Cartas de Amor escrita por Palavras Incertas


Capítulo 4
Palavras que não posso dizer


Notas iniciais do capítulo

Oieee! Como vocês estão? Eu não demorei, não é mesmo? Acho que isso é um evento histórico que merece ser comemorado. E eu queria muito agradecer às minhas leitoras fofas: MariAna, Isa, Fernanda Yumi e Percabeth20 pelos comentários maravilhosos.



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Acho que eu aprendi a associar paredes brancas com hospitais, com desgraças e com milagres. Não sei dizer ainda em qual Annabeth se encaixa, já que sua cura foi um milagre, mas sua perda de memória foi uma desgraça. Talvez seja um pouco dos dois, e talvez a perda da memória seja o preço a se pagar por ela ter sobrevivido, mas eu não sei dizer se esse é um preço muito alto ou muito baixo. Não sei como ficar feliz sabendo que ela não se lembra mais de mim, porém sei como ficar feliz todos os dias só por ela estar viva. É confuso, e essa confusão me enlouquece aos poucos.

Mas sei que não estou ficando louco, mesmo que pareça, o que me causa essa sensação é só o resultado da pressão e do estresse, do medo e das angústias, das incertezas e das possibilidades . Tudo isso junto. Tudo isso me sufocando, me afogando e me destruindo.

Sei que posso surtar a qualquer momento, e também sei que essa é uma reação comum, porque se não fosse o médico de Annabeth não recomendaria que eu ,assim como minha esposa, fizesse seções semanais com um psicólogo. Entretanto não é difícil prever isso, pois, em uma situação como essa, qualquer pessoa com sentimentos se entregaria ao desespero, é uma das consequências de se amar, de se importar, de ser humano.

Eu deveria contar para o psicólogo que tem um nome estrangeiro difícil de se pronunciar como estou me sentindo, como estou lidando com tudo isso, mas como se conta algo que não se sabe? Essa é a verdade, eu não sei como consegui seguir com a minha vida nessas duas semanas depois do acidente. Não sei de mais nada, não tenho mais respostas, não tenho mais certezas, só tenho dúvidas e a única pessoa que poderia esclarece-las se perdeu em um passado onde as suas memórias não alcançam.

Porém talvez eu saiba de algumas coisas sim, porque eu sei que ainda amo a garota dos olhos cinza expressivos, do sorriso intenso e do cabelo loiro da cor do sol. Mas não quero dizer isso para aquele estranho, não quero dizer nenhuma palavra, entretanto sei que em algum momento terei que dizer, mas não hoje, não agora.

Annabeth está me esperando em uma cadeira dura da recepção do consultório, aviso que está na hora de irmos. Ela não me pergunta como foi a minha consulta e eu não pergunto como foi a dela, é quase um acordo silêncio, ou talvez seja só receio pela resposta.

Acho que a única coisa boa em não saber é que isso faz com que tenhamos algo em comum, pois nenhum dos dois compreende o que está acontecendo exatamente. Só que eu tenho uma vantagem, porque sei quem ela era e do que ela gostava, e sei que desde pequena, mesmo preferindo os dias frios, Annabeth amava sorvete de morango nos dias quentes, e hoje era um dia quente.

O tempo da nossa cidade é realmente muito estranho, uma hora chove e na outra faz calor, parece que ele faz isso só pra contrariar, mas hoje ele não conseguiu. Estacionei próximo a uma sorveteria qualquer, quando Annabeth percebeu onde estávamos indo seus olhos pareceram brilhar um pouco, pois isso era algo de que ela se lembrava , fazia parte de sua memória.

Sei que uma sorveteria soa extremamente clichê, mas não mais do que um café,e, de qualquer modo, isso não é um passeio romântico, nem para Annabeth e nem para mim, porque eu não seguraria nas mãos delas e a conduziria até uma das cadeiras e não sentiria o frio da aliança dela encostando nos meus dedos. Na verdade, ela não usa mais a aliança, vi que ela estava desconfortável com aquele anel e resolvi dizer para a minha esposa que podia retirar, ela tentou negar, dizendo que não precisava, que gostava dela, mas eu sabia que no fundo a aliança a incomodava, que ela só a mantinha em seu dedo por mim, como forma de me agradar, mas ela não precisava sofrer carregando consigo um símbolo tão grande de um amor que um quase estranho sentia por ela, e no final eu ganhei a discussão. Nunca fiquei tão decepcionado por ter ganhado algo.

– Então, senhor Jackson, perito em Annabeths Chases, você consegue acertar qual sorvete eu vou pedir? - Minha esposa me perguntou quando já estávamos sentados. Percebi que ela se esforçava para jogar esse jogo, como forma de me fazer sentir melhor e puxar assunto. E realmente funcionava, eu me sentia bem melhor ao acertar as perguntas e mostrar para ela que eu a conhecia melhor que ninguém. Isso eu me faz lembrar o quanto ela é gentil, o quanto ela é incrível. Annabeth é definitivamente a única pessoa que eu conheço que mesmo estando pra baixo vai te tentar fazer sorrir, e eu amo isso nela.

– Deixe-me pensar um pouco, começa com m e termina com a letra o? - Indaguei de brincadeira.

– Não posso dar dicas, seria roubo. - Ela respondeu rindo.

– Por favor, me diz, eu juro que não conto pra ninguém que você quebrou as regras. - Digo com a melhor cara de fofo que consigo, não sei se deu certo.

– Não sei, seria errado. - Annabeth finge estar realmente pensando nisso.

– Vai, por favor, só uma informaçãozinha não mata. - Continuo tentando persuadí-la.

– Tudo bem, tudo bem, eu conto. - Ela diz repetindo as palavras e levantando os braços em sinal de rendição. - Está certo, mas não conte pra ninguém, promete?

– Seu segredo e sua paixão por morangos estão a salvo comigo, Milady. - Faço uma pequena reverência ao falar, fazendo Annabeth rir por um bom tempo. 2 pontos pra mim.

E, naquele momento, nós parecíamos crianças, ou pelo menos adultos voltando no tempo, rindo de coisas idiotas e brincando. Aproveitando a vida como se nada tivesse acontecido. O que é uma mentira. A não ser que mudar completamente meu mundo e roubar todas as lembranças da minha esposa seja nada, porque, nesse caso, nada aconteceu, como eu queria que tudo tivesse acontecido.

Algo de bom aconteceu, o som doce da risada dela me fez perceber que talvez não seja tarde demais, que talvez não seja impossível, que talvez eu possa fazê-la minha novamente, e só esse simples pensamento fez meu dia ficar incrivelmente mais alegre, porque as possibilidades estavam ao meu favor, e eu sei que quando chegar em casa irei escrever uma de minhas cartas para ela, porque eu realmente espero que um dia ela as leia, mas não agora. Agora ainda é muito cedo para dizer o que eu quero dizer. Ainda é muito cedo para que ela interprete as frases. Há palavras que ainda não posso dizer, porque ainda é cedo, tenho que esperar entardecer.


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Notas finais do capítulo

Bom, não é o melhor capítulo que eu já escrevi, mas eu espero que vocês tenham gostado. Não se esqueçam de me dizerem o que acharam.
Beijinhos da autora...



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