Love Story escrita por Carol


Capítulo 7
And my daddy said stay away from Juliet




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- Julie! Entre. – Meu pai disse entre dentes.

- Pai, calma, é só...

- Eu disse para dentro. Cale a boca e me obedeça! – Ele gritou comigo. – Boa noite, Rafael. – Ele disse, seco, e fechou a porta com força.

- Boa noite... – Eu ouvi Rafael falar para a porta fechada e dar meia-volta.

Papai me segurava pelo braço.

- Pai, você está me machucando!

- Anda, para a sala. – Ele foi me puxando até a sala e praticamente me jogou em cima de um dos sofás. – Não quero que vocês se vejam mais.

- Como? – Eu senti como se ele tivesse me dado um soco no estômago. Logo agora que as coisas haviam se encaixado...

- É isso mesmo.

- Pai... Por quê? – Foi tudo o que eu consegui verbalizar.

- É o que eu quero, não questione, obedeça. Se eu vir vocês conversando de novo... – Ele se virou para olhar pela porta de vidro da varanda.

- Pai! É por causa da mamãe?

- O que a sua mãe tem haver com isso? – Ele se virou de frente para mim, azedo.

- Eu que te pergunto! Ela teria ficado feliz, sabia? Ela não reclamava que eu e o Rafael não éramos mais tão próximos quanto quando éramos pequenos?

- Não distorça as palavras de sua mãe. Ela nunca quis vocês... Próximos... Assim.

- Por que você está fazendo isso comigo? Já não basta o sofrimento por causa dela, agora você tira tudo o que eu tinha?

- Não coloque as coisas nessa perspectiva, você não entende...

- Você que não entende! Tira tudo o que eu tenho, tudo que me faz feliz, e quer que eu entenda?!

- Não fale assim comigo, mocinha. Eu sou seu pai. E não me chame de você que eu não sou um dos seus amiguinhos!

Ele fez uma pausa enquanto eu chorava em silêncio.

- Você vai entender quando tiver uma filha.

- Quando eu tiver uma filha? E você vai entender quando for a filha! Você nunca vai entender! Quero ver quando te tirarem toda a sua felicidade e te mandarem entender. Quero ver como VOCÊ vai reagir.

Ele me deu um tapa no rosto. Eu fiquei encarando o sofá, em choque.

- Nunca mais diga isso. Como você sabe que não me tiraram minha felicidade? Me tiraram sua mãe, e agora estou vendo me tirarem você!

Eu sabia que deveria ficar em silêncio, mas meu espírito questionador foi mais forte que a razão.

- Ninguém vai me tirar do senhor!

- Você não entende! Não é tirar literalmente, é te ver triste, deprimida. Pensa que eu não reparo? Você só sabe chorar quando está perto desse garoto e fica tão iludida com as palavras dele que continua sofrendo perto dele!

Como ele podia pensar dessa forma? Rafael era a única pessoa que eu podia contar para me ajudar enquanto eu estava triste.

- Agora você está colocando as coisas na perspectiva errada! Pelo contrário! Ele não me faz chorar! Ele me faz sorrir quando eu estou chorando!

Eu levantei num impulso e sai caminhando na direção das escadas, na direção do meu quarto.

Era o que eu pensava. Meu pai meu segurou pelo cabelo e me jogou de volta no sofá.

- Não me importa o que você acha. Você é minha filha e vai fazer o que eu estou mandando, estamos combinados?

Eu estava indignada. Ele não estava fazendo isso, não era possível. Ele segurou o meu queixo com uma das mãos.

- Eu te fiz uma pergunta.

Eu continuei calada. Sentia as lágrimas queimando minhas bochechas, mas não era capaz de falar, não com aquele nó crescente na minha garganta.

- Julie Camentto, você não vai me responder? – Era possível ver a ira nos olhos dele. Ira, mágoa, tristeza, incerteza... Medo.

- Estamos combinados. – A voz mal saiu da minha garganta, mas foi o suficiente para meu pai largar meu rosto e me deixar cair no sofá.

Ele virou as costas para mim e caminhou até a escada. O observei enquanto ele subia as escadas. Parecia ter envelhecidos uns vinte anos.

 

Eu estava sentada na minha cama, encarando o nada, tentando ignorar o insistente barulho de mensagem instantânea que o meu notebook emitia. Mas o barulho foi mais forte e eu rolei na cama para ler.

 

Rafael diz:

Julie?

Estou preocupado.

Por favor, me responda.

Você está aí, eu sei.

Eu já te disse que do meu quarto dá para ver a sua janela? Pois é, a luz está acesa.

Julie!

 

Julie diz:

O que você quer?

 

Rafael diz:

Notícias suas. Está tudo bem?

 

Julie diz:

Não. Está tudo péssimo. Ele me proibiu de ver você, me deu um tapa na cara e me puxou pelos cabelos.

 

Rafael diz:

Ele não fez isso! O que eu posso fazer?

 

Julie diz:

Você sabe que a última coisa que eu quero é me afastar de você. Mas não quero brigar com o meu pai, às vezes é preciso pensar nos outros antes de em si mesmo.

 

Rafael diz:

Então pense em mim!

Julie?

Ele te proibiu de me ver, não de falar comigo.

Por favor...

 

Eu fechei a janela da conversa. Estava chorando, mas não admitira isso para ele. Pensei no que ele disse. Do quarto dele era possível ver a minha janela? Caminhei até a minha varanda. O vento bateu gélido no meu rosto, grudando mechas de cabelo nas lágrimas em minhas bochechas. Olhei para a casa dele, apenas algumas ao lado. O quarto dele também ficava no segundo andar, e eu conseguia ver uma silhueta na janela. Ele acenou.

Eu balancei a cabeça e entrei de volta no quarto.

 

- Julie! Julie, querida, acorde!

Eu me mexi na cama e coloquei a cabeça de baixo do travesseiro. Parecia que um caminhão havia me atropelado.

- Julie, filha? – Meu pai gritava do primeiro andar.

Eu sentei na cama.

- Julie, o café está na mesa, você já acordou? – Provavelmente da cozinha.

- Estou acordada, papai! – Eu gritei, com uma voz rouca.

- Não demore!

Esfreguei os olhos com as mãos e levantei. Olhei para o notebook, aberto e caído no chão. Coloquei-o em cima da mesa e li uma mensagem instantânea do dia anterior. Na verdade, da madrugada.

 

Rafael diz:

Isso não vai ficar assim. Espere por mim, eu vou te ajudar.

 

Eu suspirei. Não via como ele poderia mudar a opinião do meu pai. Ele era tão cabeça dura quanto mamãe. Me aprontei e desci, aparentemente papai que iria me levar ao colégio hoje. Entramos no carro velho dele e permanecemos em silêncio.

Abri minha bolsa e tirei um livro de dentro dela. Fazia algum tempo que eu não o via, e virei para ler o título. Romeu e Julieta?, eu pensei, Mas que irônico., e ri.

- Qual foi a piada? – Meu pai perguntou de cara fechada.

- Nada, nada. – Eu disse, olhando o horizonte.


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