Love Story escrita por Carol


Capítulo 4
I've been feeling so alone




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A campainha tocou.

- Paaai! Atende pra mim?!

Eu corria de um lado para o outro no meu quarto, tentando encontrar os livros, enquanto escovava os dentes e colocava o tênis.

- Ah, bom dia, Leila. – Eu ouvia a voz do meu pai no primeiro andar. – Sim, ela já está vindo, só terminando de se arrumar, sabe como são as meninas nessa idade, não é?

Meninas nessa idade? Contive minha indignação e corri para o banheiro, para enxaguar a boca. Coloquei o outro pé do tênis enquanto corria pelo quarto para colocar o material dentro da bolsa. Dei uma última olhada no quarto enquanto saia de costas para o corredor. Ótimo, não faltava nada.

- Mas você pode entrar. Quer um café, uma xícara de chá? Sinta-se a vontade, Leila.

Desci as escadas correndo. Pulei os últimos degraus e cheguei na porta bem a tempo. Se a tia Leila entrasse não iríamos sair de lá hoje, e eu chegaria bem atrasada no colégio.

- Bom dia, tia. Obrigada mais uma vez por se dispor a me levar no colégio. Acho melhor irmos porque eu já atrasei demais! Até logo, papai. – E dei um beijo na bochecha dele.

Nós duas nos distanciávamos da casa enquanto papai continuava à porta, com uma expressão de quem tenta entender de onde eu apareci. O carro da tia Leila era um lindo Nissan preto.

- Bom dia, Rafael. – Eu disse meio de mau humor ao sentar ao lado dele no banco traseiro. Nós estávamos sim um pouco mais próximos, mas eu ainda achava que ele era muito criança e que não iria crescer.

- Bom dia. – Ele disse sem tirar os olhos do video game portátil dele. Entende o que eu quero dizer quando eu digo “criança”?

Ficamos em um silêncio agradável até o colégio. Quando chegamos Rafael desceu sem tirar os olhos do jogo e cuspiu um “Tchau, mãe”. Ele deveria tratar melhor a mãe, não sabia por quanto tempo teria ela lá... Meu lábio inferior começou a tremer e eu falei antes que a sensação tomasse conta de mim:

- Obrigada mais uma vez, não sabe o favor que está fazendo a mim e ao meu pai.

- Que é isso, querida. Então nós nos encontramos aqui depois da aula? – Ela disse, com toda a doçura.

- Lógico! – Eu disse contente e saí do carro.

A escola ficava diferente sob a minha perspectiva cinza. Não triste, mas... Séria. Muito mais séria. Eu entrei e segui o caminho rotineiro, que de rotina não tinha nada. Eu acenei e sorri para um grupo de amigos, que entre eles estava Amanda. Os que me viram viraram a cara, um ou outro sorriu, e Amanda ficou pálida e arregalou os olhos. Achei estranho, mas melhor não comentar. E segui reto o caminho para a sala de aula.

Rafael já estava no lugar dele, ainda entretido com o joguinho. Eu revirei os olhos e me sentei no meu lugar. Quando o sinal tocou, Amanda sentou do meu lado, ela não disse nada. Nem um oi, bom dia, nada. Achei que ela deveria estar distraída. Mas passou as aulas e o recreio me evitando. Eu cheguei à conclusão que definitivamente tinha feito algo errado.

Soou o sinal do fim da aula, e eu segui Rafael igual um cachorrinho para não atrasar nem atrapalhar a mãe dele. Cumprimentei os amigos dele quando estes começaram a conversar com o Rafael e ele me apresentou aos amigos.

- Pessoal, essa é minha amiga Julie. Julie, esses são Jonas, Eduardo, Miguel... – E ele foi dizendo vários nomes, e eu não gravei nenhum, evidentemente.

Ficamos conversando enquanto a mãe do Rafael não chegava. Não demorou muito, e me despedi dos meninos com um beijo em cada.

 

Eu já estava impaciente. Dedilhava sobre o teclado, sem apertar as teclas, comprovando minha angustia. Não era possível, ela com certeza tinha lido minhas mensagens. No programa de mensagens instantâneas constava que a Amanda estava on-line, mas ela não me respondia. Tampouco atendia aos meus telefonemas. Eu estava começando a ficar preocupada com o que eu havia feito de errado.

 

Julie diz:

Vamos, Amanda, você e eu sabemos que você está me evitando. Eu só não sei o motivo. Qual é, nós somos tão amigas, você não pode me explicar o que eu fiz de errado?

 

Esperei um pouco, e logo a janela piscou, avisando que ela havia me respondido.

 

Amanda diz:

Você não fez nada de errado.

 

Julie diz:

Então me explique porque minha melhor amiga se recusa a falar comigo!!

 

Amanda diz:

Acho melhor darmos um tempo.

 

Julie diz:

Você fala como se fosse meu namorado!

 

Ela não respondeu. Era isso. Então era assim que amizades acabavam? Sem mais nem menos? Com um “melhor dar um tempo”? Estava certa de que aquilo não havia surgido do nada, não assim...

Um alarme de mensagem instantânea me acordou dos meus devaneios. Eu cliquei na janela na esperança de que fosse alguma mensagem da Amanda...

 

Rafael diz:

Ei, não apareceu na rua hoje? Foi só voltar para a escola que agora está ocupada demais para ter um tempo ao ar livre? Haha.

 

Julie diz:

Muito engraçado.

 

Rafael diz:

Hmm... Aconteceu alguma coisa, o que houve?

 

Julie diz:

Nada que seja da sua conta.

 

Rafael diz:

Credo, Julis, achei que tivéssemos superado a fase de inimizade.

 

Refleti por um minuto. Ele me chamava assim quando éramos crianças. E ele havia colocado as coisas como se eu fosse a criança. Mas quem havia passado a manhã jogando video game?

 

Julie diz:

Não me chame de Julis, não somos crianças.

 

Rafael diz:

Mas você está agindo como se fosse, Julis.

 

Julie diz:

É a Amanda, tá legal?

 

Então, como se fossemos amigos desde sempre, eu comecei a contar o que havia acontecido. E por mais incrível que me parecesse, ele me entendia e... Até me fez sentir melhor. Um pouco só.

De repente o cinza da minha vida havia ganhado um pouco de cor. Eu ainda não entendia o porquê.


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