Silent Hill: Sombras do Passado escrita por EddieJJ


Capítulo 20
Culpada de Morte


Notas iniciais do capítulo

"A minha consciência tem milhares de vozes, / E cada voz traz-me milhares de histórias, / E de cada história sou o vilão condenado." - William Shakespeare



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“CRREEECK”, mas um pedaço da porta fora quebrado e mais perto dos dois a implacável fúria das criaturas estava.

– O que pretende fazer? – disse Emma enquanto rapidamente pegava todos os lençóis que conseguia, assim como Sebastian pedira.

– Uma corda! Vamos fazer uma corda!

– E... – ela indagou, tentando dar os nós entre os lençóis.

– Usaremos para passar pelo buraco aberto no saguão, o mesmo que... ei, tá querendo matar a gente? – o rapaz perguntou ao olhar para o que Emma estava fazendo.

– É claro que não!

– Mas vai matar com esses nós, não vão aguentar!

– Não sei dar outros nós, okay?!

– Nunca foi escoteira menina?

– Fui... quer dizer, não!

Sebastian ficou perplexo porque achava que ser um escoteiro era uma obrigação de toda a criança, bom, ele não diria obrigação, mas como um rito de passagem pelo qual toda a criança gostaria de passar. Ele e Simon haviam sido escoteiros quando tinham doze anos e foi um período marcante e divertido para ele porque ele e seu irmão conseguiram todos os distintivos antes que todos os outros, pois o que Simon não conseguia fazer, ele poderia facilmente fazer em seu lugar e vice-versa.

– Esquece, deixa os nós comigo, pega a arma. – ele jogou a arma nas mãos dela – Se elas entrarem antes de eu terminar você as segura. – ele suspirou e balançou a cabeça – Se bem que seus tiros não são melhores que seus nós.

– Eu ouvi isso!

– Foi por isso que eu falei.

– Há! Há! – ela foi sarcástica – Melhores que meus nós... – resmungou para si mesma, apontando a arma para a porta bloqueada pelo armário.

Sebastian rapidamente deu apenas mais alguns nós e logo uma corda de mais ou menos oito metros feita de lençóis e toalhas velhas e encardidas ficou pronta. Ele enrolou a ponta da corda na arma, engatilhou-a e jogou o resto da corda nos braços de Emma.

– Esteja pronta! Vamos sair!

– Sim!

Ele empurrou o armário que antes havia colocado para bloquear a porta, que caiu no chão fazendo um barulho estrondoso, e em questão de segundos as criaturas entraram. Eles, por sua vez, aproveitando-se da baixa estatura dos monstrinhos, correram e pularam por cima deles entre chutes e disparos em direção a porta que os levaria ao buraco. Ao chegarem no fim do corredor, Sebastian pisou fortemente e disparou algumas vezes sobre uma placa da fina grade que revestia o chão, a mesma, já gasta, rompeu. Sebastian quase caiu, mas teve a gola de sua camisa puxada para trás por Emma.

– Isso vai nos dar algum tempo.

– Não muito. – disse Emma apontando.

– Desgraçadas... – Sebastian viu que várias das criaturas tentavam pular o buraco, e algumas, aquelas que não caiam e morriam empaladas pelas grandes e afiadas estacas sob a grade, conseguiam segurar-se no outro lado e erguer-se.

– Vamos, vamos! – disse Emma puxando Sebastian pelo braço.

Os dois cruzaram o corredor e chegaram ao destino e abriram a porta, lá estava: o buraco que os separava da porta de saída. Sebastian parou um instante e chamou a atenção para um detalhe que lhe intrigou.

– Esse ventilador aí no fundo não estava girando da última vez?

– Oh... porque não debatemos sobre isso? Afinal nós temos bastante tempo e não estamos correndo RISCO DE MORTE! – Emma gritou olhando as várias criaturas que conseguiram pular pelo buraco aproximarem-se.

– Tá bom...

Sebastian pegou a corda de lençóis das mãos de Emma, girou a ponta que estava amarrada na arma e usando-a como um gancho, atirou-a contra a maçaneta da porta principal, a qual enganchou-se assim como previsto. Sebastian deu duas fortes puxadas para garantir que estava realmente preso e entregou a corda nas mãos de Emma.

– Pula e sobe.

– O quê? Eu? Eu não vou pular... eu...

– Eu não tenho a arma Emma! Não posso segurar as coisas enquanto você pensa na sua vida! – disse ele dando um pontapé na criatura mais próxima.

– Mas eu...

– Ora, tenha santa paciência! – Sebastian pôs a corda nas mãos de Emma, pegou a garota pela gola da camisa e aba da calça e a arremessou buraco adentro.

– AAAAAAAAAAAAHHHH!!!!! – Emma gritava segurando a corda com toda a força que tinha enquanto caia até a queda parar bruscamente e ela encontrar-se suspensa, estava ofegante pelo susto e seu coração batia a todo o vapor – Imbecil! – ela gritou.

Sebastian, sem ligar pra ofensa que acabara de receber, deu alguns passos para trás e tomando impulso pulou sobre o buraco em direção a corda. Por muito pouco não caiu, conseguindo agarrar com apenas uma mão a ponta do último lençol, ficando suspenso, assim como Emma.

– E aí, você morreu? – ele perguntou ofegante enquanto via as criaturas que, antes próximas dos dois, agora pulavam para a queda livre tentando alcança-los.

– Eu QUASE morri!

– Mas não morreu... – disse ele agarrando-se ao lençol com a outra mão.

Emma passou um tempo olhando para baixo.

– Já pode subir se quiser. – ele disse – Não me agrada ficar suspenso sobre milhares de metros. – riu – Nem dá para ver o fundo...

– Ehr... – Emma olhou pros lados - Claro. – ela tentou subir a corda movendo seus membros aleatoriamente, porém tudo que conseguiu foi descer mais um pouco.

– Hunf... vai me dizer que não sabe subir cordas também?

– É claro que eu sei! – Emma tentou novamente, nada.

– Onde você cresceu? – ele ironizou.

– Nada de piadas! Você está em desvantagem aqui!

– OK... deixa eu te ajudar. – Sebastian subiu o quanto pôde e empurrou a bunda de Emma para cima com a mão.

– O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO??? – ela usou o pé para chutar a cabeça dele.

– Tentando te ajudar! – ele gritou.

– Não preciso dessa sua ajuda!

– Então podemos ficar aqui pendurados para sempre! O que acha?

– Ótimo! – ela respondeu virando o rosto pra cima.

– Ótimo! – ele também gritou.

Longos instantes os dois passaram em silêncio, suspensos no ar até que uma sacudida os trouxe de volta a realidade.

– O que foi isso? – Sebastian perguntou nervoso.

– Merda...

– O que foi?!

– O lençol está se partindo! – disse Emma, fazendo novamente vão esforço para subir.

– Ah... por favor! – Sebastian empurrou novamente Emma no local proibido – SÓ SOBE! – ele gritou.

– Grrrr.... – Emma estava desconfortável com as mãos de Sebastian mas com sua ajuda conseguiu subir.

A corda sacudiu de novo, os dois não tinham muito tempo. Sebastian subia e empurrava Emma com cada vez mais força, mas ainda havia cerca de três metros de corda para subir e ela se partia cada vez mais rápido à medida que chegavam perto da parte instável. Ainda mais força Sebastian aplicou, até que enfim Emma conseguiu tomar um impulso em um dos nós e ultrapassar a parte instável da corda, segurando-se na maçaneta da porta principal. O único problema foi que seu impulso fez seu pé atingir acidentalmente o rosto de Sebastian, que se desequilibrou e caiu, segurando-se bem abaixo na corda. Emma abriu a porta principal e ajoelhou-se no chão, estendendo a mão para Sebastian.

– Sobe! Me dá sua mão!

– Argh...– Sebastian, embora atordoado com a pancada, continuava a subir.

– Rápido... não vai aguentar muito! – de fato não aguentou, mal Emma fechou a boca, já pôde ouvir o som dos lençóis se rasgando de uma vez, mas num gesto rápido ela agarrou a parte rasgada e se tornou o único elo existente entre Sebastian e sua vida.

– Não solta! Por favor! – Sebastian suplicava, enquanto subia.

– Eu... vou tentar! Arghh! – gritou Emma, demonstrando em seu rosto o esforço que fazia para sustentar Sebastian.

Sebastian subia cada vez mais depressa e a cada impulso que dava com os pés mais peso aplicava sobre os braços Emma. Foi quando a garota ouviu, vindo de suas costas, um som familiar. Ela olhou por cima do ombro para a fonte do grunhido e por pouco não soltou Sebastian com o susto que teve. Um dos mesmos monstros que os atacaram quando chegaram ali, os que andavam com os braços pois tinham suas pernas atrofiadas, havia voltado e Emma não podia fazer nada, já ele... O monstro levantou seu grande e musculoso braço e agarrou a perna de Emma, puxando-a para trás.

– NNNNNNÃÃÃÃÃÃOOOOOO!!! – Emma gemeu e gritou em agonia naquele momento. O mundo a sua volta parou enquanto ela sentia cada centímetro do lençol escorregar de suas mãos suadas e cansadas antes que Sebastian pudesse chegar até a porta.

Emma nem sequer o pôde ver cair pois o monstro a derrubara no chão ao puxar sua perna. Apenas ouviu a sinfonia aterradora do último grito desesperador e agonizante do rapaz chamando por seu nome enquanto mergulhava na imensidão escura daquele buraco, logo após alguns segundos, o som de uma grande pancada e carne se rasgando ecoaram por toda a superfície do buraco até chegar a superfície e anunciar a Emma sua culpa inegável na morte daquele que, ao parecer, era seu único amigo no mundo.

Emma não conseguia pensar em mais nada enquanto era arrastada no terreiro do pátio pela criatura, somente em Sebastian, somente em sua queda, somente em seu desespero... em sua culpa naquilo. Se ela não fosse tão egoísta... se ela... era tarde demais. A culpa em seu coração foi rapidamente substituída por ódio e desespero, ela virou-se para a criatura e acertou seu rosto com um chute avassalador, chute esse que fez a criatura largar seu pé, atordoada. Emma levantou-se e correu até a maçaneta da porta principal onde estava a arma, a criatura a seguiu, porém ela foi mais rápida e disparou dois tiros na cabeça da criatura que caiu morta.

“Sebastian!”, ela lembrou. Ela correu até a beirada, ajoelhou-se e olhou fixamente para a escuridão.

– Sebastian!!! – ela gritou na esperança de apesar de todas as circunstâncias receber uma resposta – Sebastian, responde... – as lágrimas começaram a rolar em seu rosto – Por favor Sebastian... responde... por favor – ela pôs as mãos no chão e começou a chorar, dando às suas lágrimas o mesmo destino do seu amigo: o fundo daquele abismo.

Longos minutos Emma passou olhando para o fundo, parada, pensando em como poderia tê-lo salvo, em o quanto poderia ter sido mais útil. Desde que chegaram ali, os planos, salvamentos, habilidades, tudo! Tudo era ideia dele, ele só queria ajudar, estava disposto a arriscar sua vida... e naquele momento... ele a perdeu... porque ela não pôde ajuda-lo. Tal acontecimento só fez o ódio dela pelo pai crescer ainda mais, pra ela a culpa era principalmente dele por... por tudo! Mas não adiantava mais lamentar... Emma levantou-se e se dirigiu a ambulância na qual chegaram ali, nada mais da chave, ou cozinha, ou Douglas passavam na sua cabeça. Ela só queria... nem mesmo o que queria ela sabia. Ela sentou-se no banco do motorista, jogou a arma no banco do carona e começou a chorar ainda mais... e foi naquele momento que ela descobriu que... que gostava de Sebastian. Apesar de se sentir inútil perto dele ou não gostar do seu otimismo ou da sua burrice em querer ajudá-la, ela... ela gostava dele, não sabia se apenas como um amigo, mas que gostava dele e que agora... o havia perdido. Emma bateu sua cabeça violentamente contra o volante algumas vezes e gritou, gritou como nunca havia gritado antes, gritou como se quisesse transformar tudo que estava sentindo em som, gritou com toda sua força até faltar ar em seus pulmões e se sufocar com suas próprias lágrimas.

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Com a cabeça reclinada no banco, Emma olhou para o assento do carona e viu a arma, ela tirou os vários fios de cabelo ensopados do rosto, pegou a arma com a mão direita e pôs na boca, estava cansada de tudo aquilo, ela respirou fundo, e atirou.


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Notas finais do capítulo

Emma e Sebastian conseguem escapar das criaturas que os aprisionaram no closet, porém na escapada Emma é atacada por mais um monstro e acidentalmente deixa Sebastian cair no abismo sem fim. Após recuperar-se do choque ela mata a criatura e lamenta a morte de Sebastian, se julgando culpada, chegando então a extremos para aliviar-se de tal culpa.



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