se lembrava.

– Bem-vindo de volta, Alaude. – disse o jovem chefe, sorrindo abertamente.

– Hunm. – foi a única resposta que obteve, mas era algo normal vindo daquele homem tão misterioso.

– Vejo que não está aproveitando a festa... – disse com certa irônia, o que causou ao outro homem estreitar os olhos de forma ameaçadora, o que causou um risinho de Primo.

Tenho notícias. Não são boas.

Foi o que disse antes de sumir na escuridão da noite. Giotto sabia que Alaude não estaria indo a festa, mas isso não importava. O que Alaude disse ficou preso em sua mente. Seria uma longa noite...

~*O*~

Correr era a única coisa que ele sabia fazer naquele momento. Sentia seu coração bater forte em sua caixa torácica, doía, sentia como se a qualquer momento seu coração sairia dali. Mas continuava a correr, era preciso para que ele pudesse sobreviver. Ouvia ao longe as vozes o chamando, assim como os tiros que saíam de suas armas. Eles o queriam vivo ou morto, não importava mais, pois pensavam que já haviam pegado tudo que precisavam. Mas ele, que apenas era um garoto "comum" antes de tudo isso, tinha que ir avisar aqueles que considerava como amigos. Eles estavam em perigo, na verdade, todos estavam.

Não sabia o quanto estava correndo, mas já havia passado pelas ruelas onde se davam as negociações de contrabando; pelas ruas esburacadas, que eram de acesso comum as pessoas daquele degradante vilarejo. Não se surpreendeu ao ver que não havia uma única alma pelas ruas, todos eram submissos 'aquele ser', ninguém ousava desafiá-lo, pois sabiam que morreriam. Ele podia ver os sentinelas se aproximarem a sua frente, virou em uma ruela onde mendigos dormiam, mas eles não deram muito atenção ao garoto, em suas mentes já imaginavam que o garoto acabaria morto. Esse mesmo garoto passava pela praça central e ia em direção aos extremos do vilarejo. Ainda conseguia ouvir o alarme e eles correndo a sua procura.

Mas sua sorte parecia ter acabado, pois havia esquecido que atrás do vilarejo havia um penhasco, e com metros de distância, do outro lado havia uma floresta. E bem no meio desse vão, com mais de cinco metros para baixo, um rio de águas cristalinas serpenteava abaixo, violento e traiçoeiro. Escutou os passos chegarem mais perto, mais perto, até que eles e o garoto estavam um pouco mais de quatro metros de distância um do outro. O líder se adiantou a frente, e a criança logo reconhecera quem ele era, ou que fingia ser para ele. Os olhos do homem brilharam de malícia por um momento, mas depois voltaram a serem frios como verdadeiramente eram.

– Acho que já chega por hoje, não é, meu querido? - a voz em uma tonalidade suave e encantadora. Falava do mesmo jeito quando o persuadiu a ir com ele, como se arrependera de ser tão burro, ingênuo demais. Ele deveria ter desconfiado, a proposta era boa demais para ser tão fácil.

– Nunca mais vou voltar!! - gritou com voz rouca para aquele que por muito tempo considerou como um precioso amigo, mas que só fez com que ele abandonasse seus verdadeiros amigos. Ele viu com certo prazer à face do homem contorcer-se em desgosto, fúria.

– Moleque insolente! - brandiu, sacando sua arma e apontando para a criança, que por instinto deu um passo para trás e... caiu.

Caía rapidamente, o vento zumbia em seus ouvidos, e um grito de ajuda, o nome 'dele' gritou e vendo seu rosto lá de cima do penhasco, ele gritava pela criança parecendo desesperado. Foi a última coisa que ouviu antes de sentir o impacto nas águas congelantes do rio. Nadou para superfície, queria desesperadamente ar, mas a correnteza estava forte naquela noite, ele ia sendo jogado para o fundo. Mal conseguia mexer-se de tão frio que estava, além do desgaste físico e emocional. Não conseguia mais lutar, seus membros iam parando e parecendo muito pesados, sua consciência ia-se aos poucos. Antes de perder completamente a consciência, teve um vislumbre belos olhos de corsa e depois tudo ficou escuro.


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Notas finais do capítulo

Então, o que vocês acharam??
Quem será o garoto? Passado? Presente ou futuro??
Bem, quero saber o que acharam...
Até logo,
Kunimitsu.