Love Story escrita por Carol


Capítulo 9
Is this in my head? I don't know what to think




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Eu sentia um aperto no peito, e não era apenas por não estar respirando. Dei uma longa inspirada e soltei o ar vagarosamente. Repeti isso até me acalmar um pouco. Coloquei a mão dentro do envelope e peguei o outro papel. Era a minha guarda.

– Eu quero ficar sozinha.

– Mas... Julie. Isso significa que você não tem mais com o que se preocupar! Podemos ficar juntos. E esquecer essa história maluca. Arrumar essa bagunça.

– Não. Não é o que eu quero. Não quero que sua mãe seja minha tutora. Não quero ficar sem papai. Não sei se quero continuar aqui. Pode respeitar meu desejo?

– Claro. – Ele disse com uma voz cansada. Pegou a carta e a guarda e colocou-as no envelope. – Se mudar de ideia...


Dei as costas para meu quarto. Parei na porta e olhei as várias marcas de altura. As marcas que fazia a cada aniversário, como eu queria crescer mais rápido! Como eu era feliz e não sabia. Desci as escadas e passei reto pela sala.


Estava segurando a última mala. Parei na soleira da porta da frente. Segurei as lágrimas e girei nos tornozelos. A casa vazia. A casa que eu havia morado desde que me entendia por gente. Provavelmente a última vez que a veria.

Como as coisas haviam mudado em pouco mais de um mês. Fazia duas semanas desde que papai fora preso. O juiz decretou que eu deveria ir para um orfanato que ficava a 20 minutos de carro da cidade. Felizmente Rafael havia escutado meu pedido e não havia mostrado para ninguém a minha guarda. E também havíamos parado de conversar.

Estava imersa nos pensamentos quando senti uma vibração no bolso do casaco. Peguei o celular e li a mensagem.


Tem certeza? R.



Eu hesitei um momento, mas logo me recompus. Meus dedos voaram pelo pequeno teclado enquanto digitava uma resposta.



Rafael, eu não quero sua mãe ou seu pai como meus tutores. J.



Esperava que aquilo fosse o suficiente para ele desistir e esquecer de mim. Fechei a porta da frente e tranquei. Caminhei até o táxi e comecei minha estrada para uma nova vida.



Primeiro dia numa escola nunca é agradável, imagina como estava sendo no orfanato. Se bem que o problema não era nas pessoas, pelo contrário, eram todos simpáticos e hospitaleiros. Mas mesmo assim eu me sentia deslocada. Estava no meu quarto, arrumando as coisas, quando uma garota entrou.


– Boa tarde, eu me chamo Clara, e pelo jeito somos companheiras de quarto.

Tudo naquele orfanato me fazia lembrar um internato, fala sério, companheira de quarto?

– Oi. Eu sou a Julie, prazer. Err, o computador é seu ou...

– Não, não, é do orfanato, pode mexer, fique a vontade.

– Então com licença.

Eu me sentei na frente do monitor e abri o programa de mensagens instantâneas.


Amanda diz:


Julie! Já chegou? Como é aí? Eles te trataram bem? Ai, me conta tudo!


Julie diz:


Já sim! Eles são ótimos, Amanda! E é tudo tão bonitinho e simpático! Você ia adorar!


Amanda diz:


Já fez alguma nova melhor amiga pra me substituir? Haha.


Julie diz:


Sua ciument! Haha. Claro que não, você é minha melhor amiga sempre! Insubstituível.

Amanda, preciso ir, tenho que terminar de arrumar minhas coisas, só entrei para dar noticias, muitos beijos, mais tarde eu tento entrar de novo!


Amanda diz:


Sei, sei. Haha.

Ok, ok, vai lá, amiga. Beijos.


– Julie... Me desculpe pela invasão de privacidade, é que caiu e eu... Bem fiquei curiosa e...


Olhei para Clara. Ela estava segurando um grosso livro nas mãos. Não me era estranho.

– Desculpe. Seu livro. Caiu. Depois que você ler, pode me emprestar? – Ela deu um largo sorriso.

Eu peguei o livro e olhei a capa. Romeu e Julieta. Como ele havia parado na minha mochila? Afastei as lembranças que ele me trazia e estendi o livro para Clara.

– Pode ficar.

– Já terminou de ler? Ó. Obrigada, eu leio rápido e devolvo assim que...

– Não, você não entendeu. Você pode ficar com ele, não quero mais.

– Ó. – Ela disse e ficou olhando para mim com certa admiração, parecia que eu era de outro mundo.

Revirei os olhos e continuei arrumando minhas roupas no armário.

O livro... Querendo ou não me fez lembrar de Rafael. Onde será que ele estaria agora? Em casa, provavelmente. Será que ele estaria vendo televisão? Lendo alguma coisa? Talvez, surpreendentemente, estudando? Será que ele estava pensando em mim?

Então balancei a cabeça, não queria pensar naquilo.

Mas... Será que ele estaria magoado comigo? Eu só não... Não admitia que ele houvesse me afastado de papai. Afinal, papai não tinha feito nada demais, tinha? Certo, talvez tivesse... Mas ele provavelmente não voltaria a pensar em mim, eu havia deixado mais do que claro que não queria mais nada com ele, não havia aceitado nem o conselho de mamãe. Mas... Será que eu queria que ele pensasse em mim? Provavelmente não. Ele não havia nem lutado contra o que eu disse. Que tipo de amigo era se não fazia nem questão de estar comigo?

Mas... Ele não disse nada porque sabia que eu não queria escutar nada, não iria escutar e ficaria brava... Mas... Mulheres são tão complicadas! Será que eu queria que ele me convencesse de ficar? Será que...

Certo. Eu queria que ele houvesse se imposto. Queria que ele se importasse. Queria que ele tivesse ido contra minha vontade e mostrado a guarda. Queria que ele tivesse me convencido a ficar com ele. Queria... Queria que eu não tivesse estragado tudo.

Me joguei na cama.

– Como eu sou idiota! – Eu coloquei o travesseiro em cima da cabeça.

Silêncio.

Eu esperava que Clara dissesse alguma coisa, que me ouvisse desabafar, que me ajudasse. Que pelo menos fizesse como uma pessoa normal e me perguntasse o que houve.

Mais silêncio.

Afastei o travesseiro da cabeça e olhei para Clara. Ela estava sentada na própria cama, devorando Romeu e Julieta como se não houvesse amanhã. Suspirei bastante alto.

Nada.

Esquece, eu pensei, não vai adiantar.

Pensei em como poderia reverter a situação. Por mais que o orfanato fosse uma graça, não era meu lar, eu precisava que Rafael mostrasse a guarda ao juiz. Mas... Ele jamais concordaria. Não depois do que disse, ele não me perdoaria, não tão fácil.

Peguei meu celular. Eu iria tentar, mesmo que soubesse que provavelmente não teria resposta. Mas quando fui escrever a mensagem, uma outra mensagem chegou na minha caixa de entrada.

Vá até o jardim dos fundos. R.


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