Love Story escrita por Carol


Capítulo 2
Escape this town for a little while




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Só me dei conta que estávamos indo até a Direção quando chegamos na porta. Diretor Gregori, dizia a placa. Rafael bateu na porta. Nada. Bateu mais uma vez.

– Quem é? – Disse a voz impaciente e rabugenta do diretor.

– Rafael Montebelo, terceiro ano do Ensino Médio.

– Ah. – Escutou a mudança no tom de voz do diretor, agora era quase como se fosse... Compaixão. – Entre.

Rafael abriu a porta e um cheiro de incenso veio de encontro a nós dois. Minha cabeça girava enquanto Rafael me puxava para dentro da sala pelo pulso. Eu sempre ficava atordoada com cheiro de incenso.

– Vejo que foram rápidos. Sua mãe, Rafael, me pediu que eu me certificasse da segurança de vocês em todo o trajeto até o hospital...

Hospital??, eu pensava, meio zonza, enquanto escutava as palavras do diretor. Rafael soltou meu pulso e me abraçou pela cintura. Eu estava meio grogue, o bastante para não reclamar por tamanha aproximação, aliás, eu bem que poderia cair a qualquer momento, então não era de todo ruim que ele me segurasse.

– Então estou transferindo a responsabilidade para vocês. Preciso que me prometam que farão o possível e o impossível para manter a segurança de vocês no caminho.

Eu não prestava atenção nas palavras do diretor, estava tentando entender qual era a urgência da situação e escutava a esperança de que fosse tudo um mal entendido. Eu estava longe, mas Rafael não. Ele assegurou o diretor da nossa segurança e pediu licença.

– Boa sorte. – O diretor disse num tom quase inaudível.

Rafael me conduziu até a saída principal da escola, onde havia um táxi estacionado. Ele se inclinou sobre a janela e disse algumas informações para o motorista, que, animado, assentiu. Nós dois sentamos no banco traseiro e permanecemos calados durante todo o trajeto.

A cidade passava como um lampejo. Eu não prestava atenção nos detalhes, só via superficialmente. Tentava manter a cabeça vazia, não queria pensar em nada, não queria encarar as possibilidades... Eu queria fugir da realidade, escapar daquele momento, por menor que fosse a duração dessa fuga.

Quando o taxista parou, Rafael logo estendeu uma nota para ele e balbuciou um “fique com o troco”. Caminhamos em um silêncio mortal até a recepção do hospital. A recepcionista parecia antipática, com a pele pálida e esticada em cima dos ossos. A maquiagem era forte em torno dos olhos, o que acentuava as olheiras fundas. Seu mau gosto se confirmava nas roupas, inapropriadas para um hospital.

– Senhora Camentto. Camila Camentto.  A urgência na voz de Rafael ainda era aparente.

A recepcionista conferiu na tela de seu computador e nos disse aonde deveríamos ir. Uma enfermeira loira e muito bonita veio até nós, a fim de nos conduzir até o quarto certo. Eu queria fazer várias perguntas, mas a presença da enfermeira me intimidava. Ela nos conduziu até uma pequena sala aonde eu pude ver os pais de Rafael e meu pai. A mãe de Rafael, tia Leila, chorava e correu para abraçar o seu filho. Eu estava com o estômago embrulhado e me sentei ao lado do meu pai.

Ele encarava a televisão, mas não parecia estar assistindo ao programa, parecia distante.

– Julie? – Ouvi a doce voz da tia Leila.

– Sim? – Minha voz saiu engasgada.

– Te contaram tudo? – Ela parecia relutante em falar.

– Na verdade... O Rafael só me disse que tinha haver com a minha mãe. Aliás, onde está ela?

Fez-se um silêncio profundo na sala. Até meu pai tirou os olhos da televisão e me encarou. Eu senti que tinha dito algo de errado, mas não sabia o que era. Quero dizer, sabia, mas não queria acreditar. Passou-se um tempo longo,  arrastado. Eu queria saber a resposta da minha pergunta, mas não me atreveria a perguntar de novo.

O primeiro a falar de novo foi o tio Sammy. Com um pigarro ele chamou nossa atenção.

– É evidente que Julie não faz a menor ideia do que está acontecendo aqui.

Ah, jura?

– Portanto... Acho que devemos encarar o fato e explicar a ela.

Parecia que todos concordavam. Tia Leila se sentou e Rafael caminhou até uma janela, como se pouco se importasse. Fez mais um silêncio e tio Sammy suspirou antes de falar.

– Julie. Nós não sabíamos, aliás, ninguém sabia, sua mãe escondeu de todos nós, então não nos culpe porque nós também não tínhamos como ajudá-la e...

– Tio. Fale com calma. Pausadamente. Ninguém tem culpa de nada...

Queria parecer confiante, mas até eu escutei o tom de dúvida que surgiu na minha última frase.

– Certo, certo. Sua mãe havia feito exames alguns meses atrás, porém não contou para ninguém. O exame foi relativo ao seu coração, e foi constatado que ele não ia bem, e que ela precisava de remédios, consultas e de dar um tempo no trabalho, pois isso estava aumentando seu nível de estresse.

Mamãe sem trabalhar? Isso era difícil de imaginar.

– Se ela tivesse comentado... – Tia Leila se lamentava. Elas trabalhavam juntas há não-sei-quanto-tempo e nunca se desgrudavam.

– Mas cabeça-dura do jeito que ela era... – Tio Sammy deu um sorriso frouxo, mas isso não aliviou o peso que eu senti quando ele usou o verbo no passado. – Se recusou a fazer isso, e sabia que se comentasse com alguém ia ter que ouvir os argumentos da família toda. Mas nos últimos dias ela estava pior.

Realmente. Ela andava desanimada e não estava mais sorrindo.

– Era como se soubesse o que estava por vir e estava se preparando para isso...

Se preparando para o que estava por vir? Esse suspense estava me matando.

– Julie. Até algumas horas atrás sua mãe estava bem. Mas ao chegar no trabalho... Ela começou a se sentir mal. E teve um ataque cardíaco.

– Ataque cardíaco? Mas as pessoas sobrevivem a ataques cardíacos o tempo todo, não é?

Nessa hora Rafael virou de volta para a sala, como se voltasse a prestar atenção. Seus olhos estavam cheios de lágrimas e tive a certeza de que ele já sabia o que seu pai estava querendo dizer.

– É... Leila ligou para a ambulância imediatamente, mas antes dela chegar sua mãe sofreu uma parada cardiorrespiratória. E quando a ambulância chegou... – Ele fez uma pausa, apesar de ser evidente qual seria a próxima frase – Era tarde demais.

– Mamãe... Ela... A minha mãe... Morreu? – A frase saiu num sussurro.

– Julie. Você está pálida. Está se sentindo bem? – A pergunta do tio Sammy parecia estar a milhares de quilômetros de distância e as cores foram sumindo da minha vista.


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