Love Story escrita por Carol


Capítulo 3
And I was crying on the staircase




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A vida era em escala de cinza desde aquele dia. Mas eu não estava triste, não ficava chorando o dia inteiro como achei que ficaria. Não fiquei sem comer como muitos afirmavam que ficaria. Não fiquei olhando fotos e lembrando cada detalhe, como tinha certeza que ficaria. Não... Estava seguindo em frente. Não que tenha realmente caído a ficha do que aconteceu... Acho que é isso que chamam de estado de choque.

Estava cansada da rotina. Papai tinha me proibido de ir ao colégio por um tempo, achou que era o melhor para mim. Tia Leila e tio Sammy fizeram a mesma coisa com Rafael, e nós morávamos na mesma rua, então estávamos passando um bocado de tempo juntos. Pelo menos se comparado com o tempo que passávamos juntos antes.

Estava sentada na escada em frente à minha casa. Encarava o chão e tentava encontrar algum padrão para os desenhos abstratos que se formavam. De repente senti minha garganta fechar. Meus olhos pareciam tão secos quanto areia. Uma coceirinha insistente começou no meu nariz, então eu soube do que se tratava. Quando menos esperava uma onda de choro veio e eu cedi. Chorava igual a um bebê, e já não enxergava nada além das lágrimas.

Escutei alguns passos se aproximando. Alguns dias antes eu teria parado de chorar na hora, nada mais humilhante do que me verem chorando. Mas... Eu já não me importava, chorava e chorava, que se dane o mundo.

Então os passos pararam, bem ao meu lado. Não me arrisquei a olhar, ignorei a presença. Mas a pessoa se sentou ao meu lado e me abraçou. O choque foi o bastante para me fazer parar de chorar. Eu sequei os olhos com as costas das mãos e olhei quem me abraçava. Um garoto com um sorriso lindo e um cabelo preto caído perfeitamente sobre o rosto.

- Rafael, o que você está fazendo aqui? – Eu disse, com a voz engasgada.

- Schiiu. Chora, põe tudo pra fora, fica mais fácil assim.

Eu não entendi o que ele quis dizer, mas a onda de choro voltou e eu cedi, de novo. Ficamos ali horas, ou apenas minutos, eu não sei dizer. Mas meu pai abriu a porta de casa e meu choro cessou no mesmo instante.

- Filha, Rafael, é melhor vocês se arrumarem para o enterro.

A onda quis vir novamente, mas eu engoli o choro.

- Obrigada – sussurrei para o Rafael e me levantei para ir para dentro de casa.

Minha regata com babados e minha calça jeans-escuro-quase-preto em outra ocasião seriam a combinação perfeita, teria ficado lindo. Mas eu mal vi a combinação, só coloquei a primeira roupa que apareceu na minha frente. Segurava uma rosa branca, a flor preferida da minha mãe. Todos jogavam alguma flor em cima do caixão, mas eu não soltei a rosa. Deveriam estar todos os conhecidos da minha mãe naquele enterro, mas os rostos não passavam de simples borrões. Eu encarava o caixão e minha mente permanecia vazia. Minha concentração ultimamente tinha sido nula, e eu não tinha no que pensar.

O dia estava lindo, simplesmente perfeito. O sol brilhava forte e transmitia um calor aconchegante. As nuvens eram praticamente inexistentes e o céu estava mais azul do que nunca. Não que eu estivesse vendo algo além do preto e branco. Uma lágrima solitária escorreu pela minha bochecha. Senti uma leve pressão e calor em uma das mãos. Olhei para o lado e constatei. Rafael estava segurando a minha mão que não estava com a rosa. Ele me olhava de volta e sorriu. Um sorriso cauteloso, mas um sorriso. Eu também sorri, por um breve segundo esqueci da situação e de tudo, e fiquei feliz. Mas então no segundo seguinte me dei conta da situação e tudo voltou ao normal.

Ele afagava minha mão com o dedão e eu voltei a encarar o nada.

- Ande. Se desprenda dessa rosa. – Ele sussurrou em meu ouvido.

- Como?

- A rosa não significa nada. Não adianta se agarrar nela desse jeito.

Foi quando eu olhei para baixo e percebi que meus nós dos dedos estavam brancos, de tanta força que eu fazia ao segurar a rosa junto ao peito. Olhei incerta para ele. Ele assentiu e olhou para o caixão. Ele tinha razão, não tinha? Não havia sentido guardar uma rosa, não é?

Então no momento seguinte a rosa branca estava em cima do caixão, junto de tantas outras flores. Senti meus joelhos fraquejarem e Rafael se virou para me abraçar.

-Schiiu.

- Ju... Julie? – Eu ouvi uma voz familiar. Mas não consegui distinguir de quem era.

– Julie? – Então eu focalizei o rosto da pessoa.

- Amanda...? – Eu via a minha amiga, mas não conseguia ligar os fatos. – O que você faz aqui?

- Achei... Que você fosse precisar de um ombro amigo... – Ela disse meio incerta, como se até aquele momento não tivesse pensado em o que fazia ali.

- Bom, obrigada.

- Julie, eu nunca fui a um enterro, eu não sei o que dizer e muito menos sei como você se sente, então não vou mentir. – Era impossível não sorrir.

- Só você dizer isso é o bastante, obrigada! – Eu disse e me atirei num abraço.

Ela parecia sem graça, tensa. Eu me afastei lentamente e fiquei com uma interrogação no rosto, o que eu havia feito de errado? Ela sorriu e disse que tinha que ir.

- Certo. Obrigada de novo. – Eu disse, em dúvida. Aquilo tinha sido estranho, o que houve?

Voltei para casa e estava encarando o nada, mantendo a mente vazia. Papai disse que eu poderia voltar para o colégio no dia seguinte, então estava menos preocupada, o que eu menos precisava agora era tempo livre para pensar.

O alarme de mensagem instantânea do notebook apitou e eu rolei na cama para ler.

 

Rafael diz:

Você não deveria ficar tanto tempo sem fazer nada. Sabe há quanto tempo você está on-line? Desse jeito vai ficar viciada! O: Haha. Procure se distrair.

 

Eu ri. Ele tinha razão. Olhei em volta, o meu quarto. Então meu olhar baixou para um livro caído no chão. Levantei, peguei-o e li o título. Romeu e Julieta?


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