Love Story escrita por Carol
“Ato II, cena II
JULIETA – Romeu, Romeu! Ah! por que és tu Romeu? Renega o pai, despoja-te do nome; ou então, se não quiseres, jura ao menos que amor me tens, porque uma Capuleto deixarei de ser logo.
ROMEU (à parte) – Continuo ouvindo-a mais um pouco, ou lhe respondo?
JULIETA – Meu inimigo é apenas o teu nome. Continuarias sendo o que és, se acaso Montecchio tu não fosses. Que é Montecchio? Não será mão, nem pé, nem braço ou rosto, nem parte alguma que pertença ao corpo. Sê outro nome. Que há num simples nome? O que chamamos de rosa, sob outra designação teria igual perfume.”
Ouvi um som baixo, como um estalo, vindo da varanda. Tentei voltar à leitura, mas já havia perdido a conexão com o texto. Fechei o livro e o coloquei na cabeceira da cama. Escutei a campainha tocar no primeiro andar. Estranho, eu pensei, não estávamos esperando visitas... Quem poderá ser uma hora dessas?
Caminhei até a porta do quarto e encostei o ouvido.
– Boa noite, Beto, como vai? – Uma voz feminina, conhecida, disse.
Ouvi outro estalo na varanda. Olhei, com suspeitas, para lá. A noite era de um breu total, provavelmente estávamos na lua nova. Fui até a porta da varanda e a abri. No chão da varanda havia algumas pedrinhas. Achei aquilo estranho e olhei para o jardim da frente da casa, a vista da varanda. Havia um Nissan preto estacionado na frente de casa, mas que diabo...
– Ei, Julie!
Procurei o dono da voz.
– O que você está fazendo aqui, Rafael? – Eu perguntei, ainda mais intrigada.
– Finalmente você apareceu. Não saia daí!
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ele estava na parede da frente da casa. A parede exterior da casa era feita de tijolinhos, e eu nunca havia imaginado tal utilidade para eles. Rafael começou a escalar a parede, e, com a ajuda das janelas e das grades da varanda, logo conseguiu escalar até o segundo andar.
– Você é louco, sabia?
– Só o suficiente. – Ele sorriu e me deu um beijo na bochecha. – Vem, quero ouvir a conversa.
Ele pegou minha mão e nós fomos até o corredor, pouco antes da escada, onde não poderíamos ser vistos do primeiro andar. Agachamos e começamos a escutar.
– Não, eu não entendo, Beto, me explique! – A voz feminina falava com firmeza.
– Leila... Só estou fazendo o que é melhor para minha filha, tá legal?
Então a voz era da tia Leila, a mãe do Rafael. Será que ela estava sozinha ou o tio Sammy estaria com ela?
– O melhor para a Julie é você bater nela quando está cego de raiva?
– Eu nunca... – Ele pareceu hesitar e mudar de tática – Então ela foi correndo para você como uma criança?
– Você diz que ela não é criança, mas você insiste em tratá-la como se fosse!
– Eu trato a minha filha como eu quiser!
– Não, você não trata. Não enquanto eu estiver aqui para defendê-la. E eu já te disse, e repito, que se você não se redimir e mudar suas atitudes, vou comunicar a Delegacia de Defesa da Mulher. O que você fez é ameaça e injúria, visto judicialmente como violência doméstica, psicológica e moral.
– Não vai ser você que vai me dizer como criar minha filha!
– Beto...
Era ótimo que tia Leila fosse advogada, ela parecia saber do que falava, mas eu não estava tão animada com a conversa, tinha medo do que papai pudesse falar ou fazer. Eu segurei mais forte o braço de Rafael, cravei fundo as unhas. Ele olhou pra mim e sorriu. Vai dar tudo certo, ele sussurrou.
– Beto! Me escute! Você quer sua filha bem e sadia tanto quanto eu!
– Isso é para você aprender à nunca se meter na vida da minha filha. Eu ainda estou aqui para defendê-la e educá-la.
Ouvi um baque surdo. Apertei mais um pouco o braço do Rafael. Minha respiração vacilou. Rafael levantou de um pulo e correu escada a baixo, pulando os degraus.
A partir daí as coisas aconteceram muito rápido, eu mal vi quando Rafael pulou nas costas do meu pai e os dois rolaram pelo chão. Logo em seguida dois policiais grandalhões arrombaram a porta da frente e ajudaram a segurar meu pai. Tia Leila estava com uma das mãos pousada sobre a face, papai devia ter dado-lhe um tapa.
– Vamos levá-lo para a delegacia, o senhor tem direito a um advogado e a permanecer calado, tudo que disser poderá ser usado contra você. – Um dos policiais dizia enquanto eu descia as escadas.
– Foi você, não é? Sua vagabundinha! – Meu pai cuspiu para mim assim que me viu.
– Papai...
– Não fale comigo assim. Uma filha jamais faria isso com um pai.
Senti um nó na garganta. O ódio nos olhos dele era quase palpável. Eu desmoronei no sofá e os policias e tia Leila foram embora com meu pai a reboque. Rafael sentou do meu lado e me abraçou.
– Não se preocupe, Julie, eles devem prendê-lo e você vai ficar bem, ninguém a irá machucar. – Ele disse.
– Como? Prender? Vão prender papai?
– Eu... Eles... Julis...?
– E como eu fico nessa história? Quem vai ser meu responsável? Você sabe que eu preciso de um!
Ele me olhou com o canto do olho. Acenou com a cabeça para a mesa na nossa frente. Um envelope pardo. A não ser por alguns amassados a mais era o... Não... De repente me veio à memória um acontecimento que parecia estar a anos luz de distância.
Mamãe chamou meu nome. Ela estava no carro, e eu fora dele, indo para a escola. Girei nos tornozelos e perguntei o que havia. Ela sorriu e me estendeu um envelope pardo.
– Eu preciso de um favor seu. Pode entregar isto ao Rafael?
Aquele nome me desagradava demais. Mas mamãe disse que era importante, como eu poderia negar algo a ela? Peguei o envelope e disse que entregaria para ele.
– É o envelope...
– Que a sua mãe pediu para me entregar.
– O que tem nele? – Eu perguntei incerta se queria ouvir a resposta. Ele ficou em silêncio até eu olhar para ele novamente.
– Abra.
Só quando estendi as mãos para o envelope eu percebi que estava tremendo. Segurei o envelope. Minha respiração estava irregular e o coração martelava no peito. Primeiro tirei um papel de carta, desdobrei e encontrei a linda letra de mamãe.
“Querido Rafael,
Meu bem, estou escrevendo esta carta para lhe pedir um favor. Como sua madrinha e segunda mãe, é a você que confio incondicionalmente uma grande responsabilidade. Peço que guarde segredo, por enquanto, para o que vou lhe contar.
Estou doente, bem doente, em breve devo partir. E me preocupo com o futuro de Julie, porque sei que Beto não é racional o bastante para seguir e me esquecer. Portanto, como responsável legal por Julie, eu te concedo, em vida, a guarda dela. Você é menor de idade, portanto caso aconteça algo e que você precise disso, entregue para sua mãe e ela saberá o que fazer.
Só use em último caso. Te amo muito,
Sua madrinha,
Camila Camentto.”
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