Laços Temporais escrita por Kunimitsu


Capítulo 3
Dialoghi Amichevoli I


Notas iniciais do capítulo

Em itálico, pensamentos e lembranças.

Boa Leitura!



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Diálogos Amistosos I

Os minutos passavam com uma lentidão absurda. As conversas ao seu redor eram poucas, mas que ocupavam o pequeno estabelecimento. Mesas postas em locais estratégicos, onde os clientes poderiam melhor aproveitar a refeição, em que famílias passavam aquele final de semana juntos, alguns solteiros aqui e ali. Com uma decoração acolhedora, familiar, era um bom local para se abrigar do dia nublado e frio que fazia lá fora, onde poucas pessoas se atreviam a ir. Os olhos amendoados observavam a placa de sashimi a sua frente, pouco tocada. Não estava com fome, apesar da deliciosa comida oferecida no "Tsuyoshi's Sushi", algo o impedia de comer. O jovem adolescente viu o senhor Yamamoto, dono do lugar, sair de uma porta, provavelmente vindo da cozinha. Era um senhor com marcas de expressões bem visíveis no rosto sorridente, os cabelos negros arrepiados apresentavam já alguns fios brancos. Atrás de si, vinha, ao que parecia, uma cópia sua em uma versão mais jovem. Yamamoto Takeshi, com o costumeiro sorriso no rosto amorenado, sentou-se ao lado esquerdo do dono dos olhos amendoados, colocando uma placa de uramaki no balcão a sua frente.

– Então, Tsuna, o que há de novo? - perguntou despreocupadamente Takeshi, atacando com vontade a sua comida.

– Ora, tenha mais respeito com Jyuudaime! Coma direito, Yakyū baka! - uma voz irritadiça vinha do lado direito de Tsuna.

Gokudera Hayato, estava habitualmente com a carranca em sua face pálida, os cabelos prateados até o queixo e os olhos esmeraldas claros, faiscavam de irritação em direção ao Yamamoto mais novo. Este apenas soltou uma risada, e continuou a comer, o que só aumentou mais ainda a irritação do platinado. Tsuna não pode conter-se, e suspirou. Estar com seus amigos foi a melhor escolha naquele dia, suas preocupações pareciam estar longe. Mas Tsuna sabia que elas estavam espreitando, prontas para aparecerem a qualquer sinal de distração sua.

– Maa, maa, desculpa, Gokudera, Tsuna! - o castanho ouviu o mais alto dizer.

– Tsc, Yakyū baka.

– Está tudo bem, Gokudera-kun.

Tsuna resolveu intervir ao ver que o prateado ia dar mais uma das sua replicas mal-educadas. O mais novo sorriu ao observar o seu Guardião da Tempestade, dar um suspiro e assentir, mas ainda olhando irritado para o mais alto, que apenas continuava a rir. Os três se puseram a comer, vez ou outra acontecia uma briga entre os dois guardiões, e Tsuna tinha que intervir. Mas estavam passando um tempo bom juntos, sem perceberem que o tempo lá fora ia escurecendo, até estar com céu pintado em cores quentes, como o amarelo, laranja e vermelho.

– Então, Tsuna, o que aconteceu? - perguntou o Yamamoto mais novo, assim que os três terminaram os sushis. A atenção foi imediatamente voltada para os de cabelos selvagens, que assumia uma expressão preocupada, alertando os outros dois.

– É melhor conversarmos em outro lugar. - sugeriu Tsunayoshi, já pegando o seu dinheiro e colocando no balcão, sendo imitado por Gokudera.

Logo que o Guardião da Chuva avisou ao pai que ia sair alguns instantes, o pequeno grupo saiu do estabelecimento.

~*O*~

O céu estava pintado de laranja e amarelo, com poucas pessoas ainda transcendendo pelas ruas, o clima era frio e ventava vez ou outra. Tsuna liderava o caminho indo, inconscientemente, para o parque da cidade de Namimori, que no momento se encontra deserta. Yamamoto e Gokudera o acompanhavam mais atrás, trocando de vez em quando um olhar entre si, preocupados com a atitude do castanho. Eles seguiram caminhando em silêncio, até estar afastados do centro do parque, em uma área mais arbústea e de árvores altas. Se sentaram em uma mesa de madeira, onde era costumeiramente usada para piqueniques, a sua frente, uma fonte simples. Os dois guardiões esperaram até Tsuna falar, mas o mesmo parecia meio perdido com seus pensamentos, seu olhar era distante.

– Então, Jyuudaime, o que está te preocupando tanto? - perguntou por fim Gokudera, preocupação em sua voz, o que trouxe Tsuna de volta a realidade. Olhou para seus amigos e suspirou.

– A minha Hiper Intuição, está a algum tempo, bem... - Tsuna começou a dizer, mas parou por não saber como descrever o que sentia. Era confuso para si, ainda não estava completamente sincronizado com sua Intuição, e por causa disso, sempre surgia dúvidas ao jovem Vongola.

– É algum perigo, Tsuna? - Yamamoto disse, tentando ajudar/adivinhar o que o amigo estava sentindo. Sabia, assim como os demais guardiões, que a Hiper Intuição de Tsuna sempre estava correta.

– É isso mesmo, Jyuudaime? - alarmou-se o prateado, olhando seriamente para seu chefe.

Tsuna apenas se limitou a assentir, soltando mais um suspiro e levando as mãos aos cabelos e os puxando, fechando os olhos em frustação. Mesmo sem poder ver, o castanho sabia que ambos os seus amigos estavam muito sérios e tensos, já entrando em um estado de alerta. E o jovem Sawada não poderia os repreender, já que estava assim a alguns dias também. É tão frustrante! Tsunayoshi abriu os olhos, apenas para se deparar com o que já sabia como seus amigos se encontravam, tensos e em alerta. Yamamoto segurava firme a Shigure Soen Ryu em sua forma de espada de bambu, enquanto Gokudera tinha suas mãos nos bolsos e havia acendido um cigarro que estava repousando no canto de seus lábios.

– Isso, estou sentindo esse tipo de... presságio a alguns dias. Não queria os preocupar, mas está começando a se tornar insuportável.

– Tsuna, somos seus amigos, você pode contar com a gente sempre que precisar. - reconfortou o espadachim ao ver o amigo parecer deprimido, esboçando um sorriso acolhedor.

– Mesmo que eu odeie concordar com esse Yakyū baka, ele está certo Jyuudaime! - Tsuna não pode deixar de sorrir, tinha as melhores pessoas a sua volta.

– Obrigado, minna. - mas o sorriso não durou por muito tempo, seu coração de repente começou a bater forte em seu peito. - O perigo...

– O que foi Jyuudaime? - perguntou Hayato preocupado, notando a súbita mudança em seu chefe, e o jeito que ele olhava freneticamente para os lados, como se a procura de algo.

– Tsuna? - Yamamoto franziu as sobrancelhas, seguindo os olhos do jovem Vongola, também procurando por algo, mas não notando nada em comum. Gokudera estava em mesma situação.

– O perigo está próximo... - murmurou Tsuna, chamando a atenção dos demais. - Está aqui...

Antes que qualquer um pudesse contestar o que o menor estava dizendo, Tsuna levantou-se ao mesmo tempo em que todos puderam ouviu um rugido animalesco. Os três entraram em alerta rapidamente, ficando em pé e em posição de luta. A Shigure Soen Ryu tinha se tornado uma afiada katana nas mãos do moreno mais alto, Gokudera estava com suas bombas preparadas em suas mãos, e por último, Tsuna estava com suas luvas postas em suas mãos junto com uma pílula azul.

Novamente ouviram o rugido, agora podendo localizar sua origem, vinda do leste ao que se movia em sua direção. Para a surpresa dos garotos, uma animal deveras exótico apareceu a sua frente. Com torço e cabeça de leão, mas com as quatros patas de lagarto e um rabo que lembrava muito a de um pavão, sem contar as asas em suas costas. Mas o que mais chamou a atenção deles, foram as chamas negras, tanto na juba, nas asas e no rabo. Nunca tinham visto nada assim. Era uma Quimera, com certeza.

– Oi, o que é isso? Por que há uma Box aqui? - indagou Gokudera irritado, analisando o estranho animal parado a poucos metros, desconfiado.

– Não faço ideia Gokudera, mas Verde não estaria por trás disso? - Yamamoto respondeu, também analisando o animal.

– Acho que não... - Tsuna também se lembrava da época das batalhas pelos anéis, onde Mammon havia usado um experimento de Verde, mas não achava que fosse o mesmo.

Mas não puderam dizer qualquer outra coisa, pois a Quimera soltou um rugido e saltou, indo para um ataque em direção aos adolescentes. Estes reagiram na hora, saltando para os lados e desviando do grande bicho, logo também partindo para o ataque. Gokudera jogou suas bombas, mas o animal se mostrou veloz e desviou agilmente das bombas e mirou o prateado como alvo o atacando. O Guardião da Tempestade conseguiu desviar em ultimo estante, mas feriu-se no ombro esquerdo quando o bicho usou suas garras. O corte ardia muito, mas por sorte não havia sido profundo, e rolando, o adolescente rebelde estava longe do animal selvagem. Este parecia estar pronto para mais um ataque, mas sendo detido por Yamamoto, que conseguiu com precisão acertar uma das patas dianteiras em um corte profundo; de onde um saia um liquido enegrecido e gosmento, soltando bolhas. O animal ganiu, e mesmo mancando, saltou para Yamamoto que desviou e atingiu-o uma outra vez, fazendo agora um rasgo comprido em seu torço.

Tsuanyoshi não ficou parado, entrou em seu Hyper Mode, e atacou também, dando um soco e um chute no animal, fazendo o mesmo ficar desnorteado por alguns segundos. Tempo suficiente para Gokudera jogar uma três pequenas bombas, que acetaram o animal e fizeram com que ele perdesse três patas suas. Um rugido foi soltado, e no minuto seguinte, a Quimera se desfazia em uma gosma preta com um brilho esverdeado, soltando bolhas e uma fumaça mal cheirosa; que lembrava muito de algo em decomposição. Os três adolescentes observaram por um instante, ainda em alertas, olhavam seu entorno em busca de mais algum ataque, mas não aconteceu mais nada. Lentamente, Takeshi fez com que sua katana virasse de bambu e Tsuna saiu de seu Hyper Mode, com Hayato guardando suas bombas com certa cautela.

– Mas o que diabos foi isso? - esbravejou o prateado, ainda estando ajoelhado no chão e segurando seu ombro ferido, seus olhos postos no que sobrara do animal.

– Eu não sei. - respondeu Tsuna, correndo até o caído, junto com o Yamamoto, sendo que o mesmo se prontificou em ajudar Hayato a ficar de pé. - Você está bem, Gokudera-kun? - perguntou ao olhar superficialmente o machucado do outro.

– Estou bem Jyuudaime. - assegurou Gokudera, dando um pequeno sorriso para mostrar que estava realmente bem, mas que não durou muito. Sentiu seu ombro latejar com uma dor imensa, sua visão embaçou e ele cambaleou um pouco, sendo amparado por Takeshi.

– Gokudera-kun!! - Sawada o chamou alarmado, e viu com espanto, seu amigo se desfalecer nos braços de Yamamoto. - Gokudera-kun!!

– Acho melhor levarmos ele ao hospital, Tsuna. - sugeriu Yamamoto, igualmente preocupado ao ver que o amigo começava a ficar ofegante e a suar.

– S-sim. - concordou, vendo o outro colocar o desmaiado em suas costas, com cuidado. Gokudera estava ficando pálido rapidamente.

Antes de Tsuna dar algum passo para acompanhar Yamamoto que já começava a correr, teve a impressão de estar sendo observado. Varreu os olhos pelo parque, que agora havia pequenos indícios de que houvera uma luta ali, focalizou o olhar entre as densas árvores; mas não encontrou nada. Ouviu um chamado de seu Guardião da Chuva que estava a alguns metros longe de si, olhou mais uma vez por entre as árvores, para então correr até o outro, onde seguiram apressados para o hospital de Namimori.

~*O*~

Sua cabeça latejava e seu corpo pesava, dolorido. Ele só queria ficar parado e esperar as dores passarem, mas algo quente estava em sua bochecha. Não sentia nenhum objeto no local, mas ainda estava quente, e agora estava em seus olhos, incomodando. Soltando um suspiro, que descobriu ser um ato doloroso também, obrigou-se a abrir os olhos. Uma forte luminosidade o atingiu, fazendo com que fechasse os olhos novamente, piscando algumas vezes e soltando um gemido de dor ao tentar mexer-se. Ao já estar acostumado com a luz amarelada, pode analisar o local em que estava, processando rapidamente que estava em um quarto muito simples. Deitado em uma cama de solteiro, com colchão duro e madeira escurecida, um cobertor grosso o cobria; ao lado da cama estava uma cadeira velha, e uma cômoda média, em cima um candelabro e velas quase no fim. Uma janela de cortina leve e branca, de onde pode observar que era dia e o sol estava forte, estava na parede oposta a que estava a cama. Havia apenas um porta que ficava a frente do pé da cama.

Ainda sentindo o corpo dolorido, tentou sentar-se, e por fim, ao soltar um gemido sofrido, deu-se por vencido e voltou a deitar-se. O que pode ver de si, estava com o peito alvo desnudo e envolto a ataduras, vestindo apenas uma calça cinza de algodão. Podia sentir ataduras em volta de sua cabeça cheia de desgrenhados cabelos castanhos escuros e seu braço esquerdo estava todo enfaixado. Parecia que havia sofrido uma grande queda ou algo do tipo, mas não se lembrava. Parando para pensar, o garoto não conseguia identificar onde estava, obviamente sabia que estava em quarto, mas não sabia onde esse quarto ficava, o cômodo não era familiar para ele. E pensando mais profundamente, olhando através de suas memórias, o que encontrou foi... nada. Não se lembrava de nada. Nem seu nome, ou quantos anos tinha. Procurava e só encontrava escuridão, e uma dor de cabeça. Pânico começou a se alastrar por seu corpo, medo estava o dominando. Tentou levantar-se novamente, dessa vez ignorando os protestos de seu corpo, ele só queria sair dali, estava se sentindo sufocado. Conseguindo sentar-se, percebeu que seu ferimento abrira-se e estava manchando as ataduras de vermelho, mas isso não importava agora, ele só queria sair.

Atirando o cobertor azul de cima de si, apoiou-se na cadeira, tentou levantar, sentindo suas pernas tremerem e cair para trás na cama. Mas ele não iria desistir, novamente tentou se levantar, sentido fraqueza e tontura, caiu para trás. Estava ofegante e o sangramento parecia só piorar.

– Oh, vejo que acordou. - uma voz suave o assustou, e institivamente se sentou na cama. O movimento brusco fez com que seu ferimento arder-se, e soltou um gemido, fechando os olhos. - Ah, não! Você abriu o seu ferimento! Deite-se, vou fechar o ferimento e te dar um chá para dor.

Ele ouviu novamente a voz, só que agora havia um tom mais firme e autoritário. Abriu os olhos quando sentiu mãos em seus ombros o obrigando a deitar-se, o que fez ainda sentindo-se confuso. Mesmo com a visão um pouco turva, ainda pode visualizar cabelos chocolates e olhos cor de mel brilhando em preocupação. Mas sua consciência aos poucos ia, e mesmo com relutância, deixou-se levar pela escuridão.

A próxima vez que acordou, viu pela janela que o céu já estava escuro e a lua no alto a brilhar. Não sentia tanta dor como antes, estava mais leve, o que o motivou a sentar-se e tentar levantar. Descobriu que estava do mesmo jeito da primeira vez que acordara, mas com todas as ataduras trocadas. Devia ter sido aquela garota de antes, pensou andando até a janela e observando ao redor. Logo se dando conta que estava em um tipo de fazenda, com prados e animais ao longe, como bois e vacas, uma horta ao leste e ao oeste um milharal. Não conseguia ver outras casas por perto, apenas pequenos pontos de luzes ao longe, que presumiu ser o resto da vizinhança. Ficou a contemplar o lugar mais um pouco, foi quando ouviu passos através da porta, e depois alguém estava a batendo levemente.

– Com licença, eu trouxe sua janta. - ele ouviu novamente aquela voz suave, e depois a porta estava sendo aberta e uma garota estava passando por ela, em suas mão uma bandeja com comida.

De roupa simples, um vestido oliva de manga, e um xale de crochê cinzento, era uma garota magra e bonita. De pele rosada e rosto de feições miúdas, seus olhos castanhos mel procurando aquele que deveria estar repousando na cama. Os olhos de ambos se encontraram, e por um minuto se fez um silêncio desconfortável para ambos. Até que a garota andou até a cômoda e depositou a bandeja ali e virou-se para o garoto que a observava atentamente. Ao olhar para o moreno, seu rosto mostrava desaprovação, os braços cruzados e as sobrancelhas franzidas, fizeram o garoto se sentir envergonhado.

– Você não deveria estar na cama, repousando depois de ter quase se afogado. - a garota disse se aproximando um pouco do garoto que aparentava ter uns treze anos, a mesma idade que a sua, mas ele era mais baixo.

O garoto ficou em silêncio, sem saber o que dizer, mas definitivamente algo chamara a sua atenção. Então foi isso que aconteceu comigo. Mas ainda não se lembrava do ocorrido e nem de como chegara naquele situação. O menino olhou para a outra, que estava aguardando uma resposta sua, e quando abriu a boca para responder, ela deu um suspiro parecendo cansada e balançou a cabeça.

– Deixa, tudo bem. Pelo menos agora você já está melhor. - ele apenas se resignou a assentir. - Vamos, mamãe fez uma comida gostosa hoje. Você precisa se alimentar para curar-se melhor.

Ela, então sentou-se na cadeira velha, e esperou que ele voltasse para cama. Com um pouco de cautela, sentou na cama e ela passou a bandeja para ele. A comida era simples, uma sopa de legumes e verduras, um pedaço de carne e pão, por último um suco de laranja. Simples, mas que deixava exalar um cheiro muito bom, só agora percebendo o quanto estava com fome. E sem mais delongas, começou a comer, vez ou outra olhando a garota ao lado, que mantinha-se quieta. Até ele acabar toda a comida, os dois ainda se mantinham em silêncio, cada um perdido em pensamentos. Ao terminar, a garota levantou-se e pegou a bandeja e saiu do quarto sem dizer uma única palavra. O outro apenas a observou de cenho franzido, sentindo-se de repente solitário. Ao menos sozinho posso pensar mais claramente, pensou soltando um suspiro e sentando-se mais confortável o possível na cama, com suas costas apoiadas na cabeceira. Mas logo ele se viu em companhia novamente, a mesma garota de antes voltara, resmungado enquanto prendia os cabelos castanhos médios, em um coque frouxo. Ela ocupou a cadeira de antes, os dois ficaram se encarando por longos minutos, até ela desviar os olhos.

– Então, acho que não me apresentei antes. Meu nome é Aurora Serafini. E você deve ser Guilio, não é? - apresentou-se, cortando o clima pesado que aos poucos estava se instalando entre eles.

Eu sou?– perguntou o menino, genuinamente surpreso. Olhava Aurora com certa esperança. Talvez ela saiba quem eu sou.

– Como?! - mas sua esperança parecia murchar ao ver confusão nos olhos da garota. - Você não se lembra?

– Desculpe-me senhorita Aurora, mas não me lembro de nada. Penso que a senhorita poderia me esclarecer este fato.

– Voc-você perdeu a memória?! - gaguejou Aurora, surpresa e vendo o garoto a sua frente assentir. Guilio estava começando a se preocupar com a garota, já que a mesma não dizia nada, apenas o encarava com os olhos arregalados. Engoliu em seco.

– Senhorita Aurora? - a chamou na tentativa de a trazer para a realidade, que imediatamente surtiu efeito. A garota piscou um pouco os olhos, e depois soltou um suspiro.

– Você perdeu a memória... - murmurou, balançando a cabeça, avaliando o ferido. - Bem, acho que não devia ficar surpresa.

– Por que diz isso, senhorita? - estava confuso e a menina não estava ajudando a clarear a sua mente.

– Oh, não me chame de senhorita, é tão formal. Aurora já está bom. - sorriu e viu o outro assentir. - Desculpe, mas não posso lhe ajudar.

– Como?!

– Noite passada houve uma forte tempestade, o riacho transbordou e inundou grande parte do vilarejo. Eu e minha família estávamos tentando ajudar as pessoas, quando eu vi você no rio, se afogando. Fui eu quem o salvei, bem, eu e meu irmão mais velho, Rocco. Você nos deu um grande susto, sabia? Não sabemos como você parou naquela situação, já que você nem é da vila. Estávamos esperando você acordar e nos dizer. Além disso, você sofreu alguns ferimentos, alguns mamãe me disse, que foi antes de cair na água, outras foram feitas pelas pedras do rio; como o seu ferimento na cabeça. Acho que foi esse ferimento que fez com que você perdesse a memória. Tenho que pedir para mamãe olha-lo amanhã e ver se tem reversão.

Quando ela terminou de explicar, ele apenas a encarou, com um olhar perdido. Aurora se sentiu desconfortável e compadecida pela situação do rapaz. Vendo que ele estava perdido em seus pensamentos, ela levantou-se, não com a intenção de sair do quarto. Andou até a cômoda e acendeu as velas do candelabro, e abriu a primeira gaveta do móvel, tirando de lá ao que parecia ser uma coberta marrom escuro e uma caixinha pequena de madeira. Ela voltou para o garoto que a encarava com um olhar curioso, Aurora lhe ofereceu um sorriso gentil e voltou a se sentar na cadeira.

– Não conseguimos salvar as suas roupas, estavam rasgadas demais. Mas conseguimos remendar a sua capa. - Aurora informou, estendendo a capa marrom para ele, o mesmo o pegou, a analisando e sentindo o tecido. Era familiar. - Nela, estava escrito o nome 'Guilio', pensamos que este fosse o seu nome. - ela o mostrou o nome bordado na bainha do manto.

– Eu... eu não tenho certeza se esse é meu nome ou não, mas sinto que é algo familiar. - murmurou, olhando Aurora que ainda mantinha seu sorriso gentil. Seus olhos então caíram na caixinha de madeira nas mãos pequenas da garota. A mesma ao notar onde esta a atenção dele, abriu a caixinha e revelando o seu conteúdo. Em uma almofada vinho estava uma delicada corrente, com um pequeno pingente em formato circular e um desenho no meio.

– Isso estava com você também. - explicou entregando o colar ao menino, que olhava fascinado para o colar. O moreno analisava com um cuidado extremo, sentia uma forte sensação que não conseguia explicar, uma grande ligação com aquele simples objeto. Tentava a todo custo lembrar onde já vira aquele colar, mas não conseguia, até que uma forte dor de cabeça o acometeu.

Nevava.

As ruas estavam cobertas de neve, o céu azul escuro tinha uma densa camada de fumaça negra. As pessoas ao seu redor estavam agitadas, gritando uns com os outros, outras pareciam aterrorizadas. O menino de cabelos castanhos estava parado, apenas observando sem entender o que estava acontecendo. Seus olhos freneticamente procuravam por algo, ou alguém, não sabia dizer ao certo.

Via a sua frente uma cena trágica. As casas de uma pequena vila estavam sendo tomadas pelo fogo, pintando o cenário com suas cores. As pessoas tentavam a todo custo apagar o fogaréu, mas seus esforços pareciam inúteis.

Sentiu de repente alguém o erguer, e então estava nos braços de uma mulher de cabelos castanhos, mas seu rosto estava embaçado, não conseguia visualizar direito quem era. Mas sentia que era alguém importante para ele.

– Meu pequeno, eles fizeram isso com nosso povo. Nunca se esqueça... Você está destinado a algo grande, não aqui... - a mulher dizia em um sussurro, e tirou de seu pescoço o colar de pingente circular. - Isso é a prova de que você é o herdeiro... Nunca se separe dele... Meu pequeno...

As imagens começaram a se dissolver, em uma torção que lhe trazia uma dor de cabeça. Ouvia vozes, sem conseguir distinguir o que falavam. Havia gritos que arrepiavam seus pelos, e antes de que tudo ficasse em um breu tenebroso, ouviu uma risada fria e assustadora.

Ele ouvia uma voz o chamando ao longe, em um tom que beirava a preocupação e o desespero, sentindo alguém balançar o seu ombro. Seus olhos aos poucos foram se abrindo, tendo por um momento sua visão desfocada, até que aos poucos estava se tornando consciente do seu entorno. A primeira coisa que apareceu em seu campo de visão foi o rosto preocupado de Aurora, cujo olhos estavam parecendo marejados.

– Você está bem? - ela perguntou, passando um pano em seu rosto, só agora percebendo o quanto estava molhado de suor e sua respiração ofegante.

– O-o que aconte-ceu-ceu? - perguntou Guilio, com a voz trêmula olhando para os lados, ainda um pouco desnorteado.

– Quando eu te entreguei o colar, você ficou encarando-o, não sei te explicar, mas você parecia em um tipo de transe. Depois começou a convulsionar, e então desmaiou. Foi assustador... - explicou em um murmuro que quase não deu para ouvir, o olhos ainda marejados.

– Desculpe-me, se a assustei, mas acho que tive uma visão. Acho que era uma lembrança.

– Sério?! E o que foi que lembrou? Era relacionado ao colar? - Aurora parecia eufórica e curiosa, para em outro segundo estar parecendo envergonhada, com as bochechas coradas. - Desculpe, você não precisa me dizer.

– Tudo bem. - ele sorriu, achava Aurora uma pessoa boa e sem más intenções. - Não me lembro direito, mas era em uma vila que estava pegando fogo. Uma mulher me pegou no colo e me deu esse colar. Ela disse que eu era um herdeiro, não sei o que isso significa.

Contou, forçando a sua mente a rever a memória, mas só conseguia remendos dela. Já Aurora observava atentamente o menino, seus pensamentos um pouco embaralhados com as novas notícias que recebera. Não imaginava o que poderia trazer para ela e sua família quando se disponibilizou a salvar e cuidar do garoto, mas sabia que este era possivelmente alguém cheio de mistérios. No momento, apenas poderia ajudar Guilio com sua memória e o adaptar a sua nova vida, pelo menos até estar totalmente curado.

~*O*~

Era uma noite de luar, com poucas estrelas no céu azul escuro. O silêncio no local era quase que totalmente, se não fosse pelos pequenos sons de passos que andavam pela grama bem cortada. O local era fortemente guardado, era óbvio de se concluir, apenas observando os diversos homens de ternos negros e armados, que rodeavam a bela propriedade; nada pequena também e tendo árvores cercando a mansão rústica.

Dentro daquela mansão estava uma pessoa muito importante para os seres que se infiltravam pouca a pouca na floresta. Eram silenciosos e minuciosamente precisos em seus movimentos, sincronizados. A poucos metros da mansão, eles pararam e observaram os homens de ternos. Um dos seres, sendo que todos estavam mascarados, deu um sinal de mãos a um outro que estava por perto, e este passou para outro, até chegar a um que estava no topo de uma árvore, junto com vários outros. O último soltou um piado de coruja três vezes.

O sinal havia dado.

Era um ataque a Vongola Mansion.


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Notas finais do capítulo

Então, desculpem por demorar muito, eu sei, vocês querem me matar! ^^
Então, eu divide esse capítulo em duas partes, porque ficaria muito grande, e eu não quero cansar a leitura, e também quero manter um suspense!
Então, temos alguns fatos esclarecidos, outros ainda em aberto...
Ah, eu não sabia qual era o nome do restaurante do pai do Yamamoto, então coloquei como o nome dele, se tiver errado e vocês souberem qual é, me avisem, okay? Agradecida também, se vocês avaliarem como eu tô no requisito 'ação', eu não sou muito boa nisso, é a minha primeira vez, então quero suas opiniões! ^^
Hunm, acho que é só isso, a próxima postagem vai ser no próximo fim de semana, é a minha vontade, mas não tenho certeza, então, não me matem! ^^ rsrs

Caso a imagem não dê:
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Até logo,
Kunimitsu.